Acordei sete horas da manhã sentindo cheiro de café. Levantei, lavei o rosto e escovei os dentes. Só depois fui para a cozinha e encontrei minha mãe me fazendo café da manhã pra Louie, que já estava acordada.

 – Bom dia, querida – disse minha mãe – Eu vi que você pegou no sono no sofá. Por que não foi pra cama?

 Eu ainda estava meio grogue por ter acabado de acordar, então tive que me sentar e beber um pouco de suco pra depois conseguir processar a pergunta. Justin escolheu aquele momento como o certo para sair do meu quarto, só de cueca. Minha mãe, assim que o viu, derrubou a panela cheia de bacon e soltou um grito estridente.

 – Por causa dele – apontei Justin, explicando.

 Minha mãe me encarou como se eu tivesse ficado maluca. Dei de ombros. Justin tomou o caminho direto para o banheiro sem conseguir dizer nada. Ele também não era uma pessoa matutina. Justin, como eu, funcionava melhor de noite. Só que ele tinha a opção de trabalhar à noite. Eu não.

 – Quem é ele? O que está fazendo aqui? – perguntou minha mãe.

 – É Justin – respondi.

 – Justin quem? – ela perguntou, de sobrancelhas franzidas.

 – Justin Bieber, mãe.

 Minha mãe arregalou os olhos e olhou na direção do banheiro. Voltou a olhar pra mim, boquiaberta. Ela parecia estar tentando processar o fato de que Justin Bieber estava na sua casa naquela hora da manhã. Ou melhor, que ele havia dormido ali. Bem, é o que acontece quando sua filha trabalha cuidando dos irmãos dele e está desesperadamente apaixonada por ele. Tudo bem, não tão desesperadamente assim.

 – Por que você não me colocou pra dormir no sofá pra ele dormir na cama de casal? – ela perguntou, começando a pegar os bacons do chão.

 – Ah, mãe. Não se preocupe com isso. Uma vez nós dormimos no chão do ônibus. Justin não é tão mimado quanto parece – respondi.

 Ficamos em silêncio. Justin saiu do banheiro pouco tempo depois e caminhou até a cozinha. Deu um beijo na testa de Louie, que ficou mais do que surpresa por ele estar ali, e me deu um beijo na bochecha. Ele se sentou ao meu lado. Minha mãe continuou a encará-lo como se ele fosse um extraterrestre.

 – Desculpa pela falta de roupa, senhora Mayes – Justin disse – É que suas filhas já se acostumaram e eu sempre durmo assim.

 – Tudo bem – ela murmurou – Não me incomodo.

 Justin mandou seu melhor sorriso charmoso pra ela, que me fez até tremer na base. Foquei em comer meu café da manhã, porque senão eu ia me atrasar pra escola. Justin se demorou e começou a conversar com Louie. Eu tive que me levantar e me trocar rapidamente. Já era sete e quarenta. Minha aula começava oito e quinze.

 – Louie, vamos. Vou te arrumar – eu a chamei.

 – Mas eu queria ficar aqui com o tio Bieber – ela tentou argumentar.

 – O tio Bieber vai estar aqui quando você voltar. Ele não larga do meu pé – revirei os olhos.

 Justin se levantou e me abraçou por trás, beijando minha bochecha. Eu fiquei paralisa porque 1) aquilo era coisa de casal; 2) eu provavelmente sonhava com aquilo desde o momento em que comecei a gostar dele e 3) eu não queria que ele parasse nunca. Virei o rosto para o lado para poder encará-lo, mas Justin sorria para Louie. Comecei a sentir um frio no estômago e pensei no que aquilo significava.

 Por que eu tinha que complicar tudo pensando demais? Eu sempre acabava fazendo isso e me arrependia depois. Se Justin estava demonstrando afeto, eu só tinha que aproveitar enquanto aquilo durasse. Eu bem sabia o que ele sentia por mim e eu gostava tanto dele. Podia até dizer que o amava. Oh, Deus. Eu nunca havia amado alguém do sexo masculino. Aquilo era estranho.

 – Na verdade, você podia não ir pra escola hoje – Justin disse, encostando o queixo no meu ombro.

 Os braços dele envolviam minha cintura e eu acariciei suas mãos. Olhei para o lado e lhe mandei um sorrisinho malicioso. Minha mãe estava só escutando nossa conversa. Voltei a ficar séria e assenti com a cabeça.

 – Mas Justin, eu tenho que ir pra escola hoje – menti.

 – Ah, mas sua mãe podia fazer uma exceção, né? – ele perguntou.

 Minha mãe se virou para ele, confusa. Ela franziu as sobrancelhas.

 – Do que vocês estão falando? – perguntou.

 – Senhora Mayes, vou levar meus irmãos pra Orlando nesse fim de semana e eu gostaria muito que Liv e Louie pudessem vir também – ele pediu, todo educado.

 – Sinto muito, Justin. O problema não é Louie, e sim Liv. Ela já perdeu muitas aulas esse ano letivo. Não pode perder mais nenhuma – minha mãe respondeu.

 Bem, ela realmente soava como minha mãe naquele momento e eu me senti meio orgulhosa daquilo. Nossa relação havia melhorado consideravelmente e ela estava fazendo cada vez mais parte da minha vida. Ela já havia virado mãe de Louie. Agora só faltava virar minha mãe de verdade. E ela não estava muito longe disso.

 – Mas não vou poder ir nenhum outro dia. E já comprei as passagens pra hoje à tarde. Os próximos meses vão ser uma loucura, porque meu próximo álbum vai ser lançado. Por favor, senhora Mayes. Preciso das suas filhas lá – Justin disse.

 Ele olhou com convicção pra mim quando disse a última frase, como se precisasse de mim lá com ele. Não pude evitar e sorri. Também fiquei corada. Minha mãe pareceu perceber, pelo jeito que estávamos abraçados, pelo jeito que Justin falava e pelo jeito que eu havia ficado corada, que havia algo entre Justin e eu. Não algo sério, mas algo começando a acontecer. Ela sorriu e assentiu com a cabeça.

 – Tudo bem. Mas só desta vez! – ela respondeu, apontando pra mim e pra Louie.

 – Obrigada, mamãe – Louie se levantou e abraçou minha mãe pelas pernas.

 Minha mãe deu risada e assentiu, afagando os cabelos de Louie. Eu dei risada e me soltei de Justin. Abracei minha mãe também. Aquilo a pegou de surpresa, mas ela pareceu gostar. Era um abraço de agradecimento por estar finalmente parecendo se preocupar comigo, além de ter virado realmente minha mãe.

 – Vamos arrumar as malas – eu disse à Louie.

 Ela gritou feliz e correu até seu quarto. Dei risada e passei por Justin, caminhando em direção ao quarto de Louie. Ele me puxou pelo braço e me fez encará-lo. Quando me olhou nos olhos, sorriu. Ele estava me agradecendo por ter lhe dado uma segunda chance. Será que ele não fazia ideia que eu lhe daria todas as segundas chances que quisesse? Eu gostava dele demais para deixa-lo ir embora daquele jeito.

 – Obrigada – ele sussurrou.

 – De nada. Você não vive sem mim, Bieber – eu disse brincando, com um sorriso enorme no rosto.

 – Você sabe que isso é verdade, Liv – ele respondeu, sorrindo também.

 Aquilo me fez corar e eu dei risada. Justin se aproximou e nossos lábios se encontraram por um pequeno espaço de tempo. Ele se afastou, esperando minha reação. Corei mais ainda e sorri, desviando o olhar.

 – Hum, tenho que arrumar a mala – apontei o quarto de Louie e caminhei até lá.

 Ele havia acabado de me beijar de novo. Na minha casa. Na frente da minha mãe. Tudo bem que não havia sido um beijo como o último, foi só um selinho. Mas ainda assim. Passei a mão nos meus lábios enquanto entrava no quarto de Louie e sorri. Meu Deus, eu parecia uma garotinha de nove anos que havia acabado de levar o primeiro beijo.

 – Vamos arrumar sua mala, Louie – eu me concentrei naquilo – Orlando é muito quente, então só vamos levar roupas de calor.

 Peguei a mala de Louie em cima do guarda-roupa. Ela começou a pegar suas próprias roupinhas e a colocar em cima da cama. Eu a observei por um tempo. Ela era tão inteligente já naquela idade. E se virava muito bem sozinha. Acho que a culpa era minha, já que eu a ensinei a tomar conta de si mesma do mesmo jeito que eu fazia.

 Louie pegou shorts, camisetas, bonés, tênis e sandálias. Sua pequena mala logo foi preenchida de roupas e já estava pronta. Separei uma roupa pra ela colocar na viagem e uma jaqueta para colocar dentro do avião. Em Orlando, a noite também era fria.

 – Agora vá tomar banho enquanto eu arrumo minha mala, Louie – eu lhe disse.

 Ela assentiu e caminhou direto para o banheiro. Louie conseguia tomar banho sozinha porque nossa prateleira de coisas ficava bem embaixo e ela conseguia alcançar. Ela era realmente muito esperta e independente. Aquilo era um orgulho.

 Caminhei até meu quarto, onde Justin já estava de roupa. Puxei uma mala de cima do meu guarda-roupa e comecei a arrumar minhas coisas. Justin sentou na minha cama e só ficou me observando. Fiquei corada o processo inteiro. Ele estava tão sexy me olhando daquele jeito. Quando tive que pegar calcinhas e sutiãs foi uma tortura. Joguei tudo na mala e só depois fui dobrando e colocando em seu devido lugar.

 – O que está olhando? – perguntei à Justin.

 – Seu sutiã. Estou meio que medindo seus peitos baseado neles, mas não tenho muita base. Nunca te vi sem sutiã – ele respondeu, dando de ombros.

 Fiquei boquiaberta e dei um tapa em Justin. Ele começou a dar risada e ficou claro pra mim que ele estava brincando. Justin me puxou e eu sentei em seu colo. Nós demos mais risada ainda. Eu não sabia o que havia acontecido com ele, mas, de repente, era como se eu fosse a sua garota. A única que ele queria.

 – Você está brincando com fogo, Justin Bieber – eu lhe adverti.

 Minhas palavras tinham tom de brincadeira, mas eram muito verdadeiras. O que Justin pensava estar fazendo exatamente? Ele me queria ou não? Depois de ter passado tanto tempo na minha porta e de ter me beijado hoje de novo, eu tinha a impressão que sim. E, se ele me queria, o que ia acontecer conosco? Porque eu também o queria.

 – Sempre gostei do fogo – ele respondeu, alisando minhas costas – É quente e deslumbrante.

 – Mas você pode se queimar – eu lhe adverti novamente.

 Ele envolveu minha cintura com os braços novamente e eu quase me derreti.

 – Estou disposto a correr o risco – ele murmurou.

 Um som de desejo reprimido saiu involuntariamente da minha garganta e, antes que eu pudesse perceber o que estava fazendo, passei os braços pelo pescoço de Justin e cortei a distância entre nossos lábios. Ele me apertou contra seu corpo e abriu os lábios, abrindo espaço para minha língua. Nós movíamos as cabeças em sincronia e o beijo ficava mais exigente e audacioso a cada segundo. Parei de pensar em tudo que estava me preocupando: Selena, Chaz, a mídia, os sentimentos que Justin nutria por mim. Só aproveitei o beijo, porque talvez aquela fosse a única coisa que eu pudesse ter de Justin.

 Nós nos descolamos depois do que pareceram alguns minutos. Ele me encarava, ofegante. Justin sorriu e segurou meu rosto com as mãos. Colou a testa na minha por alguns segundos e depois se afastou, beijando a ponta do meu nariz logo em seguida.

 – Você é incrível, Liv Mayes – ele sussurrou.

 Aquilo me fez sorrir. Eu não lhe disse, mas eu não era nada comparado a ele. Justin é que era incrível. Gentil, honesto, talentoso, inteligente, bonito, doce, sexy. Ele era tudo aquilo e mais um pouco. Justin era um milhão de coisas em uma só pessoa e eu o amava por aquilo. Eu o amava por quem ele era e por quem eu me tornava quando estava com ele. Abracei-o e beijei seu pescoço. Ele me completava.

 – Ah, meu Deus – sussurrei – Preciso arrumar minha mala.

 Justin deu risada.

 – Pode arrumar – ele disse, sorrindo.

 – Não consigo me soltar de você – sussurrei.

 Ele deu mais uma risada e me apertou ainda mais forte.

 – Que bom.

 Louie me gritou depois de algum tempo e eu soube que tinha que levantar. Fui ajudá-la a se trocar e depois voltei ao meu quarto para terminar de arrumar minha mala. Sorte que Justin foi para a sala, senão eu ficaria agarrada com ele pelo resto do dia. Eu não entendia o que nada daquilo significava, já que Justin havia me prometido que nada ia acontecer entre nós. Mas acho que nenhum de nós conseguia manter essa promessa.

 Louie ficou com Justin na sala e eles assistiram a um pouco de TV juntos. Levei nossas malas lá pra sala. Ainda era cedo, mas só Deus sabia que horas que nós íamos sair para o aeroporto. Ainda tinha que passar pra pegar Jazzy e Jaxon.

 Minha mãe terminou de se arrumar para o trabalho pouco depois e saiu, dando um beijo e um abraço em mim e em Louie e nos desejando boa viagem.

 – Me liga quando chegar lá, ok? – ela me pediu.

 – Tudo bem – assenti.

 Depois disso, resolvi ir tomar banho pra me arrumar. Eu já tinha separado uma roupa pra viajar e já estava na hora de me vestir pra ir pra Orlando. Eu ainda estava usando a roupa que eu ia pra escola, então só queria me livrar daquilo.

 – Vou tomar banho – avisei na sala.

 Justin estava assistindo Bob Esponja com a minha irmã. Aquilo era fofíssimo.

 – Opa, quer que eu vá junto? – Justin perguntou.

 Eu o encarei, confusa.

 – Eu disse que vou tomar banho.

 – Exatamente. Quer que eu vá junto?

 – Ah, seu idiota – eu dei risada – Cala a boca.

 Justin deu risada e me mandou um olhar malicioso. Ignorei aquilo e caminhei até o banheiro. Quando entrei, fiz questão de trancar a porta. Ele era safadinho demais pro meu gosto. Saí do banheiro de toalha e corri pro meu quarto. Tranquei minha porta também e me vesti. Quando saí, Louie e Justin já me esperavam.

 – Vou levar essa garota linda pra almoçar. Se você quiser, pode vir também – Justin disse.

 – Vou fazer esse sacrifício pela garota linda – respondi.

 Justin deu risada. Peguei minha bolsa e desliguei a TV. Moshe, que havia passado a noite lá fora, – se bem que eu duvidava que ele tivesse ficado sem dormir. Provavelmente tinha trocado de turno com outro segurança – se encarregou de levar nossas malas. Tranquei a porta de casa e dei a mão à Louie. Por incrível que pareça, Justin procurou pela minha mão às cegas.

 Olhei para ele com cautela. Será que ele queria dar mesmo aquele passo em público? Nós não estávamos namorando e ele ainda estava com Selena. Bufei e balancei a cabeça. Eu tinha que parar de pensar demais. Não podia simplesmente ficar feliz que Justin estava comigo agora? Ele havia rejeitado a “namorada” pra poder ficar comigo e com os irmãos em Orlando. Ele merecia essa chance.

 Entrelacei minha mão na de Justin e nós saímos para a rua daquele jeito.