Capítulo 190 - Chibang e Long

A dura batalha entre André e Long prosseguia. Embora estivesse com uma boa resistência, o rapaz foi atingido em cheio pelo ataque do portador do pingente do Dragão. O chinês de longos cabelos negros estava admirado com a convicção de André em continuar e concordou em contar sua história.

– Como você deve saber - começou Long - A Meyou Zidan é oriunda de um clã de várias gerações.

– Sim, a Ningjing nos contou - disse André, ouvindo o que Long tinha a dizer com sua postura respeitosa de sempre - Vocês e a família da Lien são da mesma linhagem, mas vocês decidiram seguir o caminho mau.

– Nossa família seguiu o caminho dos mais fortes - disse Long - Essa é a verdade. Os Wong pertencem à ramificação que trouxe vergonha a todos nós.

– Não permitirei que fale assim da família da minha namorada e do meu mestre - retrucou André.

– Deixe ele continuar, André - falou Alex - Agora estou curioso para ouvir a história dele.

– Achei que estivesse escondido - comentou André.

– Só quando sei que a situação está perigosa - disse o fotógrafo - E parece que ele quer mesmo falar das próprias origens.

Long sorriu e continuou.

– Lembro como se fosse ontem. Sim, o dia em que percebi o quanto a mestra Chibang era promissora...seis anos atrás.

– E lá vamos nós - disse Alex, reconhecendo quando na mesma hora o momento de um flashback.

* Flashback de Long *

Long era apenas um garoto de 12 anos chinês (hoje, lutando com André, ele tem dezoito) realizando seu treino matinal no pátio do enorme palácio pertencente à família Meyou Zídan localizado nas montanhas. Ele realizava todos os movimentos com tamanha precisão, causando a admiração de todos os seus colegas que acompanhavam o treinamento do outro lado (incluindo uma pequena Dushé, de também 12 anos, já exibindo uma quedinha por Long).

Após o término do treino, o patriarca da família, reforçou seus elogios ao garoto. Na verdade, toda essa conversa aconteceu em chinês, mas não precisamos transcrever o diálogo no idioma original, não é? (além disso, eu não sei nada de chinês).

– Minhas congratulações, pequeno Long - disse o velho chinês com uma comprida barba branca - Sem dúvida você merecerá a posse do pingente do Dragão quando crescer mais.

– Anseio por isso, Mestre Yánzhòng (*) - disse Long.

– Você carrega o nome do dragão (**). Está destinado a isso. E pelos frutos de seus treinos não tem como nos decepcionar - continuou o velho mestre - Com você, a Meyou Zidan conseguirá todo o poder que merece.

– Entendo - disse Long, um pouco desanimado.

– Algum problema, pequeno Long?

– Bem...ainda não tenho muito conhecimento sobre o verdadeiro sentido da existência de nosso clã.

– Ainda tem dúvidas? - admirou-se o mestre - Somos descendentes de um dos maiores magos e mestres de artes marciais que já existiu! Graças a ele temos nosso maior tesouro: os doze pingentes do zodíaco chinês. Nossa missão é mais do que clara: mostrar nosso poder ao mundo.

– E o que faremos depois de conseguirmos isso?

– O mundo nos conhecerá e entenderá o que é o verdadeiro poder, pequeno Long. Isso por si já é uma grande missão. Não olhe para o que é superficial, olhe para o que é duradouro e permanente. Você precisa treinar seu olhar e sua mente.

– Entendo - disse Long, recolhendo seus equipamentos de treino - Irei meditar na floresta. Preciso pensar mais sobre isso.

– Faça isso. Alguém com sua posição deve ter tanto o corpo quanto a mente bem afiados.

Long se retirou do local, não sem antes receber uma olhadinha de Dushé, que não teve muita coragem de se aproximar dele.

– O que está fazendo, Dushé? - gritou Tiaoyue, que estava ali perto - Long precisa meditar, não ouviu?

– Sim. Já vou. Não preciso que você fique controlando minha vida - disse Dushé friamente.

O pequeno Long pegou a estrada através dos campos que levava à floresta mais próxima. No meio do caminho encontrou com a neta de seu mestre, Chibang. Long não costumava falar muito com ela, já que estava sempre tendo um treinamento especial separada dos outros membros.

– Err... - Long não sabia muito bem como se dirigir à garota. Ela tinha uns onze anos e mantinha um olhar curioso para alguma coisa. Long observou melhor e viu que era um tipo de gafanhoto morto.

– Deve ter sido recente - comentou ela - As formigas só estão chegando agora.

– A senhorita estava na floresta? - perguntou Long.

– Por que está preocupado comigo? - disse ela - Não acha que tem coisas muito maiores do que eu?

– Seu avô não vai gostar disso...

– Ele está muito ocupado com a educação inicial da minha irmãzinha, a Ningjing. Não vai nem perceber que eu saí do palácio.

– Há quanto tempo a senhorita está aí?

– Tempo o suficiente para ver a natureza.

– O que tem a natureza?

– Veja o gafanhoto. Ele é muito maior do que qualquer uma dessas formigas, mas no fim elas que irão devorar o cadáver dele.

– É o que parece...

– A natureza é um ciclo de vida e morte. Como podemos sobreviver?

– Se é natural, não temos como evitar - comentou Long.

– Mesmo?

– No que a senhorita está pensando?

– No que meu avô sempre diz - falou Chibang - Apenas um grande feito pode nos eternizar.

– Um grande feito?

– Nosso clã é forte, Long. Duvido existir alguém mais forte que a Meyou Zídan. Mas será que é eterno?

– Se mantivermos nossa tradição...

– De que adianta termos poder, se não pudermos mostrá-lo? Você entende, Long?

– Se...entendo?

Aquilo era justamente o que Long estava refletindo. Qual o papel da Meyou Zídan no mundo? Qual a missão dele e de seu clã? Por que mostrar ao mundo quem eles eram?

– É muito simples - continuou Chibang - Não basta nós conhecermos nosso força, o mundo também precisa conhecê-la.

– O mundo...

– Se isso acontecer, o mundo todo será nossa família. E tornaremos o mundo um lugar de pessoas fortes.

– Então você quer tornar as pessoas mais fortes?

– Também é uma lei da natureza que os fortes devem sobreviver - disse Chibang - A raça humana é fraca, Long. A maioria das pessoas sequer consegue controlar o próprio ki, algo tão simples para nós. Precisamos mostrar ao mundo quem somos.

– E como poderemos fazer isso?

– Primeiro precisamos reunir todos os pingentes dos doze signos. Só quando os doze estiverem juntos que todo o potencial da nossa família irá emergir.

Os olhos de Long brilhavam ao ouvir o discurso de Chibang. Ela, por sua vez, se mantinha fria e serena. Parecia não se abalar por nada. O vento movia seus cabelos claros enquanto ela olhava para o horizonte sem alterar sua expressão.

– Long, você me entende?

– Eu...eu acho que sim. Na verdade, acho que alcancei uma iluminação em minha alma agora, mestra Chibang...acho que encontrei um propósito em minha existência.

– E que propósito seria esse?

– Tornar o mundo um lugar mais forte. Eu realmente me identifiquei com suas palavras.

– Entendo, afinal...temos a mesma afinidade. Você e eu nascemos sobre o mesmo signo: o galo - disse a pequena (e já sábia) Chibang, ao se voltar para Long.

– Nunca entendi isso muito bem...não sou do signo de Dragão, mas como posso ser destinado a esse pingente?

– Não é uma questão de horóscopo e sim de ki. Os mais fortes irão se identificar com os pingentes mais poderosos, independente do signo.

– Mas a senhorita é..

– Sou um caso especial...meu signo equivale ao pingente no qual fui destinada e quando eu o tiver em mãos...ninguém poderá me deter.

Long sorriu com a aura de poder que emanava de Chibang, mesmo que ela ainda não tivesse um pingente. Os dois iniciaram um forte vínculo emocional naquele dia. E foi naquele dia que Long decidiu servir Chibang com toda sua fidelidade e respeito.

* Fim do flashback *

– Como puderam ver dessa história - disse Long - Tudo que queremos é a evolução do mundo.

Queremos que a humanidade suba um patamar.

– Como é que é? Estão indo tão longe por um ideal desses? - comentou Alex.

– Você nunca vai entender - respondeu Long - Sempre vai achar que os fracos devem ser protegidos. A humanidade precisa ser forte. A Meyou Zídan trará essa força.

– O que você disse...sobre a Chibang possuir o pingente do galo.

– Sim - concordou Long - Quando ela tocar o pingente do galo, tenho pena de quem estiver se opondo a ela.

– Lien... - André se lembrou de sua namorada enfrentando justamente Chibang naquele momento.

– Mas esqueça disso. Você só alcançará a mestra Chibang se passar por mim - Long voltou a fazer sua pose de luta - Agora já podemos continuar, não é?

– Seus motivos não me convenceram nem um pouco - falou André.

– Mesmo? Então não temos mais nada a conversar...

– A humanidade evoluirá naturalmente...acredito nisso - continuou André, antes de voltar para a sua pose de luta - Não precisamos da opressão do seu clã!

– André parece ter ficado nervoso - comentou Alex - Heh. Agora eu quero ver.

– Sua morte será um passo para a evolução da humanidade, garoto - disse Long confiante - Você não conseguirá escapar do meu próximo ataque!

Será que André conseguirá vencer essa dura batalha?

(*) = Significa "severo, terrível". Pronúncia aproximada dos ideogramas 嚴重.

(**) = Long significa dragão e é a pronúncia aproximada do ideograma 龍