Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 34
XXXIV




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 Fiquei esperando por cerca de cinquenta minutos. Nesse meio tempo, fiz com que as crianças comessem. Eu não estava com tanta fome e queria esperar por Justin.

 Nós ficamos no camarim sozinhos. Não vi sinal de Pattie nem da Mama Jan nem mesmo dos outros que Justin me apresentou no primeiro dia de turnê. Mas aquilo foi bom. Eu tive tempo pra conversar com as crianças. Jazzy dizia estar com saudades da mãe, mas Jaxon estava aguentando bem. A gente continuou conversando e depois Jazzy quis desenhar um pouco. Jaxon não a deixou em paz e ficou correndo atrás dela. Eu os seguia com os olhos, ficando sobressaltada quando eles chegavam perto de alguma mesa ou começavam a brigar de verdade. Mas tudo deu certo.

 Um pouco antes de Justin chegar, Jazzy achou o CD de natal espalhado nas tranqueiras do camarim. Ela me entregou o CD e ficou toda animada.

 - Coloca? – perguntou, com sua voz fininha.

 - Você quer escutar? Jura? – ela assentiu. Eu dei risada e me levantei, procurando um rádio – Tudo bem, então.

 Encontrei um rádio escondido num canto. Coloquei o CD pra tocar.

 A primeira música era calminha. Quando a voz melodiosa e um pouco rouca de Justin saiu pelos alto-falantes do rádio, eu encarei a capa do CD, surpresa. Ele cantava bem. Não era o meu tipo de música, é claro, mas era legal. A música chamava Only Thing I Ever Get For Christmas e eu me encantei rapidamente por ela.

 Justin entrou no camarim quando Mistletoe, a segunda música do CD, começou a tocar. Eu quase deixei o CD cair, porque ele entrou gritando com alguém que estava lá fora.

 - Nossa, você tá escutando o Under The Mistletoe? O que te deu? – ele chegou mais perto – Tá com febre?

 Eu dei risada, mas lhe mostrei a língua.

 - Até parece. Eu queria saber quais músicas eu vou ter que fazer o sacrifício de te ouvir cantar hoje – brinquei.

 - Todas do CD. E mais algumas – ele deu de ombros e completou – Sinto muito.

 Eu dei risada de novo. Coloquei a caixinha em cima da mesa de comida e me aproximei dele.

 - Quer saber de uma coisa? Coloca na faixa número 8 – disse Justin.

 Eu tive que agachar pra colocar na música número 8. Não fazia ideia de que música era, mas começou lenta também. Eu me levantei. Justin me puxou antes que sua voz soasse pelos alto-falantes. Um arrepio passou pela minha espinha.

 - O que você está fazendo? – eu murmurei enquanto ele passava o braço pela minha cintura.

 - Estou dançando com você – ele respondeu, com um daqueles seus sorrisos de parar o coração de qualquer uma.

 Não consegui conter uma risada levemente histérica. Não conseguia me manter respirando e ele queria que eu dançasse. Se pelos menos nós não estivéssemos tão próximos, talvez fosse mais fácil pensar sem seu perfume me inebriando. Nossos passos tímidos, pra lá e pra cá, foram ficando maiores e mais ousados.

 Minhas mãos estavam caídas ao lado do corpo, porque eu simplesmente não sabia o que fazer com elas. Foi quando levantei os braços e, lentamente, coloquei-os em volta do pescoço de Justin. Nós acabamos ficando ainda mais próximos. Minha pele formigava e minha respiração se acelerou.

 - Be my date this Christmas eve – ele começou a cantar junto, na mesma voz melodiosa – Be my holiday, my dream. Lay your head on me. I got you, babe.

 Senti meu rosto ficar quente. Eu devia estar parecendo um pimentão. Droga. Por que eu era tão ruim em matéria de garotos?

 - Kissing underneath the tree. I don’t need no presents girl, you’re everything that I need. Let me give you all of me. Together on this Christmas eve.

 Justin sorriu assim que terminou de cantar o refrão. Eu fiquei arrepiada mais uma vez. Tentei sorrir de volta, mas meus músculos faciais não respondiam. Justin parou de sorrir e me encarou. Eu fiquei hipnotizada por seus olhos.

 O que diabos estava acontecendo naquele momento? A gente estava mesmo perto daquele jeito? Ou era só impressão minha? Será que não era tudo invenção da minha cabeça? Será que eu não estava sonhando?

 Justin se aproximou – como se ainda existisse algum espaço entre nós dois que desse para ser cortado – e suas mãos, que estavam em minha cintura, subiram um pouco. Antes que eu pudesse me parar, ou pará-lo, nós aproximamos nossas cabeças. Justin soltou um meio sorriso e continuou se aproximando. Eu não sabia o que fazer. Não queria pará-lo e não queria parar. Mas também não queria que nos beijássemos. Eu só tinha uma chance naquele momento. Podia afastá-lo e fingir que nada havia acontecido, porque se chegássemos perto o suficiente, eu não sabia o que poderia acontecer.

 Ignorei todo o meu medo e aproximei meus lábios dos dele. Nós teríamos que lidar com o resto depois. Por enquanto, aproveitar o momento era minha única vontade.

 Eu podia quase sentir os lábios de Justin nos meus quando a música parou. Jazzy e Jaxon gritaram. Nós nos soltamos. Fingi não perceber o quanto ele havia ficado vermelho, porque eu devia estar bem pior. Parecia que todo o calor do meu corpo havia se dirigido às minhas bochechas.

 - O que aconteceu? – eu perguntei, chegando perto das duas crianças.

 - Jaxon chutou o rádio! – disse Jazzy.

 - Não! – respondeu Jaxon, ficando bravo e apontando a irmã – Você!

 Eu respirei fundo e puxei os dois pela mão. Sentei-os no sofá.

 - Vocês não podem brigar, ok? É tão feio! Vocês dois são irmãos. Agora eu quero ver um abraço bem apertado e cada um vai pedir desculpa pro outro!

 Jaxon cruzou os braços, recusando-se a fazer o que eu pedi. Eu fiquei encarando-o até que ele mudasse de ideia, o que não demorou muito pra acontecer. Logo depois de se abraçarem e de pedirem desculpas, eles voltaram a brincar juntos como se nada tivesse acontecido. Eu e Justin não tínhamos a mesma sorte.

 Quando voltei para o lado dele, nós dois ficamos vermelhos de novo. Eu apontei a mesa com as comidas e tive que engolir em seco antes de dizer qualquer coisa.

 - Você quer comer? Eu estava esperando você.

 - É, quero. Eu tô morrendo de fome – ele respondeu, sem graça.

 - É, eu também – menti, mas qualquer coisa ajudaria a esquecer os incidentes dos últimos minutos. Soltei um sorrisinho amarelo.

 Nós não nos encaramos.

 Pegamos o que queríamos e ficamos comendo em pé mesmo. A variedade de comidas era grande. Tinha bolos variados, muitas frutas, pãezinhos de todos os tipos, sucos, refrigerantes e água vitaminada. Eu peguei um pouco de cada coisa, mas evitei a água vitaminada e os refrigerantes. Justin fez o contrário.

 Depois de comermos o suficiente, ficamos parados em frente à mesa, sem saber o que dizer. Eu abri a boca cinco vezes, mas as palavras não achavam o caminho da saída.

 - Então, - eu comecei a falar – acho que a gente podia esquecer o que acabou de acontecer aqui.

 - Claro, claro. Eu concordo. A gente esquece o que aconteceu. Como em Stratford – disse Justin.

 - Exatamente. Deletamos da memória.

 - Isso.

 - Melhor assim. Afinal, você tem namorada.

 - E você tem namorado.

 - Pois é.

 - Então, a gente esquece tudo.

 - Sim. Esquecemos tudo – eu assenti loucamente – E, Justin?

 Ele me olhou diferente, como se tivesse esperança de que eu dissesse alguma coisa para mudar o rumo do diálogo.

 - Nunca mais me faça dançar com você – continuei.

 Ele sorriu e assentiu.

 - Sim, senhora. Pode deixar.

 Eu sorri de volta, o clima já voltando a ficar mais leve.

 Nós ficamos em silêncio, observando as crianças brincarem. Nenhum de nós se sentou. Nenhum de nós se mexeu, na verdade. Ao mesmo tempo em que o clima parecia mais leve, também ficava mais estranho. Eu estava me dando conta de que aquela era a segunda vez que Justin e eu tínhamos um momento “romântico” e, da primeira vez, eu havia chorado. Agora eu não me sentia triste, só culpada.

 Um fato estranho era que eu não me sentia culpada porque eu tinha um namorado, já que não considerava Chaz meu namorado de verdade. Eu me sentia culpada por Justin, porque ele e Selena eram o casalzinho do ano. Imagina acabar com aquilo? Ninguém me perdoaria. Eu não me perdoaria.

 - Liv, você é... – Justin começou a falar, do nada – adorável.

 - Eu sei, obrigada – brinquei, dando risada.

 Justin revirou os olhos, mas deu risada.

 - Não, é sério. O que eu quero dizer é que você tem o Chaz. E mesmo se não funcionar com o Chaz, você vai encontrar um cara legal pra você.

 Encarei Justin com as sobrancelhas arqueadas. Do que diabos ele estava falando?

 - E você está dizendo isso por quê? – perguntei.

 - Só estou tentando marcar minha opinião.

 - Qual opinião?

 - A de que, bem, nós não daríamos certo – ele deu de ombros e coçou a cabeça.

 Arregalei os olhos. Por que ainda estávamos voltando àquele assunto? Não havia acontecido nada. Não estávamos nos envolvendo. Justin estava ficando louco?

 - Como você mesma disse, seria ridículo pensar em nós dois juntos, sabe – ele deu de ombros mais uma vez – Seria insano.

 - Justin – eu o chamei, mas ele não pareceu me ouvir.

 - Além do mais, eu tenho a Selena e você... Você não faz exatamente o meu tipo.

 - Justin – chamei-o de novo. Ele me ignorou.

 - E, outra coisa, você é babá dos meus irmãos! Se a gente começasse um relacionamento e terminasse, como ficaria sua relação com eles?

 - Tudo bem, Justin, mas... – ele continuou a falar e a me ignorar.

 - Vai que você vira uma psicopata inconformada com o nosso término e decide descontar neles? – ele me encarou, como se eu fosse o problema e não como se ele estivesse falando pelos cotovelos sem necessidade – Eu nunca te perdoaria. E nunca me perdoaria. Então, é por esses motivos que não temos chance.

 - Eu não disse nada sobre nós termos chance ou não – afirmei, indignada.

 Até parecia que o estava pressionando para que ficasse comigo. Credo, Deus me livre.

 - Não disse?

 - Não.

 - Ah, sim – ele ficou corado – Desculpa.

 Depois de mais alguns segundos em silêncio, eu me virei para ele.

 - Afinal de contas, você disse tudo isso pra me convencer ou para convencer a si mesmo? – franzi as sobrancelhas e me afastei, indo para o sofá.

 Justin me olhou, os olhos levemente arregalados, mas não disse nada. Pensou no que eu havia acabado de perguntar e saiu do camarim sem dizer nada. Eu devia tê-lo assustado ou algo do tipo. Devia ter ficado quieta. Não precisava ter dito isso. Droga. Eu era uma retardada mesmo. Agora ia deixar o garoto mais confuso do que já estava.

 Justin voltou para o camarim dois minutos depois.

 - Não estou tentando convencer ninguém! – ele exclamou.

 - Tudo bem – eu disse, erguendo as mãos espalmadas.

 - Só estou comentando um fato – ele explicou.

 - Ótimo.

 - Ótimo. Que bom que nos resolvemos.

 - Também acho.

 Ele voltou a me encarar, sem saber o que fazer. Eu dei de ombros.

 - Justin, vamos esquecer isso. Não tem por que ficar remoendo esse assunto – eu suspirei.

 - Eu não consigo esquecer! – ele aumentou o tom de voz – Não é como da primeira vez. Eu fico lembrando do que o Ryan disse e...

 Fiquei corada e me levantei. Ryan tinha conversado com ele também? Aquele maldito garoto! Justin tinha que voltar a se focar na Selena para que eu não começasse a me focar nele. Nós realmente não daríamos certo. Pra que ficar pensando nisso?

 - Ele disse que eu era a certa pra você – afirmei, num sussurro. Não era uma pergunta.

 - Disse – Justin assentiu, ficando vermelho – E eu não sei se ele está errado.

 Engoli em seco e assenti.

 - Ele está errado, Justin. Você ama a Selena. Lembra? – eu respirei fundo e disse com convicção – Eu não amo você. Você me ama desse jeito?

 Ele pensou por alguns segundos.

 - Não – respondeu, colocando a mãos nos bolsos.

 - Então, pronto. Não nos amamos. Não vamos nos envolver. Você ama a Selena e eu vou ficar com o Chaz – eu sorri – Não há nada de errado em manter as coisas como estão.

 Justin franziu a testa e assentiu. Ele parecia estar usando o máximo de sua capacidade mental para se decidir, mas então ele abriu um sorriso e assentiu novamente.

 - Você está certa. Eu sou meio burro.

 - Eu sei – tentei não dar risada – Mas tudo tem conserto. Quer dizer, não acho que você tenha conserto, mas eu não quero magoar seus sentimentos.

 - Sua lesada – ele disse, me mandando a língua.

 - Cala boca, cabeçudo.

 Nós demos risada.

 - Está vendo? – ele apontou para nós dois – É isso que eu não quero perder.

 Eu revirei os olhos.

 - Você não vai perder isso, cabeção – dei-lhe um soquinho amigável no braço – Vai demorar até você se ver livre de mim.

 Justin sorriu.

 - Que bom – disse ele, com o maior sorriso do mundo.


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Notas finais do capítulo

Então, minhas lindas e meus lindos. Sei que vocês querem me matar por ter demorado tanto, mas como eu já disse em Run From Me, eu estava doente ):
E imagino que vocês vão querer me matar depois de terminarem de ler o capítulo. Por favor, não me matem! UIHDADAOHAIU Tia Carmen sentiu muito a falta de vocês *-*