Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 27
XXVII




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 Eu fiquei impressionada com o ônibus, porque ele era mais bem arrumado que a minha casa. Assim que entrei e subi três degraus altos, dei de cara com uma mesa americana, daquelas com sofás nas laterais ao invés de cadeiras. À minha direita ficavam duas camas de solteiro, uma em cada lateral do ônibus. Minha mala estava em um suporte de metal na cama à esquerda. Pattie estava sentada na cama à direita, então presumi que ela dormiria ali. Mais para frente ficava a cabine do motorista. A porta estava aberta e Kenny estava lá com ele.

 À minha esquerda ficava a pequena cozinha. Havia alguns armários, um pequeno fogão, um forno e uma geladeira, além da pia e de um balcãozinho. Mais para trás, havia um quarto grande com uma porta e um banheiro ao lado. Havia também outro banheiro do lado da pequena escadinha para subir ao ônibus. Uma olhada rápida pela porta aberta me fez perceber que ele era um banheiro consideravelmente grande e tinha um chuveiro mais ao longe. Ainda assim, eu não me imaginava tomando banho em um ônibus, com todos os solavancos e movimentações.

 Caminhei até minha cama e me sentei. Justin, Jazzy e Jaxon estavam sentados na mesa. O ônibus se colocou em movimento logo depois, dando um tranco e fazendo com que eu tombasse um pouco para o lado. Deixamos Stratford para trás em poucos minutos.

 Todos estavam quietos. Ninguém sabia o que dizer. Até Justin parecia ter esgotado seu estoque de piadinhas sem graça. Pattie se levantou e puxou uma portinhola pregada na parede. Uma TV LCD relativamente grande apareceu e eu me surpreendi. Abrindo outra pequena portinhola, logo embaixo da TV, havia um aparelho de DVD. O controle da TV e do DVD também estavam ali e Pattie pegou os dois. Decidimos assistir a um filme de desenho animado, para que as crianças pudessem assistir também. Assim que Os Smurfs começou a passar na tela, Jazzy e Jaxon pularam do sofá da mesa e correram em direção a minha cama, se embrenhando em um edredom comigo. Justin hesitou, mas também se sentou na minha cama, pois ela dava uma vista direta para a TV. Ele se sentou ao meu lado, puxando Jaxon para seu colo.

 Depois de assistirmos Os Smurfs e mais alguns outros DVD’s, paramos para almoçar em um chique posto de estrada. Entramos pelos fundos, mas aquilo não conseguiu impedir o contingente de garotas e pais que rodeou Justin. Felizmente, eu, Pattie, Jaxon e Jazzy conseguimos comer em paz, enquanto Kenny tinha que ficar com o astro pop lá para que ele não fosse esmagado. Quando voltamos ao ônibus, Justin estava levemente irritado, o que me deixou feliz, porque pude irritá-lo mais um pouco.

 Fiquei brincando com Jazzy e Jaxon, enquanto Justin se trancou no quarto. Nós desenhamos, pintamos, assistimos mais TV e até ficamos conversando. Pattie, que estava lendo um livro, se juntou a nós depois de algum tempo. Ela parecia adorar crianças, tanto quanto o filho. Justin só apareceu uma vez, para usar o banheiro e para beber um pouco de água, depois se voltou para o quarto.

 Pattie pediu licença e foi até o quarto para conversar com ele, mas não escutei uma palavra sequer, pois a porta estava fechada. Cerca de quinze minutos depois ela voltou, se sentando ao meu lado e parecendo ligeiramente brava.

 - O que ele tem? – apontei o quarto de Justin com a cabeça.

 - Ele está meio bravo com o tanto de atenção que recebeu no posto – Pattie deu de ombros.

 - Mas isso já não é algo normal?

 - Sim, mas dessa vez Jazzy e Jaxon estavam junto.  E eles não têm ideia de como é isso. Entende?

 Pattie me encarou com certa tristeza em seus olhos azuis. Eu assenti e voltei a brincar com as crianças, achando que aquele assunto estava acabado.

 - E mais uma coisa: hoje Justin não quis ter aulas, mas eu avisei que amanhã vocês vão ter que estudar no hotel. Espero que não se importe.

 Eu me virei para Pattie, mas ela já havia se levantado e caminhava de volta para sua cama, puxando o livro para si.

 - Tudo bem – eu murmurei, dando de ombros.

 Ela me mandou um sorriso antes de se concentrar na leitura novamente. Justin apareceu uma hora depois para brincar com Jazzy e Jaxon. Ele parecia bem mais relaxado e já encarava minhas piadinhas e meu sarcasmo com o mesmo bom humor de sempre. Nós estávamos viajando há cerca de dez horas, mas não parecia ter passado tanto tempo assim. E, quando chegamos ao hotel, três horas mais tarde, todos nós estávamos quebrados por termos ficado tanto tempo sentados e fazendo a mesma coisa.

 Já havia um considerável número de fãs na porta do hotel, se é que aquilo era possível. Elas usavam camisetas dele, faixas, carregavam cartazes e cantavam músicas a plenos pulmões – provavelmente músicas dele, mas eu só conhecia Baby. O motorista não ousou passar na frente do hotel, pois alguma delas poderia se tacar na frente do ônibus ou coisas assim, então nos dirigimos por outra entrada, mas ainda assim deu pra ver o pequeno tumulto, com cerca de 50 meninas gritando lá na frente.

 Justin sorriu de orelha a orelha quando a porta se abriu e ele conseguiu ouvir de fato o que elas diziam ou, no caso, cantavam.

 - Girl, I love, girl I love you. Girl, I love, girl I love you. And I’mma be your one guy, you’ll be my number one girl, always making time for you.

 Justin começou a cantar junto, dando risada. Até Jazzy sabia cantar essa música. Eu me senti meio perdida, mas também dei risada. E, ao contrário do que eu pensava, Justin subiu em direção ao seu quarto, ao invés de ir conversar com as garotas.

 Ficamos com o quinto andar inteiro. Achei que fosse um exagero, até todo mundo começar a chegar depois da gente. Scooter chegou, Carin também e mais um monte de gente que eu não fazia ideia de quem fosse. O meu quarto – que era também o quarto das crianças – era ao lado do de Justin. Ambos davam para a frente do hotel e podíamos ver, nas janelas dos dois quartos, o pequeno contingente de garotas lá embaixo.

 Justin abriu a janela, fez um coração com a mão para elas, dançou ao som de sua cantoria e mandou beijos para todas. Ele não parou de sorrir um minuto sequer e aquilo me fez rir. Ele amava suas fãs de corpo e alma, elas o deixavam genuinamente feliz.

 Quando ele fechou a janela, a gritaria delas não se acabou. Elas, na verdade, começaram a gritar até mais. Justin ignorou isso e ficou assistindo TV comigo e com Jazzy e Jaxon no quarto, enquanto pedíamos alguns lanches da cozinha do hotel. Já passava da meia noite quando levamos Jazzy e Jaxon sonolentos ao nosso quarto. Ao invés de me deitar e dormir também, eu voltei para o quarto de Justin.

 - E aí, você e o Chaz, hein? – ele perguntou enquanto fechava a porta do quarto.

 Eu estranhei aquilo, pois enquanto Jazzy e Jaxon estavam ali, ele não havia fechado a porta. Dei de ombros e me sentei na cama.

 - O que é que tem? – perguntei, levemente corada.

 - Você está gostando dele, não está? – Justin me deu um cutucão no braço e eu o encarei, meio brava – Tigresa.

 Eu gargalhei ao ouvir aquilo. Tigresa. Até parece.

 - O tigrão aqui é você. Não vem, não! – eu disse, me desviando dele.

 Justin deu risada e deitou na cama. Ele parecia extremamente cansado, mas ao mesmo tempo, extremamente desperto. A gritaria das meninas lá fora ficou ainda mais alta e eu caminhei até a janela, tomando cuidado para que não fosse vista. Meu queixo caiu. O número de garotas havia duplicado. Podiam ter 100 meninas lá embaixo facilmente. E agora elas cantavam mais alto do que nunca.

 - Elas gritam tanto – eu comentei.

 Ele assentiu.

 - E eu estou tão cansado – ele disse, com os olhos injetados de sono.

 - Por que não vai dizer isso a elas? – perguntei, dando de ombros.

 Ele me encarou como se eu tivesse sugerido a coisa mais insana do mundo. Dei de ombros.

 - Você está louca? Não posso aparecer lá embaixo.

 - E por que não? – perguntei, me sentando de volta na cama.

 Justin se levantou e caminhou para perto da janela, olhando lá pra baixo.

 - Não posso mais fazer coisas desse tipo.

 Eu balancei a cabeça em negação e revirei os olhos.

 - Também não é assim, você é só o...

 - Justin Bieber? – ele me interrompeu – Eu sou só o Justin Bieber?

 - Eu ia dizer garoto normal que ficou famoso. Você não nasceu num berço de ouro ou sei lá. E essas meninas realmente te amam. Eu sei como é, porque eu só ficaria na porta de um hotel por horas se fosse para ver alguém que eu gostasse e admirasse muito.

 Foi a vez de Justin revirar os olhos.

 - Ainda assim, não posso descer. Eu prezo minha segurança – ele disse, rindo.

 - Elas estão separadas do hotel por grades. Ah, Justin. Vamos lá embaixo. Não seja um covarde!

 Justin me encarou mortalmente.

 - Do que você me chamou?

 - De covarde. Medroso. Criancinha. Assustado por um bando de garotas fanáticas – seu olhar endurecia a cada palavra que saía da minha boca, mas eu estava achando aquilo engraçado – Elas não são animais irracionais. Se você conversar com elas ou pedir para ficarem em silêncio, elas farão isso.

 Justin se levantou e caminhou até a porta, abrindo-a. Levantei-me também.

 - Você vai ver quem é o covarde – e, dizendo isso, saiu do quarto.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo vai ser mó bonitinho *-* Eeenfim, espero que tenham gostado desse ;D