Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 4
Dias


Notas iniciais do capítulo

Não aguentei esperar e postei



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O curso que minha vida leva pode ser defenido como um ventrículo conduz a marionete para formar sua história. Eu sou a marionete e o destino é o ventrículo. Ele tem poder sobre mim e não me deixa escolha. Posso pensar em tomar um rumo diferente, mas não posso fazer nada mais que isso. Ou talvez eu não queira...

Eu ouvia muita reclamação pelo que fazia. Não tenho culpa de ser lenta trabalhando na casa. Já estava até as tampas de irritação acumulada. A qualquer hora eu estouraria igual a chaleira. Meu pai nem percebeu ou igonorou os sinais que eu emitia sobre minha raiva. Foi ele que fez ser a última gota d'água.

Voltei com meu projeto de criar um jardim no fundo da casa. Era muito trabalho, mas eu estava empenhada e fazer tudo e ter um excelente resultado. Meu pai ficava sentado na varanda, me observando e tomando seu café tanquilamente, enquanto eu me matava arando a terra e adubando tudo.

Parei com tudo e o observei. Ele sabia muito bem que poderia me ajudar, mas ficava me observando e nada mais. Deixei tudo de lado e avancei até onde ele estava.

-- Bem que podia me ajudar -- disso como quem não quer nada.

Ele deixou a xícara sobre a mesa e levantou-se.

-- Você precisa trabalhar mais.

Minha expressão foi de incredulidade. Eu fazia tudo naquela casa. A única coisa que eu não fazia era lavar a roupa, pois isso era feito com magia.

Virei-me e andei até o terreiro que eu estava montando e peguei um pouco de terra nas mãos e joguei nele, mas ele usou o feitiço escudo.

-- Aira...!

Respirei fundo e soquei o tronco da árvore e fiz um buraco naquela casca podre. Limpei minha mão e recolhi tudo e guardei dentro da casinha, que servia para estocar tudo para limpeza de jardins. Entrei na cozinha e lavei minhas mãos.

Meu pai pegou a chaleira e colocou sobre o fogão. Pensei que ele fosse fazer chá, mas ele foi para o porão deixando o objeto ali.

Olhei pra fora e vi uma parte do jardim com mudas de plantas e flores e outro lado com raízes mortas e árvores sem utilidade nenhuma a não ser para se tornar fertilizante natural.

Ouvi passos e me afastei da pia. Quando me virei, vi meu pai com uma vassoura na mão. Se ele pensa que vou varrer a casa, está muito enganado!

-- Não varrerá nada com isso -- tranquei meus pensamentos. Esqueci que ele conseguer saber tudo que penso.

Peguei a vassoura e após observar algum tempo verifiquei que não era comum, mas sim um transporte.

-- Andei pensando e a melhor maneira de fazer essa raiva cessar, é você entrar no time de Quadribol.

Olhei pra ele descrente. Eu entrar no time de Quadribol? Não monto em uma vassoura desde meu primeiro ano em Hogwarts na aula de voo. Ele não estava brincando, a coisa era séria.

-- Não preciso fazer um teste antes?

-- Você fará, mas como te conheço, não se deixará ser vencida.

Pelo menos ele sabe que levo desaforo para a vida toda. Fui liberada de meu serviço por três horas por dia. Esse tempo era para eu treinar meu voo. Pra começo de tudo, queria saber aonde faria isso. E como sempre fico surpresa por causa do lugar onde moro, descobri que há um feitiço rodeando a casa e ninguém pode ver o que realmente acontece dentro dos muros. Fiquei em dúvida, mas fui obrigada a treinar com a supervisão dele.

Olhei alguns segundos para a vassoura. Não era uma das melhores, mas serviria para aquele propósito. Montei sobre ela e comecei a flutuar. A sensação era diferente da primeira vez. Não havia ninguém me observando e eu estava montada. Olhei para baixo e vi que a distância entre eu e o solo era maior. Nunca fui fã de altura, mas não tenho medo dela; só é um pouco desconfortável.

Estava começando a suspeitar que algum personagem histórico como Napoleão Bonaparte reencarnou em meu pai. Não é possível um homem fazer sua filha sofrer tanto. Depois de meu treino, caí no chão cheio de folhas secas e fechei os olhos.

-- Levante-se, Aira. Ainda tem de fazer o jantar.

Abri um olho e o observei.

-- Tá de brincadeira comigo, só pode!

-- Vou sair e só voltarei tarde da noite, então trate de fazer algo pra se alimentar.

Levantei toda moida e fui para meu quarto. Eu merecia um banho demorado e com muito requinte, mas quem disse que eu teria esse privilégio? Meu pai bateu na porta, dizendo que meu tempo de banho havia caído de vinte para dez minutos.

O que ele pensa que está fazendo comigo? Não o reconheço mais.

Saí de roupão e desci pra cozinha e encontrei a chaleira no mesmo lugar. A peguei e guardei em seu lugar no armário. Quando eu saí da cozinha, ouvi um pio e vi uma coruja pousar sobre a mesa. Ela tinha uma carta no bico. Peguei o envelope, mas ela não saiu. Deveria esperar por uma resposta qualquer que seja.

Espero que Bernadete não tenha lhe atrapalhado em seus afazeres.

Gostaria de saber se estará livre neste sábado. Quero te conhecer melhor e nada melhor que um passeio por Londres.

Espero sua reposta em breve.

Jean Baptist

Procurei nas gavetas um envelope e um pergaminho, além de uma pena e um tinteiro. Sorte que meu pai é muito organizado.

Comecei a escrever, mas não sabia exatamente o que dizer a ele. Eu deveria aceitar seu convite? A coruja piou. Percebi que havia pensado alto.

Está tudo bem, Jean Baptist. Aceito ter um encontro com você. Nos encontraremos no Beco Diagonal no sábado no começo da tarde.

Aira Snape

Enviei a resposta pela coruja e voltei ao meu quarto. Era a melhor maneira de eu esquecer o passado. Além do mais, eu poderia sair de casa e me livrar dessa rotina deprimente e cansativa.

Meu pai está me torturando.

Retornei ao meu quarto e depois de vestida, caí na cama. Estava muito cansada e mal conseguia deixar os olhos abertos e atentos. Resolvi que seria melhor dormir um pouco para recuperar a energia que me faltava e depois voltar ao trabalho.

Levantei com o barulho de vozes no andar de baixo. Vozes? Levantei em um pulo e entrei correndo no banheiro para me pentear. Eu estava com uma cara de sono. Molhei o rosto. Desci devagar, pois a iluminação sempre era pouca durante a noite. Vi meu pai na cozinha, em frente ao fogão.

-- Narcissa nos convidou para jantarmos.

Jantar. Narcissa. Não gostei da proposta dela. Queria recusar, mas se fizesse isso, assinaria minha sentença de morte com alguém.

Nem precisei ouvir que precisava troucar de roupas. Subi. Abri meu armário e retirei um vestido preto e meus all star rosa brilhante. Não passei muita maquiagem. Deixei meu cabelo solto e preto. Meu pai retirou a tintura do meu cabelo, porque disse que eu ficava parecendo uma punk daquele jeito. Ele era contra meu modo de vestir e ser. Meu pai quer que eu seja como? Não vou ser uma garota super certinha e chorosa, não!

O jantar foi horrível. Voldemort estava na cabeceira e o restante dosposto na mesa de acordo com seu potencial. Eu ficava ao lado de Draco, nas últimas cadeiras. Pelo menos não precisaria ficar sozinha.

Encarei os outros Comensais. Ninguém falava nada. Era um completo silêncio. Depois do jantar continuamos sentados. Voldemort começou a falar e eu queria que não fosse comigo.

-- Meus jovens Comensais -- já disse como é horrível ouvir a voz dele? -- vocês provaram lealdade a mim, mas ainda não é o suficiente.

Temi por vir coisa pior do que eu imaginava. E veio.

Fiquei assustada com que ele pediu. Não sei se devia ficar aliviada de a minha missão ser somente aproximar-me de Dumbledore e lhe arrancar informações ou pena de Draco por ter de matar o diretor de Hogwarts.

Tentei conversar com ele, mas Draco afastou-se de mim e sumiu por um corredor adentro.

Qual era a do Voldemort? Pra que precisava de informações? Eu não podia discutir, tinha de aceitar a missão e cumpri-la.

Fiquei tão aliviada e sem peso na consciência quando chegou sábado. Eu teria o dia livre com Jean e ficaria livre de meu pai e de qualquer pensamento pertubardor. Arrumei-me com minha melhor roupa: uma saia xadrez em preto e azul, brusa de abotoar e com decote e meus sapatos para o verão: all star.

Quando desci, meu pai me observou e perguntou para onde eu estava indo.

-- Beco.

Ele me fez mais um monte de perguntas, mas deixei ele falando sozinho.

Jean demorou alguns minutos para chegar. Estava começando a pensar que ele havia esquecido do passeio em Londres. Jean apareceu, arrumando o cabelo.

Sorri. Ele parecia ser legal. Que mal haveria?

Passamos pelo Caldeirão Furado e seus ocupantes nos observaram sair para a rua. Andamos alguns metros até que ele parou e ficou observando uma construção.

-- Você não andou muito por aqui, não é?

Ele confirmou.

-- É diferente dos outros lugares em que estive.

Paramos em uma lanchonete, mas não pedimos nada a não ser suco. Conversávamos como se nos conhecessemoc a muito tempo. Não era como conversar com outra pessoa, ele entendia o que eu queria dizer e ainda me fazia rir com o que acontecia com ele.

-- Minha mãe me obrigou a limpar o sotão antes de vir pra cá. Não é um lugar legal pra se ficar. Não quando, você se lembra que antigamente havia um morcego ali e por algum mistério ele sumiu -- ele olhou pra mim e tomou um gole de suco. -- Eu fui limpar e me deparei com o bicho de meio metro dependurado no teto e me olhando. Voltei imediatamente pra trás e tranquei a entrada do sotão.

Eu ri. Também teria feito a mesma coisa. Ver um morcego enorme te olhando é assustador.

Ele segurou minhas mãos e eu recuei pra trás. Aquele movimento dele tinha um significado, mas eu não queria que fosse verdade.

-- Jean... -- ele aproximou-se de meu ouvido.

-- venha comigo.

Ele levantou-se e colocou as libras sobre a mesa e me puxou pra fora da lanchonete. Fui guiada por ele até um parque próximo dali. Ele aproximou-se mais de mim e olhei pra baixo.

-- Você é legal, Jean, mas...

Jean ergueu meu queixo.

-- Não deve ser fácil pra você. Com certeza você teve um namorado e ainda gosta muito dele, mas não dá pra ficar com ele em seu peito pra sempre.

Senti-o se afastar de mim. Ele estava voltando para o Beco. O segui. Jean sabia que eu estava fazendo isso. Passamos novamente pelo Caldeirão Furado. Ele deu alguns passos e virou-se para mim.

Meu coração saltava dentro do meu peito. Não era por gostar dele, mas pela nova experiência. Jean não me queria só porque sou bonita.

-- E então...

-- Cala a boca, Jean.

Pulei no pescoço dele e o beijei. Quase dois anos sem saber qual era a sensação de ser beijada. Afastei-me dele ofegante e vi distante cabelos ruivos sumindo dentro de uma loja. Senti um aperto no peito.

Despedi-me de Jean e voltei pra casa. Meu pai estava lendo o jornal local e me lançou um olhar.

Despenquei no sofá, pensando que o que vi não poderia ser verdade. Eu queria que não fosse verdade, mas era real, muito real. Mergulhei o rosto na almofada.

-- Está tudo bem, Aira?

Por que Fred tinha de estar lá? Por que estou me importando com ele?

Olhe para meu pai e suspirei fundo antes de soltar tudo a ele. Não ouve nenhuma pronúncia dele, apenas levantou-se e saiu. Voltou em seguida e me entregou uma carta.

Era meus resultados dos N.O.M.s Abri com medo de ter adquirido notas horríveis. Me surpeendi em ver que tirei E em todas, exceto Adivinhação e Astronimia, que foram O.

-- Você parece a Sabe-tudo-Granger.

Eu sabia que só me dissera isso pra me irritar, por isso não lhe respondi.

Ali tinha também minha lista de materiais. na de interessante. Na próxima semana eu voltaria ao Beco e compraria de tudo que preciso.

-- Melhore suas notas em Adivinhação e Astronomia.

Eu deveria me inscrever para algumas matérias. Astronomia e Adivinhação estam de fora, de imediato. Não vejo necessidade de continuar a estudá-la. Não tolerarei a Trelawney dizendo que meu futuro é negro. Ela estava certa, mas não quero confirmar isso à ela.

-- Não terei mais essas disciplinas.

Comecei a guardar o pergaminho dentro do envelope, quando percebi que não havia lhe dito as minhas notas.

-- Você leu a carta?

-- Eu recebi a carta diretamente de McGonagall, e ela disse a mim suas notas.

Não é legal saber que um professor discute seu desempenho escolar com seu pai. Mas não há saída para mim, meu pai também é professor, para minha completa infelicidade.

Fiquei fora do campo de visão de meu pai pelo restante do dia. Consegui fazer tudo que era preciso sem ouvir nada vindo dele. Foquei minha atenção em ler meu livro, que por algum mistério eu não conseguia terminar. Sempre tinha algo pra fazer naquela casa. Isso ocupava muito o meu tempo.

Nunca me senti tão a vontade em minha própria casa. Eu podia ir a qualquer lugar, andar descalço e ainda ficar sentada no meio do jardim em uma espriguiçadeira, lendo. A felicidade durou pouco. Começou a chover. Eu não tinha ouvido a previsão do tempo na televisão e nem em jornais locais, fiquei surpresa com o tempo que formou de repente.

Meu jardim estava sendo destroçado pela força da chuva e a velocidade do vento. Todo meu trabalho foi, literalmente, por água abaixo. Pela primeira vez eu estava gostando de fazer algo e é tudo perdido.

Escutei a porta bater e vi uma figura encharcando o carpete que eu demorei pra retirar toda a sujeira.

-- Que tal entrar pelos fundos na próxima tempestade?

Ele apenas retirou a capa e a pendurou, a secando logo depois. Meu pai secou-se e subiu a escada.

-- Se sujar alguma coisa, limpará! -- grietei pra ele.

Estava preparando o jantar, quando ele entrou na cozinha trajando roupas trouxas, sem serem pretas. Não desconfiei de nada. Eu sabia que todas as roupas dele estavam para lavar, mas eu as nunca colocava para serem lavadas.

Sentou-se à mesa e serviu-se do suco. Sentei-me ao seu lado e o observei.

-- Vai me dizer ou vou ter que perguntar?

Eu estava parecendo ele. Trocamos de papéis.

-- Parece que sou o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Não fiquei tão surpresa quanto deveria ter ficado. Meu pai sempre almeijou aquele cargo e o conseguiu.

Pensei em abraça-lo, mas não achei uma boa ideia por causa de sua expresão facial.

-- Mas não é uma boa notícia?

Ele bufou alto e olhou-me. Tinha algo na reação dele.

-- Não estou assim por causa do meu novo cargo.

Não estava conseguindo entender o porquê dele estar daquele jeito.

-- Dumbledore me chamou uma noite e eu fui vê-lo. Ele foi afetado pela mágica de uma Horcruxe. Eu já o havia avisado antes. Consegui retardar a mágica, mas ele não tem muito tempo.

Dumbledore vai morrer? Eu não acreditava naquilo. Ele era a pessoa mais velha que eu já conheci.

-- Não tem como ajudá-lo?

Eu queria que ele continuasse vivendo e não morresse por causa de magia negra.

-- Não tem uma maneira de ajudá-lo -- ele parou. Percebi que havia algo mais pra ser dito. Ele respirou fundo. -- Dumbledore me pediu pra matá-lo.

Estanquei onde estava. Queria entender, mas não conseguia. Algo em minha mente não deixava eu ingerir aquilo perfeitamente.

Nenhum de nós dois falou algo, nem no jantar ou após dele. Não tinha o que dizer.


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Notas finais do capítulo

Espero comentários de vocês.