POV. Edmundo.

            Saímos de Telmar sem nenhum fruto de um dia de discussão. O rei Caspian não atentou contra nós e queríamos sair dali antes que ele mudasse de ideia quanto a isso. Pedro e eu montamos nossos cavalos e partimos de volta a fortaleza, sentindo um alívio ao sair daquele lugar cinzento.

            Cavalgamos, cavalgamos e cavalgamos mais um pouco até alcançar o descampado, ao fundo, podíamos ver a fortaleza. Acelerei sentindo o vento forte bater em meu rosto enquanto provava o prazeroso gosto de liberdade. Pedro me imitou, mas à medida que desmontamos em frente à fortaleza, pudemos sentir o clima pesado que recaia sobre todos ali. Pedro e eu trocamos um olhar finalmente entrando. Lá dentro os soldados andavam com expressões abatidas, como se se sentissem culpados por alguma coisa. Havia um entra e sai muito grande da câmara onde ficava a Mesa de Pedra e foi para lá que nos dirigimos. Ao chegar mais perto pude ouvir soluços.

            - Tome, majestade, vai se sentir melhor. – uma voz feminina. Adentramos a câmara e vimos Lucia chorando sentada nos degraus da mesa de pedra, a face avermelhada e banhada em lágrimas, a mão pálida e tremula segurava fragilmente a taça que a centaura lhe dera. Ela deu alguns goles e logo a entregou a centaura quando nos viu e correu até nós chorando mais uma vez. Pedro a abraçou, tentando acalmá-la.

            - Lucia o que aconteceu? – perguntei. Mas ela não conseguiu responder, os soluços e as lagrimas não deixavam. A centaura deu passos lentos em nossa direção com uma expressão de pesar.

            - Foi pouco depois que saíram majestades – começou ela. – A Rainha Lucia e a Rainha Susana estavam um pouco afastadas da fortaleza quando alguns soldados telmarinos as cercaram.

            - Soldados telmarinos? – perguntou Pedro incrédulo, assim como eu estava.

            - Sim – confirmou a centaura. – Eles as cercaram, então a Rainha Susana escondeu Lucia e correu para despistar os soldados. Nós já vasculhamos o bosque ao redor da fortaleza, mas nenhum sinal dela.

            - O que...? – eu estava a um ponto de quebrar alguma coisa.

            - Eles a levaram, Pedro... – Lucia soluçou.

            - Desgraçado! – rangi. – Vamos invadir aquela porcaria daquele castelo e tirar a Susana de lá!

            - Não podemos fazer isso, seria suicídio. – lembrou Pedro, tentando controlar a raiva, abraçando Lucia que voltara a chorar. Saí pisando forte dali, morrendo de vontade de quebrar alguma coisa. Aquele desgraçado... Ele vai se arrepender se fizer alguma coisa à ela.

            POV. Caspian.

            Vi pela varanda de meu quarto os Reis se afastando em seus cavalos pelo portão principal do palácio e vi também meus soldados retornando pelo outro portão, pela parte de trás do castelo. Voltei para dentro do quarto, dando um tempo que supus ser suficiente para eles acomodarem as rainhas em suas celas.

            Revirei alguns pergaminhos em minha mesa, pouco depois uma batida na porta. Abri e encontrei Lorde Sopespian.

            - Senhor – disse ele. Saí do quarto, fechando a porta e o acompanhando pelo corredor.

            - Trouxeram as duas? – perguntei. Ele baixou a cabeça e demorou alguns segundos para responder.

            - Er... Não, majestade. – falou ainda de cabeça baixa. Parei de andar encarando-o.

            - Como não?! – eu já estava visivelmente irritado. Grande novidade...

            - U-uma das Rainhas conseguiu escapar, meu Rei. – gaguejou ele. Bufei para não lhe socar bem naquele momento. Vejamos pelo lado bom, pelo menos há uma das Rainhas, não está tudo perdido afinal. Respirei fundo.

            - Onde ela está? – perguntei mais calmo.

            - Lá em baixo, nas masmorras, como o senhor mandou.

            - Qual delas está aqui?

            - A mais velha...

            Assenti e apressei os passos, Sopespian me seguiu. Sim, não era o fim de tudo, afinal, uma rainha narniana é melhor do que nenhuma e, agora que ela está sobe meus domínios e sei que não acontecerá um ataque narniano tão cedo, será fácil chegar até os outros com ela por aqui.

            Desci as escadas tentando parecer uma pessoa normal e atravessei o pátio de entrada, em direção às masmorras. Passei pelos portões de ferro, desci mais a infinidade de degraus estreitos e pregados na parede. Haviam alguns dos soldados ali, em frente a cela, pude ver, por entre as barras de ferro, uma silhueta feminina de costas para mim, as mãos amarradas para frente do corpo.

            - Majestade. – eles fizeram reverencias.

            - Estão dispensados. – falei aos soldados que logo saíram dali. Pude ouvir a moça ofegar depois controlar sua respiração acelerada. Aproximei-me das barras de ferro e abri o portão da cela, adentrando a mesma. – Rainha Susana suponho. – falei sério.

            - É um prazer conhece-lo, Rei Caspian. – disse com desdém na voz enquanto virava-se para mim lentamente. Seus olhos azuis e extremamente familiares me encararam marejados. Senti meu coração parar.