Anne Bergerac: As Portas Da Contradição escrita por Ana Barbieri


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

 Penso que o próximo caso só está demorando a acontecer porque foi permitida a minha participação. Ironia ou praga do Holmes?... Enfim, eu com certeza não consigo acreditar que aqui em Londres onde é sempre tão cheia de segredos e de pessoas das mais variadas classes sociais e opiniões. Como não acontece nada de novo? Algum assassinato ou fato que instigue curiosidade. Tudo isso me leva ao tédio e a achar que a cidade que nesta época do ano não possui a presença do sol, está mais cinza do que nunca.

      O meu desânimo não me deixa fazer nada direito. O serviço da casa está tendo que ser feito pela Sra.Hudson e isso me deixa com a consciência pesada. A frase diz “a pressa é a inimiga da perfeição.” No caso em que eu me encontro, a pressa é a minha aliada e a inimiga é a ansiedade.

        _ Anne. - porque diabos sempre que ouço meu nome em momentos de transe, eu me assusto? – Preciso que você vá até a cidade e busque algumas coisas que deixei na mercearia dos Cartwright.

        _ Sim senhora. – vesti minha capa primeiro e... Antes de ir, é sempre bom prevenir. Correndo até o arsenal de Holmes, consegui pegar uma faca, por precaução. Uma pistola seria melhor, mas ele notaria mais. Bem, hora de ir.

        Pegar compras na mercearia para a Sra.Husdon. Realmente a tarefa mais difícil e glamorosa que eu poderia pensar. Eles acham que eu tenho o que? Dez anos de idade? Enfim, não posso reclamar. Não tenho direito ou razão para reclamar de pessoas que são tão generosas comigo. Até mesmo Holmes, com sua modéstia tão verdadeira. Cortei Cartwright rapidamente, quando começou a falar demais e sai rapidamente dali. Passando pela Scotland Yard fui cumprimentada por uma boa quantidade de oficiais que me reconheceram. Inclusive Lestrade.

        _ E como vai o nosso caro Holmes Anne? Ansioso para um próximo caso?

        _ E como está. Agradeço aos céus por ele ser uma pessoa paciente, outro já estaria assassinando pessoas para ter um caso em mãos.

        _ Realmente. – ele riu, mas parou subitamente, coisa que não acontece com Lestrade e olhou para um estranho que estava parado do outro lado da rua, observando-nos. – O que será?

        _ Não deve ser nada demais. Não se preocupe. Acho melhor eu ir. Até a vista, Lestrade. – e sai. Observei que ele continuava a fitar o estranho. Melhor correr, se não chegarei atrasada.

        Uma mulher com um vestido de tecido fino, cabelo arrumado e com uma sacola de compras, com certeza é uma presa perfeita. Ainda mais quando resolve passar em um beco escuro, cheio de marginais e matadores profissionais, para cortar caminho até em casa. Realmente Anne Bergerac, você é muito inteligente. Antes que eu comece uma “breve” discussão comigo mesma, vou observar que um fato que sempre chamou minha atenção nos casos de Holmes, é a capacidade que ele tem de entender o que se passa na cabeça do assassino. Mesmo porque eu não sei o que leva uma pessoa a cometer um homicídio, quer dizer, o cidadão simplesmente acorda e pensa “Nossa, hoje eu acordei com a necessidade de matar alguém. De preferência rico e com uma história muito sinistra de família.” Não faz sentido nenhum...

         _ Anne Bergerac. – um calafrio percorreu minha espinha. Por mais que eu não reconhecesse a voz, não me pareceu estranha. Era fria e rouca. Me virei e observei, discretamente, aquele homem de cima a baixo. Usava trajes surrados e sujos, com manchas de sangue nas mangas. Ou ele era um funcionário do matadouro local ou então um matador profissional. – Como vai seu pai?

         _ Não sei do que está falando senhor. Meu pai morreu há dois anos. Com certeza está me confundindo com outra mulher.

         _ Seu nome é Anne Bergerac. Filha de Vladmir e Susanna Bergerac. O primeiro um policial da Scotland Yard, chefe da polícia, associado à Lestrade. A segunda, dona de casa, ajudava o marido a resolver alguns casos. Morreram sim há dois anos, em um caso solucionado pela polícia juntamente com Sherlock Holmes e John Watson. A filha do casal, a senhorita, ficou sem a casa e atualmente reside em Baker Street, com os dois detetives. Acredite-me senhorita, não estou a confundindo com nenhuma outra mulher.

         _ Posso saber como sabe tanto sobre mim? – estou chocada. Ele fez em cinco minutos um resumo da minha vida, que o juiz de bens fez em uma hora.

         _ Tenho observado a senhorita. Suas idas e vindas.                                                      

         _ Faz isso por me considerar uma mulher elegante ou faz parte de um plano, que tem um estudo tardio após cada observação?

         _ Faço isso a pedido de uma pessoa minha cara. Apesar, de que realmente a senhorita é uma mulher muito bonita. – eu ri com desdém. Beleza não é realmente, o motivo pelo qual busco ser notada. – Contudo, essa pessoa me pediu para fazer isso.

         Este será um daqueles momentos que ficarão para sempre marcados em minha memória. Com uma pistola apontada diretamente para o meu peito, ele tinha um sorriso maníaco nos lábios. Não corri. Mas, deixei a sacola cair no chão. Me virei e agarrei a faca. Ele se aproximou de mim, o suficiente para colocar a arma na minha cabeça.

          _ Será realmente uma pena, ter que matar uma coisinha tão linda quanto à senhorita. – o que eu fiz agora, foi algo que em juízo perfeito eu nunca faria. Sou boa de briga, mas, nunca agarrei uma pistola e atirei a única bala que continha nela contra uma parede de pedra. Depois, arranquei a faca que ele puxara com um chute, impressionada por conseguir chutá-lo estando com um vestido longo. E passando uma rasteira nele, o deixei imóvel no chão. Com os olhos fixos na faca que eu segurava.

          _ Agora fique parado. Ou eu juro que o corto do umbigo ao nariz. – acreditam que o covarde não se mexeu? Na verdade, se levantou e correu como uma menina de jardim de infância. A situação não pedia, mas, eu comecei a rir com vontade.

          _ Você tinha razão quando disse que sabia atirar bem. – não. Não pode ser... O ESTRANHO QUE LESTRADE VIRA ERA SHERLOCK HOLMES DISFARÇADO! O MALDITO ESTAVA ASSISTINDO A TUDO DE CAMAROTE E NEM ME AJUDOU!

          _ HOLMES?! O QUE ESTÁ FAZENDO?...

          _ Dando um dos meus passeios por aí, procurando alguma peculiaridade na cidade. Quando notei você conversando com Lestrade e resolvi escoltá-la até em casa, para ter em que pensar. Mas, acho que você se saiu muito bem sozinha. Realmente espantoso Anne, estou impressionado. – a minha vontade é de torcer o pescoço dele. “Me escoltar”, eu sei me cuidar muito bem sozinha. Cretino.

          _ Eu não acredito que você estava aqui e nem se ofereceu para me ajudar. Que grande cavalheiro. Que grande amigo. Sinceramente... – eu estou com os nervos à flor da pele. E juro que se ele vier com algum tipo de ironia para o meu lado, pelos próximos anos, eu mato ele. 

           _ Sempre quis provar seu valor para mim. Apenas dei a oportunidade.

           _ OPORTUNIDADE?! É ASSIM QUE VOCÊ VÊ A MINHA POSSÍVEL QUASE MORTE?!

           _ Anne você não morreu.

           _ NÃO! MAS TAMBÉM NÃO GRAÇAS A VOCÊ! EU JURO, QUE SE PUDESSE MATAVA VOCÊ!

           _ Que bobagem. Você não mataria um amigo, ainda mais o que te concedeu um teto, três refeições por dia e uma cama. – touchée.

           _ Ótimo! Não mataria. Contudo, não pense que por isso deixo de estar zangada com você.

           _ Dispensa então minha companhia para casa?

           _ Dispenso. Você seria muito mais útil há dez minutos, agora, acho dispensável qualquer ajuda que queira me dar. O verei em casa. – arrumei as compras de volta à sacola e sai bufando para casa. Holmes vindo sorrateiramente atrás de mim, até que o descarado se postou do meu lado.

           _ Infelizmente, eu não dispenso a sua companhia Anne. – o olhar que eu lancei a ele agora foi mortal. E ele ainda sorri de lado. – Perdão. Por ter deixado você finalmente mostrar para mim o seu valor, achando que estaria realizando um desejo seu, como um bom amigo. Perdão por tentar agradá-la.

           _ Holmes – suspiro – me desculpe. Você tem razão. E eu fui injusta. Perdão.

           _ Perdoo você Bergerac.

           _ Mas, me promete uma coisa?

           _ Da próxima vez que houver um homem duas vezes maior do que eu, com uma pistola apontada diretamente para mim, você vai entrar na frente e me salvar. Promete?

           _ Contanto que Watson esteja lá para retirar a bala. Sim, prometo. – eu gargalhei. Holmes tinha senso de humor, essa nem mesmo eu previra... Céus! Estou ficando com um ego maior que o dele. Essa convivência tinha que dar em alguma coisa.

          Watson está na sala, nos esperando. Holmes sentou ao lado dele em uma das poltronas perto da lareira e eu perto da janela. Agora que me sentei... Quem estaria interessado em mim? Sherlock escutou tudo, tenho certeza. Por que não comenta nada comigo? Não é importante? Às vezes não sei o que se passa na cabeça desse homem.                



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