The Asylum For Wayward Victorian Girls escrita por Miss Kwon


Capítulo 2
Capítulo 1: Mad Girl


Notas iniciais do capítulo

"Mad Girl" (Garota Louca) é uma música da Emilie Autumn. Enjoy it. Não tá betado, então deve ter errinhos, mas ignorem-os :)



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Pov Emilie

01 de dezembro de 1872

 Lá estava eu, tocando alegremente meu violino listrado, abaixo do céu nublado. Era muito cedo, minha música preenchia o ar gélido matinal e as ruas vazias.

 Eu me encontrava na pequena varanda de tijolos cinzentos quase da cor das nuvens, aquele lugar me fazia ficar bem. Adentrei meu aposento delicado e ao mesmo tempo rebelde, gargalhando alto enquanto guardava o violino. Troquei o pijama de seda por um vestido longo cor de creme, com rendas na saia e uma flor na cintura. Decidi que mudaria aquele vestido, afinal, mamãe o amava, mas era simples demais para mim.

  Peguei uma tesoura e cortei estratégicamente algumas rendinhas, dando a aparência de rasgado. Para deixá-lo mais realista, usei os dedos para picotar uma parte. Peguei uma caneta e marquei com uma caneta uma linha dois dedos acima do joelho. Joguei o vestido na cama, ficando apenas com a anágua e o corpete básico, o que me causou alguns arrepios pelo vento gelado que entrava pela janela. Peguei uma tesoura e cortei cuidadosamente a linha que fizera, jogando os tecidos cortados na poltrona preta. Peguei um pincel e tinta vermelha e fiz alguns desenhos abstratos no vestido, esperei secar e vesti. Ficou até legal. Ficou mesmo. Arranquei a flor e passei alguns minutos costurando-a num chapéu creme meu. Vesti minha meia-calça listrada em linhas pretas e brancas horizontais e um sapato de salto agulha preto que roubei de uma meretriz outro dia.

 Foi quando reparei o tanto que demorara personalizando o vestido. Já era hora do café da manhã e mamãe batia na porta para me chamar. Gritei graciosamente um “já estou indo” e comecei a trançar meus cabelos ruivos quando ouvi um sussurro.

 “Quer brincar, Emilie?” A voz era fria e afiada, me causou arrepios na espinha e me fizeram checar se eu estava sozinha. Sim, estava. Tentei ignorar o sentimento grotesco de pânico que crescia em mim e voltei e entrelaçar as mechas.

 “Srta Liddell, não seja tão mal educada, venha cá....” pediu a voz arrastada e esganiçada. Tremi involuntariamente e corri até a porta do meu quarto, lutando para abrir a fechadura.

 O pânico me dominou e eu comecei a correr o mais rápido possível pelos corredores que pareciam se entender quanto mais eu corria por eles. A voz sussurrava coisas horríveis, me pedia para matar, falava para eu me juntar a ela, me mandava parar de correr. Logo a voz foi apenas ecoando e sumiu completamente. De certa forma, o silêncio foi estranho de início.

 Me sentei encolhida em um canto afastado de todo o resto da casa e chorei baixinho. De novo não por favor. Isso não.

 -Emilie!O que faz sentada ai no frio?Vamos tomar café da manhã. – Levantei-me exibindo o melhor sorriso que podia. O rosto de mamãe ficou furioso e eu me encolhi sabendo o que haveria a seguir. – EMILIE AUTUMN LIDDELL O QUE FIZERAS PARA TEU LINDO VESTIDO????POR QUE CHORAS AQUI????

 -Eu ouvi uma voz. – Sussurrei. A face tão bela dela era marcada por linhas profundas na testa e algumas rugas que ela lutava para esconder com maquiagem cara. Agora estava empalidecida e com a postura rígida. Então quer dizer que eu a assustei.

 -Não ouviras nada. És tua imaginação. Menina mal criada. Vá se trocar e tomar café da manhã, depois, direto para a aula de violino.

 -Não foi minha imaginação!Eu ouvi!Ela disse...

 -Quieta – ela fechou os olhos e respirou fundo, provavelmente querendo me estrangular. – Faça o que mandei. Não ouviras nada. É tua imaginação. Menina mal criada. Vá se trocar e tomar café da manhã, depois, direto para a aula de violino.

 -Não foi minha imaginação!Eu ouvi!Ela disse...

 -Quieta – ela fechou os olhos e respirou fundo, provavelmente querendo me estrangular. – Faça o que mandei.

 Revirei os olhos e corri de volta para meu quarto. Era melhor não discutir, eu acabaria enlouquecendo. Tranquei a porta e joguei a chave na escrivaninha. Arranquei o vestido e tomei um banho rápido. Eu odiava tudo isso. Todos me achavam indecente, todos me achavam louca. Vou mostrar quem é louca para eles.

 Coloquei o que as pessoas ignorantes de minha época consideram "decente": uma meia-calça rosa-bebê, as muitas anáguas que eu detestava, um espartilho creme que eu demorei muito para colocar e assim que consegui comecei a sufocar, pus um corpete delicado roxo e uma saia longa também roxa, calcei as sandálias brancas e desci.

 -Melhor assim? - Fechei a cara para perguntar. Mamãe sorriu.

 -É óbvio. Agora tu és uma dama.

*

 Acordei com um sussurro vindo do fundo do meu subconsciente e saltei da cama.

 Era a quinta vez que eu acordava com a aquela voz. Gritei quando minha cabeça queimou durante o berro da voz estridente. Já fazia uma semana que as vozes voltaram a preencher minha mente na calada da noite. Eu não dormia direito há dias, estava exausta e dolorida. Mamãe me dava medicamentos que em nada adiantavam, ela não queria pedir ajuda, não queria que os vizinhos pensassem que sua doce Emilie era louca. Eu sou louca mesmo e estou pouco me fodendo para isso.

 Mentira, isso me apavora. Me devora, me tortura, me prende, me denuncia, me mata, me machuca, me transforma. Sim. Mas ao menos, me deixa mais forte.

 -Emilie? - Minha mãe entrou no quarto e colocou uma toalha molhada na minha cabeça. - Te ouvi gritar.

 -A intenção era essa - respondi seca e rouca. Meus lábios estavam quebradiços, minha garganta inflamada e minhas cordas vocais detonadas de tanto gritar. Nem água ajuda mais.

 -Eu não suporto mais. - Comentou, derramando água no meu rosto de um recipiente raso que trouxera nos braços frágeis.

 -Achas que eu suporto? - Respondi em tom acusatório. - Me leve ao Asylum. Vão em tratar lá, vão expulsar isso da minha cabeça e voltarei sã. - Falei. Sim, na época era o que eu achava.

 -De modo algum! Não querem que pensem que tu és insana!E está perto do Natal, tu ficarás aqui. Talvez, depois do 1º de janeiro, eu te leve. - Mamãe tentou sorrir docemente, mas era fria demais para isso, então ficou um careta horrenda.

 -Fazer o que.

 Mal sabíamos que aquela noite eu teria minha pior crise.

Quarenta e cinco minutos depois...

 Meus gritos abafavam qualquer outro som que podia haver no meu quarto. Eu já não tinha forças para mais nada, quando meu corpo foi mergulhado num torpor insuportável e então veia a dor. E só. Queimava cada centímetro do meu corpo e me fazia tremer e gritar, eu parecia ter convulsões terríveis. Meus pais e minha irmã entraram no quarto e fizeram de tudo para me manter quieta e sem dor, mas não funcionava. Eu continuava gritando naquela tortura.

 E havia a voz. Aquela voz diferente de todas as outras que gritavam por mim.

 "Quer brincar, Emilie?Eu quero. Venha até mim e a verdade aparecerá". Não. Não. Não. Não. NÃO!

 Comecei a berra "NÃO!" e minha mãe gritou para minha irmã pegar uma aspirina. Minha cara irmã trouzera tremendo de medo e entregou nas mãos da minha mãe. Meus olhos começaram a queimar demais para mantê-los abertos, então os tranquei da melhor forma que pude. Meu corpo tremia tanto que chegava a ser dificil de alguém (seja já quem fosse) me segurar, então me colocaram no chão.

 Alguém abriu minha boca e um pózinho foi depositado lá. Então, eu desmaiei.

*

03 de dezembro de 1872, 06:30 da manhã...

 -Lie? - Minha irmã, Margareth (ou Maggie), chamou-me pelo apelido que me dera aos 5 anos de idade. - Mamãe está de chamando.

 -Eu sei, Maggie, estou descendo.

 Peguei minhas malas e desci desconfortávelmente as escadas. Depois dapior crise, há dois dias atrás, eu fiquei num hospital, que me enviou para um hospício (eles chamaram de 'hospital psiquiátrico', mas ninguém além deles falam isso) em uma parte deserta de Londres. Sim, detestável, eu sei, mas eu irei expulsar essa porra da minha mente, ou seja, felicidade minha em breve.

 -Te tiraremos de lá em breve, tudo bem querida? - Mamãe beijou minha testa.

 -É claro. - Sorri pelo canto da boca. Entrei no taxi vermelho que eles chamaram e fechei a porta com cuidado. Papai colocou minhas malas lá e minha família acenou para mim enquanto eu era levada pelo taxi.

 Parece que a garota louca terá uma nova vida a partir de agora.


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Notas finais do capítulo

E ai?Gostaram?Reviews?Não? Ok.