Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 35
XXXV




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 Horas depois do nosso incidente, Justin, eu e as crianças caminhávamos pelo backstage. Justin já estava pronto. Um cara da produção que eu não conhecia apareceu chamando ele três horas antes do show. Dá pra imaginar minha cara de incredulidade quando eu descobri que ele ia demorar três horas pra se arrumar. Mas tinha todo um procedimento antes do show.

 Justin tinha que se arrumar. Ele escolheu uma camiseta preta, jeans, uma jaqueta vermelha e seus conhecidos Supras, vermelhos também. Depois ele tinha que dar uma revisada nos equipamentos de som, ver se todos os seus instrumentos estavam em ordem, ele tinha que colocar o microfone, que seria um daqueles que vinham pelo lado do rosto, então ele não tinha que ficar segurando o microfone em si. Ele também tinha que fazer mais uma sessão rápida com Mama Jan. Eu observei-o passar por todas essas etapas com um frio na barriga. Eu sabia que estava participando de uma coisa grande, mas só me toquei na grandeza daquele menino quando ouvi um coro de beliebers gritar.

 - JUSTIN, JUSTIN, JUSTIN!

 Eu perdi o fôlego e sorri. Era muito amor num só lugar. Era muita emoção para um só lugar. Olhei para Justin, que sorria para mim. O que ele causava naquelas meninas era mágico. Não tinha nada mais bonito. Meus olhos se encheram de lágrimas.

 - O que foi? – Justin se aproximou, soltando uma risadinha – Você não vai chorar hoje de novo, não né?

 - É tão lindo – eu apontei para o buraco na cortina, pelo qual dava pra ver a multidão.

 Suas luzes de neon brilhavam na escuridão e iluminavam os cartazes e faixas. Algumas garotas choravam. Eu sentia vontade de chorar junto. Meu Deus, eu queria matar Justin Bieber. Ele estava me fazendo voltar a ser uma garotinha chorona.

 Justin riu e me deu um abraço. Ele não disse nada quando me soltou, mas seus olhos se encheram de lágrimas também. Eu dei risada enquanto derrubava duas ou três lágrimas. Ele também riu ao derrubar suas próprias lágrimas. Meu Deus, como éramos dois chorões idiotas! Eu lhe empurrei para trás.

 - Seu cabeçudo chorão!

 Nós dois demos risada.

 Justin secou as lágrimas e fungou. Ele não podia cantar de nariz entupido, não é? Portanto ele esperou uns três minutos e voltou a se preparar para o show. Quando as luzes no palco começaram a mudar e a se movimentar, as garotas gritaram mais que nunca. Justin apontou um ponto entre o palco e a multidão, que estava separada por grades. Ele apontou para mim e paras as crianças e apontou para o lugar de novo. Com a gritaria, eu não escutava uma palavra do que ele dizia, mas entendi que ele queria que nos movêssemos lá pra baixo. Assenti e me virei para caminhar para lá.

 - LIV – gritou Justin. Mesmo que tivesse gritado, sua voz saiu quase como um sussurro com as vozes de todas aquelas garotas reverberando pela casa de shows – FIQUE DE OLHO NA SETLIST!

 Eu assenti e peguei Jaxon no colo. Puxei Jazzy pela mão e mandei um sorriso de boa sorte à Justin. Não vi mais nada, porque entrei em uma área escura do backstage. Algum dos seguranças me puxou pelos braços e me guiou, tomando o cuidado de me avisar sobre a escada. Pattie também estava lá e me esperava. Ela agachou e Jazzy correu para seu colo. Dei risada enquanto ia ficar ao seu lado. Agradeci ao segurança que me levou até lá, mas ele não deve ter me escutado.

 - É SEMPRE ASSIM? – gritei para Pattie.

 - SIM! ÀS VEZES, É PIOR! – respondeu ela – NO BRASIL, POR EXEMPLO. FOI MUITO PIOR. 60 MIL PESSOAS GRITANDO!

 Meu queixo caiu. Puta merda, sessenta mil pessoas em um show. Jesus! Era muita gente. Muita gente. Gente demais. Dei risada. Eu não conseguia imaginar Justin se apresentando pra 60 mil pessoas. Parecia gente demais. Mas, de qualquer maneira, eu nunca havia visto ele se apresentar. Tipo, nunca. Então eu não tinha como imaginar.

 As luzes mudaram mais uma vez. Dessa vez estavam verdes, vermelhas e brancas. Uma doce melodia começou a soar pelos altos falantes. Quando eu percebi que conhecia aquele toquezinho do começo, a voz de Justin soou nos alto falantes antes que eu pudesse confirmar com Pattie se aquela era a música que eu achava que era.

 Justin entrou no palco com alguns dançarinos. Mariah Carey cantava também, mas ela não estava ali. É claro! Músicas de Natal, como eu havia me esquecido. Que idiota. All I Want For Christmas Is You!

 Como aquela não era a parte dele, ele cantava apenas algumas partes da música e ficava focado em fazer a coreografia. Eu me surpreendi, porque não havia o visto ensaiando. Mas aí me lembrei dos dias que passei sem falar com ele. E, além do mais, ele podia ter ensaiado antes de começar a turnê. De qualquer maneira, deu pra perceber que ele havia ensaiado pra caramba. Era uma coreografia bem legal, cheia de movimentos que eu nem sonhava em conseguir fazer. Justin era um ótimo dançarino. Ele era, na verdade, um daqueles chatos que são bons em tudo. E pensar que eu não sabia nem dar cambalhota.

 A primeira música acabou. Eu fiquei na ponta dos pés pra tentar ler o papel que ficava grudado no palco listando o nome das músicas. Depois de All I Want For Christmas Is You vinha uma música chamada Mistletoe. Tentei me lembrar de todas as músicas de Natal que eu conhecia que se chamavam assim, mas nenhuma me veio à cabeça. Só fui me tocar que a música era de Justin, e não um cover, quando ele começou a cantá-la. Antes de começar a cantar, ele começou a falar.

 - E aí, Detroit! – ele gritou no microfone.

 O público gritou algo ininteligível.

 - Vocês estão prontos pra uma noite incrível?

 Mais gritaria. Algumas garotas atrás de nós, na primeira fileira perto da grade, choravam demais. Elas não conseguiam nem falar direito. Eu dei uma olhada assustada pra trás e depois comecei a rir. Era tudo muito fofo.

 - Eu não sei se vocês conhecem a próxima música – disse Justin, caminhando pelo palco com a respiração um pouco ofegante – O nome dela é Mistletoe.

 O público foi ao delírio. É claro que eles conheciam a música! Eu não conseguia escutar mais nada, porque estavam todos gritando muito. Justin começou a cantar uma música com uma batida familiar. Eu acho que já havia começado a escutá-la no CD, mas não inteira. Dessa vez, não houve nenhuma coreografia específica. Justin caminhava pelo palco e cantava. Sempre que ele chegava perto do canto em que eu e Pattie estávamos, ele me mandava uma piscadela e um beijo para Jazzy e para Jaxon.

 Mistletoe acabou e foi a vez de uma música chamada Fa La La. Tinha uma batida lenta e romântica. Também era sem coreografia específica. Devia ser difícil fazer coreografia para músicas de Natal, afinal eram mais lentas. Fiquei prestando atenção na letra de Fa La La e eu gostei muito. Era incrivelmente fofa.

 Quando Fa La La acabou, com um grito de aprovação da multidão, Justin deu uma parada rápida para tomar água. Ele voltou ao centro do palco e sorriu para a audiência.

 - Não sei se eu já disse isso – ele começou a falar, mas alguns gritos o interromperam. Ele continuou depois de algum tempo – Provavelmente já disse, mas vou repetir. Minha irmãzinha e meu irmãozinho vieram pra turnê comigo.

 Gritos e mais gritos. Dei risada, mas fiquei apreensiva. Era bom que Justin não me chamasse pra subir no palco ou a coisa ia ficar preta. Eu já havia visto multidão demais por hoje na hora da passagem de som.

 - Façam barulho pra Jazzy e Jaxon! – Justin pediu, gritando.

 Ele apontou o canto que nós estávamos. Eu e Pattie concordamos, silenciosamente, que deveríamos dar um passo à frente, porque as garotas atrás de nós poderiam tentar nos alcançar e aquilo não seria muito legal. Estávamos certas sobre isso, porque as garotas na grade estenderam as mãos, tentando nos tocar. Eu sorri e dei a mão para algumas. Elas continuavam chorando.

 - Eu quero que vocês me ajudem a cantar um pedaço da próxima música, porque, infelizmente – ele deu outra pausa, com a respiração ofegante – o Busta Rhymes não pôde estar aqui. Vocês vão me ajudar?

 Ouve um som de aprovação. Justin sorriu.

 - Então vamos lá!

 A música começou com um som de tambores. O nome era Drummer Boy, de acordo com a setlist. Justin começou a cantar. Eu tinha a sensação de que conhecia aquela música, mas não naquele ritmo. Devia ser um cover que Justin fez muitas modificações.

 Depois de alguns versos, as batidas começaram a acelerar. Antes que eu pudesse me preparar para isso, Justin começou a cantar um rap. Eu fiquei de olhos arregalados. Depois do pequeno rap, a voz de outro rapper soou nos alto falantes. Por incrível que pareça, a multidão sabia o outro rap inteiro. Eu não conseguia nem mesmo acompanhar as palavras, mas todos cantavam junto. Dei risada. Quando vi, já estava dançando. Jaxon ria no meu colo, gostando da minha dança. Jazzy batia palminhas e sorria. Até Pattie dançava um pouco. Nós demos risada quando a música acabou.

 Então o palco ficou escuro. As garotas gritaram. Depois de menos de um minuto de espera, as luzes se acenderam. Brancas agora, iluminando o palco todo. Justin estava sentado num banquinho alto com um cara ao seu lado. Eu achava que seu nome era Dan, mas não tinha certeza. Cada um segurava um violão. O grito foi ensurdecedor.

 Justin começou a tocar uma música. A mesma pela qual eu havia me encantado no camarim, com a batida melodiosa. A voz de Justin soava ainda melhor ao vivo, mais profunda. Eu levantei um dos meus braços e Jaxon levantou seus dois bracinhos. Nós acompanhamos a música balançando os braços. Justin olhou para mim sorrindo e me mandou uma piscadela ao ver o que estávamos fazendo.

 Depois de Only Thing I Ever Get For Christmas, veio uma música chamada Christmas Love, que era uma coisa fofa só. Tinha uma letra tão fofa quando todas as outras, mas era mais animadinha com as batidas do violão. Essa era uma das favoritas do público também, porque todo mundo cantou junto. Eu me sentia meio culpada por não saber a letra de quase nenhuma música, mas ia consertar aquilo rápido. Eu ia colocar o CD de Justin no meu iPod e o escutaria sempre que pudesse. Ele ia cair do palco se me visse cantando suas músicas, mas seria uma boa surpresa.

 As luzes se apagaram novamente quando a música terminou. Quando se acenderam, uma luz em um tom de azul iluminou o palco. Justin continuava no banquinho alto, agora sem o violão e sem o cara do lado. Uma garrafinha de água estava bem perto da perna do banquinho. Eu me peguei pensando em quanto ele devia consumir de água em um só show. Devia ser uns 2 litros ou mais.

 - Essa próxima música – Justin começou dizendo – É sobre estar arrependido. Sobre errar e querer ser perdoado. Vocês me ajudam?

 A música lenta começou. All I Want Is You era o nome. Eu encarei Justin profundamente, prestando muita atenção na letra. Realmente, era sobre estar arrependido. Sobre um cara que cometeu um erro, mas que queria a menina de volta. Ele não se importava com o resto do mundo, contanto que a tivesse de volta para o Natal. A garota era o único presente que ele realmente queria.

 Era uma música tão linda que eu fiquei meio desconsolada quando acabou. Mas então Justin se levantou do banquinho – que foi retirado por um carinha da produção eficiente e discreto. Ele não disse nada sobre essa música antes de começar a cantá-la, mas quando a melodia começou, todo mundo já sabia cantá-la. Afinal, quem não sabia cantar Chestnuts? Era praticamente a música de Natal mais clássica de todos os tempos.

 Fiquei feliz que havia uma música que eu sabia cantar do show. Acompanhei o coro da multidão e nós cantamos a música juntos – Usher também soava pelos alto falantes, então pude apostar que ele havia gravado uma versão com Justin. No fim da música, todos gritaram, até mesmo eu.

 Justin tocou outras músicas: Home This Christmas; Christmas Eve, que era a que nós havíamos dançado, portanto eu queria que ela acabasse o mais rápido possível para que meu rosto voltasse à cor normal; e Pray, que era uma música com uma letra extremamente altruísta e fofa. Someday At Christmas era outra música que eu sabia cantar, porque era cover do Stevie Wonder. Então, eu sabia cantar duas músicas no show inteiro. Três, na verdade, se contarmos All I Want For Christmas Is You.

 Quando as luzes se apagaram depois dessas músicas e o palco ficou escuro por mais de uns três minutos, eu comecei a me preocupar. Enquanto eu olhava para todos os lados no palco e não via ninguém, meu estômago começou a revirar. Onde Justin estava?

 O palco foi iluminado com uma luz vermelha, exibindo um enorme piano. Eu arregalei os olhos. Da onde aquele piano tinha saído? Eu não o havia visto no palco. Eu havia visto uma grande bateria, mas não um piano. Sentado no banquinho, a frente do instrumento, Justin não olhava para a multidão. Ele começou a tocar uma música calma.

 Quando os primeiros versos de Silent Night atingiram meus ouvidos, eu quis chorar. Aquela era minha música de Natal preferida. Uma das minhas babás, quando eu era criança, cantava essa música para eu dormir. Minha mãe nunca faria isso, é claro. Quando nos mudamos e, por consequência, perdemos a babá, eu fiquei me sentindo como se tivesse perdido uma irmã mais velha.

 Justin tocava a música com perfeição. Eu dei um beijo na testa de Jaxon e depois na testa de Jazzy, porque estava tentando não chorar. Pattie me olhou preocupada, mas eu balancei a cabeça em negação. Estava tudo bem comigo. Eu só era uma idiota chorona.

 Quando essa música acabou, Justin olhou para a multidão e deu um sorriso. Ele me procurou com os olhos e parou de sorrir ao ver meus olhos lacrimejantes. Eu sorri para ele e murmurei um “obrigada”. Ele havia trazido memórias boas à tona e eu não tinha muitas dessas para me agarrar.

 Luzes apagadas novamente. Eu estava começando a querer bater em Justin, por criar tanta expectativa. Esse apaga-acende de luzes me deixava nervosa. Imaginei o quanto as beliebers dele deviam ficar na maior expectativa. As luzes se acenderam. O piano tinha desaparecido, só Deus sabe como. Luzes verdes, vermelhas e brancas encheram o palco.

 Justin estava de pé agora, com uma pequena trupe de dançarinos atrás. Ele começou a cantar Santa Claus Is Coming To Town. Essa música era outra que eu conhecia. Dancei com Pattie e com as crianças. Justin fazia uma coreografia bem legal, mas eu nem conseguia repetir um movimento sequer! A multidão cantava a música junto com Justin, o que deixou tudo mais divertido.

 Então, no meio da música, uma bateria foi empurrada em direção ao meio do palco. A música parou. Justin subiu na bateria e começou a tocar. Primeiro, com batidas mais lentas e depois aumentando o ritmo. O público pulava junto no ritmo da bateria. Justin fez um solo extremamente impressionante e que rendeu uma salva de palmas. Até eu tive que aplaudir. Nunca o havia visto tocando bateria.

 Justin voltou a dançar e a música voltou a tocar. Ele dançou e cantou mais um pouco. Devia estar em ótima forma. Eu sabia que eu não conseguiria fazer uma coisa daquelas. A música acabou com Justin em uma pose e sorrindo muito. Todo mundo gritava e aplaudia. Eu sentia como se estivesse perdendo parcialmente minha audição. Mas fiz um esforço para continuar a aplaudir.

 - Obrigada por terem vindo – Justin gritou – Eu amo vocês! Boas festas e Feliz Natal!

 Eu dei risada, achando meio cedo para ele desejar Feliz Natal, mas aí me toquei que, na verdade, faltava menos de um mês para o Natal. Justin desceu do palco e passou correndo de mão estendida para tocar nas mãos das garotas. Mesmo estando com meia dúzia de seguranças, algumas ainda conseguiam puxá-lo. Ele fez um coração com a mão para todo mundo e, quando foi subir de volta para o palco, puxou a mim e a Pattie. Nós subimos e ele deu mandou um tchau de novo para a multidão.

 Aquele show iria, definitivamente, ficar para sempre na minha memória como uma das poucas e boas lembranças que eu tinha.


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