Era majestoso, mas eu não tinha tempo para pensar nisso.

–Cléo, temos que ir rápido. Provavelmente outros monstros viram atrás de você, já que agora sabe que é uma semideusa.

–Tudo bem.

Ele foi andando, adentrando o local, que de longa distancia, parecia uma simples plantação de morangos. Mas depois eu percebi que haviam várias coisas, hm, diferentes. Uma casa grande, parecendo uma casa de fazenda, vários chalés em formato de ‘u’, e locais para pratica de esportes.

Ao longe, vi alguns garotos, sátiros como Ronald, jogando voley. Era diferente, mas normal. Pode parecer loucura, mas é como se eu pertencesse aquele lugar.

–Cléo? – perguntou Ronald, balançando as mãos em frente ao meu rosto, me tirando de meus pensamentos.

–Que?

–Temos que falar com Quíron.

–Com quem?

–Você logo verá – disse indo em direção a casa principal.

O segui.

–Ronald! – disse um homem de aparentemente uns 50 anos, sentado em uma cadeira de rodas – vejo que completou sua missão com sucesso.

–É, acho que sim.

–Poderiam me explicar melhor as coisas? – perguntei.

–Cléo, certo? – perguntou o homem, que eu deduzi que era Quíron.

–Uhum.

–Então, Ronald já te explicou tudo?

–Não muito – respondi.

–Certo... – parecia pensativo – olha, não podemos te falar muitas coisas. Você descobrirá com o tempo. Mas, qualquer coisa, me pergunte.

–Tudo bem. Eu posso saber quem é meu pai?

–Não.

–Não? – indaguei.

–Nós ainda não sabemos. Você ficará no chalé de Hermes até descobrirmos isso.

–Vem comigo – disse Ronald.

O acompanhei e fomos andando pelo local. Realmente, eu nunca havia visto algo tão surpreendente!

–Por que todo esse mistério? – perguntei.

–Não tem mistério nenhum, só não temos o que falar pra você. Terá que descobrir sozinha.

–E meu pai?

–Talvez você nunca o conheça. Mas algum dia saberá que é.

Algum dia...

–Chegamos – ele disse assim que paramos em frente ao chalé.

–Oi Ronald – disse uma garota que havia acabado de sair.

–Oi Jess – ele respondeu sorrindo.

–Quem é? – perguntei.

–Jéssica, filha de Hermes.

–Olá – se referiu a mim.

–Oi – dei um sorriso de canto.

–Jess, eu tenho que ver umas coisas com Quíron, será que você poderia ajudar a Cléo?

–Pode ser – ela respondeu docemente.

–Obrigado. Cléo, eu já vou indo. Qualquer coisa peça para alguém te levar a casa grande.

–Ok.

–Vem comigo – ela disse voltando para dentro do chalé.

Acompanhei Jess e entramos no chalé, que por fora, entre todos os chalés, é o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento, com ênfase no velho. A soleira estava desgastada e a pintura marrom descascando. Acima do vão da porta havia um símbolo, no qual não sei como eu sabia que era de Hermes ...

Caramba! Tinha muita gente ali.

–Nossa! – exclamei.

–Eu sei. Mas nem todos são meus irmãos. A maioria é indefinida.

–Como assim?

–O pai ainda não proclamou.

–Entendi – tudo bem. Eu não tinha entendido coisa nenhuma, mas não queria discutir com a única pessoa que estava comigo.

–Olha, você deu muita sorte.

–Por quê?

–Só sobrou uma cama. E ela vai ser a sua.

–Que bom. Nunca me dei bem com colchões!

–Você não vai se dar muito bem é com as missões.

–Hã?

–Você não vai ter uma cama quentinha e arrumada todas às noites.

–Eu continuo sem entender.

–Com o tempo você entende. Pode deixar suas coisas na cama. Vou te mostrar o acampamento.

Saímos do quarto e fomos andando pelo lugar.

–Oi Jess – disse uma garota bonita aparecendo ao nosso lado. Não sei por que, mas não fui muito com a cara dela...

–Oi Mel – ela respondeu sem dar muita importância.

–Oi – disse para mim, com uma cara de quem comeu e não gostou.

Sério, agora que eu não gosto mesmo dela.

–Olá – respondi.

–Vem, ainda temos muita coisa pra ver – disse Jess me puxando pela mão.

Ela me mostrou várias coisas. Dentre elas, a arena, o estábulo, a quadra de voley, a casa grande, o lago, a parede de escalada, o anfiteatro, as plantações de morango...

–Você pode me mostrar os chalés? – perguntei esperançosa.

–Claro – ela tinha um jeito de brava, mas era educada e legal – esses dois, os principais, são de Zeus e Hera, conhece?

–Não mesmo. Nunca fui ligada a assuntos sobre mitologia grega.

–Pois então pode esperar muita confusão pra você.

–Acho que sim. E os outros? – perguntei me referindo ao resto dos chalés.

–O número três é de Poseidon, deus dos mares.

Ela terminou de me mostrar os chalés e voltamos para o chalé de Hermes.

–Vá se arrumar – ela disse mexendo em suas coisas.

–Pra que?

–O jantar é em meia hora.

–Ah, sim. Obrigado por avisar.

Me vesti e fomos jantar.

Jess me explicou uma coisa sobre oferenda aos deuses, e eu decidi fazer a minha para Hermes, por estar ficando em seu chalé; e outra a Afrodite, só por que vi aquela garota, Mel, fazendo o mesmo. Pensei que fosse a mãe olimpiana dela e fiz a oferenda agradecendo por uma criatura tão... Tão linda! Pra não dizer outra coisa.

Voltamos para o chalé juntamente com aquele bando de gente.

–Boa noite – disse Jess assim que se deitou em sua cama, que era ao lado da minha.

–Boa noite – respondi sorrindo.Demorei um pouco para dormir, fiquei pensando na reação da minha mãe quando ver que eu não havia chegado em casa com meus amigos.Mais segundo Ronald, ela já sabia de tudo...É, acho que apesar de tudo me dei bem aqui. Me sinto em casa.