Capítulo 156 - A gata e o rato

Álvaro havia sido salvo por uma estranha garota, ou pelo menos achava que havia sido. A pessoa diante dele era praticamente uma versão feminina de Yang, o oponente que o tenista estava enfrentando naquele instante. Mas quais seriam as intenções daquela menina?

– Ora, ora, quem poderia imaginar que minha irmã gêmea apareceria aqui nesse fim de mundo? - disse Yang ironicamente.

– Em algum momento teríamos que nos encontrar - disse a garota. Ela portava uma espada um pouco maior do que seu próprio braço. Parece que se dava bem com lâminas também.

– I-irmã? - gaguejou Álvaro espantado - Ei, o que está acontecendo aqui? Alguém pode me explicar?

– Bem, se é o seu último desejo - falou Yang, colocando as mãos dentro de suas enormes mangas, enquanto a garota apenas continuava a olhar sem recuar - Essa pessoa é minha irmã gêmea, Yin. Digamos que...já não nos damos muito bem há alguns anos.

– Cale-se - disse Yin, apontando sua espada para o irmão - Você sabe muito bem o que quero.

– Claro que sei - falou ele, mostrando seu pingente do rato para ela o que, pelo olhar da garota, parece tê-la deixado ainda mais furiosa - Você quer ganhar esse pingente para compensar o lixo que carrega, não é?

– Ora, seu..

Yin avançou na direção de Yang com sua espada, mas o rapaz se defendeu rapidamente com outra espada que possuía escondida.

"Acho que...agora é o melhor momento para escapar", pensou Álvaro. "Não sei o que eles estão fazendo, mas..."

No entanto, Yang percebeu essa movimentação e jogou uma faca na direção do tenista. Por sorte, os reflexos de Álvaro ainda era bons o suficientes para evitar algo assim.

– Onde vai? Ainda não acabei com você! - exclamou Yang, mas Yin estava prestes a atacá-lo por trás. Por um triz, Yang não é atingido e acabou se defendendo com outra espada que retirou das mangas no último momento.

– Esse poder de guardar lâminas ocultas...é um estorvo - comentou Yin.

– Heh! Com inveja, irmãzinha? Sei muito bem que a droga do seu pingente não lhe dá poder nenhum!

Álvaro não estava entendendo nada. Não sabia se Yin era sua aliada ou inimiga. Bem, se era inimiga do inimigo, devia ser amiga? Mas será que todo inimigo do inimigo é seu amigo?

– Ei, garota - disse o tenista.

– Heim? - Yin o ouviu - Afinal, quem é você?

– Heh! Não está mesmo a par da situação, não é? - criticou Yang - Esse é um dos inimigos da Mestre Chibang. Ele está escondendo outros pingentes e estou aqui para consegui-los.

– Interessante...é o que farei depois de acabar com você - falou Yin - Ganharei todos os créditos da Mestre Chibang para mim!

– Ei, quer dizer que você não é minha aliada? - reclamou Álvaro.

– Cale-se. Quero apenas o que é meu de direito - falou Yin, enquanto continuava a lutar com Yang em uma disputa árdua de espadas.

– O que é seu de direito? Não estou entendendo nada! - reclamou Álvaro, percebendo que, na verdade, havia muita coisa que ele não entendia.

– Está bem...acho que você pode saber, já que não sairá vivo daqui mesmo - comentou Yang - Acontece que nós dois fomos escolhidos para cumprir o destino dos inimigos eternos.

– Inimigos eternos? - repetiu Álvaro, ainda mais confuso.

– Os pingentes, as Joias do Zodíaco, foram criadas com uma magia baseada nos doze animais do horóscopo chinês - seguiu Yin, embora falasse sem sequer olhar nos olhos de Álvaro (aparentemente ela gostava de bancar a sabe-tudo) - Mas a magia exigiu que se cumprisse um detalhe crucial: o conceito do décimo terceiro animal.

– Décimo terceiro? - estranho Álvaro - Ei, espera aí...o zodíaco chinês não tem apenas doze animais? Pelo menos disso eu me lembro.

– Certamente você não conhece a história do gato - disse Yang, de modo cínico.

– Gato? - repetiu Álvaro.

– Segundo a história, treze animais foram convidados pelo Criador para uma festa e cada um deles seria presenteado com um ano - prosseguiu Yin - No entanto, o rato disse para o gato que a festa seria apenas no dia seguinte. Como resultado, o gato não foi honrado com um lugar no zodíaco e até hoje, gato e rato são inimigos mortais.

– Hehehe. Sempre morro de rir quando escuto essa história - riu Yang - O rato é o animal mais interessante do zodíaco. Não me daria melhor com nenhum outro pingente.

– Maldito. Você roubou o pingente que deveria ser meu! - reclamou Yin.

– Espera. Se ele tem o pingente do rato, então...

– Sim - respondeu Yin - Eu sou a portadora do pingente do gato.

Yang mostrou o pingente que carregava. Possuía, de fato, a forma de um gato. Álvaro se perguntou quais seriam os poderes do pingente.

– Está perdendo seu tempo se pensa que essa coisa tem algum poder - disse Yang para Álvaro, embora sua franja na frente do rosto tornasse difícil saber para onde o chinês estava olhando - O pingente do gato não passa de um enfeite comum. Ele não possuí poder algum, assim como o gato da lenda não conseguiu ser honrado com um ano.

Yang ria. Álvaro olhava para a garota, que parecia cada vez mais nervosa quanto mais a história era relembrada.

– Mas eu não precisava tê-lo - falou Yin.

– A culpa é sua por ter sido fraca - retrucou Yang.

– Nascemos como gêmeos dentro da linhagem da Meyou Zídan. Irmãos gêmeos possuem, necessariamente, uma afinidade com o pingente do rato e do gato, mas apenas o mais apto pode adquirir os poderes do rato. Eu fui considerada mais fraca e o pingente do rato me rejeitou...só me restou esse pingente inútil.

– Exatamente, inútil - concordou Yang - Você não é uma representante dos doze signos, Yin. Vá embora e não me atrapalhe. Tenho uma missão importante para cumprir aqui.

– Mas a história ainda não acabou - falou Yin, voltando a apontar sua espada para o irmão - Se eu derrotá-lo em combate, poderei ficar com o pingente do rato para mim. Só preciso provar para os pingentes quem é mais forte. Se vencê-lo, trocaremos nossas posições: você será o gato e eu serei o rato.

– O quê? Você? Me vencer? Não me faça rir! Você nunca conseguiu me derrotar.

– Mas eu treinei bastante desde a última vez que nos encontramos - falou Yin, agora mostrando um leve sorriso. Ela parecia ser uma pessoa que gostava de lutar e esforçada. Álvaro viu um pouco de Amanda nela.

– Todo o seu treino foi inútil - falou Yang arrogantemente - Apenas vá embora.

– Desenvolvi o meu ki ainda mais. Poderia dizer...que estou tão forte quanto qualquer portador de um pingente.

– Adoraria ver isso - retrucou Yang.

– Ah, mas você verá - disse a irmã - Farei questão de mostrar todo o meu desenvolvimento.

Álvaro queria escapar, contudo, seu espírito de luta parecia dizer que ficar ali proporcionaria uma oportunidade única de ver uma luta incrível. Não parecia muito racional, mas ele podia sentir um clima de batalha poderoso no ar.

"É uma ótima oportunidade para fugir, mas...quero muito ver onde isso vai dar", pensou Álvaro.

Os gêmeos irão se enfrentar. Yin será tão poderosa quanto Yang?