"... As imagens do massacre lhe vinham rapidamente, uma atrás da outra como em um flashback de um filme de terror. Acordou ofegante e suado. Agora nem em seus sonhos teria mais sossego. Decidiu sair, sair do esconderijo, sair daquele quarto sem janelas, daquele subsolo. Mesmo sem saber que horas eram, saiu..." Ainda era dia, provavelmente meio-dia, pois as mulheres da pequena vila onde seus pés haviam levado-o deixavam o cheiro de almoço escapar pelas janelas e algumas crianças que brincavam de bola na rua entravam em suas casas para comer. Por um momento sentiu-se feliz. Durante aqueles breves pensamentos pudera esquecer-se de tudo o que lhe afligia. Pudera mergulhar num mundo onde não existia mais ninguém, até aquelas mãos tocarem de novo seus ombros. Já sabia quem era, tinha percebido sua presença desde que saíram do confinamento de Orochimaru. Ela parecia não se importar com a cara nervosa de Sasuke e olhava para ele com os olhos de uma criança que pede um doce. Olhava para ele e para um restaurante de rámen, não falava nada, apenas olhava para os dois. Ingênua? Não parecia tanto, parecia saber pedir muito bem, mesmo sem palavras. - Sasuke-san, vamos aquele lugar? Seu ego deveria apenar ignorar a pergunta, mas seu estomago não sabia disso. E um rugido o fez lembrar que não comia há quase dois dias. O moreno corou, o que o fez virar o rosto instantaneamente, não corava daquela forma desde os oito anos quando sua professora lhe beijava a testa. A garota riu um pouco, mas percebeu que não seria prudente deixar o Uchiha com mais vergonha. Sorriu-se satisfeita, afinal, não é sempre que se vê uma cena dessas. E com o carinho de uma mãe disse: - Sasuke-san está com fome? Podemos comer já então. - um grande sorriso lhe apareceu na face, algo que poderia ser comparado ao dele ou ao de oOochimaru – mas eu não tenho dinheiro algum, então terá que me pagar o almoço. E saiu, deixando o aprendiz de sannin para trás. O garoto riu, talvez não fosse tão entediante ficar com ela nos próximos dias. A cobra velha havia se equivocado, a menina definitivamente não era tão ingênua quanto ele falava, e também era bem diferente do dobe do Naruto. Tiveram uma tarde muito agradável com direito a sorvete e pôr-do-sol. E apesar dele demonstrar tédio em todas suas falas e feições ela não parecia se importar e dava os tão famosos sorrisos que cortavam o coração do vingador. Quando infelizmente chegaram ao esconderijo, uma figura pálida os esperava na porta - Sasuke-chan se divertiu? Será que já está amole... – mas não pode terminar sua provocação, pois uma voz feminina o cortou. - Sim Orochimaru-sama, foi muito divertido. Agradeço que tenha me deixado ter uma tarde tão agradável ao lado de Uchiha-san – completou com uma reverência. Não parecia a mesma garota que fizera o Uchiha lhe pagar um almoço, estava estranhamente submissa, como se ao entrar em “casa” virasse uma empregada ou algo assim. Ele tinha certeza de que ela sabia que morreria logo pelas mãos do débil cientista. Mas ela não parecia se importar. Não que ele estivesse em uma situação muito melhor, afinal teria que entregar seu corpo logo. A garota e o mais velho foram entrando e Sasuke saindo de seus devaneios foi atrás. -- Na manha seguinte ele dormia bem. Coisa que não acontecia freqüentemente, e não sabia se aquela calma era por Orochimaru ter saído com Kabuto ou por seus braços envolverem uma cintura fina e quente. Cintura fina e quente? Que diabos algo assim faria em sua cama? Abriu os olhos pesarosamente e viu uma criatura totalmente descabelada usando seu braço e seu tórax como travesseiro. Deu um pulo, caindo da cama e acordando o ser estranho ao seu lado. - O-o que você está fazendo aqui? – ele tinha os olhos arregalados e nem percebia a demonstração disso. - Ãh? – ela ainda estava acordando e coçava os olhos, sem nem perceber o mal entendido que tinha criado. – ah, ohaio Sasuke-san. Orochimaru–sama disse que estava frio e eu deveria vir esquentá-lo. Mas eu não achei nenhum cobertor ou coisa parecida, então decidi que o esquentaria eu mesma. – e um grande sorriso à La Naruto apareceu em suas feições. O moreno se recompôs e virou seu rosto, aquela garota tinha a habilidade de pintar de vermelho o rosto do herdeiro do sharingan. - Certo, então agora ponha uma roupa! – a garota vestia um dos kimonos brancos dele, mas sem a faixa roxa que o mantém fechado, já que de acordo com a explicação dela era desconfortável dormir com aquilo lhe apertando a barriga. -Sasuke-san não dormiu bem? Era obvio que ele não diria a verdade já que como dissemos antes, essa foi uma das melhores noite que ele já teve desde que fugiu de Konoha. Não que lá ele dormisse muito bem, mas pelo menos não corria o risco de ser acordado por algum genjutso cruel lembrando-o da noite que tanto queria esquecer e dos olhos escarlate que ele queria matar. Normalmente ele não ficaria mais do que um ou dois segundos em um desses. Mas esse mísero tempo poderia ser pior que uma facada no peito. E como resposta a pergunta dela, ele não pode mentir totalmente, tinha medo de que se dissesse algo muito rude ela não voltasse e persegui-lo. E apesar de não admitir nem para si nem para ninguém ele gostava de tudo aquilo. - Isso não importa, vista-se que tenho muito o que treinar. - Treinar? Posso também? - Não tenho tempo de brincar com você, tenho um objetivo e isso não inclui você. - Ojetivo? Qual? - Matar meu irmão – deixou a frase pesar e completou – e vingar minha família. - Sugoi, então vamos treinar! – levantou e logo estava apresentável. Aquele par de olhos negros não podia negar que preferia a visão dela deitada sobre seu tórax com a respiração calma como um anjo. Balançou a cabeça afugentando os pensamentos e foram andando até a área de treino. - É um objetivo bem triste né?- ele olhou por cima dos ombros e pode ver que os olhos que tanto mexiam com ele olhavam agora para o céu que podia ser visto devido a falta de teto na sala de treinamento. – bom, mas não importa, um objetivo é um objetivo. Não irei me meter nele. - Não pegarei leve, se quiser desistir disso diga agora!- o garoto já havia se posicionado na frente dela e tinha a kusanagi em punho. -Pegar leve? Desistir? Essas palavras não fazem parte meu vocabulário sasuke-san. – ela furou o dedo, e com o sangue escreveu algumas coisas na mão esquerda. Fez alguns ins e uma katana de lâmina branca e cabo preto preso em uma fita de mesma cor apareceu em suas mãos. – isso não combina comigo! Também não gosto de brincar – suas feições infantis e olhos cansados deram lugar a uma mulher de olhar poderoso e ambicioso. Se ele não fosse Uchiha Sasuke talvez estivesse tremendo de medo. -Que bom! - com a kusanagi em mãos, eles começaram a lutar em uma velocidade incrível, digna dos ANBUS mais qualificados. Deram um passo para trás, se separando. Cada um com um fino corte sangrando na face. Pararam totalmente ao ouvirem uma voz zombeteira que feria os ouvidos do shinobi de konoha. - Então Sasuke-chan, gostou de brincar com meu ratinho de laboratório? - Orochimaru-sama! – ela limpou o rosto e fez-lhe uma reverência – Okaeri, estávamos treinando um pouco, mas já terminamos. – seu sorriso habitual voltara. Sasuke estava confuso, aquela garota era tão forte e tinha uma personalidade tão variável, além de parecer ler seus pensamentos e ações, o que o arrepiava todo. Todos saíram do lugar, menos sasuke. Ficou jogando kunais contra uma parede, perdido em pensamentos.