Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 26
XXVI


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu demorei. Não me matem.



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 Acordei no dia seguinte com o ronco de Justin. Ele soltou um ronco mais alto que os outros que me fez acordar assustada. Ambos estávamos dormindo de lado, um virado para o outro. O braço de Justin estava para fora da cama e nossas mãos ainda estavam entrelaçadas. Dei risada quando percebi porque havia acordado. Soltei a mão de Justin. Ele parou de roncar, se remexeu um pouco e então se virou, ficando de barriga para a cima. Voltou a roncar segundos depois como se nada tivesse acontecido.

 Resolvi levantar de vez. Uma olhada rápida no meu celular ao lado do colchão me avisou que eram sete e meia da manhã. Eu havia dormido pouco, mas ainda assim, não queria dormir demais. Levantei, carregando minha trouxinha de roupas, e saí do quarto, deixando Justin dormindo. Dei risada de novo enquanto fechava a porta. Ele roncava muito alto. Sorte a minha que eu sempre dormia primeiro.

 Para minha surpresa, todo mundo já estava acordado. Erin e Jeremy corriam para lá e pra cá. Pattie e os avós de Justin também ajudavam. Não vi Jazzy e Jaxon, então supus que ainda estavam dormindo. Quando me aproximei do quarto que eles estavam, Erin me gritou do fim do corredor.

 - Que bom que você já está acordada! Logo o ônibus da turnê vai partir. Você tem que se arrumar, meu bem! – disse ela, se aproximando, apressada.

 - O ônibus já está aí? – perguntei, boquiaberta.

 - Mas é claro! Justin tem o primeiro show amanhã, dia 22.

 Pisquei várias vezes para ver se meu cérebro processava aquela informação mais rapidamente. Eu tinha que me arrumar, ajeitar a mala e fechá-la. Acordar as crianças, dar café da manhã pra elas. Tinha que acordar Justin. Por que eu o deixei dormindo? Eu não sabia que teríamos que acordar tão cedo! Meus neurônios já estavam em pânico, porque eu teria que fazer tudo aquilo em poucos minutos, mas não conseguia me mexer. Só de pensar em fazer tudo aquilo, quis voltar pro meu colchão e dormir por mais algumas horas.

 - Liv? – perguntou Erin, depois de alguns segundos em silêncio.

 Eu encarava o vazio. Não conseguia acreditar que a turnê ia começar. A turnê. A tão esperada turnê. Na qual eu ia passar um mês longe de casa, cuidando de Jazzy, Jaxon e, lógico, Justin. Eu não estava pronta para aquilo. Achei que demorariam meses para chegar. No entanto, lá estávamos. E o ônibus já nos esperava.

 - O Justin não te disse que você iam sair hoje, às oito da manhã? – ela perguntou.

 Eu neguei com a cabeça. Erin suspirou.

 - Ele é um cabeça oca! Faz assim: se troca no quarto, deixa sua mala pronta, fechada, e vai acordar ele, ok? Eu vou acordar Jazzy e Jaxon.

 Eu assenti e obriguei todo o meu corpo a obedecer minhas ordens. Entrei no quarto e ajoelhei perto da mala, guardando a roupa velha e puxando uma nova. Enquanto isso, Erin acordou as crianças. Corri para o banheiro – que por uma sorte imensa não estava ocupado, visto o tanto de gente circulando pela casa – e me troquei. Voltei ao quarto e guardei meu pijama. Fechei a mala e coloquei-a de pé.

 Corri até o quarto de Justin e abri a porta com um estrondo. Não foi proposital, mas ele mesmo assim não acordou. Justin ainda roncava e se remexeu na cama.

 - Justin, levanta! O ônibus já está nos esperando! – eu disse, meio desesperada.

 Ele se remexeu de novo e me ignorou, virando para o outro lado. Cheguei mais perto e tentei sacudi-lo. Ele já devia estar acordado, porque tacou o travesseiro em mim e virou de bruços. Bufei. Aquilo estava me dando raiva.

 - JUSTIN, ACORDA AGORA!  - eu gritei, irritada.

 Ele levantou a cabeça, assustado, e me encarou de olhos semiabertos.

 - LEVANTA! A gente tem que ir! – gritei de novo.

 - Mais cinco minutinhos, mãe – ele murmurou.

 - Não! E eu não sou sua mãe – reclamei, bufando.

 Puxei o braço dele e sacudi. Justin me empurrou brutalmente para trás. Eu caí sentada no colchão, mas o levei junto. Segundos depois, Justin caía também, desajeitado, em cima de mim. Ele abriu um pouco mais os olhos e olhou em volta, confuso. Eu soltei seu braço e o empurrei para me levantar.

 - Liv? – ele perguntou, como se não estivesse me reconhecendo.

 - Levanta logo, Justin. O ônibus já está aí! – eu disse, ainda irritada e soando desesperada de novo.

 Justin começou a rir, mas eu não estava achando nada engraçado. Provavelmente, estávamos atrasados. E ele ficava lá, dando risada. Argh, que falta de profissionalismo. E pensar que ele era a estrela do pop ali.

 - Da próxima vez, você podia só tacar água em mim! Seria mais fácil. Pra você e pra mim – ele comentou, se sentando no chão.

 Encarei-o de pé, com os braços cruzados.

 - Vou jogar cinco litros de água da próxima vez, você vai ver! – reclamei, revirando os olhos.

 Justin se levantou. Estava só de cueca, como da primeira vez que o acordei sem querer na casa de Erin. Eu já havia me acostumado com aquilo, porque não senti minhas bochechas arderem. Ok, talvez um pouco, mas foi bem pouco. Justin continuou me encarando, contendo uma risada. Revirei os olhos mais uma vez e caminhei até a porta.

 - Selena já acordou? – ele perguntou.

 - Por acaso ela é minha namorada agora? – rebati, mau humorada.

 - Nossa! – ele deu risada – Desculpa. Obrigada por me avisar, não vou ficar atrás de você hoje. Esse último coice doeu.

 Eu me virei para encará-lo tentando não rir. Dei-lhe um tapa no braço e encarei-o. Minhas costelas tremiam de tanto segurar o riso. Meus lábios estavam apertados, mas eu não ia rir. Justin também segurou a risada.

 - Eu odeio você – murmurei.

 - Eu sei – ele murmurou de volta e então deu risada.

 Voltei a caminhar para fora do quarto e desci as escadas, indo até a cozinha. Todo mundo estava tomando café da manhã, até Selena. Ela tentou ver se tinha alguém atrás de mim, mas não achou ninguém. Provavelmente queria saber de Justin. Eu revirei os olhos e descruzei os braços.

 - Seu namorado está lá em cima. Ele perguntou de você – eu disse, me sentando no único lugar vago.

 Selena sorriu para mim de agradecimento e se levantou para ir vê-lo. Dei de ombros. Comi três torradas e tomei café com leite. Já estava satisfeita quando saí da mesa, levando Jazzy e Jaxon. Alguns caras grandalhões estavam entrando na casa e desciam com as malas, para coloca-las no ônibus. Eu levei Jazzy e Jaxon para a sala, para que eles não atrapalhassem. Justin desceu com Selena minutos depois, de mãos dadas. Eles foram direto para a cozinha e eu não os atrapalhei. Continuei brincando com as crianças.

 Depois de algum tempo, todo mundo se reuniu na sala de estar. Erin e Jeremy puxaram Jazzy e Jaxon para seus colos e eu fui forçada a me levantar. Aquela devia ser a hora da despedida. Eu não havia me preocupado muito com aquilo. Lógico que quem sofreria mais seriam Jazzy e Jaxon, mas eu ficaria com eles a viagem inteira. Nada daria errado.

 Meu celular vibrou e começou a tocar Bad Reputation, da Joan Jett, bem alto. Tive que conter minha cantoria e minha risada enquanto me afastava de todo mundo e ia para um canto atende-lo. Uma olhada no visor do celular para constatar que era o número da minha casa. Meu coração deu um salto e eu coloquei o fone no ouvido.

 - Alô? – eu disse, tremendo do nada.

 - Alô, quem é? – disse Louie, do outro lado da linha.

 Comecei a rir, por mais que estivesse com vontade de chorar. Como eu queria poder abraça-la naquele momento. O que eu não daria para estar em casa.

 - Oi, Louie. Sou eu, Liv – eu disse, com uma voz doce.

 - Eu to com saudades de você – ela disse, meio tristinha.

 - Eu também estou com saudades de você. A mamãe tá cuidando bem de você? – perguntei, respirando fundo.

 - A gente tá se divertindo muito – respondeu Louie, rindo.

 Aquilo me deixou mil vezes mais aliviada. Pude conter melhor minhas lágrimas e relaxei os ombros. Louie estava bem. Aquilo era tudo o que importava.

 - A mamãe quer falar com você. Tchau! – disse ela, rápido demais pra eu argumentar.

 - Tudo bem, tchau – eu disse, triste.

 - Liv? – perguntou minha mãe, de uma maneira cordial.

 Ela não havia esquecido que eu lhe disse que nunca se importara comigo. Aquilo era bom. Eu também não havia esquecido.

 - Oi, mãe – eu disse, ficando tensa de novo.

 - Você tem dinheiro? – ela perguntou.

 - Tenho.

 Ficamos em silêncio por um tempo.

 - Então, faça boa viagem. Você ainda está em Stratford?

 - Estou. Vamos sair daqui a pouco – respondi, seca – Olha, eu tenho que ir...

 - Tome cuidado, filha. Por mais que você não acredite, eu me preocupo com você, sim – ela me interrompeu, com a voz meio falha.

 Parecia estar chorando, mas talvez era só coisa da minha cabeça.

 - Tá bom, mãe. Liga pra mim no meio da semana, está bem? Eu vou querer falar com a Louie!

 - Tudo bem. Tchau – ela disse, soltando um longo suspiro.

 - Tchau – eu respondi.

 Antes que ela pudesse desligar, consegui ouvi-la soluçando. Eu finalmente devia ter tido algum impacto ao dizer todas aquelas coisas antes de sair. Ela parecia estar acordando agora e vendo que não era uma boa mãe. Bom, se ela não era uma boa mãe para mim, não havia mais como mudar. Eu tinha dezesseis anos. Mas Louie tinha apenas três. Aquilo ela podia consertar.

 Guardei o celular no bolso, respirei fundo e voltei para o bolo de gente se despedindo na sala. Resolvi não me intrometer naquilo, então saí da casa. O ônibus era enorme e era pintado com a capa do CD de Justin, o Under The Mistletoe. Eu fiquei meio envergonhada só de saber que viajaria naquilo. Vi Chaz e Ryan caminhando juntos pela rua e sorri. A única pessoa de quem eu teria que me despedir de verdade era Chaz. Ele era um cara legal. Ryan também, só que era um pouco intrometido.

 Chaz chegou perto um pouco mais rápido, sorrindo como se eu fosse ficar ali para sempre. Ryan passou por mim direto, com um sorriso, mas correu para dentro da casa. Ele provavelmente ia se despedir de Justin antes de tudo.

 - Então, – eu disse, suspirando – eu vou embora.

 - É, eu sei – disse Chaz, perdendo o sorriso e olhando para os próprios pés.

 - Sinto muito, Chaz. Você é um cara legal. É uma pena a gente nunca se ver de novo.

 Dei de ombros e me aproximei um pouco. Os avós de Justin e Pattie saíram da casa. Eles subiram no ônibus e ficaram por lá.

 - Quem disse que a gente nunca vai se ver de novo? – ele perguntou, sorrindo de canto – A esperança é a última que morre, Liv. E eu sei que a gente ainda vai ficar junto.

 Eu sorri. Ele era fofo demais. Passei meus braços pelo seu pescoço e me aproximei. Chaz não pareceu entender o que eu estava fazendo, mas passou os braços pela minha cintura. Ele me encarou de uma maneira profunda. Chaz era um cara legal e eu, certamente, sentiria falta dele. Mas ainda assim, aquilo não significava que ficaríamos juntos. Olhei para baixo.

 - Liv, não sei se eu já te disse isso, mas eu vou esperar por você.

 - Por quê? – eu perguntei, soltando uma risada e ficando corada.

 - Porque eu gosto de você. Parece meio cedo pra dizer isso, mas eu gosto. Você é linda, é engraçada, é carinhosa e cuidadosa. É teimosa também. Bastante.

 Dei risada e voltei a olhar para cima.

 - E você é um bobo! – eu disse, muito corada ainda.

 - Eu sou mesmo. Bobo por você.

 Aquilo me fez ficar bem pior do que um pimentão. Eu aproximei minha cabeça enquanto Chaz ruborizava. Eu ainda sorria quando colei nossos lábios. Nosso beijo foi lento e suave. Chaz foi delicado comigo. Soltou suas mãos da minha cintura e colocou-as em meu rosto. Ele havia feito com que eu me sentisse uma verdadeira dama nos dois dias que passou comigo e, quando nos beijamos, não foi diferente. Ele não passou dos limites e nem me decepcionou. Descolamos os lábios.

 - AH, EU SABIA! – gritou Justin da porta.

 Chaz me abraçou pela cintura de novo e eu encarei Justin, vermelha. Meu irmãozinho sorria e, quando passou por nós, desarrumou o meu cabelo e o de Chaz. Deu para perceber que ele estava se roendo de ciúmes, mas nunca ia deixar aquilo escapar.

 - Chaz, só toma cuidado, viu. Se você machucar ela, eu vou pra cima de você, bro – disse Justin, com um sorriso no rosto, mas com um olhar maligno.

 - Relaxa. Só quero vê-la feliz – respondeu Chaz, todo fofo.

 Aquilo me fez corar de novo e, depois de eu ter soltado um “awn” de fofura, beijei Chaz novamente. Dessa vez ele já estava mais esperto, então foi um beijo melhor do que o primeiro. Ainda assim, não havia muito bem como classificar. Chaz beijava bem.

 - Ah, o amor – murmurou Justin, rindo, enquanto subia no ônibus.

 Selena e Ryan acenaram para ele do lado de fora, então eu imaginei que eles já haviam se despedido. Os avós de Justin saíram do ônibus e Erin e Jeremy subiram. Percebi que já estava na hora de subir também. Soltei Chaz e me afastei um pouco.

 - Tenho que ir. Desculpa, Chaz – eu disse, triste.

 - Tudo bem. A gente ainda vai se ver um dia – ele me deu uma piscadela e me abraçou.

 Apertei-o bem forte e, quando nos separamos, colei nossos lábios pela última vez. Só então pude me afastar. Caminhei até onde Selena estava e lhe dei um abraço.

 - Foi um prazer ter te conhecido – disse Selena, com um sorriso.

 - O prazer foi meu – eu respondi, sorrindo de volta, e então Ryan me puxou para um abraço – Ai, Ryan!

 Dei risada enquanto ele me apertava, e eu tentava apertá-lo de volta, mas ele bem mais forte que eu.

 - Não se esqueça de nada do que eu te disse, ok? – sussurrou ele no meu ouvido.

 Eu perdi toda a diversão do momento. Fiquei brava e, quando ele me soltou, encarei-o com certa repreensão. Aquele assunto estava acabado. Eu tinha decidido esquecer aquela conversa, da mesma maneira que havia esquecido o meu quase beijo com Justin. Ryan não ia trazer aquela polêmica à tona.

 - Foi bom te conhecer, viu – ele disse, sorrindo.

 - Foi bom te conhecer também. Apesar de você ser um pouquinho chato – eu disse, zoando com ele.

 Ryan riu, bagunçando ainda mais meu cabelo. Eu me virei e entrei no ônibus, sem nem dar um último olhar para trás. Quando cheguei lá em cima, Erin e Jeremy desceram logo em seguida. As portas do ônibus se fecharam. Nosso destino era Nova York, uma das melhores cidades para se começar uma turnê.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu prometi que ia postar enquanto estivesse na praia, mas não deu ): Eu precisava descansar e, além disso, só consegui escrever um capítulo de HaS. Então, me desculpem, lindas. Não deu mesmo )):
Maaaas, sem tristeza! Minhas aulas vão voltar dia 1 (o que é uma merda), mas eu não vou parar de escrever só por causa disso. Para as leitoras de Run From Me, garanto que amanhã eu posto, ok?
Espero que tenham gostado desse capítulo Lhaz ou, sei lá, Chaiv HADOHDIU Enfim, espero vocês nas reviews, gatas ;D