"E isso foi o suficiente para me tirar de meus pensamentos."

Estava sendo difícil convencer Yasmin de que nada havia acontecido ontem. Depois que a luz acabou, eu e Jason fomos para o quarto, e eu acabei dormindo lá. Mas ele reclamou do sono o diz todo – o que fez com que ela pensasse que havíamos feito outras coisas além de simplesmente dormir.

- Eu juro! – levantei a cabeça de Jason do sofá e me sentei, colocando-a em meu colo e automaticamente fazendo cafuné ali.

- A-hã – girou os olhos – É normal, Emily.

- Eu sei que é normal, mas nós não transamos! – Yasmin riu por trás das almofadas em seu colo, no outro sofá.

- Tudo bem, vou fingir que acredito. Mas fica entre nós.

Bufei. O que eu teria que fazer para convencer aquela garota de não tinha acontecido nada?

- Eu sou virgem – sussurrei.

Eu me sentia envergonhada por dizer. Não por ainda ser virgem, mas por precisar dizer em voz alta para alguém que nem ao menos conhecia direito.

Ela ignorou a confissão.

- Eu acho que ele gosta de você.

Pelo menos não havia mais ninguém em casa.

- O quê?!

- Sério, Emily. É óbvio – minha vontade era de gritar que, se fosse o caso, eu já teria percebido. Não era tão lerda assim – Quando ele fica apaixonado, fica olhando pro nada com um sorriso besta no rosto.

Duh. Todo mundo faz isso.

- Sabe quando ele mexe no cabelo, ajeitando sem parar? – assenti fraco. Ele sempre fizera isso... né? – É porque está com você.

Eu queria dizer que não, ele não estava apaixonado por mim. As pessoas olham pro nada simplesmente por estaram pensando na vida – e não em uma garota – e mexem frequentemente no cabelo quando ele é liso.

Bateu com o indicador no queixo, como se pensasse em motivos óbvios para me provar que ele estava apaixonado por mim. O que era bem idiota.

- Quando vocês estão, hm, se pegando, ele troca o sorriso besta por um malicioso – é, porque é isso que as pessoas fazem quando estão perto de qualquer coisa que insinue sexo. O Jason é um pervertido – E ele não abraça qualquer uma. Vive abraçando você porque... – arqueou uma sobrancelha com uma linha de humor no rosto, esperando que eu respodesse.

Bufei e girei os olhos, deixando claro que não queria continuar com o assunto de tão improvável que era.

Yasmin se levantou, pegou a bolsa na outra ponta do sofá e saiu, dizendo que ia à praia. E eu me peguei pensando sobre o que ela dissera. Era idiotice, certo? Não fazia nenhum sentido – e não quero dizer do tipo que não faz sentido como nas comédias românticas, em que os opostos se atraem, quero dizer nenhum sentido mesmo –, e ele havia deixado claro que estava comigo por causa das garotas, com a intenção de conseguir alguma depois de tudo.

Jason se mexeu em meu colo e abriu os olhos lentamente, os coçando em seguida. Parecia um bebê fofo, é.

- Hey – sorriu fraco.

- Hey – afastei seus cabelos do rosto e encarei-o – Você...

- Eu...? – se sentou com as pernas cruzadas de lado no sofá, e de frente para mim. Parou de coçar os olhos e riu com meu nervosismo – Anda, o que eu fiz?

Ri fraco.

- Nada. É só que... – suspirei, desistindo – Vai me contar quando se interessar por alguém durante o namoro falso?

- Te trair não seria uma opção – girou os olhos e se inclinou, mordendo meu lábio inferior – Caramba, você fica perigosamente sexy quando está nervosa.

Perigosamente sexy, Jason? Sério?

Começou uma trilha de beijos até minha nuca enquanto me puxava para si. Me inclinei sobre seu corpo, fazendo com que se deitasse ali. Não tinha ninguém em casa mesmo. Jason levou uma das mãos até minha barriga e começou um carinho concentrado ali. Abri os olhos de repente e parei de beijá-lo. Me chame de casta – ou simplesmente de medrosa –, mas nenhum garoto havia tocado minha barriga daquele jeito, naquela posição. Aquilo fez com que eu acordasse e me afastasse.

- Namoro falso – me joguei ao seu lado enquanto tentava controlar a respiração – Nem tantos benefícios.

Se virou para que coubéssemos melhor no sofá e envolveu minha cintura.

- Desculpa – depositou um beijo em minha bochecha e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Me virei de frente para ele, encarando-o.

- Eu... tenho que te falar uma coisa – e espero que não fique perigosamente sexy enquanto exalo nervosismo. Jason assentiu – Eu-quer dizer, o Dean... – suspirei, pensando no que estava prestes a fazer. Porque diabos eu estava nervosa com isso? Era o que pretendia desde o início, não? – Enquanto a gente ensaiava, ele, hm, meio que me beijou – me encolhi. "Meio que me beijou"? Sério, Emily? Não tinha nada melhor para amenizar? Ninguém meio que beija uma pessoa – Desculpa.

Não parecia certo esconder dele, quer dizer, antes de ser meu namorado falso, ele era meu amigo. E isso é uma coisa que eu contaria à ele. Ou não, em minha condições normais – o que eu já podia desconsiderar depois de aceitar esse namoro.

- Você gosta dele – desviou o olhar por meio segundo e passou o polegar em miha bochecha – Alguma hora iam se beijar. Ou ele ia continuar sendo um idiota – se levantou e ajeitou o cabelo – Vou pro banho. Quando eles chegarem nós vamos embora.

Observei-o se afastar e subir as escadas. Porque eu contei isso mesmo? Ah, sim. Fora das condições normais, lembrei.

Suspirei e me joguei no sofá. Podia ter conseguido momento melhor pra dizer.

Ouvi vozes do lado de fora da casa e encarei a porta de vidro se abrindo. Luce e Yasmin entravam com várias sacolas de praia e riam. Definitivamente, eu deveria ter ido à praia quando me chamaram.

- Tá tudo bem? – Luce se inclinou a minha frente com os cabelos caindo bagunçados.

- Tá... é só o Jason.

- Vai dizer que ainda não per...

- Esquece, eu já tentei – Yasmin girou os olhos para a prima e se sentou ao meu lado no sofá – O que aconteceu?

- Eu disse pra ele que beijei outro garoto.

As duas se encararam – o que me irritou profundamente – entreabriram os lábios, como um "Oh" silencioso.

- Quer dizer, era pra uma peça de teatro, mas a gente tinha cortado o beijo e... – Luce se sentou ao meu lado também, fazendo-me sentir idiota por isso. Sério mesmo que estava segurando lágrimas entre duas garotas, conversando sobre dois garotos?

Me matem.

- Se você não contasse, ele teria motivos pra ficar nervoso – Luce deu tapinhas em minhas costas. Eu não ia chorar. Principalmente na frente delas.

- Eu não quero ficar mal com o Jason, merda.

- Não vai – ela sorriu – Vocês não vão ficar mal. Aposto toda a minha mesada nisso.

Yasmin assentiu. Só eu não via motivos pra perder dinheiro à toa?

- Vai me evitar até quando? – estava ventando, e eu estava mais preocupada em encarar Jason ao meu lado do que em segurar meu casaco idiota. Ficar encostada no carro também não ajdava muito com o frio que vinha da praia, mas eu precisava falar com ele. De um jeito ou de outro.

Carol se despedia das pessoas dentro da casa. Eu já havia dado um "Tchau" comunitário.

- Não estou te evitando – me encarou rapidamente com o olhar sério e voltou a encarar a casa.

- Sim, está!

Me pus à sua frente e tentei fazer com que olhasse para mim. Era fácil para Jason manter o olhar em outro ponto àcima da minha cabeça, considerando-se o quão baixa eu era perto dele.

- Como queria que eu ficasse? Sorrindo?! – soltou uma risada nervosa e balançou a cabeça – "Ah, parabéns, Emily! Beijou o amor da sua vida!" Merda. Eu não sou tão idiota. Não pedi por isso e, de verdade, eu tentei me afastar. Acho que sabe como é, não dá pra controlar esse tipo de coisa.

O encarei desentendida. Pode parecer óbvio o que ele tentava dizer, mas eu não conseguia colocar tudo em ordem na minha cabeça. Era como um turbilhão de pensamentos confusos sobre Jason.

- Eu gosto de você, caramba! Gosto de verdade! – eu tinha certeza de que a mãe de Jason estava atrás de nós, na varanda da casa, só esperando que terminássemos para se aproximar – Sabe como é difícil ver você repetindo que é um namoro falso? Eu devo ter instintos masoquistas, quem é o idiota que faz uma coisas dessas? – suspirou e enlaçou as mãos atrás do pescoço, olhando para cima. Eu tentava a todo custo processar tudo aquilo, evitando ficar de boca aberta quando ele poderia querer uma resposta – Dó saber que só está fazendo isso pra causar ciúmes em um imbecíl que deve estar comendo a vadia da escola!

E isso foi o suficiente para me tirar de meus pensamentos. Soou como um soco, forte e rápido.

Já em casa, ele me levou até a porta. Mas era por questão de educação, não por querer isso.

- Você... – fechei os olhso e suspirei.

- Eu vou ficar bem. Só não é tão fácil como antes. Quando a gente ficou, eu já te via de outro jeito – passou as mãos no rosto e suspirou pesadamente – Depois veio o namoro falso e eu comecei a ficar mais ligado à você e... eu não sei. Não é fácil ficar com você sabendo que não sente nada por mim. Nada que chegue aos pés do que sente pelo Dean.

Seus olhos estavam marejados, mas eu não abriria a boca para falar sobre isso. O máximo que eu podia fazer era lamentar – o que seria bem ridículo.

- Desculpa, eu nunca...

- Tudo bem – sorriu de lado e colocou as mãos nos bolsos do casaco. Dei um para para frente e envolvi seu pescoço em um abraço apertado, suspirando aliviada quando retribuiu.

- Pra mim também não é fácil.