Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 5
Ruína


Notas iniciais do capítulo

Capítulo pequeno, mas espero que gostem



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Resolvi fazer que eu não sabia o que meu pai deveria fazer. Era melhor dessa maneira: sem brigas ou discussões.

Antes que eu esquecesse, fui ao Beco comprar meu material. Fazia dias que eu estava com a lista em mãos, mas não tinha tempo e nem coragem pra retornar lá.

Jean deveria querer saber se o beijo que dei nele foi por impulso ou se eu gosto mesmo dele. Não posso mentir que não gostei do beijo dele, mas não gosto dele ao ponto de querer algo sério. Nem sei se quero me apaixonar novamente.

Estava fazendo um calor insuportável. Dentro de casa era fresco por causa de feitiços e a ventilação, mas no exterior você percebe a diferença. Era como sair de dentro da geladeira e entrar dentro de uma panela com água quente. Para não cozinhar, coloquei um vestido branco e solto na altura dos joelhos e sapatilhas. Amarrei meu cabelo em uma trança complexa, que demorei mais de uma hora. Que saudade eu tinha de minha mãe fazer isso em mim. Ela era excelente para fazer penteados.

Quando penso nela sinto saudades e me arrependo de não ter lhe dado tanto valor quanto merecia. Não só ela, mas Charles també, ele foi um pai maravilhoso e nunca deixou me faltar nada. Não culpo ele pela minha depressão, quando era menor. Os culpados eram aquelas crianças mimadas e superiores.

Lembrar delas nunca me trouxe boas lembranças. Todos os dias eu era vítima de algumas de suas brincadeiras - talvez seja esse um dos motivos de eu ter gostado de atormentar os novatos de Hogwarts, anos atrás; para eu querer me vingar - Eu sofria. Tinha vezes que ficava trancada no banheiro esperando eles me deixarem em paz, mas muitas vezes eu não conseguia me livrar deles. Comecei a me cortar, querendo que a dor passasse, mas ela sempre voltava mais intensa. Se não fosse pela visita de MacGonagall em minha antiga casa e me dizer que sou uma bruxa e que estava tinha uma vaga em Hogwarts, eu nunca teria melhorado minha auto-estima e pensar que viver é melhor do que se trancar do mundo todo.

Foi nessa escola diferente e cheia de aventuras e encrencas, que fiz amizades. Não me importo se algumas delas foram falsas, mas por um curto período de tempo me senti muito feliz por estar entre pessoas.

A vida prega peças em nós. Sempre sou pega de surpresa com algo que ela apronta comigo.

-- These wounds won't seem to heal/This pain is just too real/There's just too much that time cannot erase.
Cantar me deixava mais feliz e confiante.

Andei pela ruas de Londres e parei em frente a minha antiga escola. Ela estava vazia, como todas as outras, mas não deixava de parecer viva. Dei meia-volta e vi um grupinho de alunos, dos quais eu conhecia. Aqueles rostos. Nunca vou esquecer as expressões de prazer que faziam quando me humilhavam.

Aproximei-me deles e esperei alguma reação, mas eles me ignoraram. Não adiantaria nada. Nenhum deles me reconheceria. Continuei andando.

-- Ei! -- sinal? -- Você, aí, garota!

Virei-me e olhei para o garoto que se levantou.

-- Sua filha da puta, você fez aquilo comigo na sorveteria.

Sue havia me ajudado na lanchonete naquele dia. Como será que ela está?

-- Pra sua informação, a garota de treze anos não existe mais.

Yan, Peter e outros ali que eu não lembrava o nome,me observavam.

Um garoto me observava atentamente. Se ele continuasse daquela maneira, eu teria de lhe entregar um babador.

-- Você vai me humilhar mais uma vez?

-- Não, Peter -- eu disse. -- Não vou fazer com você o mesmo que fez comigo. Não sou igual a você e nenhum de seus amigos. Por mim vocês podem fazer o que quiserem. Não ligo.

Me distanciei deles, andando em direção ao Beco, novamente. Sou muito burra de encarar aqueles idiotas. Por que eu sempre tenho que reviver o passado de alguma forma?

Senti meu braço ser puxado e fui virada bruscamente. Era Peter. Seu olhar era ameaçador. Ele parecia um louco.

Ele me empurrou contra a parede e tentou se aproximar de meu rosto. Ele era nojento e estava querendo me agarrar. Eu queria chutar seu ponto fraco, mas não havia espaço pra isso, ele estava muito próximod e mim.

-- Agora você não é tão forte.

Eu queria alcançar minha varinha, mas eu não conseguia. Deslizei minha mão sobre minha perna e senti o cabo da adaga.

-- Se não me soltar, pagará caro!

Peter me olhava e ria.

-- Você, fazer algo? Você sempre foi inútil e sempre será um nada.

Eu avisei a ele. Retirei minha adaga e deixei-a próxima ao seu pescoço.

-- Como...

-- Não me subestime, seu lixo.

Empurrei ele com toda minha força, o jogando no chão.

-- Aproxime-se d emim novamente, que eu cravo essa adaga em seu peito sem dó nem piedade.

Afastei-me, mas antes dei um soco naquele rosto. Ficaria inchado até o início das aulas. Ele ivnentaria uma mentira, de que brigou com garotos, mas nunca falaria que foi uma garota que fez aquilo com ele.

Olhei para os outros, que não acreditavam que eu portasse uma arma.

Decidi andar um pouco antes de ir ao Beco.

Aquele cretino pensa que é quem pra tentar algo? Chutei uma lixeira e amaldiçoei todos que eu odiava. Minha lista havia mudado conforme os anos passara. Em primeiro estava Voldemort e em último aqueles estúpidos do Colégio Connor.

-- Não deveria sair poluindo a cidade.

Ao meu lado estava Jean. Ele retirou a varinha e limpou a sujeira que eu fiz.

-- Me deixa.

Virei-me pra sair da presença dele, mas ele foi a minha frente, me impedindo.

-- O que houve?

Eu precisava desabafar com alguém.

Ali mesmo, na calçada, contei tudo a ele, desde as humilhações de quando era criança até minutos atrás, quando Peter tentou me agarrar.

-- Você não devia ter ido lá.

-- Eu sei -- suspirei. -- Jean... bem, eu queria saber o que você sente por mim.

Ele sorriu e tocou de leve meu rosto.

-- Aira, você é a garota mais incrível que eu já vi. O que sinto por você é imenso e quero te namorar.

Jean era muito fofo. Meu coração amoleceu e eu cedi a ânsia de carinho que eu sentia. Abracei-o e depois ele me beijou.

Meus planos de ir ao Beco falharam. Perâbulei por Londres acompanhada de Jean. Passamos boa parte do nosso tempo em uma praça, tomando sorvete e nos beijando.

Eu tinha que viver minha vida e não ficar somente pensando.

-- Aira...

Olhei para ele depois do beijo com gosto de sorvete de chocolate.

-- Você aceitou ser minha namorada, mas eu queria pedir pessoalmente ao seu pai.

Meu pai seria um grande problema. Ela era muito detalhista e não tolera qualquer um. Concordei em aprensentá-los no sábado antes de eu voltar à Hogawarts. Seria um almoço. Não poderia occorrer desastres em um almoço.

Voltei pra casa e encontrei meu pai, balançando um frasco de poção, que reconheci como sendo a Poção da Verdade. Ele queria me fazer dizer a verdade, não importava o meio para isso.

Sentei-me a sua frente e perguntei de uma vez:

-- O que quer saber?

Ele deixou a poção sobre a mesinha-de-centro.

-- Onde esteve? Fiquei preocupado.

Contei-lhe sobre meu dia perfeito e como ele terminou. Claro que omiti a parte de estar namorando Jean e que ficamos a tarde toda por Londres.

Meu pai apenas me aconselhou a não ficar próxima de Jean. Eu agradecia os conselhos dele, mas não precisava que ele dissesse o que devo fazer.

Era estranho viver dessa forma. Eu gostava da minha casa, da minha escola e tinha afeição por muitas pessoas, mas sempre acontecia algo que fazia eu tomar um rumo diferente.

Houve tantas mudanças nesses cinco anos desde que descobri que sou bruxa. Não sou mais aquela menininha inocente e suícida... Talvez...

Era uma coisa idiota de se pensar. Não quero provocar preocupação em meu pai; em ninguém mais.

Eu precisava de algo pra me sentir melhor. Passava pela minha cabeça algumas ideias, mas meu pai nunca me deixaria fazer. A não ser que ele fosse junto... mas ele não faria em hipótese alguma.

Tarde da noite, olhei pela fresta que deixava ver o quarto de meu pai. Ele estava sentado na cama, de costas pra mim, observando através da janela aberta.

Queria saber o que ele pensava e sentia naquele momento. Eu precisava fazer algo pra ele, algo que o deixasse feliz e bem humorado. Não daria pra ser uma festa de aniversário, pois o aniversário do meu pai é em janeiro. Tinha que ser outra coisa, que desse para fazermos juntos.

Voltei para meu quarto e abri uma revista, em uma página sobre viagens pelo mundo. Havia diversos lugares: Japão, Austrália, Estados Unidos, Brasil, Egito... Eu observava todos aqueles cartões postais e me sentia lá. Era como se eu pudesse sentir o ar quente e úmido do deserto, o clima tropical da América.

Eu conversaria com ele sobre a viagem depois.


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Notas finais do capítulo

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