O Winnie’s Bowling, que por acaso eu nunca tinha sequer escutado falar, ficava na parte da cidade que eu nunca visitava. Para falar a verdade, acho que nunca havia nem passado perto daquele lugar. Era aquela parte mais rica, portanto, fora de cogitação para mim, que andava com um Chevrolet Camaro 1985 quase caindo aos pedaços.

 Nós caminhamos até a entrada do boliche normalmente, e isso até me fez esquecer que não éramos pessoas normais querendo simplesmente jogar boliche. Quando entramos, Justin encabeçava a fila, com Louie no colo, e eu ficava logo atrás, com Jaxon no colo e Jazzy agarrada à minha mão. Kenny vinha mais atrás, nos escoltando. Assim que pisamos dentro do boliche, parece que o tempo parou. Não sei se aquilo era normal para algum dos meus dois acompanhantes, mas para mim foi impressionante.

 Todo mundo olhou para nós e simplesmente parou o que estava fazendo. Garotos prestes a jogar a bola em uma das pistas mais distantes esqueceram o que estavam fazendo. As funcionárias tagarelando perto da onde ficavam os sapatos ficaram boquiabertas. Parecia até mesmo que o relógio havia parado somente para que Justin Bieber pudesse entrar naquele boliche. E então, um segundo depois, tudo isso havia acabado. Dois funcionários, mais o gerente, vieram em nossa direção, cheios de sorrisos e cumprimentos. Tenho certeza que se fosse eu sozinha com as crianças e meu Chevrolet velho, seria rechaçada dali.

 - Boa noite, senhor Bieber. É uma honra tê-lo aqui – começou a falar o gerente, um homem meio franzino, de bigode e com um paletó azul marinho grande demais para ele.

 Justin deu um sorriso amarelo. Aquilo parecia ser natural para ele, mas era, de alguma maneira, desconfortável. Seus olhos fugiram de foco e pareceram encontrar os meus. Era quase como se ele estivesse pedindo socorro com aquele olhar. Achei melhor salvá-lo daquela situação, já que ele havia me salvado minutos antes.

 - Olá, boa noite – eu disse, tomando a frente – Nós só gostaríamos de uma pista e de dar uma olhada no cardápio, por favor.

 - Ah, sim, claro – respondeu o gerente, perdendo a compostura por um momento.

 Ele nos levou até as pistas e deixou duas delas reservadas para nós. Distribuiu cardápios para todo mundo e fez com que dois funcionários ficassem por perto, se precisássemos de alguma coisa.

 - É tudo por conta da casa! – disse o gerente e despediu-se.

 Sentamos nos sofás que ficavam de frente para as pistas, ainda com plena consciência de que o boliche inteiro nos olhava, esperando pelo próximo movimento. Louie, Jaxon e Jazzy estavam sentados ao meu lado e pareciam curiosos, mas ninguém se atrevia a levantar. Justin leu o cardápio, mas não estava realmente prestando atenção. Estava inquieto. Batia um dos pés insistentemente sobre o chão, como se estivesse impaciente.

 - Isso é péssimo – murmurou para que apenas eu, que estava ao seu lado, conseguisse ouvir – A gente devia ter ligado e mandado fechar o boliche. Pelo menos não ia ficar com toda essa atenção.

 Não comentei nada a principio, mas eu também não ia deixar passar batido.

 - Por que você não tenta agir como um garoto normal? – perguntei.

 - Porque eu não sou um garoto normal – ele respondeu, em um tom extremamente amargurado – Não sou mais.

 Ele me encarou com uma raiva no olhar, quase imperceptível. Não era raiva de mim, mas raiva por tudo ser do jeito que era. Eu imagino que a parte boa de ser famoso deve ser maravilhosa, mas a parte ruim também deve ser péssima.

 - Justin! – Kenny chamou sua atenção – Belieber. 90 graus à esquerda.

 Olhei para a esquerda também, porque não sabia o que diabos era uma belieber. Três garotas vinham caminhando, meio receosas, até a nossa pista. Um dos funcionários que estava de guarda olhou feio para o grupo e fez menção de impedi-las, mas com um gesto Justin fez com as meninas pudessem passar e chegar até ele. Respirou fundo e levantou, colocando um sorriso no rosto.

 Kenny sentou-se ao meu lado enquanto Justin conversava com as garotas. Suspirou e deu uma risadinha um pouco debochada.

 - O que é uma belieber? – perguntei, confusa.

 Ele me encarou novamente com aquela expressão de abismado, de boca aberta.

 - Garota, você realmente não é desse mundo – disse, brincando.

 Dei de ombros e sorri timidamente.

 - São as fãs dele – respondeu, encostando as costas no sofá.

 - Ah, sim – respondi, tentando manter isso em mente para nunca mais fazer uma pergunta tão revoltante - As fãs dele. Ok.

 Ficamos em silêncio mais alguns segundos, mas acho que nem ele nem eu estávamos muito a fim de ficar em silêncio. Acho que ele também não gostava daquele desconforto, então se ajeitou no sofá e me encarou com bondade.

 - Então, como você chegou a ser a babá de Jazzy e Jaxon? Você teve que assinar um contrato ou alguma coisa de sigilo ou sei lá? – ele perguntou, tentando parecer interessado.

 - Ah, não. Eu na verdade nem sabia que eles eram irmãos.

 - Você ta brincando? – perguntou ele, incrédulo.

 Dei risada e neguei veemente com a cabeça.

 - Não! Eu realmente não sabia. Achava que o sobrenome Bieber fosse só uma coincidência. E também, eu não sabia exatamente quem era Justin Bieber – respondi, sinceramente.

 - Pois é, agora você não apenas sabe, como está num boliche com ele. Inacreditável, não é?

 - Parece mais uma daquelas pegadinhas da TV, sabe – comentei, checando as paredes e procurando por câmeras.

 Kenny deu uma risada alta e isso pareceu aliviar um pouco o clima entre nós.

 - E você? – perguntei – Como chegou a ser o segurança de Justin Bieber? Vocês parecem bem amigos.

 - Sim, nós somos. Mas é uma longa história. Sou segurança dele desde o começo, sabe. Brinco em dizer que ele é meu sobrinho, porque é mais ou menos assim a nossa relação. Tenho que estar sempre com ele, então já nos conhecemos muito bem. Já sou parte da família – e ele sorriu.

 Sorri de volta. Eu nunca havia ouvido falar de um segurança que fosse amigo do famoso. Isso era inédito para mim, mas ainda assim, fazia sentido. Kenny realmente tratava Justin como um sobrinho e eles tinham que se dar bem, de qualquer maneira. Acho que Kenny só havia unido o útil ao agradável: ele tinha que trabalhar, ou seja, escoltar Justin em todo que lugar que ele fosse, então por que não serem amigos de uma vez? Tudo ficava mais fácil.

 Olhei para as três garotas que conversavam com Justin e Kenny acompanhou meu olhar. Elas estavam tremendo, mal conseguiam segurar o papel que queriam que Justin autografasse. Ele sorria e conversava com elas naturalmente, como se não passassem de velhas amigas.

 - Por que você está sorrindo tanto? – perguntou Kenny, olhando para mim e voltando a olhar a cena.

 Eu não tinha percebido que estava sorrindo que nem uma boba, então tratei de me recompor com uma risadinha.

 - É bonito o jeito que ele as trata – respondi.

 No mesmo instante, uma das garotas pareceu percebeu que havia mais gente com ele. Uma delas cochichou com a outra e todas ficaram muito animadas. Justin não compreendeu e olhou para nós cinco, sentados no sofá.

 - A gente podia tirar uma foto com Jazmyn e Jaxon? – perguntou uma delas, alto o bastante para que eu escutasse também.

 Justin ficou vermelho. Ele parecia meio indeciso, como se quisesse deixar, mas estivesse com medo da reação dos irmãos. Olhei-o por um segundo, como que se tentasse encorajá-lo e assenti, mandando também uma piscadela.

 - Claro que pode – eu respondi e as meninas viraram os rostos para me encarar.

 Parecia que não haviam realmente me visto e só perceberam que eu estava ali naquele momento. Levantei e peguei Jaxon no colo, puxei Jazzy pela mão e Louie até nos acompanhou, mas fiz com que ela esperasse um pouco mais longe.

 - Justin, venha, pegue Jazzy – eu disse.