Cerca de duas semanas se passaram desde o fim de semana que eu conheci Justin. Nada havia mudado muito. Eu ainda ia à escola e me esforçava para prestar atenção em todas as aulas, porque não tinha horário para estudar devido ao meu trabalho. Ia para a casa dos Bieber depois da aula e todo fim de semana. Todo o laço que eu já havia criado com as crianças, com Erin e com Jeremy se fortaleceu depois que Justin foi embora. Erin e eu conversávamos sobre qualquer coisa e eu conversava com Jeremy sobre música, porque nós tínhamos um gosto musical bem parecido; ambos gostávamos de rock clássico. Justin e eu conversávamos por mensagem de texto de vez em quando e ele sempre perguntava de Jazzy, Jaxon e Louie, mas essas mensagens eram muito raras, porque ele era muito ocupado. Fora isso, minha vida não mudou muita coisa. Até que, um dia, quem eu menos esperava apareceu.

 Eu havia acabado de passar para pegar Louie na creche e ela queria voltar para casa e tomar banho. Isso normalmente não acontecia, porque a gente ia direto para a casa dos Bieber, mas eu levei-a de volta para casa. Enquanto subíamos pelo elevador, liguei para Erin e avisei que demoraria um pouco, mas ela disse que estava tudo bem, pois Jeremy estava com as crianças. Entrei em casa com a minha chave e fechei-a atrás de mim, sem trancar.

 - Se você quer tomar banho, corre pro chuveiro, Louie – eu disse, jogando minha mochila da escola no sofá da sala.

 - Estou na cozinha, querida – disse ela, a senhora Lucy Mayes, minha mãe.

 Olhei no meu relógio de pulso para perceber que eram quatro horas da tarde e não havia razão para ela estar em casa. Achando aquilo muito estranho, cheguei na cozinha e me deparei com mais esquisitices. Havia um homem sentado na mesa de frente para minha mãe, tomando café e vestindo uma camisa social. Ele parecia ter uns trinta anos, tinha cabelo castanho e uma barba rala. Eu já havia visto ele em algum lugar, só não me lembrava onde.

 - Ah, você deve ser a Liv, certo? – disse o homem, se levantando e estendendo a mão.

 Apertei-a, mas sem entender exatamente quem ele era e o que estava fazendo na minha casa.

 - Sou Scooter, Scooter Braun – ele disse ao se sentar novamente.

 - Você é o empresário do Justin, não é isso? – perguntei, me lembrando dos fatos ditados no Wikipédia.

 - Isso, sou eu mesmo – o homem sorriu.

 - Querida – minha mãe chamou minha atenção e eu olhei para ela, ainda extremamente confusa – Você não havia me dito que cuidava dos irmãos de Justin Bieber.

 - Você nunca se interessou pelo meu trabalho – respondi, seca.

 Minha mãe deu uma risadinha para não perder a pose. Fazer o papel de mãe preocupada era a especialidade dela.

 - Também não é assim – ela começou, já preparando um discurso sobre como teve que me aguentar nove meses na barriga e como cuidou de mim sozinha, da melhor maneira que pode.

 Infelizmente, a educação que eu havia recebido dela nunca valeu para nada. Tudo que aprendi, aprendi sozinha. Minha mãe praticamente só serviu para me parir.

 - O que você está fazendo aqui, afinal? – disse eu, cortando o discurso previsível dela e olhando para Scooter novamente.

 - Liv, não seja rude! – repreendeu minha mãe.

 Não lhe dei atenção.

 - Eu estou aqui pra conversar com você. Justin pediu, com clareza, que eu falasse apenas com você e confirmasse depois com a sua mãe, mas ela já estava em casa e me atendeu – disse Scooter, dando de ombros e tomando um gole de café.

 Puxei uma cadeira violentamente e me sentei de frente para ele e um pouco longe da minha mãe.

 - Tudo bem. Eu estou aqui. O que ele quer? E por que ele não veio pessoalmente ou me mandou uma mensagem? – perguntei, ainda seca.

 Eu não estava em um dos meus melhores dias, meu humor andava bastante inconstante. Fingi nem escutar o som de surpresa que saiu dos lábios da minha mãe e revirei os olhos para não ter que encará-la.

 - Você já o conheceu? E tem o número dele? – perguntou ela, contendo um gritinho excitado.

 Não lhe dei atenção de novo. Os olhos dela deviam estar brilhando como diamantes só de pensar no quanto sua filha podia ganhar por ter conhecido Justin Bieber. Era bom que ela soubesse que eu nunca faria nada que tirasse dinheiro dele ou que me desse dinheiro à custa dele. Nós éramos amigos ou, pelo menos, algo perto disso.

 - Ele não pôde vir – respondeu Scooter, também ignorando minha mãe – Ele é ocupado, você deve saber, e até queria vir pessoalmente para te ver e ver as crianças.

 Não consegui conter um sorriso quando Scooter disse que ele queria me ver, mas tive que voltar à expressão séria de antes.

 - Tudo bem. Ele não pôde vir. Eu perdoo ele. Mas o que ele quer, exatamente? – perguntei, séria de novo.

 Scooter deu um sorrisinho e também voltou a ficar sério.

 - Justin vai fazer uma turnê. Uma pequena turnê, de um mês. Vamos visitar as cidades mais importantes dos Estados Unidos e algumas do Canadá. A turnê é para divulgar o Under The Mistletoe, o novo álbum de natal, e gostaríamos de fazer a turnê por algumas cidades estratégicas. Mas seria por apenas um mês, em território americano.

 Dei de ombros e arqueei as sobrancelhas.

 - E o que eu tenho a ver com Justin querer fazer uma turnê?

 - Ele quer que você vá.

 Engasguei com a minha própria saliva e encarei-o abismada. Aquilo devia estar errado. Nós nem nos conhecíamos direito e ele tinha namorada. Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e evitei a todo custo encarar minha mãe. Ela devia estar quase pulando de felicidade.

 - Por que eu?

 - Porque Jazmyn e Jaxon também vão e você é a única babá que Erin confia. Ela não pode ir, não vai parar de trabalhar por um mês, e ela confia em você. Erin nunca deixaria Jazzy e Jaxon irem sozinhos, sem você ou sem alguém da família.

 - Jeremy não pode ir? – soltei, ainda levemente engasgada.

 - Ele acabou de voltar da turnê para a América do Sul e Erin também não quer que ele vá. Você é a única saída. E Justin quer muito passar mais tempo com os irmãos.

 Engoli em seco e respirei fundo. O que eu podia fazer? Podia negar? Estava nas minhas mãos, afinal. Eu sabia o quanto ele amava aquelas crianças e sabia que elas o amavam também, mas eu não podia deixar minha vida para trás por um mês porque ele queria que eu fizesse isso. Eu ia perder um mês de aulas! E Louie ia ficar um mês longe de casa, não dava para fazer isso com ela. Havia tantas complicações. Ainda assim, eu podia fazer o sacrifício. Eu só precisava escutar aquela palavrinha mágica.

 - Não posso largar a escola – eu disse, cruzando os braços.

 - Ah, que isso, Liv. Você é esperta, pode pegar o conteúdo quando voltar. Você até pulou uma série na escola! – comentou minha mãe, orgulhosa.

 - Você pulou um ano? Então deve estar no penúltimo ano do colegial, não é? – Scooter perguntou, ficando animado.

 Assenti, ainda de braços cruzados e com um bico enorme.

 - Você e Justin estão na mesma série. Podem estudar juntos!

 Diabo, era só o que em faltava. Ele devia ser uma peste estudando, não devia parar de fazer aquelas piadinhas que ele fazia toda hora. Ia ser um inferno passar um mês convivendo com ele, mas seria, provavelmente, o mês mais divertido da minha vida. Até sorri pensando nessa possibilidade e descruzei os braços.

 - Acho que isso é um sim – disse Scooter, sorrindo, e cutucando meu braço – Por favor, Liv. O Justin precisa de você.

 Dei um sorrisinho e assenti, aceitando a proposta. Meu ego havia inflado assim que eu ouvi a palavrinha mágica precisar. Era tudo o que eu queria ouvir.

 - Vai ser difícil. As crianças vão sentir falta da Erin, do Jeremy, da escola, Louie vai sentir falta de casa...

 - Espera, quem é Louie? – Scooter me interrompeu.

 - Minha irmãzinha. Ela tem a idade da Jazzy.

 - Ela não pode ir.

 Meu sorriso foi embora e eu encarei-o de sobrancelhas arqueadas, brava e seca de novo.

 - Como não pode ir? Eu cuido dela e dos Bieber todos os dias na casa deles.

 - Mas ela não cabe na viagem. Ela não cabe no ônibus e não tem como você ficar em outro. Não dá para ela ir – explicou Scooter, parecendo desapontado.

 Bufei e cruzei os braços de novo.

 - Então eu não vou.

 Minha mãe bateu na mesa, indignada, e Scooter me encarou de olhos arregalados. Apertei ainda mais os braços e os encarei, um de cada de vez, indiferente.

 - Não seja burra, Liv! – disse minha mãe, já muito irritada - Eu vou cuidar da sua irmã.

 - Você, mãe? Não sabe nem cuidar de si mesma! Além do mais, você não conhece a Louie.

 - Claro que conheço – respondeu ela, se levantando e parecendo cada vez mais brava – Ela é minha filha!

 Respirei fundo e revirei os olhos.

 - Olha aqui, senhor Braun, eu não vou. Pode avisar o Justin que eu não vou. Eu sinto muito, mas não posso deixar minha irmãzinha aqui. Acho que é o melhor para todos nós. Além do mais, eu odeio viajar – me levantei, dando de ombros e colocando a cadeira no lugar – Foi muito bom conhecer o senhor. Agora, com licença, eu tenho que ir trabalhar. Tem duas crianças me esperando.

 Saí da cozinha deixando Scooter boquiaberto e minha mãe espumando de raiva. Louie conseguiu tomar banho sozinha e estava no quarto, se trocando. Ajudei-a e nós finalmente pudemos sair. Puxei-a pela mão e saí correndo daquela casa.

 Por mais que parte de mim dissesse que eu estava fazendo uma coisa horrível e que estava desapontando Justin, outra parte o xingava de todos os nomes. Eu não sabia o que pensar; a única coisa que sabia era que Louie não ia ficar sozinha. Eu não podia deixar aquilo acontecer.