Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 3
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Capítulo pequeno, mas eu pensei que só o postaria daqui a alguns dias.
Curtem ele e mande-me reviews.



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Meu pai gosta de me deixar curiosa. Ele me mandou dormir e disse que me contaria sobre a carta na manhã seguinte.

Não sei como consegui dormir tranquila. Poderia estar qualquer coisa naquela carta; coisas incriminadoras: do quanto fui irresponsável em fazer rappel, das bombas de bostas jogadas dentro das salas de aula...

Entrei na cozinha e vi o café servido. Olhei no relógio da parede para constatar as horas e me surpreendi em ver que eram nove horas. Primeira vez em ano que durmo até tarde. Sentei-me na cadeira e comecei a me servir. Não havia perigo de eu morrer intoxicada, pois fui eu que fiz o bolo e os pães na manhã do dia anterior.

Ele entrou na cozinha, vindo do porão. O porão era o lugar em que me pai preparava suas poções. Eu não entrava lá a não ser que fosse pra chamá-lo para as refeições. Ele trazia nas mãos um frasco lacrado e a carta. Colocou em frente a mim e pude perceber que o frasco não era comum, ele tinha o formato de uma rosa e continha um laço preto.

-- Resolveu enfeitar suas poções?

Ele senou-se e serviu-se de café.

-- Isso não é uma poção. É um perfume.

O processo de fazer perfume é diferente das poções, mas acho que no mundo bruxo é mais fácil. Pegui o frasco e o abri. O aroma era muito bom; como a forma do frasco já previa.

-- Pra quem é?

Meu pai corou. Ele corou! Eu preciso de uma câmera pra registrar essas coisas.

-- Pra Hayley. Eu estava estudando todo o processo de fabricação. Queria dar de presente pra ela, mas nunca pude. E depois da morte dela deixei de lado.

-- Então está me dando...

Ele apenas confirmou com a cabeça.

Abri a carta e a li.

Senhor Snape

creio que devo lhe dizer alguns acontecimentos em minha escola na presença de Aira. Ela é uma excelente aluna e é capaz de realizar tudo com destreza, porém nunca está satisfeita no ambiente em que está. Sempre procura algo para lhe atrair a atenção, muitas vezes perigosas.

Estou preocupada com Aira. Vejo a semelhança que ela tem com Louise Thompson. Não tenho dúvidas que sejam parentes. Louise tinha essa personalidade, entretanto nunca se deixaria levar por algo insano.

Peço que converse com ela sobre o que me aflinge. Ela é uma garota maravilhosa e tem um futuro brilhante pela frente.

Madame Maximine

-- Não sou insana.

Ele pegou a carta e a guardou dentro de seu bolso. O olhar dele não era bom sinal.

-- Que espécie de coisas insanas você fez, Aira?

Contabilei tudo em minha cabeça e a única insana de verdade foi o rappel. Contei a ele. Faltou ele explodir de raiva, mas não fez isso, no lugar ele riu. Ele bufou e me olhou.

-- A cópia exata da Hayley.

Ficar me comparando a minha mãe não é mais legal. Parece que meu pai quer que eu seja ela; uma coisa impossível.

-- Quem é Louise Thompson afinal? Ela é minha parente por acaso?

Fiquei de ouvidos atentos, mas ele não dizia uma única palavra.

-- Ela foi sua tia.

-- Gêmeas?

Negou com a cabeça.

-- Eram meia irmãs, filhas de August Thompson. Judith não sabia da existência de mais uma filha de seu marido.

A genética é muito mesteriosa. Duas irmãs de meio sangue serem tão parecidas é algo muito difícil de se ver. Mais raro ainda é saber que as duas compartilham da aparência e de traços da personalidade.

Meu pai começou a me contar mais sobre minha mãe. Ela era adepta a esportes radicais e adorava uma aventura. Um dia minha mãe resolveu fazer trilha e levou meu pai junto. Foi tanta confusão, que meu pai teve que usar magia pra sair do meio do mato. Ele não disse que odiou, mas também não disse que adorou.

Em pensar que eu tinha uma tia que foi confundida como minha mãe. Louise Thompson foi uma excelente bruxa, mas optou por viver no mundo trouxa e cuidar da mãe doente. Em meio a sua vida sem sucesso com balconista de uma loja, sofreu um acidente e morreu. Um simples escorregão e bateu com a cabeça na quina da mesa.

-- Meus avós ainda estão vivos?

-- Estão, mas... -- ele se interrompeu. -- August não sabe de sua existência.

-- Como assim?

Meu pai me explicou os detalhes, desde o fato de minha avó materna odiá-lo até o momento em que ela me deu a adoção. Fui renegada por minha avó, só por ser filha do homem que ela mais despreza.

-- Quero conhecê-los.

Não houve sucesso por parte de meu pai em tentar me fazer desistir da ideia de conhecer meus avós. Mas eu não mudaria. Mesmo se eles não me quisessem eu queria vê-los e dizer tudo engasgado em minha garganta.

Antes de sairmos, meu pai tentou como último recurso me impedir, me dizendo que Judith mentiu pra ele sobre minha mãe ter se casado e morar em outra cidade.

Ele bateu na porta de uma casa em um bairro calmo e muito florido em Londres. Fiquei ao lado dele e vi uma mulher abrir a porta. Ela não era tão velha; poderia ser a empregada.

-- Posso ajudar? -- ela tinha sotaque. Deveria ser emigrante.

-- Judith e August Thompson estão?

A empregada concordou com um ligeiro "Sim" e fez gesto para que entrássemos.

A casa era decorada com móveis rústicos e havia flores por todos cantos. Na sala de star existia vasos de plantas a cada cinquenta metros. Aquela mistura de aromas me embrulhava o estômago. Orquídea, rosas, margaridas e violetas no mesmo ambiente era enjoativo.

As pinturas na parede demonstravam a falta de senso de decoração. Eram pinturas de flores. Nunca vi alguém amar tanto flores.

Sentei-me no sofá com capa florida e olhei para a mesinha de centro onde havia mais flores e algumas revistas de jardinagem. Comecei a gostar menos de meu projeto de criar um jardim nos fundos de casa.

Uma mulher entrou acompanhada de um homem de cabelos grisalhos. Ela parou ao ver nossos rostos. Judith ficou muito pálida. Os fantasmas voltaram a ela.

-- O que estão fazendo aqui? Camila, por que os deixou entrar?

A empregada entrou na sala e começou a se explicar, mas Judith e interrompeu:

-- Não quero saber seus argumentos. Eu disse que era pra perguntar quem são antes de deixar entrar!

Camila deixava-se ser rebaixada. Não gostava de ver aquilo.

-- Você não tem o direito de menosprezar ela.

-- Quem é você pra me dizer algo?

Ela faltava soltar fogo pelas ventas.

-- Sua neta.

Ela calou-se e me observou atentamente.

-- Surpresa em ver a criança que você deu a adoção há mais de dezesseis anos atrás bem na sua frente e em sua casa?

-- Judith?

A mulher olhou para o marido.

-- Não é verdade que só me deixou por eu ser filha do homem que você não achava ideal pra sua filha? Quem era o homem ideal pra ela? Um médico, adovogado?

-- Você não é minha neta. Hayley foi enganada por esse... aí! -- ela apontou o dedo em direção a meu pai. -- Ela sofreu muito por causa dele, minha Hayley não merecia aquilo.

Bufei e andei em direção a ela.

-- Minha mãe amava ele. Você a envenenou. Pensa que não sei?

No final do ano letivo, depois das provas, usei a Brecha do Tempo e descobri a verdade. Eu só não imaginava que meses depois eu seria dada à adoção.

-- Você é uma bruxa! -- ela parecia surpresa com sua descoberta. -- Sua bruxa!

August olhou para a conversa que se desenrolava.

-- Que história é essa de bruxa? Ela é só uma garota, Judith... E talvez nossa neta.

Meu pai aproximou-se deles e retirou sua varinha.

-- Hayley me abandonou depois que disse o que sou. Mas você soube por ela -- ele olhou pra Judith. -Do contrário que você acha, eu não a usei. Eu amo a Hayley ainda. Você me fez ficar longe dela e de minha filha. Perdi a pessoa mais importante de minha vida.

Olhei pra ele e vi seus olhos brilharem de raiva.

Ele apontou a varinha para um vaso e o quebrou em milhares de pedaços. Judith quebrou e começou a dizer que era a flor preferida dela.

-- Você é doente -- eu disse. -- As flores são um modo de você se esquecer de tudo que fez -- olhei pra ela. -- Só não faço o quero contra você, pois não posso usar magia ainda.

Virei-me e fui saindo da casa.

-- Espero que reflita tudo o que fez. E se se arrepender, não me procure.

Meu pai tinha me alertado de que eu não poderia gostar de visitá-los. Meu avô não sabia de nada. Não culpo ele, mas não quero voltar a vê-lo se tiver que estar na presença de Judith.

Cheguei em casa e me joguei no sofá.

-- Vai me ouvir na próxima vez?

-- Ainda não.

Ele afagou meus cabelos e saiu. Fiquei pensando em como seria minha vida se tudo tivesse sido diferente. Eu não teria conhecido meus pais adotivos e nem aquelas crianças que me humilhavam, eu não teria me cortado e nem tentado me matar. Talvez meus amigos fossem outros, pois eu teria convicência com meu pai desde cedo.

Acabei pegando no sono, sentada ali no sofá. Acordei no meio da noite e vi que estava em minha cama. Voltei a dormir sabendo que meu pai se preocupava comigo.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí já leu os livros da Academia de Vampiros? Estou pensando em escrever uma fic sobre essa série.