Louie me acordou na manhã do domingo. Eu havia esquecido de colocar o despertador para às oito da manhã, mas ela havia me acordado vinte minutos mais cedo, então eu relaxei. Ainda estava cansada da noite anterior, porque havia carregado Louie em meus braços por cinco andares quando percebi que o elevador havia quebrado. Depois de coloca-la na cama, fui tomar um banho e pesquisar um pouco sobre o irmão dos meus bebês, Justin Bieber. Eu li tudo que estava no Wikipédia e não posso dizer que não fiquei impressionada.

 Diabo, aquele garoto era bom. Ele ganhou dezenas de prêmios, encheu milhares de arenas, visitou o mundo inteiro. E puta merda, ele era rico pra caramba. Como é que ainda dava bola pra mim? Quero dizer, por que diabos ele ainda se importava com as outras pessoas? Que eu saiba, quando a pessoa fica rica e famosa desse jeito, ela meio que perde o chão e começa a tratar todo mundo mal. Por que ele tinha que ser diferente?

 Eu fiquei pensando sobre isso por uma meia hora, porque não estava conseguindo dormir. E quando realmente peguei no sono já eram três horas da manhã. Então, é, eu estava um caco. Havia dormido menos de cinco horas naquela noite e ainda teria um dia inteiro para cuidar de três crianças. Era uma sentença de morte.

 Eu queria muito ligar para Erin e dizer que não dava mais, que hoje eu não poderia ir trabalhar porque estava quebrada, mas eu sabia que me sentiria mal se fizesse isso. Se bem que o Justin estava lá. Eles provavelmente não sairiam, porque Jaxon e Jazzy deviam querer aproveitar o dia com o irmão mais velho. Ou sei lá. Eu só queria dormir por mais algumas horas e depois ver o que eu ia fazer. Infelizmente, eu não podia.

 Levantei de vez da cama às oito horas. Preparei um café da manhã simples para mim e Louie, com panquecas e bacon – o último ingrediente era só para ela; eu não era muito fã de bacon – e então ajudei Louie a tomar banho. Enquanto ela se trocava no quarto, passei no chuveiro rapidamente, só para tirar o cansaço e lavar o cabelo. Nós duas estávamos prontas vinte minutos antes das nove, o que facilitava muito para mim.

 Dei uma última olhada no quarto da minha mãe para ver como ela estava, mas ela dormia a sono alto, então nem me despedi e deixei um bilhete na porta da geladeira avisando onde estava. Minha mãe sabia que eu era babá, mas não sabia exatamente muita coisa do meu dia. E às vezes ela esquecia que eu tinha que trabalhar e a gente brigava feio, mas nossa relação estava indo bem por enquanto. Eu quase não a via.

 Cheguei na casa dos Bieber – dessa vez com calma e sem nenhum fotógrafo à vista – dez pra nove da manhã. Era um bom horário. Erin nunca havia dito que horas que ela queria que eu chegasse, porque sabia que eu estudava e que só tinha os fins de semana para descansar ou estudar, mas eu sempre marquei meus horários e chegava em tempo. A porta estava aberta e eu entrei, pegando minha chave do lado de dentro e guardando-a no bolso de trás dos meus jeans.

 - Erin? – chamei, não tão alto para não acordar as crianças, que deviam estar dormindo.

 - Estou aqui na cozinha, Liv – ela respondeu ao meu chamado.

 Larguei minha bolsa no sofá e caminhei até a cozinha, ainda segurando a mão de Louie. Se eu a soltasse, ela iria lá em cima acordar Jazzy e eu sabia que as crianças também precisavam de um descanso. Quando cheguei na cozinha, quase todo mundo estava acordado. Jeremy estava sentado tomando seu café, Erin preparava waffles e Jaxon estava na sua cadeira alta, rindo.

 - O que aconteceu para ele levantar assim tão cedo? – perguntei, sorrindo ao ver Jaxon brincar com seu mingau.

 Louie saiu correndo para ir ficar ao lado de Jaxon e eu puxei uma cadeira para ajuda-lo a comer o mingau. Jaxon conseguia comer sozinho já, o que era impressionante, mas ele sempre se sujava mais do que comia, então eu o ajudava. Ou então ficava lá perto para evitar que ele virasse o prato inteiro em sua roupinha.

 - Pois, é. Eu não sei também. Ele só acordou e já quis tomar café da manhã. Normalmente é uma briga para fazê-lo comer – respondeu Erin, colocando os waffles no centro da mesa.

 Jeremy tentou pegar uma, mas Erin bateu na mão dele.

 - Você aceita, Liv? – perguntou Erin, olhando feio para o marido.

 - Ah, não, obrigada – eu dei risada – Nós já tomamos café da manhã.

 Só depois disso que Jeremy pôde pegar um dos waffles. Ele olhou meio bravo para Erin, mas ela começou a rir e eles voltaram ao normal. Ela só estava sendo gentil comigo, mesmo que soubesse que eu quase nunca comia lá, porque ficava meio desconfortável. Quer dizer, ela já me pagava uma quantia por dia e eu ainda ia ficar me empanturrando na casa dela? Eu achava isso meio chato.

 - Cadê a Jazzy? – perguntei.

 Normalmente, se Jaxon acordasse antes, ele acordaria Jazzy e vice-versa. Eles sempre acordavam juntos. Era estranho só ele estar ali. Olhei ao redor, provavelmente pensando que ela devia estar brincando ou se escondendo de mim.

 - Ah, ela ainda está dormindo – respondeu Erin, me mandando um olhar rápido enquanto se sentava na frente de Jeremy para tomar café – Você acha melhor acordá-la?

 Erin sempre me fazia esse tipo de pergunta, como se eu fosse a mãe e ela quisesse minha opinião. Eu não sabia se ela realmente não sabia o que fazer ou se estava só me testando para saber se eu era uma boa babá. De qualquer maneira, nunca deixei de responder. Vai que era mesmo um teste.

 - Eu acho. Para ela dormir melhor essa noite, sabe? Nós tivemos uma noite cheia ontem e ela ficou bastante cansada, mas não é bom ela dormir muito porque senão ela vai dormir mais tarde hoje. E isso vai afetar toda a rotina dela, sabe – eu comentei, explicando como se Erin não soubesse como eram as crianças.

 Erin sorriu – se aquilo era um teste, eu havia passado – e assentiu, concordando comigo.

 - Tudo bem, pode ir acordá-la – respondeu ela.

 Eu me levantei. Jaxon já estava quase acabando o mingau e Erin estava olhando, então ele não ia fazer nada de mais. Louie decidiu ficar lá embaixo, porque se ela fosse comigo acordar Jazzy, iria fazer a maior barulheira. Então eu subi as escadas e entrei no quarto das crianças calmamente, indo em direção à cama.

 Quando puxei o cobertor, a cama estava vazia. Encarei o quarto, em pânico, sem saber o que fazer. Onde aquela menina estava? Olhei até dentro do berço de Jaxon. Procurei no banheiro e nada. Fui até dar uma olhada no quarto de Erin e Jeremy, mas ela também não estava lá. Resolvi checar os dois quartos de hóspedes, achando improvável e com medo de acordar Justin, que devia estar em um deles.

 Quando entrei no primeiro quarto de hóspedes, meu coração desacelerou. Jazzy estava lá, dormindo tranquilamente. O que diabos ela foi fazer naquele quarto? Comecei a caminhar até a cama para chama-la, quando percebi que só havia uma razão para ela ter ido dormir lá. Foi quando vi uma cabeça a mais naquela cama.

 Retrocedi e caminhei de volta para ir embora, mas não percebi quando cheguei perto da porta, pois estava de costas, então a bati sem querer. A porta se fechou com um estrondo e eu fechei os olhos. Droga. A casa inteira devia ter escutado isso e os dois também deviam ter escutado. Quando abri os olhos de novo, Jazzy havia apenas se revirado na cama, mas dois grandes olhos castanhos me encaravam.

 - Ah, meu Deus – eu sussurrei, me aproximando – Desculpa, Justin. Eu não queria te acordar.

 Assim que cheguei mais perto da cama, pisei no ursinho de pelúcia de Jazzy, que estava caído no chão. O ursinho tremeu e gritou.

 - I love you!

 Justin fechou os olhos por causa do barulho e abriu-os de novo. Parecia muito sonolento ainda. Comecei a me sentir mal por tê-lo acordado, mas afinal de contas, eu precisava acordar Jazzy. Justin se sentou na cama de costas para mim e empurrou o cobertor um pouco para o lado. Fiquei cada vez mais incomodada. Ele estava sem camisa. Certamente, eu devia ir embora dali logo.

 - Hum, Justin, faz um favor para mim? – eu perguntei, já caminhando de costas de novo para a porta para voltar para a cozinha.

 Ele se virou para me encarar com a testa franzida, como se tentasse se lembrar de quem eu era. Esfregou os olhos umas três vezes e aí sorriu de leve.

 - Ah, oi – disse, com a voz rouca por tanto tempo sem falar – Que horas são?

 - Umas nove horas – respondi, já encostada na maçaneta.

 Ele fez uma careta e se levantou. Eu estava errada sobre ele estar sem camisa. Ele estava sem muito mais coisa. Na verdade, a única coisa que ele estava usando era uma cueca roxa. Tenho certeza que eu fiquei mais do que vermelha nessa hora. Minhas bochechas pegavam fogo. Eu queria fugir dali, mas fiquei meio paralisada.

 Justin se espreguiçou e olhou no visor do iPhone. Colocou o celular de volta no lugar e se aproximou. Não percebi, mas quando vi estava me encolhendo cada vez mais em direção ao batente da porta, como se pudesse diminuir o suficiente para sair pela fechadura.

 - É cedo. Você queria alguma coisa? – perguntou, com a voz ainda rouca e o cabelo todo desarrumado.

 - Hã... – comecei, mas sem força para terminar.

 Ele chegou tão perto que meu cabelo roçou em seu ombro. Eu podia ouvir meu coração nos ouvidos. Eu era baixa perto dele, batia na altura da sua orelha. Para minha surpresa, ele girou a maçaneta e abriu a porta. A forte luz que vinha de fora o cegou por um tempo e ele semicerrou os olhos. Passei por ele e saí do quarto, feliz com a distância entre nós dois.

 - Por favor, acorde Jazzy e a mande lá pra baixo – ele me olhou ainda um pouco confuso, mas eu sorri – Obrigada.

 E então fugi de volta para a cozinha.