SEXTA-FEIRA

O grande dia chegou. Eu acordei sem vontade nenhuma de sair da cama, mas foi isso que eu fiz. Escovei meus dentes, tomei banho, vesti uma bermuda jeans e uma blusa regata, baguncei o cabelo e desci pra tomar café. Os pais da Rachel já estavam na mesa comendo o delicioso e farto café da manhã.

- Bom dia! - eu sorri sem jeito por descer sem Rachel já não ter descido, ela sempre desce primeiro e eu sempre a encontro na mesa antes de chegar ao café. Olhei pro relógio da sala para ver se eu não estava muito adiantado, e ao contrário disso eu estava 15 minutos atrasado pro café.

- Justin! - a mãe dela sorriu quando me viu - Sente-se conosco.

Eu me sentei na mesa e olhei o pai de Rachel que comia uma torta de chocolate.

- Como estão as ações da sua empresa? - Eu o perguntei quando percebi seu olhar pensativo.

- Ah, nada mais importa quando vejo Rachel do jeito que está, Justin.

- Como assim? - Eu olhei pra mãe de Rachel.

- Nossa menina está tão triste desde ontem quando saiu com você... Tem certeza que não houve nada entre vocês?

- Não senhora - eu me ajeitei na cadeira - Eu e Rachel somos amigos, nunca pensamos em ser nada além disso e nunca tive segundas intenções com a sua filha.

- Talvez aí esteja o problema  - disse o pai de Rachel. Aquilo me surpreendeu. Olhei pra ele meio confuso.

- Rapaz - ele cruzou as mãos em cima da mesa - Eu nunca vi Rachel tão feliz e radiante em toda a minha vida, isso só acontece quando ela está com você.

- Talvez Willson tenha razão, Justin - ela sorriu carinhosa - Rachel deve ter algum sentimento por você. Neste momento ela está trancada no quarto desde ontem a noite.

Eu olhei para os dois, empurrei a cadeira pra trás e subi em direção ao quarto de Rachel.

Bati na porta várias vezes, chamei pelo seu nome mas ela não respondia. Até que a porta abriu e ela passou direto por mim vestindo um short, uma camiseta branca e um cachicol.

- Bom dia pra você também, Rachel - eu a olhei descer mas ela nada comentou. Desci correndo as escadas atrás dela e segurei o seu braço quando ela ia passar pela sala onde seus pais já não estavam mais Rachel, o que está havendo?

- Me solta, eu vou no cabeleireiro. - Ela me olhou.

- Isso tudo é porque eu disse que vou embora?! Isso não é o fim do mundo não, ok?

- Ah, você é um convencido Justin, eu não estou assim porque você vai embora.

- Então é porque, hein? - Eu segurei mais forte o braço de Rachel.

- VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO JUSTIN, EU TENHO HORA MARCADA! -  ela gritou.

Eu coloquei Rachel encostada na porta de vidro da sua casa e a beijei. Ela ficou sem reação, de primeira até tentou me empurrar, mas depois se entregou. Ficamos em um longo beijo até que eu parei e olhei seus olhos. Sua respiração estava um tanto ofegante, seu olhar estava perdido, brilhante, esperançoso.

- Você tem certeza que não é porque eu vou embora?  - Eu a perguntei pela última vez. Ela me encarou, engoliu a seco, e saiu andando me deixando ali em pé sem me responder.

Antes de entrar no carro ela deu uma olhada pra trás, fiquei observando-a ir, mas eu já sabia da resposta que ela daria a minha pergunta se não fosse pega em surpresa como agora.

A festa no colégio iria começar as sete da noite. Ainda faltava muito, eu não tinha nada melhor pra fazer então resolvi tomar um banho de piscina, mesmo que estivesse um ventinho gelado de outono. A nova estação havia chegado.

Depois eu vesti uma bermuda e coloquei uma blusa em meu ombro pendurada e levei Levi o cachorro de Rachel para passear um pouco nas ruas. Fui com ele tomar sorvete, comprei uma casquinha pra mim e pra ele, e comemos juntos as duas.

Levei Levi para um pico de um vale de grama verde para vermos São Francisco do alto, era uma cidade encantadora. O vento bagunçava meu cabelo vindo de diversas direções, e no silêncio daquele lugar meus pensamentos voltaram a Juliard.

- Sabe garotão... - eu disse acariciando as orelhas do São Bernardo, sim... essa era a raça dele - Você já amou na vida? É uma merda literalmente - eu reclamei  - Só é bom se você for correspondido, o que na maioria das vezes é bem difícil. Aposto que você já amou uma cachorrinha que não te deu atenção - Levi fez um barulhinho que eu entendi como um " Claro que sim ", e continuei conversando com ele até que então eu senti meu estômago roncar e já imaginava que Levi deveria estar com fome também, afinal, ele era um São Bernardo e essa raça come demais.

Voltei com ele pra casa, coloquei a ração dele e a minha comida já estava na mesa. Comi sozinho e quando a empregada voltou pra sala perguntei a ela onde estava Rachel, ela me respondeu que ela ainda estava no cabeleireiro e ligou dizendo que não voltaria pra casa, iria direto pro colégio, e que era para eu ir sozinho.

Aquilo acabou com meu dia, hoje a noite iria ser a maior barra pra mim, e eu pensei que poderia contar com a ajuda de Rachel, mas vi que não seria possível.

Liguei o vídeogame do quarto de onde eu estava dormindo e fiquei jogando até o sono bater, e dormi até faltar uma hora e meia pra festa começar. Acordei sem pressa, fucei a geladeira, peguei uma pêra e fui pra janela olhar a noite. Estava linda... mas era só pensar que esta noite seria a minha última com Juliard, que me dava um aperto no coração.

Um lado de mim queria ficar, insistir mais em nós dois. Mas de um outro lado, o lado mais sensato, dizia que isso era errado... que o melhor era me afastar, dar liberdade a garota que eu amava.

- Justin! - uma voz interrompeu o silêncio na sala - Falta quarenta minutos pra festa, que tal você ir se arrumar, hein? Já vai chegar um tanto atrasado.

- Ah, obrigado Lícia - eu dei um sorriso pra empregada e fui andando pro meu quarto.

Me arrumar sozinho não era o meu forte. Depois que eu coloquei aquele smoke por cima da blusa social me senti um legítimo pinguim.

Sem saco nenhum de me arrumar e de me sentir decente, eu tirei aquele smoke, dobrei a manga da camisa social até a metade, baguncei meu cabelo e alarguei a gravata azul no meu pescoço. Agora sim eu estava me sentindo confortável.

Me perfumei, me olhei pela última vez no espelho e pensei comigo mesmo: " Chegou a hora rapaz. Chegou o fim dos seus planos..."