Cheguei no meu quarto e Thomas pulava de um lado pro outro se aquecendo. Eu bati a porta do quarto e me joguei na cama com a cabeça afogada no travesseiro: 

– Vai no meu jogo hoje, novato? – Ele perguntou enquanto pulava, eu podia notar pelo rítimo de sua respiração.

– Eu tenho nome – eu disse sem sal – É Justin.

– Prazer... – ele disse com uma voz sarcástica.

– O prazer é todo seu – eu virei a cara pro outro lado e fiquei pensando em Sophia, enquanto o babaca lá atrás falava algumas coisas idiotas que eu não queria ouvir.

Meus momentos com Sophia passaram como um filme na minha cabeça, e meu coração se apertava ainda mais. Mas o mais estranho é que em cada cena deste "filme" com a ela, aparecia o olhar de Juliard como um flash em minha mente. Eu não conseguia entender aquilo, então desisti de pensar em Sophia e me vi pensando em Juliard, o porque ela tinha corrido tanto de mim?! Eu só queria conversar com ela... não assustá-la. Meus pensamentos foram se transformando em um bolo de coisas confusas, até que eu apaguei na cama.

                                            ***

Acordei com alguém batendo forte na porta do quarto, eu levantei meio tonto e tirei a jaqueta azul, eu não liguei pra minha cara amarrotada e fui atender a porta. Era Luci, a loira líder de torcida.

Ela usava uma saia de prega vermelha e branca, uma meia branca grande até os joelhos e uma sapatilha preta. Seu cabelo loiro e curto estava solto, ela tinha bastante maquiagem no rosto e um sorriso estampado: 

– Você não vem? – Ela perguntou logo de primeira.

– Não – eu bocejei segurando a porta – Tô cansadão.

– Ah por favor, você é um dos mais esperados por lá. – ela fez biquinho e eu revirei os olhos.

– É Sério Luci, vai lá no seu jogo porque você é importante nele, eu vou deitar e quem sabe no próximo jogo a gente não se encontra...

– Você promete? – ela fez voz de bebê, o que no fundo me deixou bastante irritado mas eu forcei um sorriso.

– Sim.

Ela deu pulinhos de felicidade e saiu junto com umas amigas com a mesma roupa que ela, que aliás eu nem sei de onde surgiram.

Fechei a porta do quarto e dei um grito aguniado. Tentei dormir de novo mas foi em vão, fiquei deitado olhando o relógio fazer ''tic-tac'', acompanhei cada segundo se passar lentamente, vi o ponteiro dar meia volta no relógio e então desisti de dormir.

Levantei, tirei a blusa do colégio e vesti uma bermuda jeans, uma blusa preta de manga comprida com um capuz atrás, baguncei o cabelo e saí pra dar umas voltas no colégio. Estava bastante vazio, os corredores estavam silenciosos e ainda mais sinistros do que hoje mais cedo. De longe eu conseguia ouvir o barulho da quadra lá embaixo, dos torcedores gritando os nomes dos Power's, mas era quase um barulho inofensivo aos meus ouvidos.

Caminhei pelos corredores observando cada detalhe quando vi uma pessoa sentada em um dos banquinhos de madeira. Ela estava tão concentrada que não me viu, fui me aproximando em passos lentos e ela ergueu o olhar, o espanto em seu olhar foi grande, Juliard deixou toda as folhas caírem no chão e eu corri pra ajudá-la.

– Sai daqui! – ela me olhou intensamente, mas com medo – Eu não quero sua ajuda...

Eu a ignorei catando os papéis do chão, juntei os papéis e me levantei para entregar a ela. Seus olhos estavam cheios de terror, o choque em meu corpo diminuiu desta vez como se já estivesse acostumado a ver o olhar dela. Mas novamente Sophia invadiu meus pensamentos como se fosse um aviso de "Amor, você me jurou amor eterno", mas eu não estava apaixonado pela Juliard, não assim a primeira vista. É que ela era diferente de um jeito estranho, e eu não sabia como explicar.

– Calma – eu devolvi as coisas pra ela devagar – Eu não quero te machucar.

A menina me olhava, sua respiração estava acelerada o que me lembrou ainda mais de Sophia. Eu fechei meus olhos como se quisesse controlar meus pensamentos impulsivos e estranhos em Sophia, e quando abri meus olhos novamente a menina não estava mais ali na minha frente.

Senti que meu olhar ficou perdido, eu corri pro corredor que cortava o principal mas ela já não estava mais ali. Eu tapei meu rosto com as mãos e meus pensamentos explodiam de forma atormentadora como jamais tinha sido antes.

                                         ***

O dia seguinte chegou, quando eu acordei Thomas já estava arrumado. Eu entrei no banheiro e parei pra pensar no que aconteceu ontem e cheguei a me pegar sorrindo ao pensar no jeito rápido e silencioso que Juliard tinha fugido de mim. Mas meu sorriso sessou quando eu lembrei que ela tinha medo de mim por algum motivo.

Saí do banheiro com a toalha na cintura, Thomas me olhou e disse: 

– A diretora veio aqui deixar seu material e seu uniforme escolar.

– Valeu – eu disse abrindo o pacote de livros.

– Os livros você põe no seu armário que é o número 23, a chave está aqui – ele tacou pra mim e eu agarrei a chave olhando pro chaveiro com número 23.

– E aí, como foi o jogo ontem? – Eu perguntei vestindo a blusa do colégio.

– Ganhamos com dois pontos de diferença. – Ele comentou arrumando o cabelo, pelo que eu me lembre Thomas estava arrumando o cabelo desde que eu entrei no banheiro.

– Foi apertado então... – Eu disse já colocando a calça do colégio.

– Um pouco. – ele me olhou – Você não joga baisebol?

– Não – eu baguncei meu cabelo e peguei meu tênis pra calçar – Vocês jogam contra quem? 

– Um time pequeno aí – Ele parou de pentear o cabelo e foi se perfumar. – É daqui da escola, um tal de ''Game Over''.

– Nome maneiro. – Eu terminei de calçar o tênis e peguei os livros da escola que estavam em minha cama.

– Time de mané, isso sim – ele sorriu e voltou a se olhar no espelho.

– Vai se atrasar desse jeito aí hein, Cinderela – eu ri e saí do quarto deixando Thomas ''namorar'' o espelho.