Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 32
Conflitante


Notas iniciais do capítulo

Ohayo!!!! Desulpe a demora, mas como trabalho em supermercado agora nem tenho tempo mais. Espero postar o próximo capítulo em breve.



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No intimo, eu queria muito não voltar para Hogwarts. Ketlen estava longe e o ano letivo muito próximo; faltavam apenas alguns míseros dias. Se fosse em outra época eu estaria entusiasmada para voltar, mas agora essa era uma ideia ridiculamente impossível.

Eu ocupava meu tempo com o que podia, mas a maior parte do tempo andava pelas ruas e vielas próximas a casa. Não queria ter o desprazer de que meu pai ou minha mãe questionasse onde eu estava e porque demorava, por isso nunca me aventurava a tanto. Estou me saindo uma sem graça e trancafiada pela relutância que tenho por sair em público. É algo questionável, já que eu adorava me sentir vista, mas agora era assustador andar pelas ruas e ver como os outros me olhavam. Adquiri, penso eu, uma fobia. Queira eu que não.

As pessoas sempre me avistavam como intrusa. Não era somente pelo fato de eu usar roupas estranhas e ter o cabelo verde desbotado. Eles me olhavam como se soubessem o que sou, como se pudessem ver minha alma e saber que matei pessoas e estou instigada a matar mais com ou sem o meu desejo. As crianças corriam quando me viam e seus pais as afastavam de mim. Somente os adolescentes ou adultos mais jovens ficavam em seus lugares, mas ainda me olhavam atravessado.

 Por outro lado, isso era melhor que retornar a prisão que Hogwarts se tornaria com a direção de meu pai a mando de Voldemort. Pelo menos eu teria Draco para me manter a sanidade e eu a dele. Eu o havia visto algumas vezes nessas férias e ele parecia mais pálido que de costume, com seus cabelos bagunçados. Não parecia aquele homem que foi criado para ser superior, comportava-se como se não tivesse um peso do tamanho do mundo sobre suas costas. Ele ficava mais feliz em me ter por perto. Não era a mesma felicidade do inicio de nosso relacionamento, mas ainda mantínhamos nossa amizade. Era preciso ficar juntos para proteção. Nossas vidas já estava há bastante tempo ferradas para não darmos o devido valor.

Draco tinha pesadelos e eu o reconfortava sempre que podia. Ele os contava detalhadamente. Eu em boa em lidar com pesadelos, pois tive um bom tempo tendo eles.

- Não é tão ruim quanto parece – dizia a ele quando terminara de me contar os detalhes. – São apenas invenções de nossa cabeça.

Ele não parecia certo disso, mas também não discutia. Acatava o que eu falava quieto. Eu não gostava disso. Ele sempre ficava quieto e fazia tudo que pediam. Eu queria acordá-lo para a vida. Bem, foi mais ou menos o que eu fiz. Quase. Quando lhe joguei um copo d’água na cara, ficou bravo. Uma reação instantânea esperada.

Depois de meu “acidente” e algumas singelas palavras para ser mais independente e ter suas próprias opiniões, deixei Draco carrancudo e com muita coisa para pensar. E agora eu estava ali andando pelas ruas com minha cama esvoaçante por causa da brisa que batia em mim de frente. Realmente eu parecia uma criatura exótica.

A marca negra estava escondida. Não havia necessidade de usar loções ou magia com aquela capa ou quando estou dentro de casa. Minha mãe não gosta de ver a marca por não saber exatamente o que os Comensais fazem, mas tem conhecimento de parte do assunto. Não é agradável ela saber, mas meu pai contou a ela e pediu que voltasse para os Estados Unidos com Ketlen e eu, porém ela não quis. Éramos todos muitos cabeça-duras. Não deixaríamos ninguém para trás. Eu não deixaria meu pai a mercê daquela cobra asquerosa. Quando aceitei em ser Comensal da Morte, aceitei o outro lado de mal grado, mas aceitei e tinha de alguma forma conviver com isso.

Ketlen era mais retraída nesse assunto. Ela sabia mais, pois seu irmão contara o que sabia; o que não era pouca coisa. Ele esteve na Copa Mundial de Quadribol, em Hogwarts quando Crouch Jr foi descoberto. Ele sabia o temor que éramos para os outros. Eu conhecia cada Comensal a dedo, principalmente quem me desprezava. Belatrix Lestrange é um deles, seguido por Grayback. O infeliz vive levantando aquele focinho para mim, como se eu fosse uma iguaria. Eu sei muito bem que ele me quer das duas formas que pode, ou três. A última surgiu quando apontei minha varinha para ele quando queria atacar minha antiga cidade e fazer vitimas. Não fui muito recebida por ele e pelos outros, mas consegui que não se exibissem demais quando Voldemort, em seu tom autoritário, proibiu ataques às cidades. Senti que sairia com um Cruccio ou mordida, mas me mantive impassível e fiquei ilesa de qualquer conseqüência do meu ato humano.

Narcissa sempre me mandava cartas perguntando quando os visitaria. Na última vez em que estive lá quase fui mordida pelo Grayback – o que ele poderia fazer facilmente. Era melhor me manter afastada. Ela queria que eu fosse visitá-los por causa de Draco. Eu bem que iria, mas sentia que era presa fácil naquela casa. Eu não devia sentir-me intimidada por ninguém, mas meu sangue congelava diante das circunstâncias. Havia mudado meus modos. Não pensava mais da mesma forma que antes. Eu achava que podia ter sido um trauma pela morte de Giulia, mas não sentia nada quando via a morta a minha frente. Não sinto nada, não sinto desde que voltei da batalha em Hogwarts, mas ainda não entendia porque me esconder do mundo.

Às vezes me encarnava uma psicóloga e me auto diagnosticava, mas nada encontrava. Eu estava perfeitamente bem, tirando o fato de estar dentro do olho do furacão. Eu queria muito me ver livre desse martírio. Minha única saída era participar e orar, desejar, clamar, qualquer coisa, que isso tivesse o menor impacto possível em minha vida. Como eu já sabia, tive vários traumas durante minha vida. Meu pai me revelara um que ele apagou de minha memória quando eu ainda era uma criança. Eu já me cortei, me isolei, sofri nas mãos de colegas de classe e vizinhos. Eu era a que fazia coisas acontecerem.

Sempre envolvi as pessoas que me irritavam em acidentes. Os pais sempre me culpavam, mesmo sem saber que estavam certos. Em Hogwarts tive meus temores noturnos que foram provocados em mim, meus autos e baixos com minha própria pessoa, relações acabadas e outras em pleno funcionamento. Agora eu só tinha a mim mesma e um monte de incertezas pela frente.

O que eu podia fazer quanto a mim? Eu apenas aprendia o que meus pais estavam dispostos a ensinar. Minha mãe me ensinava medicina bruxa. Não era complicado, mas também era preciso saber a anatomia e por isso eu lia e relia os livros dela em tempo recorde.  Meu pai me ensinava o de sempre: Oclumência, Legimicência, Artes das Trevas e Poções, além de feitiços úteis. Estava sempre com ele, aprendendo. Ainda não sabia o que seria de mim no futuro.

Era hora de eu voltar para casa, quando três rapazes pararam a minha frente, bloqueando a minha passagem. Bufei frustrada. Esperar pelo otimismo não resultava em coisa boas, de minha parte. O rapaz mais próximo de mim estendeu sua mão e abaixou meu capuz. Olhei para ele sem reação alguma. Aqueles olhos castanhos me estudavam.

Eu conhecia bem o que eles tramavam. Meu avô paterno me instruíra, quando criança, como me defender desses tipos de elementos. Eu sabia que poderia usar meu joelho contra a virilha do mais próximo, mas teria outros dois em cima de mim e não seria nada agradável.

Movi meu pé direito lentamente para trás, preparada para correr. Agarrei minha varinha dentro de minha capa e a apertei. Tinha a adaga que Crouch me dera também. Poderia usá-la se fosse necessário. Eu já a usara de uma maneira falha. Na verdade eu não sabia como usar e ele sabia disso. Eu queria acreditar que ele me dera a adaga de presente como uma forma que eu me protegesse, mas era mais fácil acreditar que fora um presente “pelos nossos momentos”. Outros, se soubessem, achariam que foi traumatizante, mas nem eu realmente sei o que aconteceu. Envolvi-me com um homem que tinha idade para ser meu pai. E eu gostei. Mesmo eu não querendo, ele foi um amigo. Primeiro contato que tive com Comensais da Morte foi com ele, quando me interceptou na campina no acampamento da Copa Mundial de Quadribol. Foi nojento, mas depois percebi que ele não era o homem que todos achavam. Só teve a infelicidade de escolher o lado errado.

Olhei para os rapazes que sorriam. Sorrisos com más intenções. Até parece que nunca tentaram isso comigo. Bem, Crouch foi um dos que tentaram e eu fugi em parte, mas acabei sendo beijada por eles muitas vezes.

- O que vocês querem? – perguntei despreocupada. Incrível como eu tinha medo de enfrentar Belatrix e Grayback, mas os rapazes não.

O do meio me olhou como se eu fosse idiota.

- Você nos dará o que queremos.

Bem, era hora de me mover. Projetei meu pensamento para a rua em que estávamos entre duas árvores e um canteiro cheio de magnólias. Sorri para eles presunçosamente e desaparatei. Aparetei alguns metros ao lado deles. Eles olhavam embabascados para o mesmo lugar, procurando-me.

Um deles me viu e ficou pálido, encarando-me. Os outros logo seguiram o olhar do amigo ao ver que ele não se mexia. Todos me olhavam pasmos, como se eu fosse um fantasma – algo que eu provavelmente era – Sorri novamente e vi um deles tremer. Uow! Não esperava essa reação deles.

Avancei e retirei minha varinha. Que diferença fazia mostrar o quanto sou diferente para eles? Apontei a varinha para eles e sorri novamente, um sorriso maníaco que se formara em meus lábios. Eu tinha certeza que eles feriram ou iriam ferir alguma mulher ou garota.

- Obrigada por dizerem o que querem, pois aqui lhes darei o que posso.

Andei mais dois passos e parei. Apontei rente a eles e movi meus lábios sem fazer som algum. Depois apontei para o do meio e atirei meu braço para frente, ao mesmo tempo em que gritava o feitiço:

- Avada Kedavra!

O verde os iluminou e eles caíram no chão, com olhos abertos e espantados. Causa Mortis: Ataque cardíaco. Seria o que as autoridades dirão. Aproximei-me deles e me abaixei ao lado.

- Durmam bem. Espero que estejam satisfeitos.

Virei-me e continuei andando por meu caminho. Um sorriso travesso surgiu em meu rosto. Voltei para casa no fim da tarde sentindo a adrenalina do que acabara de fazer. Matar três rapazes a sangue frio. Até algumas semanas atrás eu expelia esse pensamento da cabeça, mas agora meu sangue era diluído em adrenalina. A sensação era exorbitante. Por isso era errado tirar a vida de alguém, pois era muito fácil e de certo modo empolgante, até reconfortava.

•••

Acordei sobressaltada. Não tivera pesadelos e muito menos qualquer coisa que pudesse me acordar dessa maneira. Levantei-me e o sol estava nascendo. A sensação de ontem havia sumido, mas por mais que tenha sido errado eu não sentia remorso algum. Quando sai de meu quarto, meus pais estavam tomando café. Numa hora dessas? Sentei-me à mesa e comecei a me alimentar. Meus pais estavam muito quietos.

Perguntava-me quando sairia a noticia dos rapazes mortos. A polícia teria muitos problemas para identificar o culpado.

Mergulhada em pensamentos, não percebi quando meus pais saíram da mesa. Continuei sentada e comendo. Enquanto eu bebericava um pouco de leite, meu pai entrou na cozinha, sério e com suas vestes pretas. Talvez ele esteja de saída.

Ele sentou-se na cadeira e suspirou. Eu tinha a impressão de que cada vez que meu pai suspirava, parecia mais velho.

- Sabe o que eu vi hoje de manhã, Aira?

- Não – respondi e mordi uma torrada, despreocupadamente.

- Não se importa com o que fez ontem a noite?

Dei de ombros. Meu pai levantou-se da cadeira, com o rosto vermelho.

- Aira, o que você fez foi gravíssimo! – ele gritava. – Sabe as conseqüências?

- Ninguém saberá que fui eu – Eu sinceramente queria que ninguém soubesse.

Ele balançou os braços e olhou-me.

- Eu vi a noticia essa manhã. Corri até o local do crime. Sem sangue ou qualquer sinal de assassinato – seus olhos agora eram cheio de compaixão. – Sabe como me senti vendo aquilo? Saber que minha filha se tornou uma assassina?

Eu deixei a torrada e levantei.

- Quem me tornou assim foi você! – gritei. – Eu salvei sua vida! Tornei-me Comensal por sua causa!

Minhas emoções estavam gritando dentro de mim, querendo sair. Afastei a vontade de chorar e continuei:

- Não pedi para ser sua filha! Ás vezes penso que é melhor eu nunca ter descoberto que você é meu pai! As coisas teriam sido menos dolorosas...

Eu senti alguém tocar meu braço e me virar, quando olhei para frente, vi uma mão, direto em meu rosto. Olhei minha mãe com lágrimas nos olhos. Toquei minha bochecha que latejava.

- Nunca mais diga isso! – as lágrimas caiam com mais intensidade. – Nunca mais repita que não queria que Severo fosse seu pai! Não irei tolerar essa falta de respeito em minha casa!

Não disse nada, mas olhei para meu pai. O assunto estava encerrado. Se eu bem o conhecia, pesquisou se a policia tinha outra causa da morte dos garotos que não ataque cardíaco.

Quando atravessei o batente, ouvi meu pai chamando:

- Hayley! Hayley! – virei-me e vi minha mãe desmaiada nos braços de meu pai.

Droga! Eu causei o desmaio dela. Não me perdoaria se algo acontecesse com ela ou meu irmão.

Meu pai passou por mim, sem me olhar, carregando-a nos braços. Subiu a escada rapidamente. O segui. Eu poderia estar com raiva dele, mas ela é minha mãe e eu não queria ter mais isso como remorso pelo resto de minha vida.

Quando entrei o quarto, meu pai verificava o pulso dela. Ela parecia pálida naquela luz. Aproximei-me e ele se virou.

- Está satisfeita? – ele perguntou?

Claro que não estava! Ele achava que eu era um monstro que ficaria feliz vendo minha mãe desmaiada?

- Desculpa! Eu... Eu não quis isso!

Ele voltou-se para olhá-la e me aproximei da cama, sentando-se ao seu lado.

- Eu estava com raiva. Você não entende...

- O que preciso entender? Você matou pessoas. Disse que não quer ser minha filha...

- Foi da boca pra fora! – joguei nele antes que falasse minhas palavras acusadoras.

- Desculpa, mas eu não podia deixá-los impunes. Eles eram... Estupradores.

Fiquei em silêncio, mas como ele não disse nada continuei.

- Se eu não fosse bruxa, teria voltado para casa ensangüentada e chorando.

Os ombros dele relaxaram e ele olhou-me.

- Ela está bem? – perguntei. Queria que estivesse tudo bem com ela.

- Ela ficará – ele passou seus dedos levemente sobre o rosto dela. Nunca o vi fazer isso. Ao mesmo tempo impressionante era um ato de amor tão nobre. – Mas a gravidez de Hayley é de alto risco.

E quando ele pretendia me contar isso? Ela carregava caixas pesadas... O que ele tinha na cabeça?

- No dia em que você nasceu. Naquele acidente... – ele olhou para a janela. – Você nasceu prematura, com sete meses de gestação. Por isso foi fácil passarem você por morta – ele disse esta palavra com desgosto. – Hayley perdeu muito sangue e ouve complicações depois do parto... Eu não poderia ter permitido que ela engravidasse, não quando há riscos para ela e o bebê!

Estava tentando pensar como meu pai. E começava a formular algo. Era a mulher que ele ama e seu filho que estavam em risco.

- Pai... – eu o abracei. Não era hora de guardar rancor. – Por que não me disse?

- Hayley queria viver uma vida normal. Ela sabia desse problema, por isso nunca engravidou de Paul Mickles – o que ele estava feliz em declarar. – Eu implorei para não se esforçar, mas ela me garantiu que usaria mais da magia em suas atividades.

Ele suspirou e me abraçou forte.

Saber que minha mãe estava em risco e meu irmão também; era algo difícil de suportar. Eu a conhecia há pouco tempo, mas os laços que criamos se tornaram fortes. Eu queria o bem para ela.


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Notas finais do capítulo

Eu sempre acabo colocando algo em drama...



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