Um Toque escrita por Matheus


Capítulo 7
Até onde ele sabe?




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Devo proteger aquilo que amo.

Pensava Domenick.

Devo proteger Asheley, acima de tudo.

Domenick e Asheley andavam às pressas descendo as escadas de dois em dois degraus.

– Venha comigo! – Orientava Domenick.

Escutou-se um som de tiro e em seguida um ruído na janela que se manteve sem um arranhão.

Meu Deus, o que é isso?

Asheley sentia-se tentada a fazer Domenick explicar exatamente o que estava acontecendo, no entanto, não havia tempo.

Ela seguia Domenick, mesmo sem fazer a mínima ideia de onde ele estava levando-a. Como poderiam estar indo para fora, se ele havia dito que ali dentro era mais seguro? A cada degrau, ela afundava em pensamentos profundos. Com saudades daqueles tempos, lembrava o dia em que conheceu Domenick... Ele era calado e isolado, mas uma ótima pessoa, e ela era difícil e fantástica, uma deusa intocável. Eles eram da mesma escola, cursavam o mesmo ano, mas em turmas diferentes. E tudo veio à mente como se estivesse sonhando acordada.

. . .

Como sempre, no intervalo entre as aulas, ele ficava sozinho no pátio... Observando. Um ilustre observador. E num dia qualquer ela foi falar com ele.

Asheley levantou-se de sua cadeira, determinada e um pouco nervosa – ele notou quando ela apertou o maxilar e inspirou com força, espremendo os olhos por um segundo –, e caminhava entre as pessoas habituadas a viverem suas simples vidas. O mesmo dia, todo dia. O mesmo pensamento. A mesma vida.


Ele tentou não criar esperanças de onde seria o destino dela, mas em seu âmago torcia para que ela estivesse realmente andando até ele. E como confirmação de que aquele era seu dia de sorte, ela caminhava em sua direção.

Domenick sentava geralmente no chão, escorava-se na parede e observava enquanto escutava música nos fones de ouvido do celular. As pessoas eram iguais; algumas mais bonitas, outras com temperamento diferente; mas todas iguais. Todas... Exceto Asheley.

– Oi, eu sou Asheley, é um prazer. – Disse ela. Era a primeira vez que ele ouvia sua voz. Melódica e atraente, ele percebeu através da música que ouvia.

Os olhos de Asheley eram tão encantadores quanto seu sorriso, seus lábios ou seu cabelo.

– Domenick. – Respondeu tirando os fones e desligando a música.

– Eu posso me sentar? – Perguntou inclinado o tronco na direção dele, deixando seu cabelo cair pelos ombros e iluminando-o com seu sorriso que poderia ser comparado a mil sóis. Seus lábios não muito carnudos eram delicadamente avermelhados como uma cereja, e permaneciam sempre assim – Domenick observou –, sempre sorrindo.

Domenick estava sentado no chão de forma elegante e confortável. E passava essas mesmas sensações para quem encostava: elegância e conforto.

– Claro, não quer ir para outro lugar?

– Não, aqui está ótimo. – Disse sentando-se.


Domenick optava por uma solidão voluntária, mas mesmo assim Asheley quis arriscar conhecê-lo. Ele era o único da escola que não flertava com ela e não se ouvia maus rumores dele. Ele estava sempre lá, observando.

– Gosto de você. – Disse ela olhando além do pátio a sua frente. Essas palavras foram mais que suficientes para ele enlouquecer por dentro. Já Asheley, era diferente e não se torturava com um silêncio que, na verdade, queria que não existisse. Ela queria falar, e simplesmente, falava o que queria.

– O que disse?

– Sério. Você é diferente dos outros. – Disse, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

– E diferente é bom ou ruim? – Perguntou, brincando. Ela também era diferente e ele sabia disso.

– Bom, eu acho. – Disse Asheley com um sorriso dançando no canto de seus lábios, e então Domenick desviou o olhar dos seus olhos cor de chocolate, para que pudesse pensar mais racionalmente.

– Gosto de você também. – Disse, olhando para o chão.

Ela ficou feliz com essas palavras. Já era um começo. Só não entendia por que ele nunca tentou se aproximar dela, nunca disse um oi ou sequer falou com ela em dois anos estudando na mesma escola.

– Quer comer alguma coisa? Estou morrendo de fome.

Asheley tinha um corpo perfeito e não precisava fazer nenhum esforço ou controlar sua alimentação para mantê-lo. Ela era linda naturalmente e a natureza não tinha a menor intenção de tirar isso dela.

Domenick não estava com fome, mas ficar ao lado dela enquanto ela comia era mais que um prazer para ele... E uma oportunidade. Ela era intocável. Dois anos com todos os alunos dando em cima dela e nunca ouve um vitorioso que a merecesse. Domenick nunca ficara tão feliz por ser paciente. Com o tempo, as coisas boas vêm, e deve-se fazer por merecer, e será merecedor.

– Claro, vamos comer então.

Naquele dia Asheley e Domenick começaram a forjar seus laços que se confirmaram em uma noite de chuva em um primeiro beijo e esses laços não se desfariam mais. Nunca mais. Até que a morte os separe... Mas a morte estava cada vez mais perto – perto demais.


. . .


Asheley seguia Domenick pela casa até uma porta metálica na lateral oposta a cozinha.

– O que há ai dentro? – Perguntou.

– A saída. – Respondeu ele enquanto digitava um código na fechadura eletrônica. A porta se abriu com um silvo.

Atrás da porta, Asheley vira uma das mais caras garagens que já soubera existir. Enquanto atravessava a porta ela fitava diversas coisas de valores inestimáveis.

O mais notável na “garagem” eram os dois carros que custavam meros milhões de dólares, o Bugatti Veyron 16.4 na frente e a Ferrari F430 Scuderia atrás, com o capô elevado.

Ele com certeza gosta de carros caríssimos. – Pensou.

Domenick não só tinha carros, mas também uma Kawasaki Ninja NX-14 coberta por um lençol ao lado da porta de saída. Mas o que realmente a assustou foi o que ainda não havia notado. Aquele lugar não era só uma garagem, mas também uma sala de testes, entre outras coisas que não conseguia imaginar.

A sala era enorme, iluminada por luzes fluorescentes nos cantos do chão e outras acopladas discretamente no teto, o que dava uma ótima visão de todo o local, não só pelas luzes, mas também pelo belo piso branco. Além dos carros e da moto coberta, havia um lindo piano preto ao lado de uma espécie de jipe-robô espacial. Ao fundo da sala, encontrava-se uma espécie de parede feita para receber grandes impactos, e alguns equipamentos de solda e corte.

– É aqui que você faz seus testes mecânicos? – Perguntou Asheley, surpresa.

– É aqui que eu estou quando não estou fazendo pesquisas. Aqui são feito os testes e é onde eu guardo as coisas grandes que já estão prontas.

– E o piano?

– Eu toco. Seria um prazer tocar para você se a ocasião fosse outra. – Disse, entretido com outra coisa enquanto falava.

O que ela mais queria era que a ocasião fosse outra em que sua vida não corresse perigo e houvesse tempo para tudo. Tudo com Domenick. Tudo que ele quisesse mostrar para ela.

Domenick estava virado para parede, ao lado de um motor de um avião espacial ainda em teste pedido pela NASA para o projeto X-33. O VentureStar, um sucessor do ônibus espacial. O sucesso ou fracasso do X-33 determinará se o VentureStar será o veículo que possibilitará o acesso do público ao espaço. Aquele era apenas um esboço de alumínio, o verdadeiro projeto com mais de quinhentas páginas e anexos estava num armário, que mais parecia um cofre, ao lado.

Manuseando um computador totalmente touchscreen projetado na própria parede, Domenick controlava as câmeras e sensores da casa. Tony Stark não é o único com altas tecnologias., pensou.

O futuro é agora, só é preciso ter dinheiro para chegar até ele.

Asheley não se surpreendeu muito com a tecnologia, pois para ela, já era conhecida. O que lhe surpreendeu foi quando, como num passe de mágica, a parede se abriu. Mas a mágica maior estava no que havia dentro da parede, para sua surpresa.

– Como você explica isso?

– A parede é, na verdade, um compartimento de aço cromo-molibdênio...

– Muito engraçado. – disse, interrompendo sua aula – Que tipo de pessoa tem tantas armas? Eu só consigo pensar em um terrorista! – Disse assustada. Onde eu me meti?

– Está vendo aquilo? – Disse apontando para o “jipe-robô” – É um robô projetado para agir contra o terrorismo localizando e desarmando bombas, sozinho. Tendo suporte e resistência para atuar também na atmosfera de Marte... Que tipo de terrorista faria um robô antiterrorismo? – Perguntou, dando vida a um sorriso no canto da boca. O simples sorriso passou tranquilidade para Asheley, proporcionando resultados imediatos. Um pequeno toque de psicologia.

– E por que as armas?

– Eu as projetei, mas nunca as vendi. Há coisas que não podemos expor. O mundo ainda é jovem demais para coisas assim.

– Eu entendo.

Domenick se virou e começou a observar uma pistola semelhante à Glock – uma arma tática tipo pistola, leve, segura e com boa precisão. Mas aquela não era uma Glock, era muito mais que isso. O metal da arma refletia como aço inox polido.

– Que material é esse? – Perguntou Asheley, se preparando para a resposta que poderia vir.

– Vidro metálico de titânio.

– Essa arma é feita de vidro? – Ela deu um tempo absorvendo a informação – Isso atira? O vidro é um sólido resistente o suficiente para resistir ao disparo? – Ela não sabia mais o que poderia ver. Algo conseguiu surpreender Asheley ainda mais que as armas... O material do qual ela era feita!

– Na verdade, o vidro é um líquido, não sólido. – Ele sorriu por dentro, não pelo erro comum de Asheley, mas pela cara que ela fez quando ouviu. Continuou explicando. – E eu disse vidro metálico, são mais leves e mais baratos, além da incrível resistência, entre outras propriedades do material.

– Que tipo de pessoa projeta armas, motores espaciais, robôs, toca piano, sabe pilotar um jato, e faz pesquisas que avançam a medicina, a química, a engenharia, a... – Ela não conseguia continuar. Sua cabeça latejava como nunca. Há um assassino lá fora e eu nem sei se estou segura aqui dentro!

Domenick apoiou sua mão no ombro dela. Ela sentiu o peso que carregava nas costas se dividindo ao meio.

– Você confia em mim?

Ironicamente era essa pergunta que ela tentava responder durante o caminho, e quando confrontada “vocalmente”, ela simplesmente não sabia a resposta. Era coisa demais para absolver. Afinal, já havia passado tanto tempo e ela não sabia se ele ainda continuara o mesmo. Ela mudou, todos mudam com o tempo, mas ele parecia... ser outra pessoa.

Ele continuou, tocando o rosto dela.

– Preciso que confie sua vida a mim. Eu não irei seguir sem você, e juro lhe proteger... Apenas confie em mim. – Disse, beijando-a delicadamente.

E, novamente, Domenick sentiu-se completo. Esse era um dos raros momentos em que ele não sentia necessidade de usar o conhecimento obtido por milhares de outras mentes. Domenick sentia-se não como um cientista bilionário, mas como um homem. Um simples homem que amava uma mulher, incondicionalmente.

E o mesmo turbilhão de emoções atingia Asheley de forma ainda mais intensa. Nesse singelo beijo, a resposta para a pergunta de Domenick iluminou a sua mente, de forma tão clara que ela não hesitou ao respondê-lo.

– Certo, eu confio em você. – Falou decidida e confiante.

– Perfeito, então.

Ele se virou para as armas, dentre elas, uma granada de mão semelhante a M84, usada pela SWAT, feita para emitir um barulho ensurdecedor e um forte clarão, desorientando o alvo; outra, desmontada em dezenas de partes, similar a Barret M82A1, capaz de atingir um humano a 2km de distância; e por fim, uma pequena e moderna semi-automática.

Domenick ajeitou as peças da arma de “vidro” e começou a montá-la. Demorou menos de quatro segundos para montar e carregar a arma. Mais rápido que Feliks Zemdegs., pensou. – Feliks é o australiano recordista em montar cubo mágico, em apenas 5.66 segundos.

Asheley ficara boquiaberta quando viu tamanha agilidade e precisão. Qualquer nervosismo que tinha se livrado, agora retornara como nunca.

– Pronta?

Teve medo de perguntar.

– Pronta pra quê?

– Como acha que sairemos daqui? – Disse Domenick, com a arma em punho, caminhando até a porta da garagem. Ele caminhou até a porta e retirou o lençol que, para surpresa de Asheley, era uma moto que custava cerca de US$ 35.000.

– Não vamos andar nisso, vamos?

Ele montou na moto.

Ainda sentado na moto, Domenick dedilhou a parede e a imagem touchscreen surgiu como se houvesse uma tela embutida. Viu, através das câmeras, a localização do invasor que se mantinha imóvel diante da porta principal com uma arma em mão. Logo ao lado da saída da garagem.

Bem onde eu queria que estivesse.

Ele digitou alguns comandos na tela e em seguida tocou no X vermelho que fez a tela desaparecer, sobrando apenas a parede.

– Venha! Só temos alguns segundos! Suba!

Asheley, achando que estava enlouquecendo, correu e saltou na moto que ligou, livrando um som grave e contínuo. A porta da garagem começou a subir sozinha. Estava tudo programado.

– Segure-se firme, abaixe a cabeça e só levante se eu morrer.

Ele acelerou.


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Notas finais do capítulo

Mande reviews falando sobre todos os detalhes e o que achou...