–Minha vida é uma bosta mesmo – disse sorrindo enquanto tacava a pedra de volta nele.

–Desce aí – disse.

–Ah nem... Acabei de sair do banho. Sobe.

–Eu? Subir?

–É. O que é que tem?

–Ah, nada. Só o seu pai!

–Meu pai não vai fazer nada com você, deixa de ser chato.

–Emily, eu não vou subir.

–Então tá. Fica aí. Mas eu também não vou descer.

Bufou.

Fechei a janela e liguei o notbook, entrando no MSN.

Ninguém online. Saco!

Ouvi alguém bater na porta e fui abrir.

–E aí – disse Jason sorrindo.

–Não estava com medo do meu pai? – perguntei dando espaço pra ele passar.

–Digamos que sua mãe é muito gente boa – fechou a porta atrás de si.

Soltei uma risada fraca pelo nariz.

–E o skate? – abaixei a cabeça.

–Ficou lá né.

–E como você tá? – se sentou em minha cama.

–Não sei. Nem sei como vou agüentar ir pra escola de ônibus.

–Para Emily, você mora a sete quadras da escola, dá pra ir a pé.

–Como você sabe que são exatamente sete quadras?

–Deve ser porque eu moro a dois quarteirões daqui, e da minha até a escola, são nove.

–Ahh – me sentei ao seu lado.

–Ainda vai querer viajar?

–Vou, claro. Por que a pergunta?

–Não pareceu contente quando sua mãe disse que poderia ir.

–Jason, pelo amor de Deus, né. Eu acabei de perder meu skate!

(n/a: de novo, pode parecer estranho, mas os skatistas realmente ficam assim quando perdem o skate. Principalmente se ele tiver um valor sentimental. Okay, isso foi estranho :s)

–Quer ficar com o meu?

–É seu. Não quero.

–Fica com ele até comprar outro.

–Jason, eu to bem.

–Ok, só tava tentando ajudar – me abraçou.

–Obrigado.

Me deitei em seu colo e ele ficou mexendo com uma mecha do meu cabelo.

–E o Dean? – perguntou.

–O que tem o Dean?

–O vai fazer em relação a ele?

–Eu não estou te entendendo.

–Ela quebrou seu skate porque deve achar que ele ainda gosta de você.

–...

–E se ele ainda gostar?

–Se ele ainda gostar... Não sei Jason.

Não sei mesmo. Eu ando evitando o Dean há um tempo. Me dá nojo ver ele com a Helen.

Uma lágrima teimosa caiu pelo canto do meu olho.

–Hey, o que foi? – perguntou Jason a limpando.

–Eu não agüento mais – comecei a chorar de leve – eu fico evitando o Dean, tentando não ver que ele está com a Helen, mas não adianta. Eu sei que ele está com ela. E não consigo parar de pensar nos dois juntos.

–Desculpa. Eu não devia ter falado do Dean.

–Tudo bem – limpei minhas lágrimas – é só que... Não sei. É sacanagem fazer isso com você. As garotas podem te “desejar” – sorri de leve – mas é só por enquanto. Depois todo mundo se contenta. E mesmo se não se contentarem, você só vai poder ficar com elas depois que a gente “terminar”. A menos, que você seja galinha o suficiente pra me trair – ri pelo nariz.

–Eu não vou te trair.

–Bom mesmo – me levantei e sentei ao seu lado, com os pés na cama.

–Você acha mesmo que o Dean ainda gosta de você?

–Não sei. E se gostar, nós estamos em um namoro falso pra alguma coisa, né.

–Emily, joga Lince com a gente? – disse Mary entrando no meu quarto junto com Julia.

–Não, eu to ocupada – disse me levantando e calçando o chinelo.

–Vai, eu quero jogar – disse Jason puxando meu braço como uma criança pequena.

Sorri.

–Joga! Joga! Joga! – disseram os três juntos.

–Ai, tá bem, eu jogo! – disse me jogando no chão.

Elas sorriram e se sentaram comigo abrindo o tabuleiro no chão.

Ficamos jogando até que minha mãe entrou no quarto e as mandou ir pro banho.

–Emily, acho melhor eu ir embora – disse Jason deitando no chão.

–Sai do chão garoto! – joguei um travesseiro em sua barriga, que estava virada pra cima.

–Ah nem – se virou de bunda pra cima.

–Jason, vira essa bunda pra lá! – ri.

–Eu sei que você acha minha bunda sensual – mexeu o corpo balançando a bunda.

–Isso tá estranho.

–Vem cá – me puxou pelo braço.

Me deitei ao seu lado e fiquei fazendo cafuné em seu cabelo.

–Para, eu vou acabar dormindo – disse com os olhos fechados.

–Seria engraçado ver a cara do meu pai amanhã de manhã – ri.

–Haha, muito engraçado.

Seu telefone vibrou e ele o tirou do bolso.

–Mensagem da mamãe? – perguntei.

Me mostrou a língua.

–É. Tá querendo saber onde eu estou.

–Diz que tá com o Tom.

–Mas eu não estou o com o Tom – começou a digitar uma mensagem em resposta – e o que é que tem eu estar com você?

–Isso só serve pras pessoas acharem que a gente tá namorando de verdade.

–Você gostaria?

–O que? Namorar com você? Nem morta.

Arqueou as sobrancelhas.

–Brincadeira. Não sei. Mas diz pra sua mãe que você está com o Tom.

–Emily, minha mãe sabe que é um namoro falso. Mesmo ela não acreditando muito nisso.

–Você queria o que, a gente fica se beijando toda hora. E você fica me trazendo em casa; me pedindo beijos e jogando pedras na janela.

–Quer parar com o realismo? Aí a gente só finge que tá namorando na escola. Pronto. Nem seus pais, nem minha mãe vão pensar que o namoro é verdadeiro – disse olhando o teto.

–Pode ser... – fitei minhas mãos – agora o nosso namoro é só um namoro falso, sem realismo – sorri para ele que sorriu de volta.

–Sem realismo.

Ele foi chegando mais perto, e mais perto e ia me beijar, se não fosse pela Mary.

–Emily, tá faltando uma peça do jogo, tá aqui?

Eu nunca odiei tanto aquela garota.

–Não está aqui.

–Mas eu não mexi com o jogo em outro lugar.

–Não está aqui! – joguei uma almofada em direção a porta.

–Okay, vou procurar em outro lugar... – disse fechando a porta.

Jason riu.

–Queria tanto me beijar?

–Não – engoli em seco.

–Queria sim – foi se aproximando.

–Não queria.

–Queria – roçou a ponta do seu nariz no meu.

–Eu quero – disse e o beijei.

Me apoiei em meu braço que estava no chão e fui me inclinando, pedindo passagem.

–Achei! – disse Mary abrindo a porta de repente.

–Sai daqui – disse com a cabeça no ombro de Jason, sem olhar para ela.

Saiu e bateu a porta.

–Irmãs são uma praga – disse retomando sua boca.

Me separei lentamente e pus a mão em seu peito.

–Ok, sem realismo – repeti.

–Sem realismo – mexeu no cabelo.

–Se a gente ficar se beijando, não vai dar certo.

–Vai dá certo de qualquer jeito. O Dean vai ver que você é muito melhor que a Helen e a gente não vai mais precisar fazer isso.

Sorri.

–Muito melhor que a Helen?

–Qualquer uma é melhor que a Helen!

–Jason, você tem que escolher melhor suas palavras.

Eu só não dou um tapa na cara dele porque eu sou amiga dele. Bem antes de isso tudo começar ele já era assim. Bobo.

–Desculpa. Você não é qualquer uma.

–Obrigado por perceber.

Riu.

–Emily, eu tenho que ir embora.

–Quantas horas?

–Sete e meia.

–Já?

–Pois é. E eu nem respondi a mensagem da minha mãe.

–Então tá. Te vejo amanhã?

–Pode ser – se levantou e ajeitou a blusa.

Me levantei e bati a mão da calça, para ajeitá-la.

Descemos as escadas e o levei até a porta.

–Tchau Jason.

–Tchau Emily – disse sorrindo.

Ele chegou a se abaixar, mas voltou pra trás. Nada de realismo, é.

Quer saber? Isso tá enchendo o saco, e olha que só tem meia hora!

Segurei seu braço e me inclinei para beijá-lo.

–Ultimo beijo – disse sorrindo.

Me beijou e se virou para ir embora.

Fiquei parada na porta até escutar Mary me chamando.

–Emily, vem aqui – disse do segundo andar.

–Oi? – perguntei chegando ao quarto das gêmeas.

–O namoro de vocês não era falso? - perguntou com um sorriso travesso nos lábios.

–É falso.

–Então porque estavam se beijando?

–Nós não... Ah, esquece – disse saindo do quarto.