Falei todas as falas corretamente - o.k., eu gaguejei nas primeiras, mas, qual é, eu nem queria estar fazendo isto! - e fomos para a cena final, que eu estava anciando desde a hora em que pisei no palco. Fim da peça? Amém.

Mas, eu preferiria continuar por anos no meio da atuação do que ver o Dean se ajoelhar na minha frente, tirar um anel do bolso daquela roupa ridícula e dizer:

– Quer namorar comigo?

Abri a boca uma, duas vezes. O quê? Sério mesmo? Precisava ser na frente da escola toda, no meio dessa peça de teatro ridícula?

Olhei em direção à platéia e vi Jason saindo do auditório. Merda. Porque eu preciso me preocupar tanto com ele? Quer dizer, tudo o que eu fiz foi pra ficar com o Dean e agora que ele me pede em namoro, resolvo me preocupar com o idiota do Jason!

Ouvi Jane pigarrear indicando Dean à minha frente. Ah, qual é! Não mandei me pedir em namoro na frente da escola inteira e só me dar uma opção de escolha!

Mas ele parecia aflito, de um jeito até engraçado. Parecia me encorajar com o olhar, mas isso só me dava mais vontade de rir.

Era uma boa ideia, de qualquer forma. Me pedir na frente da escola toda, o que, com certeza, deixaria muitas garotas com uma única opção. Mas ele sabe que eu não sou como as garotas normais.

– Não.

Dessa vez, ela abriu a boca várias vezes. Era como negar um casamento, de certo modo. Muitas pessoas, nós dois vestidos ridiculamente na frente de todos, um momento que era pra ser feliz... estragado por um não.

Vi Jane se aproximar de mim e sussurrar um "Emily...", mas ignorei e saí do palco. É.

Passei pelos camarins improvisados da escola, pelas roupas ridículas e por minha professora, que me olhou reprovadoramente. Eu fiz minha parte, não tinha nada no roteiro que me mandasse dizer sim!

Desviei de algumas pessoas da platéia que me olhavam com cara de tacho e saí do auditório, procurando Jason com os olhos.

Ele estava sentado em um dos bancos do jardim - na verdade é só um gramado, mas deixa -, de costas para mim, jogando no celular.

– Morre, caralho! - apertou os dedos na tela e bufou. Provavelmente tinha perdido.

– Hey, idiota! - chamei e ele se virou, me encarando com uma expressão confusa.

– Não tinha que terminar a peça? - estreitou os olhos e abaixou um pouco a cabeça.

– Não. Aquilo não estava no roteiro. E, se quer saber minha resposta, foi não - levantou a cabeça e me encarou - Não aceitei o pedido de namoro.

– Porque? - abaixei a cabeça e fiquei em silêncio - Quer dizer, tudo isso foi por causa dele! O namoro falso, os beijos os abraços, os ciúmes!

– Foi - disse simplesmente e ficamos em silêncio por um tempo - Mas foi só por um tempo. Depois eu continuei levando isso por você.

– Só porque eu estou apaixonado por você? Sem pena, por favor.

– Não! - dei uma risada nervosa - Não foi por pena! Foi porque eu gosto de você, Jason! Muito mais do que eu já pensei gostar do Dean! - suspirei - Agora dá pra parar de reclamar e me beijar logo?!

Riu pelo nariz e colocou meu rosto entre as mãos, me beijando em seguida.

– Essa roupa é horrível - encarou meu vestido e riu.

– Eu nunca disse que era bonita - levei a mão até meu cabelo e soltei os grampos que prendiam as mechas e o deixava armado, o soltando.

Ouvi as pessoas saindo de dentro do colégio e bufei. Todos deviam estar comentando sobre o meu "Não". E o Dean com certeza me procuraria, nem que fosse para perguntar o porque. O problema era que eu não sabia exatamente o porque. Tinha o Jason, claro. Mas e tudo o que eu fiz pensando no Dean? Era muita coisa pra raciocinar.

– Acha que eu pareço triste para alguém que acabou de negar o pedido de namoro do garoto que pensou que gostava? - perguntei e ele riu.

Balançou a cabeça, se levantou e estendeu a mão para mim.

– Vem, quero conversar com você.