Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 16
XVI




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/171241/chapter/16

 Quando cheguei à casa dos Bieber, Jeremy estava com as crianças na área da frente da casa. A motocicleta elétrica estava carregando Jaxon pra lá e pra cá e Jazzy perseguia o irmão, rindo. Jeremy estava filmando tudo com uma câmera meio gasta, mas boa. Encostei a mão em seu ombro e ele se virou para mim, sorrindo.

 - Boa tarde, Liv – ele direcionou a câmera para mim e eu me afastei, rindo.

 - Boa tarde, Jeremy – respondi, tentando esconder o rosto.

 Ele direcionou a câmera para Louie, que se soltou da minha mão e foi brincar com Jazzy e Jaxon, acenando para a câmera de tempos em tempos.

 - Acho que você tem uma estrela na família – comentou Jeremy sobre Louie e seu apreço por câmeras.

 - Pois é, eu também acho – afirmei, dando risada.

 Entrei na casa só para deixar as chaves do carro na mesa da sala. Não havia pegado bolsa dessa vez, na pressa que eu estava de sair de casa. Quando voltei, Jazzy estava montada na motocicleta e Jaxon brincava com Louie no chão. Voltei a me aproximar de Jeremy e fiquei lá por perto para o caso de algo acontecer.

 - Scooter me ligou – disse Jeremy, despreocupado.

 - Ah, jura? – perguntei, desinteressada.

 Dei de ombros e cruzei os braços.

 - Eu acho que você devia ir, Liv. Eu até iria no seu lugar, mas você sabe como é. A patroa não quer deixar.

 Dei uma risada, mas continuei de braços cruzados e sem encará-lo.

 - Não é uma opção deixar Louie para trás, Jeremy.

 - Eu sei que você a ama. Mas ela não é sua filha.

 Respirei fundo para não xingá-lo em voz alta.

 - Eu sei que não.

 - Não parece que sabe. Sua mãe vai cuidar dela. Não é como se a responsabilidade fosse toda sua...

 - A responsabilidade sempre foi minha – interrompi Jeremy.

 - E você é apenas uma criança – ele continuou, ignorando minha interrupção.

 Não comentei nada e nem o encarei. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas só de termos tocado naquele assunto e eu não queria continuar com aquela conversa. Não lhe disse mais nada e me juntei à Jaxon e Louie no chão, brincando com eles. Eles resolveram desenhar e nós fizemos várias casinhas e pessoas de palitinho. Até Jazzy quis largar a motocicleta pra desenhar.

 Ficamos lá fora até escurecer, aí tivemos que entrar para jantar. Jeremy deixou que eu usasse sua cozinha, porque Erin não havia chegado ainda. Fiz um macarrão ao molho vermelho para todo mundo que ficou muito bom. Quando Erin chegou já devia ser cerca de nove horas da noite. As crianças – exceto Louie – correram para cima dela, que os abraçou, dando risada, mas aparentando estar muito cansada.

 Ela largou todas as coisas do trabalho no sofá, deu um beijo em cada filho e os levou de volta até a cozinha. Erin trocou um olhar com Jeremy que eu não consegui definir, mas não perguntei nada. Eu nem deveria ficar encarando, pra começo de conversa.

 - Liv, podemos conversar um pouquinho? – perguntou ela, sorrindo amistosamente.

 Eu assenti e pedi pra Jeremy olhar as crianças por um tempo. Nós subimos as escadas e fomos para o quarto de brincar das crianças, que estava bagunçado como sempre. Erin parecia preocupada com alguma coisa, mas esperei para que ela começasse a falar.

 - Eu estou sabendo da proposta da turnê – disse ela, cruzando os braços.

 Revirei os olhos e bufei. Meu Deus, aquele assunto já era passado!

 - Eu não vou, Erin – afirmei, convicta.

 - Liv, você tem noção do que está dizendo? Por que se você não for, não posso deixar as crianças irem. A única babá que confio é você, porque sei que cuida dos meus filhos da mesma maneira que cuida da sua irmã. Sei que tem experiência com crianças. Então não posso procurar por uma nova babá em tão pouco tempo. Tem que ser você.

 Dei de ombros e continuei indiferente.

 - Sinto muito – eu disse, sem emoção nenhuma.

 Era mais fácil me privar de emoções do que desabafa-las de uma só vez. Erin tinha coisas demais para lidar além de uma babá problemática. Era melhor que eu guardasse todos os meus problemas e traumas para mim mesma.

 - Você, provavelmente, deve ter passado mais tempo com Jazmyn e Jaxon nesses quase dois meses do que Justin passou a vida inteira. Você entende como é isso? E não é a escolha dele, porque ele ficaria aqui se pudesse. Essa é uma chance para ele se aproximar das crianças. Eles se adoram, você viu isso. Não é justo com nenhum deles.

 - Sei que não é justo e eu sinto muito mesmo – encarei o chão, evitando as malditas lágrimas – Mas não posso fazer isso com a minha irmãzinha.

 - Sua mãe não deve ser assim tão ruim – comentou Erin.

 - Ela é – subi o olhar para encará-la – Eu preferia que ela tivesse me abandonado ao invés do meu pai.

 Erin suspirou e me mandou um olhar de tristeza e piedade. Olhei para o outro lado para que fosse mais fácil lutar com as lágrimas. Era uma batalha vencida, sempre fora. Engoli em seco e respirei fundo, carregando junto todo o líquido dos meus dutos lacrimais. Quando meus olhos estavam secos o bastante, voltei meu olhar para Erin.

 Jeremy nos interrompeu naquele mesmo segundo. Meu primeiro pensamento foi onde as crianças deviam estar, mas ele não demorou. Trazia o telefone sem fio nas mãos e o apontou para mim.

 - Telefone pra você – disse ele.

 Encarei-o confusa. Ninguém ligaria para mim, especialmente no meu local de trabalho. Devia ser o Scooter, tentando me convencer de novo. Eu já estava preparando meu discurso quando coloquei o fone no ouvido.

 - Alô.

 - E aí, maninha – disse a voz do outro lado.

 Instintivamente, relaxei os ombros e soltei uma risada.

 - Justin, não acredito nisso! O que você quer, garoto?

 - Você na minha turnê. O que você acha disso?

 Dei outra risada. Ah, como eu odiava esse garoto. Ele era como um chato e irritante irmãozinho mais novo, mas que você ama, apesar de tudo.

 - Eu acho que não. Você sabe que não posso deixar Louie para trás. E ela não cabe no ônibus.

 - Qual é, Liv. Você sabe que eu preciso de você comigo.

 - Caramba, nunca pensei que você fosse dizer isso logo depois do segundo encontro.

 Ele deu uma risada histérica. Realmente, havia sido uma boa piadinha. Eu estava aprendendo.

 - Você está pegando o jeito. Está quase tão boa quanto eu – brincou ele.

 - Eu sou bem mais engraçada que você, Bieber – respondi, sem conseguir conter um sorriso.

 - A gente devia comprovar isso. Na turnê.

 Dei outra risada.

 - Sinto muito, bro. Eu não vou.

 - Ah, que isso! – ele usou um tom indignado – Não faz isso com seu bro, nem com os irmãozinhos do seu bro. Você sabe que eu amo eles e quero muito que eles estejam comigo. Por favor, Liv.

 Eu me senti culpada. Por trás daquela máscara que nós dois estávamos usando se escondiam duas crianças, cada uma com seu problema. E eu queria ajudar Justin. Ele era o cara mais legal que eu já havia conhecido. Ele merecia isso. Mas ainda assim, deixar Louie para trás me parecia muito errado. Ainda mais sob os cuidados da minha mãe. E se ela tivesse outra recaída da depressão? E se, de repente, decidisse que Louie era a causa de todos os problemas? E se algo acontecesse? Eu não ia aguentar.

 - Você sabe que não pode dizer não para a família, Liv – disse Justin do outro lado da linha.

 Continuei em silêncio. Aquilo estava acontecendo. O que eu estava torcendo para que não acontecesse. Eles haviam virado minha família. A família perfeita, a família dos meus sonhos. Ir para aquela turnê seria consolidar todos os laços já existentes. Não ir seria rejeitá-los. Mas eu estaria rejeitando minha família de verdade. Minha mãe e Louie. Eu não conseguia fazer isso. Conseguia?

 - Eu odeio você – sussurrei, encostando na parede.

 - Também amo você – ele disse, rindo – Acho que isso é um sim, não é?

 A vida inteira eu tive que lidar com a rejeição da minha mãe. Tive que cuidar de Louie como se fosse minha filha, coisa que ela não é e nunca será. Minha mãe nunca se importou em como suas decisões afetariam minha vida e eu passei dezesseis longos anos sofrendo por tudo que ela fez. Ela nunca perguntou se eu era feliz. Eu estava cansada daquilo. Tinha uma família melhor me esperando de braços abertos. Eu não precisava sofrer por causa da minha mãe. Não precisava e não iria mais.

 - Isso é um sim – eu disse, com a voz firme – Pelo visto você não vai se livrar de mim por um mês inteiro, Bieber.

 Justin deu uma risada tão alta que eu tive que afastar o fone do ouvido. Ele comemorou por uns trinta segundos. Eu dei risada, com o fone ainda afastado, até que ele gritou meu nome e eu voltei a encostar o fone no ouvido.

 - Scooter vai te dar todas as datas, ok? Mas é isso aí! – ele deu outra risada – Isso é tão bom. Tô tão feliz. Jazzy e Jaxon, seu bro vai passar um tempão com vocês!

 - Você sabe que eles não estão ouvindo, não é? – perguntei, rindo.

 - Sei, mas você transmite o recado, ok? A gente se vê no aniversário do Jaxon, maninha.

 O aniversário estava bem perto mesmo. Jaxon completaria dois anos no dia 20 de novembro. Já era dia 14. Será que Justin ia vir para a festa?

 - A gente se vê – eu disse.

 - Até lá, mana – e então ele desligou o telefone com outro grito.

 Não percebi que Erin ainda estava me olhando, boquiaberta. Dei o telefone na mão dela e sorri, descendo as escadas e voltando para brincar com as crianças. Nada conseguiu apagar o sorriso do meu rosto naquela noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, valeu pelo apoio com as outras duas fics. Eu vou postá-las logo, logo, ok? *-*
Enfim, acho que esse capítulo vai deixar todas vocês putas da vida comigo. Ela não ia porque não queria deixar a Louie, mas agora vai? Porém, foi o Justin falou com ela e ele tem um alto poder de persuasão HAUODAHU Qualquer outra dúvida, eu respondo nas reviews. Espero que tenham gostado, gatas ♥