Lá fora vários alunos circulavam pra lá e pra cá, procurei o armário 23 e achei, era perto da sala de Gastronomia. Abri a portinha e coloquei meus livros lá dentro e peguei só um da aula que teríamos hoje.

Quando fechei o armário senti alguém pulando em minhas costas e enchendo meu pescoço de beijos. Virei rápido e vi Luci saltitante.

Ela estava de cabelos presos, saia e sapatilha, mas desta vez sem tanta maquiagem e sem a meia grande, ela estava como eu a vi pela primeira vez na secretaria.

– Bom dia, gatinho – Ela me roubou um selinho e eu a empurrei.

– Ei Ei, o que está fazendo?!

– Vai se fazer de difícil agora, é? – Ela passou a mão pelo meu corpo naquela camisa colada e eu tirei a sua mão dali.

– Me fazer de difícil? – eu franzi as sobrancelhas – Em primeiro lugar, quando que eu te dei liberdade pra você chegar assim em mim? 

Luci fechou a cara e me fuzilou com o olhar, sem dizer mais nada ela deu meia volta batendo o pé pelo corredor. Me virei balançando a cabeça e vi Rachel rindo, abraçada com seus livros.

– Vê se pode uma coisa dessas? – Eu perguntei pra ela com um sorriso e ela riu ainda mais.

Fomos andando juntos pra sala, Rachel me contava no caminho sobre o jogo de ontem. Ela parecia super empolgada, contava dos meninos correndo pra lá e pra cá, da briga de cada um, e o mais engraçado é que ela encenava cada passo e cada briga, o que me deixava um pouco mais descontraído pra rir.

Ela hoje estava com um arco na cabeça e seu cabelo estava ainda mais cacheado do que ontem, vi que ela caprichou na maquiagem, mas não quis comentar. Éramos quase os últimos a entrar na sala, mas lá dentro Juliard já fazia alguns trabalhos, passei por ela tentando não olhar demais assim como ela não olhava pra mim, e só depois que eu me sentei eu percebi que estava prendendo minha respiração.

Era bastante complicado prestar atenção na aula com Juliard ali, ela era quieta e as vezes dava um sorriso quando o professor fazia graça. As vezes seu sorriso me fazia sorrir também, ela estava um pouco na minha frente, mais na minha lateral, então eu a via de perfil: 

– Eu estou reparando que você não tira o olho dela... – Comentou Rachel que fazia um trabalho que o professor passou.

– Eu?! – eu virei pra ela engolindo a seco – Olhando pra quem? – Me fiz de desintendido.

– Pra minha vó, Justin – ela forçou um sorriso – Ela está lá no céu sabe, e você está admirando a beleza das asas de anjo dela.

Eu sorri e dei um tapa na testa de Rachel que gemeu e me deu um soco no peito como retribuição. Então continuei a fazer o trabalho, mas pensando ainda em Juliard que estava logo ali na minha frente.

Quando terminei o trabalho, ouvi a explicação do professor e depois ele pediu que cada um falasse um pouco a sua resposta, como ninguém se candidatou ele passou um trabalho valendo ponto em dupla.

– Rachel ! – chamou o professor – Tem alguém na secretaria a sua espera.

– Ahr – ela se levantou – É o infeliz do meu irmão, tenho certeza.

O mal humor de Rachel causou risadas na turma e ela saiu me deixando sozinho, todos na sala se juntaram com alguém. Muitas meninas chegaram em mim perguntando se eu queria fazer com elas, mas eu disse que esperaria Rachel e elas arrumaram outro par.

Depois de dez minutos e que Rachel não voltou, o professor me chamou: 

– Justin? 

– Eu! – olhei pra ele.

– Cadê sua dupla? 

– Eu não sei também – eu mexi os ombros e a turma riu.

– Juliard? – O professor olhou pra ela, ela o olhou timidamente – E a sua dupla? 

– Eu estou sem. – Ela respondeu serenamente. 

– Faça com o Justin então... – ele sugeriu – Quero um bom trabalho viu?

Ela assentiu, mas nem olhou pra trás pra olhar pra mim, se debruçou sobre os cadernos e continuou a escrever. Eu então me toquei que eu deveria ir até ela, peguei meus cadernos e sentei ao seu lado. Sentir ela perto de mim fez mais uma vez um choque percorrer meu corpo, eu respirei fundo e disse: 

– Oi...

– Você já leu a questão um? Eu acho que os átomos... - Ela continuou a falar, mas sua voz pareceu distante em minha mente. Em nenhum momento ela olhava pra minha cara, eu sabia que se eu visse seu olhar eu iria me sentir culpado porque ela sentia medo de mim e eu mal sabia o porquê.

– Justin? – Chamou o professor, eu o olhei e vi que a turma toda estava em silêncio e olhando pra mim também. Acho que ele já deveria estar me chamando por um longo tempo.

– Oi – eu dei um sinal de vida.

– Sabe me responder a questão dois?

Eu olhei pro caderno de Juliard e vi que ela tinha escrito algo, ela me empurrou devagar o caderno e eu li a resposta dela. O professor sorriu satisfeito e me elogiou pela resposta, eu apenas assenti e voltei a olhar pra Juliard que agora rabiscava no canto da folha uma linda menina com um longo vestido: 

– Você desenha muito bem – eu a elogiei, mas ela escapou quando o sinal tocou. Ela recolheu o material e saiu da sala me deixando sentado alí, plantado.

                                               ***

Era hora do café da manhã, eu coloquei minha apostila no meu armário e fui pro refeitório. Algumas meninas vinham vindo atrás de mim com sorrisos estampados no rosto como se estivessem acompanhadas comigo. Na direção oposta vinha Thomas com sua jaqueta, seu olhar claro e seu andar cheio de atitude tirando suspiros femininos.

– Fala aê, Brother – ele bateu nas minhas costas quando me viu – Tá tendo aula de que agora? 

– Nenhuma, tô no meu café – eu disse – E você?

– Educação física – ele sorriu – Vou lá pra quadra, acho que hoje está calor o suficiente pra eu jogar sem blusa.

As meninas que estavam perto da gente e prestavam atenção na nossa conversa deram risadinhas empolgadas. Eu revirei os olhos pois sabia que ele estava fazendo aquilo só pra poder se exibir. 

– É? – eu perguntei – E qual é a parte que isso me interessa? 

O sorriso no rosto de Thomas fechou e nossos olhares se encontraram de forma intensa, até que eu abri um sorriso descontraído.

– Tô indo nessa! Sorte no jogo...