Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 31
Uma vida normal


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado. Estava sem criativade e como não queria estragar a história com abobrinha, resolvi fazer aos poucos. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/166537/chapter/31

Acordei em meu quarto. Ainda não acreditava no que vira. Os Weasley em minha casa.

– Aira? – olhei para minha mãe que sorria delicadamente. – Está bem, meu anjo?

Sentei-me e observei a ela e a Ketlen, que estava com um prato nas mãos.

– Fiz uma sopa para repor suas energias – ela colocou sua mão morna em minha testa – Não está com febre. Talvez tenha sido insolação. É muito quente do lado de fora de casa.

Minha mãe pegou o prato das mãos de Ketlen e o aproximou de mim. Virei o rosto. Não queria comer. Não enquanto não me falassem sobre o que vi antes de desmaiar.

– Os Weasley... O que eles estavam fazendo aqui?

– Weasley? – exclamou mamãe surpresa. – Não sei do que está falando.

Ela se levantou e sorriu.

– Talvez estivesse sonhando. Tome a sopa e descanse.

Ela saiu pela porta. Olhei para o prato sobre meu criado mudo. Não era como as sopas que doentes tomam. Estava concentrada, de forma que sua consistência era cremosa e havia alguns pedaços de carne, queijo e soja. Realmente aquilo consegue repor energias.

Ketlen estava no canto, olhando-me como se eu estivesse num sonho ainda.

– Ketlen, você viu! Você estava de braços dados com o Fred. E a mamãe conversava com a Molly... As duas riam...

– Foi um sonho...

– Eu vi convites de casamento sobre a mesa. Convites para o casamento do Gui com a Fleur Delacour! Um casamento!

Eu ignorava qualquer afirmação ou tentativa de Ketlen desmentir o que eu dizia. Eu sabia muito bem o que vira.

– Aira, isso é tudo fruto de sua imaginação. Não houve conversa e risos nessa casa o dia todo. Molly Weasley não conversou com a mamãe. Ela nem conhece ninguém da família Weasley. E eu – ela lançou um olhar mortal sobre mim. – não estava de braços dados com o Fred. Nunca o tocaria.

– Mas eu vi... – minha voz sumiu.

Eu tinha certeza do que vira. Não podia ter sido um sonho. Era impossível. Era perfeito demais.

– Eu fui ao Beco para comprar um livro e voltei... Escutei a conversa e fui com o Snape para o porão depois voltei e vi as duas. Por último você e Fred. Desmaiei logo em seguida.

Ketlen suspirou e andou até minha cama, sentando-se na beirada. Ela olhava-me como se eu estivesse ficando louca. Não podia ser um sonho.

– Você foi para o Beco e quando voltou ficou no porão, mas depois que saiu de lá, você desmaiou.

Olhei para ela desacreditada. Eu não podia ter desmaiado e ter sonhado com tudo aquilo e depois desmaiar no sono. Era algo surreal. Mas nos sonhos tudo era possível.

Tinha que concordar com ela que ninguém estivera ali. Era muito improvável que os Weasley visitassem a casa. Estávamos em uma guerra; eles de um lado e eu de outro. Era impossível nos vermos.

Sem eu pronunciar sequer mais uma palavra, Ketlen saiu. Peguei o prato e tomei um pouco. Não era ruim, mas também não era bom. Ingeria a sopa enquanto pensava, sequer notando o sabor por inteiro. Eu queria – no fundo – queria acreditar que eles estiveram ali. Meu pai apareceu minutos depois e depois de averiguar que eu estava bem, sentou-se em minha cama.

Não queria conversar com ninguém. Já estava confusa o bastante. Deixei a sopa de lado e o observei.

Ele estava com o semblante cansado. Devia estar preocupado comigo. Mas porque preocupado?

– Aconteceu algo? – perguntei. Imaginava que ele não fosse me responder, mas o fez.

– Somente não deveria ter pedido que visse aquele livro – ele suspirou – Quando era mais jovem o vi e fiquei com ele em minha cabeça por um bom tempo. Mas com você foi diferente. Pela maneira que me falou, parecia que o livro estava lhe hipnotizando para adquiri-lo. Artefatos mágicos que causam essa sensação são poderosos e perigosos.

Eu compreendia a verdade em suas palavras. Eu mesma sentia perigo naquele livro. Se havia tantas fechaduras era por um motivo evidente de perigo.

– Bem, acho que devo recompensá-la.

Ele colocou a mão em seu bolso e tirou uma corrente. Quando ele deixou o pingente cair de sua mão, vi que era um Vira-Tempo.

– Mas não estavam todos quebrados? – eu estiquei a mão e o peguei. Era lindo. Todo dourado e incrustado de detalhes em seu metal. Já vira em livros, mas nunca pessoalmente e muito menos acharia que veria um depois da extinção deles no Ministério da Magia.

Toquei o metal e olhei para meu pai. Por que ele me daria algo como um Vira-Tempo? E onde ele conseguira aquele?

Ele beijou minha testa e sorriu. Pela primeira vez o vi sorrir espontaneamente. Era um sorriso desajeitado, mas ainda era um sorriso verdadeiro. Abracei-o, lhe apertando. Não sabia como arranjara força para abraçá-lo daquela forma, mas eu conseguira e estava aproveitando cada segundo.

Meu pai se afastou e colocou meu cabelo que caia sobre meu rosto atrás da orelha.

– Devo dizer que estou surpreso por me abraçar por um simples gira-tempo.

Não era somente o gira-tempo. Era tudo. Era o que ele se tornara. Quando o conheci pensava que era um homem rancoroso e sem amor, mas ele estava apenas se protegendo e protegendo a mim. Ele nunca quis que eu soubesse que era sua filha, pois temia que algo de ruim acontecesse a mim. Eu admirava-o. Eu o tinha como meu pai e nem sequer tinha demonstrado afeto por espontaneidade.

– Para que um gira-tempo? – puxei meu cabelo todo para um ombro e abri o colchete e pus a corrente em meu pescoço.

– Talvez um dia precise dele.

Ele se levantou e saiu de meu quarto.

Segurei o gira-tempo entre os outros colares. Não precisava mais do Tempus Passadus. O retirei e guardei na gaveta do criado mudo. Os únicos que ficariam eram meu colar com um pingente de serpente e o gira-tempo. Eu havia voltado a usar o colar de serpente. Com a morte de Giulia, queria algo que a lembrasse; e como o colar foi presente dela, decidi usar.

A cama não me era mais agradável. Nem mesmo depois de ter tomado a sopa. A luz entrava pelas frestas que a cortina deixava quando o vento batia nela. Levantei-me e fui até a janela, abrindo a cortina. Não fiquei cega como normalmente ficaria abrindo a cortina rapidamente. Nem havia tanto sol. Estava no fim da tarde.

Eu via garotos correndo na rua. O que era ao mesmo tempo surpreendente e assustador . Naturalmente aquele bairro não era movimento, mas algumas famílias estavam se mudando para longe das grandes cidades. Teria de me acostumar a ver crianças correndo em frente a minha janela.

Com meu quarto iluminado. Vi a precariedade em que ele estava. A parede estava descascando e meu guarda-roupa nem fechava mais. Eu podia usar magia. Em minutos havia arrumado tudo. Não usava magia com freqüência, mas arrumar um quarto é muito chato se fizer da forma convencional.

Quando cheguei à sala, achei que estivesse na casa errada. Havia um monte de caixas, pacotes, embrulhos espalhados. Quem havia assaltado uma loja de departamentos? Aproximei-me e li o que havia na caixa. Era tudo endereçado a minha mãe. Não sabia que ela era consumista.

– Oi – quase que meu coração sai pela boca, com minha mãe surgindo atrás de uma caixa.

Quando ia reclamar pela quase escapada de meu coração pela minha boca, vi minha segurando um pedaço de madeira. Eu sei que ela é boa com artes plásticas, mas para que madeira e tanta caixa...

– Desculpa pelo susto – ela sorriu e deixou a madeira sobre a caixa. – Comprei os móveis para o quarto do bebê. Não quero aquelas coisas mofadas no quarto dele ou dela.

Quem não estava gostando dessa ideia era meu pai. Provavelmente estava trancado no porão para não ver o quanto ela gastara.

– Mas isso não é muita coisa? Tipo... Não ficou caro?

– Eu tenho dinheiro guardado. E são coisas usadas que encontrei em brechós. Quero fazer algo eu mesma.

Não discutiria com minha mãe o gosto dela, pois eu também gosto de coisas antigas, mas fazer por si mesma era meio arriscado. Ainda mais ela que não usava magia, preferia fazer com as próprias mãos.

– Onde está todo mundo?

Ela olhou para a caixa e pegou a varinha, apontado para a fita que a lacrava.

– Ketlen está no quintal, regando as plantas. Bem, seu pai está trancado no laboratório dele.

Como estava perto da porta da sala, sai por ali mesmo. Vi Ketlen sentada no chão, olhando para as plantas. Minha família estava cada dia mais estranha. Quando ela me viu, sorriu.

– Desde quando se interessa por flores?

Ela pendeu a cabeça para o ombro direito e mexeu no cabelo.

– Nunca me interessei. Só estou pensando.

Pensar era minha especialidade. Ficamos sentadas ali, observando o dia escurecer. Quando a lua já havia aparecido, iluminando, fomos para dentro. Não havia mais nenhuma caixa na sala. Nem sequer um grão de poeira. Eu só ouvia o barulho de marteladas.

Ketlen e eu, curiosas que somos, subimos e paramos no quarto que vivera fechado por anos, mas que minha mãe fizera meu pai abrir. Estava tão diferente de como era. Não havia mais o papel de parede rasgado nem a mobília antiga. As paredes estavam todas brancas e havia alguns moveis semi-montados num canto junto do restante das caixas.

Meus pais estavam ali, pintando uma parede de verde claro. Estavam rindo e sujos de tinta. Esse episódio me lembrara quando eu e meu pai pintamos a cozinha. Foi a forma que encontramos para nos aproximarmos.

Eu e Ketlen confidenciamos um olhar e saímos. Deixamos os dois aproveitarem aquele momento.

Fui até o quarto da Ketlen, ajudá-la com sua mala. Ela em breve viajaria para visitar seu pai, amigas e seu namorado... noivo... Sinceramente não sabia que espécie de relacionamento era aquele.

Minha irmã contava-me sobre suas amigas, o local onde estudavam. Eu imaginava que fosse igual Hogwarts – um colégio interno –, mas era uma escola normal. Vivia ali somente quem precisasse. Ela dividia um apartamento com minha mãe quando era época de escola. Ela nunca deixaria a filha sozinha. Aproveitaria todos os momentos.

Era interessante o sistema de ensino, mas eu não saberia dizer qual é melhor sem nunca tendo estado lá.

Ketlen tinha sido obrigada a deixar as amigas por um pedido de nossa mãe. No começo pensei que ela fosse fazer de minha vida um inferno, mas ela era uma boa pessoa. Só tive uma primeira impressão equivocada dela. Agora ela estava indo visitar as amigas depois de seis meses sem vê-los, inclusive seu namorado.

Gian poderia visitá-la em casa, mas com todo o pânico que aflorava nas pessoas, muitos queriam ficar longe da Inglaterra. E tinha o fator de que ele trabalha no Ministério. Deveria trabalhar muito e nem tinha o tempo que gostaria de ter.

Devo dizer que meus pais conseguiram terminar de pintar as paredes do quarto. Quando passei pelas portas, os vi abraçados e sorrindo. Eles conversavam baixinhos.

Eu sorri. Era uma das poucas vezes que os vi felizes. Meus pais felizes. Senti inveja da felicidade deles. Era inevitável eu não senti-la. Eu tinha minha felicidade com eles, mas tudo voltaria a ser monótono quando retornasse à Hogwarts em meu último ano letivo. Não fazia ideia do que esperar em meu sétimo ano.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aira Snape - A Comensal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.