Após terminar de ler, o mais velho arregalou os olhos, se aquele shota fofo fosse realmente desse jeito, sua vida escolar de bolsista iria aos ares e não era isso que desejava, muito menos suas fãs que diziam ser número um. Largou a folha em cima do balcão perto do notebook para fingir que nada tinha acontecido, esperava que o loirinho não percebesse nada de estranho em sua face, pois dava para ver muito bem que estava assustado, não queria se tornar escravo de ninguém, muito menos de um shota bonitinho como ele... Fofo? De onde tirava essas ideias? Sua cabeça por algum acaso esqueceu que existem mulheres lindas e com grandes seios que nem o de sua professora Meiko, com quadris perfeitos e uma parte traseira bem definida?

- Eu tenho que parar de beber aquele remédio - admitiu o azulado, que depois ficou pensando, que remédio? Não tomava nenhum desde que se mudou para aquele galinheiro e, porque a imagem daquele maldito galo entrava em sua mente? O galo deveria saber muito bem, até melhor do que ele, que ele não era gay, então porque o mesmo galo resolvia perturbá-lo todo o santo dia na melhor parte do sonho? Não era a toa que aquele galo viraria peru assado algum dia...

Bateu sua mão na sua testa com força, mas que diabos pensava? De uma hora para outra, de um shota máster mudou para sua professora e agora para o maldito galo? Tinha que parar de ser tão bipolar.

- Voltei - avisou o loiro com uma bandeja com um saco de pão, geléia de banana, biscoitos de banana, banana normais, bolo de banana, doce de banana, dois copos, vitamina de banana e um refrigerante - Como não sei de que você gosta, eu trouxe isso.

- Ah, obrigado - disse Kaito mudando sua expressão enquanto olhava o garoto botar o “lanche” na cama.

Pensamentos nada bonitos passaram pela cabeça do mais alto. “Por quê?” se perguntava mentalmente, ele era apenas um shota nerd de sua escola, nada mais! Ou pelo menos era isso que achava. Riu em deboche para si mesmo e pegou um pão e começou a comer, sem botar nada. Por que sempre que ia para a casa de alguém nunca lhe ofereciam sorvete? Aquilo era injusto! Só porque era sua comida preferida... Um dia ainda iria ir ao tribunal para reclamar disto apenas para ouvir as pessoas rirem e falarem "Vá estudar criança, é melhor." Ele estava tão perdido em seus pensamentos de vingança contra as pessoas que não lhe ofereciam sorvete em suas casas e não percebeu que já tinha acabado o pão e estava mordendo seu dedo.

- Kaito idiota, Bakaito! - Xingou-se em voz alta, vendo que Len apenas ria enquanto tomava vitamina e comia um biscoito – Sou tão ridículo assim? – Falou brincando.

- Foi mal, não é sempre que vejo isso. Você costuma comer seus dedos? É normal pra você? – Kaito tinha ouvido bem? Aquele nerd tinha o feito de idiota? Realmente ele parecia muito normal em casa, por que não era assim no colégio? Para rebatê-lo, o maior soltou isso:

- Não sou eu que quero matar todos os shotacons do mundo, né?

Len corou, de rosa foi para um vermelho escarlate, pegou o papel que estava em cima da mesa e leu, apesar de saber de a letra de cor. Aquilo era para ser um segredo dele, não queria que ninguém soubesse como ele se sentia, por que justo ele? Só podia ser uma piadinha de mau gosto do destino. Fitou o chão com uma cara de raiva, mas não estava zangado, não sabia direito por que estava fazendo tanta manhã, só sentiu vontade de agir como criança e assim fez.

- Ah, que isso? Fala sério! Se você chorar na minha frente eu saiu daqui!

- Eu não vou chorar seu idiota! – Encarou o maior com raiva, mas não resistiu e ambos começaram a rir – Você é ridículo, Bakaito!

- Eu não sabia que um nerd podia ser tão boca suja! – Atiçou o azulado, somente para ver a reação do menor.

- Eu não sou boca suja, agora cala a boca! Não abuse só por que é visita!

- Sei, sei muito bem. - ironizou Kaito fazendo ambos rirem novamente. Olhou para o lado, fitando o relógio que ficava na parede perto da porta - Engraçado que sua irmã ainda não tenha chegado.

- Hoje ela tem aula de recomposição.

- Eu não tive isso! - Resmungou o azulado, pensando ter perdido algum assunto.

- Claro, você não falta quase nunca!

- Tem isso também - respondeu rindo um pouco.

Ficaram se encarando por pouco tempo, logo voltaram a sua atenção a comida que estava na frente deles, uma vez ou outra, um olhar indiscreto ia em direção a Len ou a Kaito, por vezes, o azulado jurou ter visto o pequeno corar levemente. A única coisa que estranhou, foi ter tantas comidas variadas e ao mesmo tempo, apenas um sabor. Talvez passasse a odiar bananas se o shota servisse esse cardápio com mais frequência.

Mas Len adorava bananas, adorar talvez não seja o correto, ele amava a fruta, tanto que a comia diversas vezes por dia, sem nunca enjoar. Para seu azar, tinha levado duas para o quarto e provavelmente não resistiria à tentação de comê-las, assim fez. Pegou a primeira e a descascou, mordendo a pontinha. Kaito logo atingiu o rubro ao ver a cena, estava com geléia de banana na boca, o que não ajudava nem um pouco na situação.

- Oi, tudo bem? - O silêncio foi quebrado quando Len percebeu a face corada do colega.

- Haha... está tudo ótimo - mentiu o azulado tentando olhar para qualquer ponto do quarto menos o garoto comendo banana, por que tinha que ser tão doloroso? Até sua professora ia ser melhor no momento...

- Certo então... - o loiro deu de ombros e continuou a comer sua deliciosa banana, ficava cada vez mais impossível de Kaito não olhar e perceber como ele comia, parecia uma garotinha indefesa.

O mais alto balançou a cabeça negativamente, Len não era uma garota, mas sim um garoto! Se quisesse paquerar uma garota loira de olhos azuis, por que não a irmã gêmea do mesmo?

A banana não estava tão docinha como o loiro gostava, ainda estava um pouco verde, azeda. Quando isso acontecia, geralmente colocava geléia, mas estava ciente que isso poderia ser muito sugestivo na presença de outra pessoa. Mas ambos ali eram homens, certo? Então não haveria problemas em pegar um pouco da geléia que o azulado devorava.

- Com licença, eu posso? - Apontou para o frasco nas mãos do outro, este ficou ainda mais vermelho e lhe entregou o objeto pedido olhando para o chão.

Sem se importar com a reação do maior, Len pôs um pouco de geléia na ponta da banana, não sem se melar um pouco com a comida, pois era muito desajeitado. Mas desperdício era algo que não existia para ele, pegou o que tinha caído no seu rosto e lambeu, apreciando o gosto com olhos fechados. Quando tornou a abri-los, viu os olhos azuis de Kaito quase pulando de sua face, o devorando com o olhar. Este pegou um pouco mais do doce com o dedo, com uma expressão séria, colocou o dedo em frente ao shota, que sem entender muito os fatos, o lambeu.

- L-len? O que está fazendo? – Rin tinha acabado de entrar no quarto e se deparado com aquela cena.

- O-oi Rin! Bem-vinda! – Disse o loiro sem jeito.

- Pode me explicar o que está acontecendo?

- Bom... eu estava... o Kaito... – uma situação constrangedora e ambígua para todos, mas não estava acontecendo nada de mais, então por que se envergonhar?

- Ele estava me ajudando com matemática, e paramos para fazer um lanche. Algum problema, Rin-chan?

-Suspeito... - a garota comentou olhando levemente a cena, aquilo não estava mais parecendo um lanche, lançou um olhar mortal para o garoto da sua sala e soltou um sorriso “normal” para seu irmão, mas demoníaco para seu colega - Então Kaito-kun, o meu onii-chan já tirou todas as suas dúvidas?

-Cla-claro, deixe-me somente agradecer – fez uma leve reverência, sem tirar os olhos da loira - Olha a hora, mamãe deve estar preocupada comigo! - Mentiu a respeito da mãe, o medo da irmã do shota era maior.

Rin apenas deu um sorriso vitorioso e se dirigiu a cozinha para pegar um copo d'água, já que não tomava nada há horas por culpa da escola. Kaito arrumava suas coisas em uma grande velocidade, seus pensamentos estavam amaldiçoando a gêmea do loiro por tê-lo feito ficar com medo dela, colocou a mochila nas costas, olhou para o pequeno, deu um pequeno sorriso ainda constrangido e saio do quarto, passando por todos os lugares da casa, olhando para todos os lados com medo de achar a garota novamente, saindo de fininho da casa.

Len fitou a fruta que já estava pela metade, e deu um sorriso lembrando-se da situação em que foi pego. "Queria, que tivesse sido por mais tempo" pensou consigo mesmo. Mas o que estaria dizendo? Isto seria dar razão a todos que lhe chamam de shota!

Enquanto isso, Rin acompanhava Kaito se distanciando pela janela, com um olhar de reprovação. "Por que todos querem roubar o nii-san de mim?". Bebeu sua água em um só gole e voltou a subir as escadas, na esperança de descobrir uma explicação melhor para o que tinha presenciado. Viu Len saindo do banheiro, provavelmente tinha acabado de sair do banho, pois as pontas de seus fios loiros estavam respingando.

- Len, acho que precisamos conversar - disse em tom sério - Pode me explicar desde quando você traz pessoas que não conhece para dentro de casa?

- Bom... ele me ajuda muito... é praticamente meu amigo - depois de raciocinar um pouco chegou a essa conclusão, mas podia mesmo o considerar amigo?

- Amigo? Pensa bem! Ele já te chamou de amigo? Falou que você é especial? Ao menos ele sabe que você é um garoto?

- Saber ele sabe! E não... Ele nunca me chamou de especial e o que isso te interessa, Rin? - perguntou meio revoltado, era incrível que às vezes nem em casa conseguia ter paz.

- Porque eu me preocupo com você, enquanto tem shotacons por ai querendo achar um Piko ou um Len da vida, eu fico aqui, plantada que nem uma idiota de irmã, esperando que o irmão gêmeo venha falar que um garoto popular da escola, querido por todas as garotas, é seu amigo? Poupe-me Len.

- Rin, uma pergunta. - falou o shota olhando para a irmã, que apenas revirou os olhos e confirmou com a cabeça - Você gosta dele?

- É O QUE? - ela gritou, sua face ficou misturada em várias cores que Len quase não conseguia definir, por isso adotou que a cor da cara da irmã estava um arco-íris - De onde você tira essas conclusões tão precipitadas? Pelo o que eu saiba, eu era e sou a única garota da escola que não gosto dele.

- O que? Parece sim que você gosta dele, já que você fica me enchendo de perguntas. - revidou Len olhando diretamente para a irmã.

- Se você não sabe de quem eu gosto, então cala-se, idiota! - exclamou Rin quase desferindo um tapa no rosto do garoto, mas se conteve e fora correndo para seu quarto, batendo a porta com força.

O loiro apenas virou a cabeça para o lado, não tinha entendido a irmã, deu de ombros e seguiu para o quarto.

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Kaito nunca tinha ido por aquele caminho, mal sabia como voltar para casa, pensou que a única solução seria pegar um táxi ou ir andando, o que provavelmente demoraria muito. Encostou-se a uma parede para pensar melhor, organizar as ideias e as coisas que tinham acontecido naquele dia. Lembrou-se da expressão que o shota fez quando lambeu seu dedo, automaticamente sorriu, desejou que Rin nunca tivesse chegado, assim poderia ficar mais tempo com ele.

Sentou perto a uma árvore para esperar um táxi, enquanto isso ficou pensando em outros jeitos de conseguir a atenção de Kagamine Len, e agora sabia que tinha dois inimigos na história: Piko e Rin, será que ele só atraia pessoas assustadoras? Devia ser alguma maldição. Olhou para o relógio e deu de ombros, não tinha importância a hora que chegasse, ninguém iria recebê-lo.

- Com licença, Shion Kaito?

- Sim – falou sem virar o rosto, que importância fazia saber com quem falava?

No mesmo instante, um murro o acertou na barriga, o fazendo soltar um gemido de dor e ficar curvado, no que ele fez isso, percebeu uma mão lhe levando para o chão com violência, quase o fazendo comer uma parte do asfalto. Tentou olhar para cima, mas a mesma mão que o levou para baixo, o pressionava com força, não entendeu o porquê daquilo, mas com certeza que deveriam estar em maior número, como o ser humano é covarde!

- Desculpe a indelicadeza dos meus amigos, creio que eles levaram a sério demais minhas ordens – disse uma voz masculina, muito educada pelo que o azulado pode perceber.

- Por... por quê? – Sua voz falhava por conta da dor e era abafada pela poeira da rua.

- Bom, deixo claro que não tenho nada contra ti, mas o que houve hoje foi muito ousado da sua parte – naquele momento, a voz calma o fez ficar com raiva, simplesmente sentia-se furioso com aquela coisa monocromática – Você foi à casa de Kagamine Len, certo?

- Sim...

- Bom garoto. O que lhe levou lá?

- Eu... ele... ele está me ajudando nas matérias...

- Entendo... vocês não fizeram nada além disso? – Kaito pode notar um pouco de desdém no tom da voz do garoto, seus nervos já estavam à flor da pele.

- Eu... não sou gay! Não fizemos nada, se vocês acham que rolou alguma coisa é por que são um bando de bichas... – Levantou a cabeça e viu ninguém mais, ninguém menos que Hiyama Kiyoteru, praticamente a pessoa mais influente do colégio em termos de inteligência, a expressão do azulado mudou de raiva para confusão em poucos segundos, isso estava impresso em seu rosto.

- Batam.

Logo se fez um circulo em volta de Kaito, os componentes deste começaram a lhe chutar, todos rindo, alguns cuspindo, mas não importava o que eles fizessem, não iriam nunca tirar a imagem daquele nerd do terceiro ano. O pior de tudo, é que ele estava achando graça na cara de dor que o garoto fazia, não rindo estericamente, mas dando um sorriso sarcástico em sua direção, na verdade, isso já era muito para afetar a sua fama de impenetrável.

- Parem – todos o obedeceram, deixando o azulado gemendo no chão, mas ainda consciente – Deixe-me ser claro, você não me viu, estamos entendidos? – Kaito não respondeu, deu um gemido que Kiyoteru entendeu como um “sim” – Bom, agora podemos conversar. Você fez algo com o Len?

- Não.

- Você tentou fazer algo?

- Não.

- Você está apaixonado?

- Como é? Olha aqui, não sou um maldito shotacon Não me coloquem na mesma categoria que vocês!

- Interessante... se esta é sua resposta final, acabamos por aqui – essa frase foi acompanhada de vários suspiros de decepção vindo da gangue – Espero que se comporte e fique longe do Len.

Ele deu de costas e todos o seguiram, como bons cães treinados, realmente uma cena ridícula de se ver e ficar calado. Como aquele cara se achava no direito de mandá-lo ficar longe de alguém? Se alguém tinha que manter distancia do shota era aquele grupo, agora entendia perfeitamente o porquê do ódio que o loiro tinha para com os shotacons.

Desprezíveis.

– Ei! – Gritou ainda no chão – Você não sabe nada sobre ele! Vocês, nem ao menos sabem como ele é de verdade!

Kiyoteru virou-se de novo, ficando de frente para o azulado com as mãos no bolso.

- E você sabe?

- Eu sei... Eu sei que ele é muito boca suja quando está em casa, sei que estuda mais que ninguém que eu conheci, que a irmã gêmea dele dá muito medo, que ele adora banana, que ele escreve umas coisas muito estranhas e que ele faz uma carinha linda quando dorme!

- Verdade? Bom saber. Aliás, já ia me esquecendo, meu motorista vai te levar para casa – se aproximou de Kaito se ajoelhando de frente a ele e tocando seu rosto – Não posso deixar um rostinho tão lindo andando assim no meio da noite.