What would it take
For things to be quiet, quiet like the snow ? ¹

 O vento soprava suavemente naquele dia, trazendo consigo o sutil cheiro de maresia, e parecendo brincar com os cabelos ruivo-acastanhados da garota que observava o mar. Os olhos, de mesma cor do objeto de admiração, pareciam perdidos na imensidão azul. Juno sabia que ficar à beira da praia era um ótimo ambiente para relaxar e deixar a mente limpa, até por isso estava ali. Suspirou vendo que não estava adiantando muito.

 A brisa marítima parou por um momento, fazendo ela voltar a sentir o calor habitual de Destiny Islands, que a fazia usar uma blusa leve de tom esverdeado, um short jeans e uma bota lilás e branca. Seu cordão destacava-se com seu brilho prateado. Pelo canto de olho, percebeu que alguém se sentou ao seu lado. Nem precisava virar para saber quem era.

 -Bom dia, Juno. – o garoto parecia animado, mas refreou-se ao perceber a expressão séria dela – Aconteceu alguma coisa?

 A ruiva moveu o olhar para ele. Nick, seu namorado já fazia quase dois anos. Estava vestindo uma camisa azul-marinho de mangas curtas, uma bermuda cinza clara e um par de tênis branco com detalhes negros. Seus curtos cabelos cor de grafite mal chegavam à altura dos ombros, e os olhos de verde reluzente a encaravam, à espera de uma resposta. Juno respirou fundo. Detestava o fato de que ele podia dizer se estava bem ou não só por olhá-la. Justamente ela, que sempre conseguiu esconder tão bem o que sentia das pessoas ao redor. Voltou o olhar para o mar antes de responder.

 -Eu... Tive um sonho estranho essa noite. – ainda passarem-se alguns segundos antes de ela perguntar – Ainda se lembra de Cynder e Spyro? – o garoto assentiu, então Juno continuou – Do mesmo jeito em que vi eles quando acabamos no mundo dos dragões, tive um sonho. Felizmente, eles parecem estar em paz. Ambos estavam em um lugar que nós não chegamos a conhecer, mas de aparência segura. Pelo menos, por enquanto...

 -Está tudo bem, Spyro? – indagou a dragão ao se aproximar

 -Ahn? – ele foi pego de surpresa com a presença dela, o tanto que estava distraído em seus pensamentos – Claro, por que não estaria?

 -Spyro, não minta. – rebateu Cynder – Eu te conheço bem demais para não saber quando algo te perturba.

 O dragão roxo suspirou, e voltou a olhar para o horizonte.

 -Há pouco fui contatado pelo novo Chronicler. – começou, sendo interrompido pela parceira

 -Novo?

 -Exato. Ignitus é o novo Chronicler. – contou Spyro

 -Sério? Bem, isso é algo bom, não? – indagou Cynder, confusa

 -Sabe o que significa um novo Chronicler? – replicou o primeiro – Significa que uma nova era começou. Significa que uma nova guerra pode começar a qualquer momento!

 -Acalme-se, Spyro! Não pode acreditar que essa será uma era de paz? – tentou Cynder, embora fosse possível ver que ela não estava tão certa do que falava

 -Não vai ser! Ignitus me disse isso. – redarguiu o dragão roxo, com o nervosismo evidente na voz

 -Mas por que está tão nervoso? – questionou a parceira, preocupada – Nós podemos...

 -Esse é o problema. – Spyro interrompeu – Nós não podemos fazer nada.

 -Como assim? – indagou ela, com um olhar de incompreensão

 -Não é mais nossa responsabilidade. Nova era, nova batalha, novos guerreiros.

 -Depois disso, eu acordei. – Juno terminou a narrativa

 Nick ficou alguns segundos calado, pensando no que havia sido dito. E, principalmente, no que Juno tinha entendido.

 -Você acha que nós somos os guerreiros que ele se referiu. – não foi uma pergunta, mas ela assentiu

 -Ainda não me esqueci do sonho que eu tive com Ignitus. Lembro perfeitamente que ele disse que não seria a última vez que veríamos os dragões. E eu duvido que teria esse sonho por puro acaso. – houve um suspiro antes que ela deixasse escapar – E ainda tem aquela profecia...

 -Que profecia? – o garoto perguntou, arqueando a sobrancelha

 Foi então que Juno percebeu que tinha dito em voz alta. Há pouco mais de um ano antes tivera um sonho do qual copiara uma poesia, e que sentia ser algum tipo de previsão. Tinha anotado-a em seu diário, mas nunca chegara a contar para ninguém sobre ela. Afinal, poderia ser uma previsão de algo que já acontecera, ou então só um simples sonho. Deveria saber que não poderia ser isso.

 Diante da ainda indagativa expressão do namorado, a ruiva levantou-se, sinalizando para ele que a seguisse. Não demoraram muito para chegar à casa da garota. Ela foi direto para seu quarto, sentando em sua cama ao chegar. Pegou o caderno, na verdade seu diário, que estava em cima do criado-mudo, e folheou-o até achar o que queria. Feito isso, passou-o para Nick, que leu a poesia que estava escrita na folha mostrada, sentando-se ao lado dela.

 -Já faz um ano, eu tive um sonho estranho. – ela começou a contar enquanto ele corria os olhos pela folha – Eu estava perdida no que parecia ser uma biblioteca. Não importava o quanto eu corresse, não tinha fim. Então, em determinado momento, um livro caiu na minha frente. Não lembro exatamente o que tinha escrito nele, mas, assim que acordei, escrevi isso. E, convenhamos, parece ser bem mais que uma simples poesia.

 Passaram-se alguns segundos antes de Nick assentir com a cabeça.

 -Realmente, parece ser mais do que algo sem importância. – comentou – Principalmente levando em consideração que você sonhou com isso.

 -Antes, eu não liguei tanto para a sensação que me dizia para não desprezá-la. – emendou a primeira – Mas, agora, depois desse último sonho... Acho que não devemos ignorá-la.

 -Bem, estava começando a ficar tediosa uma vida tão calma. Por que não uma nova batalha? – brincou o garoto, ao que Juno o empurrou de leve como resposta

 Nick riu com a reação dela, mas logo se refreou. Pode perceber no olhar dela que essa ideia não lhe agradava muito.

 -Fica calma, tá bom? – falou, passando o braço por cima dos ombros da garota – Seja qual quer que for o perigo, nós conseguiremos vencê-lo. Juntos.

 Juno sorriu, e se aconchegou mais nele.

 -Obrigada. – murmurou ao fim de alguns segundos

 -Pelo que? – perguntou o garoto

 -Por existir. – ela respondeu, em seguida beijando-o

 Nick desceu o braço pelas costas dela, logo enlaçando-a pela cintura, enquanto a garota puxava-o pela camisa. A ruiva definitivamente amava os beijos dele. Eram calmos, e mesmo assim ela conseguia sentir toda a intensidade do amor que sentiam um pelo outro. Demoraram a se soltar, o que os deixou sem ar. Ambos sorriam, mas o de Juno era mais extenso. Era ótimo saber que tinha alguém a seu lado, para apoiá-la e incentivá-la. Era só disso que precisava.