Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 50
L




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 Acordei quatro da tarde no dia seguinte. Meu quarto estava com um cheiro azedo horroroso e eu não me lembrava de muita coisa que havia acontecido na noite anterior. Pelo menos não até o litro de vodca se juntar à festa. Levantei quase sem perceber que estava só de cueca e me peguei pensando em quem tirou minhas roupas. Torcia pra não ter sido minha mãe, senão ela ia me dar a maior bronca da minha vida.

 Desci as escadas e encontrei todo mundo me esperando e dando risada. Todo mundo menos Liv e Louie. Procurei com os olhos por elas, mas não as encontrei em nenhum lugar. Será que ainda estavam dormindo também?

 Selena colou em mim pelo resto do dia. Minha Guerra Fria com Liv havia lhe dado falsas ilusões, mas eu não conseguia afastá-la de mim porque ela ia me perguntar a razão. Quando tive uma folga, subi ao quarto de Liv. Fiquei apavorado quando vi que não havia nada nem ninguém lá.

 – Cadê a Liv e a Louie? – perguntei desesperado.

 – Elas foram embora hoje de manhã – respondeu minha mãe – Ela não quis te acordar pra se despedir.

 Respirei mais aliviado e procurei meu celular. Liguei umas cinco vezes pra Liv e lhe mandei três mensagens, mas ela não me respondeu nem me ligou de volta. Até mesmo no domingo, quando todo mundo foi embora, Liv ainda não havia me respondido. Já estava começando a ficar preocupado e me foquei em tentar me lembrar do que havia acontecido naquela festa enquanto eu estava bêbado.

 Eu me lembrava de ter ido ao banheiro porque achei que queria vomitar. Mas, quando cheguei lá, eu só queria me sentar pra ver se a tontura passava um pouco. Sentei num canto e fiquei olhando os azulejos brancos. Depois Liv entrou e me levou pra fora. A única coisa que eu lembrava depois era de estar deitado na minha cama.

 Na semana seguinte, continuei tentando falar com Liv todos os dias. Eu lhe mandava duas mensagens todo dia, mas ela nunca me atendia ou me respondia. Depois de três semanas terem se passado, fiquei mais preocupado ainda. Ou ela havia perdido o celular ou estava me ignorando de propósito.

 Mas por que ela me ignoraria? Tudo bem que nós sempre brigávamos, mas ela sempre me atendia depois de um tempo. Será que eu havia feito algo tão horrível que ela não queria nunca mais nem olhar na minha cara? Eu esperava que não. Mas se realmente fosse algo tão grave, eu me lembraria.

 Já passava do dia 20 de março e eu me olhava no espelho, cada vez mais descontente. Talvez Liv estivesse certa, talvez aquele cara com os cabelos escuros realmente não se parecesse comigo. Por que diabos eu fui pintar o cabelo? Selena disse que ficaria legal, mas agora eu estava na dúvida. Eu tinha trabalhado tanto nos últimos tempos e Boyfriend logo iria ser lançado. Aquela maldita cor de cabelo estava me incomodando.

 Voltei à minha cor de antes depois de algum tempo. Eu passava cada vez mais tempo no estúdio e não conseguia parar de trabalhar. Foi minha melhor época pra escrever mais músicas, mas poucas delas acabaram indo para o CD.

 Já passava do meio de abril e Liv não havia retornado nenhuma das minhas ligações. No começo de maio, comecei a ficar realmente desesperado. Tentei me desligar dela, tentei pensar em outra coisa, tentei até me focar em Selena. Mas eu simplesmente não conseguia. Eu havia feito alguma merda pra ela e agora nós não estávamos mais nos falando. Parabéns, Justin. Você conseguiu afastá-la duas vezes em menos de um mês.

 Já fazia dois meses que nós não nos falávamos e eu sabia que ligar pra ela não ia resolver mais nada. Comprei as primeiras passagens pra Winnipeg e fui pra lá. Avisei meu pai sobre meus planos de levar as crianças pra Disney e ele concordou depois de conversar com Erin. Agora eu só precisava convencer Liv.

 Devia ser umas oito horas da noite quando apareci na frente do apartamento dela. Não sabia onde ela morava, mas Erin me deu o endereço. Moshe estava me esperando no fim do corredor, mas não havia nada pra dar errado. Toquei a campainha duas vezes. Quando ia tocar a terceira, Liv gritou alguma coisa e eu me segurei. Cobri o rosto com as passagens pra Orlando e esperei que ela abrisse a porta.

 – O que você está fazendo aqui? – ela soava aborrecida quando me atendeu.

 – Não é óbvio? – tirei as passagens do rosto – Vim te buscar pra irmos pra Orlando.

 Ela me encarou com as duas sobrancelhas arqueadas. Eu havia me esquecido naqueles dois meses o quanto eu sentia falta dela e o quanto ela era linda. Tudo aquilo me atingiu de uma vez só e eu quis me ajoelhar e implorar por seu perdão. Mas me controlei. Eu nem sabia o que havia acontecido direito.

 – Orlando, Flórida? – ela perguntou.

 Assenti como resposta. Ela deu uma risada sem humor.

 – Tenha dó, Bieber. Tenho mais coisa pra fazer do que ir pra Disney. Não sou rica e vagabunda que nem você – ela respondeu, fazendo menção de fechar a porta.

 – Ei, eu não sou vagabundo. Estou trabalhando.

 – Tá bom, então. Volta pra Los Angeles e vai trabalhar, vai.

 Liv tentou fechar a porta de novo, mas eu lhe impedi. Ela soltou a maçaneta e ficou me encarando de braços cruzados, brava. Ela ficava linda brava. Na verdade, ela ficava linda toda santa hora. Como ela conseguia me encantar toda hora?

 – Não importa o que você diga, não vou com você nessa viagem estúpida. Então se não quiser ir embora, pode ficar aí na porta. Não vou te deixar entrar – ela deu de ombros.

 – Tudo bem, espero aqui fora – respondi, dando de ombros também.

 – Tudo bem.

 – Tudo bem, então.

 Ela fechou a porta na minha cara depois disso e nem me deixou dizer mais nada. Continuei parado ali na frente da porta dela. Eu não ia sair até ela me deixar entrar.

 Moshe se aproximou e tentou me puxar pelo braço, mas neguei com a cabeça.

 – Vou ficar aqui – eu lhe disse.

 – Ela não vai te deixar entrar – ele afirmou.

 – Não vou sair daqui, Moshe.

 Ele desistiu de tentar me tirar de lá. Continuei em pé esperando por mais uma hora. Depois resolvi me sentar. Eu já estava ficando com fome, então pedi pra Moshe ir comprar um Big Mac pra mim. Ele voltou pouco tempo depois e nós comemos ali no corredor mesmo, sentados no chão. Comecei com minha sessão de piadas, mas ele não riu de nenhuma delas – e eu tive uma crise de riso certa hora. Eu sabia que quanto mais barulho eu fizesse, mais Liv ia se sentir culpada porque ia saber que eu estava ali.

 Mais de duas horas depois disso foi quando eu comecei a cantar. Cantei Boyfriend, One Time, Never Say Never, One Less Lonely Girl e Down to Earth a plenos pulmões. Um dos vizinhos de Liv apareceu pra ver quem era o louco cantando. Acenei e ele voltou para o apartamento. Ele definitivamente não estava esperando Justin Bieber.

 Já passava da uma da manhã e eu continuava lá, sentado de costas para a porta da casa de Liv e ela não mostrava sinais de rendição. Resolvi começar a cantar Locked Out Of Heaven, porque a música realmente combinava com o momento.

 – Cause your sex takes me to Paradise. Yeah, your sex takes me to paradise. And it sho-o-o-ows. Yeah, yeah, yeah. Cause you make me feel like I’ve been locked out of heaven for too lo-o-o-ong. For too lo-o-o-ong. Yeah, you make me feel like I’ve been locked out of heaven for too lo-o-o-ong. For too lo-o-o-ong – cantei tão alto que todos os andares devem ter me escutado.

 A porta se abriu do nada e eu caí pra trás, deitado no chão.

 – Olá – eu disse a Liv.

 – Você está ficando louco? Cantando essas obscenidades na minha porta a uma da manhã? Meus vizinhos vão reclamar! – ela sussurrou, já de pijamas.

 – Era só pra você saber que eu ainda estava aqui.

 – Eu sei que você não saiu daí. Fiquei checando pelo olho mágico – ela revelou.

 Dei risada e apontei pra ela.

 – Você se importa comigo.

 Ela apontou pra mim.

 – Você é um idiota.

 Dei risada de novo e assenti. Verdade, eu era mesmo um idiota. Eu me levantei do chão e ela me deixou entrar, fechando a porta logo em seguida e deixando Moshe lá fora. Nós caminhamos silenciosamente até seu quarto e ela apontou sua cama.

 – Você pode dormir aqui hoje. Já está muito tarde pra ir para casa mesmo. Vou dormir no sofá – ela explicou.

 Olhei em volta. Era um quarto bem simples e normal. Diferente do que eu estava acostumado, porque não tinha dezenas de pôsteres pendurados na parede. As paredes eram cruas e brancas. A cama era de madeira clara, assim como o guarda-roupa. Não havia muita coisa que personalizasse aquele quarto. Era frio e claro, como qualquer outro quarto de hotel. Como se aquele não fosse realmente seu lar.

 – Posso dormir no sofá – eu lhe disse.

 – Não, está tudo bem – ela pegou um cobertor de uma das portas do guarda-roupa e roubou um dos travesseiros da cama – Boa noite.

 Segui Liv até a sala, porque nossa conversa não havia terminado. Ela havia me deixado entrar, mas ainda parecia brava comigo. Eu só queria entender o porquê.

 – Por que você está tão assim comigo? – perguntei.

 – Assim como? – ela rebateu.

 – Distante. Fria. Aborrecida. Brava. Irritada.

 – São muitos adjetivos específicos, você não acha? – ela replicou, irônica.

 – Liv, é sério. Não gosto quando isso acontece. Nós não nos falamos há dois meses. Eu fiquei louco te ligando e você nunca me atendia. Foi muito frustrante – desabafei.

 Ela deu risada e se aproximou de mim.

 – Você não faz ideia do significado da palavra “frustrante” – ela afirmou.

 Respirei fundo. Ok, eu definitivamente devia ter feito alguma merda pra ela ficar me tratando daquele jeito. Eu precisava saber o que era pra poder me desculpar da maneira correta. Eu estava bêbado, ela tinha que me dar um desconto também.

 – O que aconteceu na minha festa? – perguntei.

 – Do que você se lembra?

 – De você me tirando do banheiro. Depois acordei no meu quarto e vomitei na beirada da cama – respondi com total sinceridade.

 Liv fez uma cara de nojo e balançou a cabeça.

 – Que bom que eu não vi isso. Fui eu que te coloquei na cama e tirei suas roupas – ela disse – Então, de nada.

 – Obrigado.

 Ficamos em silêncio de novo. Aquilo ainda não resolvia a questão. Ter me ajudado enquanto eu estava bêbado não a teria feito se afastar daquele tanto. Sempre ajudei Liv e eu tinha certeza que podia contar com ela em todos os momentos da minha vida, bons ou ruins. Algo mais havia acontecido.

 – Hum, e o que mais aconteceu? – perguntei.

 – Como assim?

 – Só isso não faria você se afastar. O que aconteceu, Liv? Foi algo que eu fiz?

 Ela olhou para os lados, tensa, e suspirou. Boa coisa não estava por vir.

 – Nós nos beijamos – ela sussurrou – De novo.

 Aquilo me fez cair direto no sofá. Na vez que eu havia conseguido beijar Liv, eu estava bêbado. Mas eu era um retardado mesmo. É claro que aquilo era suficiente pra fazê-la se afastar de mim. Ela não me amava e nós dois estávamos comprometidos. Aquilo havia sido a maior estupidez da minha vida. Cobri o rosto com as mãos e bati na minha testa umas três vezes pra ver se eu conseguia parar de ser tão idiota.

 Quando olhei pra Liv de novo, ela me encarava com uma expressão de choque.

 – Me desculpe, Liv – eu lhe disse, me levantando e pegando sua mão – Eu sinto muito por isso. De verdade.

 Ela soltou minha mão e se afastou de mim, abraçando seu próprio corpo. Quando falou, não conseguiu me encarar.

 – Você me chamou de Selena – ela murmurou num fiapo de voz.

 Caí no sofá de novo. Meu Deus, como alguém podia ser tão retardado assim? Parabéns, Justin. Você afastou a garota da sua vida. De novo. Pela, sei lá, vigésima vez. Como você vai compensar as coisas dessa vez, hein? Não dá pra consertar isso. Você teve a chance de beijar a garota que você ama e ainda a chamou por outro nome. Sendo esse nome, o da sua atual namorada. Parabéns!

 – Eu... – comecei a falar, sem conseguir traduzir meu ódio por mim mesmo em palavras.

 – Olha, eu não sei o que está acontecendo entre a gente – Liv começou a dizer – Mas essa atração doentia...

 Ela pausou e me encarou. Atração doentia? Oh, meu Deus. Ela não fazia ideia de que eu a amava. Será que isso era possível? Eu precisava lhe dizer com todas as palavras. Liv era tão obtusa quanto eu. E se ela me amasse também? Ela havia ficado bem abalada por eu ter lhe chamado de Selena. Será que era porque gostava de mim?

 – Isso tem que parar – Liv continuou, desviando o olhar – Não vai dar certo. O que aconteceu entre nós no Natal e na sua festa de aniversário... Não quero que aconteça de novo.

 Então todas as minhas dúvidas foram por água abaixo. Ela não queria ficar comigo. Se sentia atraída por mim, mas não me amava. Não me queria. Olhei pra baixo, sem conseguir encará-la nem mais um segundo. Eu me sentia tão cansado agora. Levar um fora realmente consegue te drenar emocionalmente.

 – Eu sei os seus sentimentos por mim e você sabe os meus por você. Então, a quem estamos enganando? – ela acrescentou.

 Levantei a cabeça e encarei-a nos olhos. Aquela ia ser minha última tentativa.

 – A nós mesmos. Estamos nos enganando, Liv. Eu não minto quando digo que te amo, porque é realmente o que eu sinto – eu lhe disse olhando em seus olhos.

 – Também te amo – ela respondeu automaticamente.

 Era uma resposta tão fria e sem sentimento que eu duvidei que fosse verdade. Liv desviou os olhos dos meus e eu não pude tentar saber o que ela estava pensando. Dei de ombros. Ela não me amava do jeito que eu a amava e era assim que nós íamos ficar. Eu já estava cansado de tentar fazê-la perceber meu amor por ela. Não ia dar em nada mesmo. Eu estava cansado de lutar por um “nós” que não existia.

 – Podemos ir pra cama agora? Estou realmente cansada – Liv quebrou o silêncio.

 – Sim, claro. E Liv, eu sinto muito pelo que eu fiz na festa e... Por tudo, no geral.

 – Você não precisa sentir muito. Está tudo bem, só me prometa que não vai acontecer de novo. Eu não conseguiria suportar, estou muito cansada em relação a isso – ela pediu.

 Assenti com a cabeça e segurei minhas lágrimas idiotas.

 – Claro. Não vai acontecer de novo, não se preocupe.

 Ela assentiu em agradecimento. Caminhei até o seu quarto e fechei a porta antes de começar a chorar. A última coisa que eu queria era que ela me escutasse.


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Notas finais do capítulo

Juju chora, tia Carmen também )): ok, não estou chorando de verdade mas fico com um aperto enorme no coração
ENTÃAAAO meu povo, hoje vou começar a postar Love, Sex, Marriage (a fic número 5) no fanficscdj.tumblr.com e no animespirit.com.br/cbdd6277 :) quem quiser dar uma chegada lá pra ler, vai ser muito bem vindo *-*
hmm, é só isso. prometo pra vocês que os próximos capítulos de HaS vão dar muita overdose de fofura *-* e estamos chegando ao fim da primeira temporada. vai demorar mais uns 5 ou 6 capítulos (talvez mais, talvez menos) pra essa temporada acabar e a outra começa logo em seguida, ok? milbeijos da tia Carmen e MUITO OBRIGADA PELAS 1000 REVIEWS *---* lindas da tia, amo muito vocês ♥