Cheguei na cozinha ainda respirando com um pouco de dificuldade. Acho que eu não ficava perto assim de um garoto desde... Na verdade, acho que nunca tinha ficado tão perto assim de um garoto, especialmente um garoto seminu. Nem Erin nem Jeremy pareceram perceber minhas bochechas vermelhas ou minha respiração afobada, mesmo que eles tenham parado o que estavam fazendo para me olhar.

 - E então, cadê a Jazzy? – perguntou Jeremy.

 - Pedi para Justin acordá-la – respondi, me sentando na cadeira que estava antes.

 Puxei Louie e coloquei-a em meu colo. Qualquer coisa que tirasse o foco de mim seria de bom tamanho. Eu precisava me concentrar em desfazer aquela vermelhidão nas minhas bochechas, porque isso era muito suspeito. Mas minhas bochechas nem estavam mais tão quentes, então era apenas uma questão de tempo até eu voltar ao meu pálido natural.

 - Eu não sabia que a Jazzy estava dormindo com ele e acordei-o sem querer – expliquei – Desculpa por isso.

 - Relaxa, Liv – respondeu Erin, dando de ombros – Ele vai voltar a dormir.

 Engoli em seco antes de responder.

 - Acho que não. Ele se levantou e até conversou comigo.

 Jeremy e Erin trocaram um olhar desconfiado, mas soltaram uma risada.

 - São nove horas da manhã! – disse Jeremy – Justin não acordaria essa hora nem se a casa estivesse em chamas.

 Ri e relaxei os ombros. Provavelmente Jeremy estava certo. Não havia porque eu agir como se o que havia acontecido fosse uma tragédia grega. E, além do mais, nada havia acontecido. Ele só havia se aproximado para abrir a porta. Isso era completamente normal, com certeza. Eu passava muito tempo assistindo comédias românticas, esse era meu problema.

 De repente, ouvimos passos pela escada de alguém mais pesado que Jazzy. Quando Justin apareceu, só de calça jeans, carregando Jazzy no colo, quase todo mundo se chocou. Minhas bochechas voltaram ao rosado que estavam e Jeremy e Erin pararam o que estavam fazendo na metade do caminho. Continuei encarando Justin como se ele fosse uma miragem ou uma lembrança muito constrangedora. Ele não ia voltar a dormir?

 - Justin, você caiu da cama? – perguntou Erin e então olhou para mim – Não, espera. Liv, qual foi o pó mágico que você usou que fez ele sair da cama antes do meio dia?

 Justin deu risada e foi se sentar ao lado do pai, colocando Jazzy no chão.

 - Liv! – disse ela, correndo para mim.

 - Oi, bebê – eu disse, sorrindo e a abraçando.

 Coloquei Louie em uma das minhas pernas e Jazzy na outra e passei o braço pelas duas, para que não houvesse o perigo de elas caírem. Mas elas não eram muito pesadas e minhas pernas já estavam ficando torneadas de correr atrás desses três pela casa inteira ou em qualquer lugar que fôssemos.

 - Então, que horas vocês voltaram ontem? – perguntou Jeremy.

 - Eu que pergunto! – respondeu Justin, rindo – Nós voltamos lá pela uma da manhã e vocês ainda nem estavam aqui!

 Jeremy e Erin se olharam e sorriram, mas então Erin olhou de volta para Justin com um olhar maligno.

 - Você voltou à uma hora da manhã com meus bebês? – perguntou ela, brava.

 - Não me culpe! – pediu ele, exibindo as palmas das mãos e fazendo cara de inocente – Não aconteceu nada com eles, Liv estava lá.

 Erin me olhou e sorriu, mas voltou com o mesmo olhar maligno para Justin.

 - É, Justin Drew Bieber. Você tem sorte de eu confiar na Liv – ela disse, toda séria, mas depois passou a mão no cabelo dele, desarrumando-o, e se levantou.

 Justin deu risada, como um gatinho que acaba de ser acariciado pelo dono. Foi um sorriso tão fofinho que até me fez sorrir, mas eu parei assim que percebi o que estava fazendo. Eu precisava acordar para a vida.

 - Que horas você foi dormir? – perguntou Jeremy em voz baixa para Erin não escutar, mas alto o suficiente para os meus ouvidos.

 - Não sei, devia ser umas três da manhã. A Selena me ligou e nós ficamos conversando – respondeu ele, colocando um pedaço do último waffles na boca.

 - Você passa tempo demais com essa garota – comentou Jeremy.

 Não olhei para ver qual a expressão de Jeremy, mas ele havia usado aquele mesmo tom de advertência e preocupação de quando eu lhe disse que nunca havia escutado Metallica.

 - Ah, pai. Não começa com isso você também – reclamou Justin.

 Desta vez olhei para ver a expressão de Justin. Eu não o conhecia, então não sabia como ele agia em certas situações, apesar de que agora já sabia o mínimo de sua vida e sua carreira. Isso devia contar para alguma coisa. Ele tinha uma expressão meio triste e brava ao mesmo tempo. E, além disso, parecia cansado. Não apenas cansado do jeito que se fica quando se dorme apenas seis horas, mas como se aquele assunto fosse extremamente cansativo e delicado. Os olhos de Justin encontraram os meus e eu abaixei a cabeça, envergonhada por ele ter percebido que eu estava escutando tudo.

 - Tudo bem então, filho – disse Jeremy, com um suspiro – Você que sabe o que quer fazer da vida.

 Jeremy se levantou, dando um tapinha masculino no ombro de Justin, mas ele nem olhou. Quando ergui os olhos, Justin ainda estava me encarando. Ele terminou de tomar café da manhã em silêncio e quando acabou, levou o prato até a pia. Isso por si só já tinha me deixado impressionada, mas aí ele puxou uma cadeira na minha frente e se sentou. Louie não demorou a esticar os bracinhos em direção a ele, que a pegou e colocou-a no colo.

 - Então, onde nós vamos hoje? – ele perguntou, sorrindo para Louie.

 - Nós? – rebati, de sobrancelhas arqueadas.

 - É, nós. Nós vamos sair para algum lugar, não vamos? – disse Justin, agora sorrindo para mim.

 Fiquei meio paralisada. Puta merda. Eu entendia o fato de ele querer sair com os irmãos, afinal parecia que não os via muito. Mas eu tinha que ir junto, de novo? Dessa vez Erin não ia sair e ela com certeza poderia ir com Justin e as crianças. Por que ele tinha que me meter nessa roubada de novo?

 Claro que a noite passada havia sido ótima e ele havia sido muito legal – tirando por uma pequena discussãozinha no fim da noite – mas eu ainda ficava me sentindo muito estranha por sair com Justin Bieber. Ainda mais agora, que eu sabia tudo que ele já havia ganhado e que já conhecia toda a sua fama.

 - Você sabe que eu e Louie não estamos incluídas nesse nós, não sabe? – perguntei, encarando-o.

 - Por que não? Você é a babá deles – ele respondeu, me encarando de volta e sorrindo – E Louie é minha mais nova fã.

 Ele olhou para ela e sorriu. Minha irmã sorriu de volta e se aninhou em seu pescoço. Justin pareceu surpreso, mas abraçou-a e de volta e afagou seus encaracolados cabelos castanhos. Eu queria ter tido o pai de Louie. Enquanto ela nascera com os cabelos encaracolados e lindos olhos verdes, eu nasci com um cabelo castanho e ondulado, mas pouco definido. E meus olhos eram tão claros quanto um pedaço de madeira. Isso me deixava frustrada com a genética. A única coisa da qual eu era orgulhosa em mim mesma era meu nariz pequeno e bem feito. Mas, ainda assim, como um nariz pode chamar atenção?

 - Nós poderíamos ir ao zoológico – eu comentei, cedendo e me juntando ao programa de irmãos – E ao parque de diversões que voltou à cidade. Eu soube que está ótimo este ano.

 Justin sorriu ao ver que eu havia me juntado à trupe novamente.

 - Seria ótimo – ele comentou.

 Então eu coloquei Jazzy no chão e peguei Jaxon no colo para que pudéssemos subir e trocar de roupa. Jazzy ainda estava de pijama e Jaxon usava apenas uma bermuda e uma camiseta. A gente ia precisar de mais roupa se quisesse ficar o dia inteiro fora.

 - Fique com a Louie por um tempo, ok? – eu disse para Justin, já indo em direção às escadas.

 - Sim, senhora – ele respondeu, sorrindo e então me chamou de volta – Liv?

 - Sim? – perguntei, retrocedendo dois passos e me virando para encará-lo.

 - Obrigado por isso.

 Dei uma risada e voltei a caminhar.

 - Tudo bem – comentei no caminho para o quarto das crianças – Eu deixo você me pagar uma volta na roda gigante.