"- Quem mais estaria na escola às seis da tarde?"

Não que eu seja do tipo que curte acordar cedo, e coisa e tal, mas acordar meia hora depois do que você geralmente acorda – ou seja, quinze minutos depois do que deveria acordar – é de deixar qualquer um com os nervo à flor da pele. E, claro, isso precisava acontecer justo no dia em que eu precisava ir de ônibus. Precisava, por que agora não dá mais. Será que minha mãe notaria que eu não fui para a escola se ficar no meu quarto pelo resto do dia?

– Emily, saia agora deste quarto, você não vai matar aula! – acho que isso responde a minha pergunta.

As batidas na porta eram frenéticas, mas nem por isso eu levantaria tão depressa. Qual é, se era para chegar atrasada, que fosse atrasada de verdade.

– Se tiver que falar de novo, eu juro que entro aí e te sufoco com o travesseiro! Não quer dormir? Que durma! – essa é minha mãe. Sempre tão carinhosa.

Grunhi enquanto me arrastava para fora da cama, levando o cobertor e o travesseiro – que me sufocaria caso continuasse nesse ritmo – comigo até o chão. Depois de vestir meus jeans habituais e uma blusa do Green Day, calçar o All Star surrado e ajeitar o cabelo, desci as escadas correndo, passando rapidamente pela cozinha e pegando uma lata de refrigerante na geladeira sem que minha mãe visse.

Sabe, seria bem legal se meu pai me deixasse na escola à caminho do trabalho. Também seria legal ter um pai legal, que não apoia exercícios e te manda ir à pé pra escola tendo um carro na garagem.

Mas meu pai é só um médico esquisito que às vezes parece que me odeia. Por qual outro motivo ele me mandaria ir à pé pra escola?

Quando cheguei, o colégio estava completamente vazio – certo, só o lado de fora. Mas, se estivesse movimentado, não existiria mais cadeia alimentar estudantil. Tudo por causa do meu gesso. Eu poderia ser a nerd três anos adiantada, mas até os mais populares iriam querer assinar meu gesso. Eu só não entendia a graça, já que iria me livrar daquilo assim que possível.

Durante o intervalo, tudo o que perguntavam era "O que aconteceu?". Estava pensando seriamente em pendurar uma placa no pescoço com "CAÍ DA ÁRVORE" em letras verdes fluorescentes.

Já no útlimo tempo, me sentei na última mesa da sala, ao lado de um garoto do qual eu não me lembrava de ter visto na minha aula antes. Provavelmente ele estava na turma desde sempre, mas, ah, eu não sou de ficar observando os garotos do meu colégio.

Percebi que me encarava e, sabe, isso incomodava. Suspirei.

– Nome?

– Dean. E o seu? – soltou uma risada fraca e me virei finalmente para ele. Tinha os cabelos loiros ajeitados em volta da cabeça com uma franja que, sério, teria deixado qualquer outro garoto com fama de gay.

– Emily.

O professor chegou. Não que eu fosse do tipo que respeitasse os professores quando pediam silêncio, mas o professor de Química era diferente, ele era legal. Difícil de acreditar, eu sei. Mas é a verdade.

O Dean que esperasse.

– Ah... oi – Dean se pôs à minha frente, ajeitando freneticamente a mochila em seu ombro. Era fofo.

– E aí – tentei sorrir, mas, érr, não deu muito certo – Você é novo, não é? Não presto muita atenção nas pessoas, mas está praticamente escrito na sua testa.

Dean abaixou a cabeça.

– É. Acabei de me mudar, o outro colégio era meio longe. Então...

– Quer ajuda para conhecer a escola? – dei de ombros – Não sou a melhor pessoa pra isso, mas...

– Tudo bem – sorriu, mostrando as covinhas em suas bochechas. Nerds podem ser bonitos? Quer dizer... ah, que seja.

Dean me seguiu pelos corredores do colégio até o banco em que Tom e a Jason estavam. Podia jurar que duas garotas estavam ali, mas... cara, são o Tom e o Jason! Quem quer que fosse – e sim, eram reais –, haviam se afastado quando me aproximei com Dean. Certo, elas só querem o corpo dos meus amigos. Muito animador.

– Quem é? – Jason encarou Dean de cima à baixo, como se avaliasse o garoto; ou, talvez, como se pensasse que estivéssemos juntos.

– Dean, ele é novo - Jason assentiu e Tom nos olhou por meio segundo.

– ... oi? – Dean tentou, parecendo mais tímido do que se mostrava ser.

– E aí – Tom e Jason continuaram a conversar, parando somente para respondê-lo. Qual era o problema deles? O garoto não fez nada!

– Emily, tem ensaio hoje na casa do Tom, seis horas – Jason se levantou, subindo no skate em seguida e saindo de perto.

– Te vejo mais tarde – Tom fez o mesmo, me deixando sozinha com Dean.

– Ensaio, tipo, de uma banda?

– É. Não é nada de mais. Sabe, é só um passa tempo idiota que inventamos com treze anos – ri pelo nariz. Chegava a ser vergonhoso – Pode assistir se quiser – o que é que eu estou dizendo?!

– Sério?

– Não... É! Pode assistir se quiser. É só vir pra escola às cinco e meia, aí nós vamos juntos pra casa do Tom, já que não sabe aonde é

– E se eu disser que quero? – sorriu de lado.

– Eu diria que seria legal ter uma platéia.

Eu diria o quê?!

Mas não houve tempo para me corrigir, Dean já não estava mais ali. E eu deveria fazer o mesmo se queria voltar para casa de ônibus.

Cinco e meia. Dean deveria estar na escola, e eu também. Certo, eu sei que me atraso pra tudo – tudo mesmo –, mas é que eu esqueço. Não faço por mal. Acha mesmo que eu deixaria um garoto sozinho na porta da escola? Bem, talvez.

– Adivinha quem é? – senti mãos envolverem meus olhos e encarei a escuridão repentina. Não era nada legal.

– Quem mais estaria na escola às seis da tarde?