– Mãe, essa faixa é ridícula, esquece ela - resmunguei, puxando a faixa cor-de-rosa da cintura.

Me sentei na cama e tentei enfiar o sapato de salto em meu pé. Mas a porcaria não entrava. Quer dizer, além de ser um número menor, ainda era horrendo. Porque a Julieta tem que ser vestir tão mal?

– Emily, são só quarenta minutos, no máximo. Ninguém vai filmar e te chantagear por causa dessa roupa.

– Ah, você que acha! - ri - Sério mesmo! Se algum idiota perder essa chance eu juro que me mato, ninguém naquele colégio é burro a ponto de deixar escapar a cena da "lésbica de vestido e salto alto" - afinei a voz, como se imitasse as garotas que haviam dito a mesma coisa durante a escola.

Terminei de calçar o sapato com algum esforço e me levantei, tentando não ligar para a dor inexplicável que estava sentindo nos calcanhares. Cara, se as antigas nobres sofriam desse jeito, eu preferiria mil vezes ser uma plebéia!

Passei a mão na saia do vestido e caminhei até a porta. Na primeira vez que usei um vestido não pensei que pudesse ser pior. Já disse que nunca estou certa? É. Andar pra lá e pra cá com um vestido bege/rosa cheio pra caralho e com um salto que mais parece uma pedra não é nada, nada, confortável.

– Anda logo! - Julia apareceu no corredor e me puxou pela mão. Me fazendo... cair. É difícil conseguir equilíbrio com um sapato desses, sabia?

Tirei os sapatos e a acompanhei para fora de casa, entrando no carro.

– Você está linda, querida - meu pai sorriu do bando da frente. Talvez você não saiba, mas ele é sarcástico.

– Vou fingir que acredito - grirei os olhos.

– É sério - Mary riu.

– Olha, se você disser isso de novo eu jogo esse sapato na sua cabeça!

– Emily! - minha mãe me chamou a atenção, segurando uma risada. [N/A: Desculpa, mas minha mãe é assim e as vezes eu acho tão foda kk'].

Eu só não entendia porque a professora havia cismado em convidar todas as famílias, como se fosse algum evento especial. Estava longe de ser isso. Com sorte eu ficaria com a nota em média.

~*~

– Já pegou o roteiro? - ouvi Dean perguntar a Jane atrás do palco.

Ela assentiu e lhe mostrou um bloco de papéis, que deveria ser nosso roteiro. Ela iria narrar e nós dois, faríamos uma breve atuação. Que não tinha ficado nada legal.

Pude ouvir a salva de palmas da última apresentação e a professora Blair chamando nossos nomes. Se eu estava anciosa? Não mesmo. Não ficaria anciosa para ver minhas notas descerem pelo ralo abaixo. Mas nervosa, sim. Era muito humilhante.

Jane me deu um empurrãozinho me forçando a entrar no palco e entrou logo atrás, com Dean já na frente de nós duas.

Vi os celulares virados para mim, esperando que eu caísse e a cena pudesse ser filmada, mas tentei não me importar muito, já que, segundo a professora, cabeça erguida e auto-confiança são os melhores remédios para o nervosismo na hora da apresentação. Eu não tinha nenhum dos dois.

Minha cabeça estava baixa por não querer encarar ninguém e minha auto-confiança, lá embaixo. Se é que algum dia ela me acompanhou.

Uma música calma - eu disse pra ela que não queria a música, eu disse, mas ela veio com o papo de "é um romance, Emily, a música é essencial" e a professora concordou - começou a tocar ao fundo e Jane começou a narrar a história. Nunca, sério mesmo, nunca; havia me sentido tão patética na minha vida inteira. Andar por um palco com essa roupa maravilhosa - uhum - e dizer as falas com umas voz à lá "Óh, Romeu" é o cúmulo da idiotiçe. E olha que nisso eu sou expecialista!

Falei todas as falas corretamente - o.k., eu gaguejei nas primeiras, mas, qual é, eu nem queria estar fazendo isto! - e fomos para a cena final, que eu estava anciando desde a hora em que pisei no palco. Fim da peça? Amém.

Mas, eu preferiria continuar por anos no meio da atuação do que ver o Dean se ajoelhar na minha frente, tirar um anel do bolso daquela roupa ridícula e dizer:

– Quer namorar comigo?