A festa estava lotada quando eu cheguei. Os alunos vestidos inpecavelmente, eu era o único com blusa social. O resto dos meninos estavam vestidos feito pinguins e as meninas, honestamente, estavam deslumbrantes.

A quadra estava sendo iluminada por luzes fluorescentes, um DJ no alto da arquibancada colocava música eletrônica. Tinha mesas de bebidas e comidas espalhada pelas laterais da quadra, e muitas pessoas dançando, conversando... e se pegando, como sempre.

Por toda a parte tinha balões coloridos que davam um ar de uma grande festa. Eu estava sem coragem para entrar, não conseguia achar Juliard ali e muito menos Rachel, só conseguia ver Damon e Jannie conversando na segunda fileira da arquibancada, junto com outros casais.

Então alguém segurou meu braço, eu olhei pro lado e lá estava Rachel... Linda. Eu não tive palavras para descrevê-la, ela estava com um sorriso lindo no rosto. Vestia um vestido longo de pano leve e uma calda que arrastava no chão. Seu cabelo cacheado vermelho estava liso e escorrido pelos ombros, e sua maquiagem estava perfeita, em um tom magnífico.

– Nossa Rachel, você está linda! – eu sorri encantado, ela olhou para todos na quadra.

– Obrigada – ela sorriu – Você está ainda mais bonito do que todos esses garotos daqui, amei seu estilo despojado. Acho que não ficaria melhor se eu te arrumasse.

– Eu estava sem coragem para entrar – eu confessei e olhei para todos que dançavam na quadra.

– Ah, fala sério – ela riu – Essa noite é nossa, essa noite é sua Justin. A última noite.

Ela me puxou pra quadra e no ritmo da música foi me levando pro centro dela, não havia como não se contagiar com a alegria que cercava o lugar, em poucos minutos eu estava dançando uma música eletrônica junto com Rachel.

Senti meu corpo ficar quente e minha garganta secar. Em poucos minutos a quadra estava tão abarrotada que eu sentia o cheiro de suor das outras pessoas, eu estava quase morrendo sufocado naquele mar de pessoas.

– RACHEL – eu falei alto por causa do volume da música – EU VOU BEBER ALGUMA COISA, VOCÊ QUER?

– NÃO – ela sorriu – ESTOU BEM AQUI, MAS VOLTA RÁPIDO! – ela continuou dançando e eu tentei arrumar algum espaço entre aquelas pessoas para conseguir sair.

Cheguei a mesa de bebidas por muito custo, subi na primeira fileira da arquibancada para olhar a festa por cima, estava parecendo uma festa de arromba com tanta gente e entre todas elas eu queria achar Juliard, mas parecia impossível.

Peguei uma garrafa de Heineken e comecei a bebê-la me movimentando no rítmo da música. Fiquei olhando as pessoas, e em seguida olhei no relógio e já eram nove e meia da noite, o tempo tinha passado e eu mal tinha visto.

– Já com pressa de ir embora? – alguém perguntou em meu ouvido, eu olhei pro lado e vi Juliard. O tamanho do meu sorriso foi incontrolável. Mesmo diante de tantas meninas lindas naquela festa, ela ainda era a mais bonita.

– Juliard! – Eu sorri e olhei seu vestido. Era um vestido branco de panos esvoaçantes e cheio de babados, era de alcinha também e ela usava um salto alto preto, bonito. – Como você está linda – eu rodopiei Juliard fazendo seu vestido se movimentar, ela deu uma risadinha.

– Isso aqui está uma loucura! – Ela falou alto por causa da música.

– Realmente... – eu dei mais um gole na bebida – Você já achou o Damon?

– Sim – seus olhos se perderam na multidão – Mas acho que ele já tem companhia.

– A Jannie? – perguntei tentando achá-los na multidão – Eu lhe disse...

– Sem sermões, Bieber – ela sorriu – Tô morrendo de calor, vamos um pouco lá fora?

– Claro. – eu sorri – Agora.

Sair daquele ambiente quente para o lado de fora do colégio foi um choque térmico incrível. O vento estava bastante gelado ao lado de fora, mas Juliard pareceu não se importar. Ela se sentou em um banquinho e eu me sentei ao lado dela:

– Nem acredito que já vamos entrar de Férias – Ela cortou o silêncio da noite.

– Pois é... – eu sorri de lado – Não que eu fizesse muita questão né, eu não estou fazendo nada aqui mesmo – eu dei uma risada baixa e ela passou a mão nos joelhos, seus olhos estavam perdidos, ela parecia inquieta então me calei.

Aquele momento estava me lembrando da noite de Natal na minha casa, quando eu e Sophia sentamos diante da piscina e finalmente demos o primeiro beijo depois de ela me dizer que não me queria.

– Você vai embora, não é? – ela olhou para dentro da escuridão que estava em volta de nós.

– Vou – eu umideci os lábios e olhei pra frente também.

– Eu não entendo. Porque você entrou aqui e já vai sair?

– Arquitetura não é o meu forte – eu a olhei.

– Mas tem tantos outros cursos, Justin – ela me olhou também, eu abaixei o olhar e fiquei em silêncio.

– Eu sou ela, não sou? – ela perguntou depois de alguns minutos em silêncio, o que me fez paralisar, olhei seus olhos que estavam ainda mais perdidos do que antes.

– Ela quem? – eu perguntei com a garganta seca.

– Sophia – Ela se encolheu. Eu fiquei em silêncio sem saber o que dizer e ela passou a mão no cabelo – Me desculpe, eu sei o quanto você a ama... mas acho que a Sophia morreu junto com a minha memória – ela falou baixo – Eu não me lembro de absolutamente nada, eu comecei uma nova vida, eu sou a Juliard agora... E eu queria muito poder te fazer feliz como a Sophia fez, mas acho que isso seria impossível. – eu me calei e por alguns instantes pensei em ter visto meus olhos marejarem – Minha personalidade era igual a dela? – ela perguntou.

– Não. – eu respondi passando a mão no cabelo – A Sophia era uma marrenta, amava dar fora nos outros e não fazia amizades tão fácil, ela não era tão simpática – Eu sorri torto e vi uma lágrima rolar no meu rosto por lembrar de Sophia, que pelo visto não voltaria mais a ser minha, ou melhor... não voltaria a viver. Passei a mão no rosto e olhei pra escuridão a nossa frente – Ela não usava o tipo de roupa que você usa, ela tinha o cabelo mais quebrado, era menos cuidada... mas isso a deixava ainda mais linda – Eu sorri lembrando de como ela ficou na nossa aventura de barco depois de tanto tempo sem cuidar do cabelo. – Personalidades e aparência totalmente diferentes.

– E como você soube que eu era ela? – ela me olhava.

– Seus olhos. Quando eu os vi não tive dúvidas de que você era ela...

– Oh Justin – ela chegou mais perto e colocou a mão nas minhas costas e fez carinho – Eu sei o quanto você a ama, mas...

– Você não sente o mesmo por mim. – eu a olhei e ela assentiu hesitante – Eu vou dormir com a consciência limpa de que pelo menos eu tentei te trazer pra mim Juliard, eu tentei fazer com que você fosse minha mais uma vez, mas você não gosta de mim, e quanto a isso eu não posso fazer nada.

– Você está enganado – ela encostou a testa na lateral do meu rosto – Eu gosto muito de você e daria tudo para que ficasse, poderíamos ser amigos.

– Eu não conseguiria, Juliard – eu a afastei devagar – Isso só prova que você não sabe o quanto eu amo você, eu não conseguiria ser seu amigo. Foi horrível chamar você de Juliard o tempo todo enquanto eu queria te chamar de amor, de minha vida, de minha razão. Eu não agüentaria muito mais.

– Você é forte – ela me incentivou – Eu não quero aprender a viver sem você, você foi importante demais até aqui pra mim, não quero que vá. Você é a única coisa concreta do meu passado que eu nem sei qual foi e nem o que aconteceu, talvez com o tempo você pudesse me contar.

– Eu não quero ser um instrumento para você lembrar do seu passado. Eu vim até aqui com a esperança de você voltar a ser minha e se você não for, eu não quero mais ficar.

– Mais e a minha felicidade... não é isso que você quer? Eu quero que fique, eu vou ficar feliz.

– Você quer demais – eu me levantei e percebi o quanto minha voz tinha se alterado, talvez como um escudo da fraqueza que eu sentia – Eu já estou te deixando pro Damon, isso já não basta?! E a minha felicidade?! E o resto da que ainda pode existir você quer mesmo que eu abra mão?!

– Justin... – ela engoliu a seco e olhou pra baixo – Me desculpa, eu não escolhi esse destino pra mim. Eu tenho certeza que a Sophia foi muito feliz , foi muito amada por você e "morreu" feliz por saber que era tão amada assim.

– Eu sei que ela foi feliz – eu olhei pro céu e vi a lua, aquilo apertou meu coração ainda mais, voltei a olhar Juliard e continuei – E eu queria que ela continuasse sendo... mas ela não manda no coração dela.

– Quem vive aqui é a Juliard – ela desta vez se levantou – Você quer que eu fique com você sendo infeliz? É isso?!

– Não muda o rumo das coisas – eu a cortei – Você sabe muito bem que quem está saindo na pior aqui sou eu, que estou abrindo mão da minha felicidade pela sua. Você não pode dizer nem questionar absolutamente nada! Eu tenho certeza que poucos garotos pensariam assim, pensariam no seu bem como eu estou pensando... é o melhor de mim que eu posso lhe dar Juliard, me desculpa.

Juliard foi incapaz de dizer qualquer outra coisa, eu apenas me virei e voltei pra festa. Agora tudo estava esclarecido, ela sabia muito bem quem ela era e preferiu ficar com Damon mesmo sabendo que ele gostava de outra, não quis me dar nenhuma chance. Pra que eu iria ficar sofrendo por ela?! Eu não amaria mais ninguém, eu prometi a mim mesmo. Mas com o tempo eu tinha certeza que eu iria entender que o coração não tem ouvidos, e que se fosse preciso eu sofreria tudo de novo, e pela mesma pessoa.