Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 30
Meus pêsames para minhas férias


Notas iniciais do capítulo

O capítulo demorou, mas estava ocupada com ENEM que nem tive tempo de escrever.
Espero que gostem.



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Não era novidade minhas férias serem chatas, sem graça e muitas vezes piores do que estar trancafiada em Hogwarts, mas essa estava superando-se em tudo. Primeiramente odeio admitir, mas meu pai era legal. O motivo foi minha mãe. O amor muda as pessoas... Eles estavam como dois recém casados – o que não era totalmente mentira, considerando que dividiam o mesmo teto e a mesma cama – Mas ele continua pão-duro e nem sequer ligava para minhas necessidades. Dessa vez se desculpava com o argumento de que com o bebê os gastos seriam reduzidos.

Segundo. Ketlen. Deveria estar no terceiro ou último lugar com tantos problemas que tenho, mas ela decidiu tirar essas férias para me atazanar. E como ela ficaria as duas últimas semanas na casa de Paul Mickles, queria compensar esses quatorzes dias fazendo-me perguntas sobre mim, meus namorados e coisas super chatas que odeio.

Havia outros motivos que eu deveria citar, mas esses me tiravam do sério. Volta e meia alguém batia em minha porta tentando me fazer sair e ver a luz do sol. Possivelmente pensavam que me tornei algum bicho de hábitos noturnos, pois sempre saia de meu refúgio depois do por do sol. Mas cá entre nós. Era melhor eu ficar em meu quarto sem fazer nada do que ficar na sala sem fazer nada com Ketlen a espreita e stalker¹.

Não tinhas as minhas tarefas de antes que era cuidar de casa. Minha mãe fazia isso muito melhor que eu. Eu praticamente morava no quarto. Não havia mais nada para fazer. Somente quando estava com tédio decidi sair.

Eu vi o sol. Grande coisa. Ele estava ardendo muito nesse verão. Sentia-me grata por não ter de ficar fora de casa com trabalho de verão ou atividades. Achava estranho meu pai não ter me mandado trabalhar nas férias. Ele normalmente me mandaria conseguir meu próprio dinheiro. Era do feitio dele essas coisas. Eu já havia trabalhado, mas fazia quatro anos que não sabia o que era trabalhar. Talvez fosse hora de encontrar um emprego temporário. Ainda dava tempo. Era começo de julho.

Quando cheguei à cozinha, avistei panelas, pratos, copos, voando para todos os cantos. Em um canto estava minha mãe, muito ocupada com um livro de receitas. Achei melhor não interferir. Andei até a sala e vi a porta do porão – que por acaso deveria estar escondida – aberta. Eu já explorara aquele lugar antes. Meu pai teimava em me ensinar Poções e Defesa Contra as Artes das Trevas, além de Oclumência. Claro que DCAT não era feita lá dentro por causa dos riscos de destruir algo, mas os outros dois eram inevitáveis.

Eu continuei treinando mesmo quando ele negligenciou isso. Provavelmente saberia que eu continuaria fazendo. Parei na porta e quase que meu coração sai pela boca quando ele surgiu dali. Bem que ele podia fazer barulho como qualquer ser humano quando anda sobre uma escada velha.

Totalmente neutro em face, meu pai seguiu seu caminho escada acima. Olhei para escada abaixo e só vi algumas luzes. Eu sentia mais cheiro de poeira e mofo dali do que gostaria.

Nem sabia o que seria da minha vida em meio aquela guerra. Minha mãe estava grávida. Meu pai era o novo diretor de Hogwarts. Ketlen era apenas uma garota que vivia sua vida. Eu era apenas uma garota que tentava viver uma vida. Já havia perdido a conta de quantas vezes pensei no que poderia ocorrer a mim se fizesse a escolha errada. Não apenas por mim, mas agora tinha minha mãe e irmãos. Não podia pô-los em risco de maneira alguma.

Meu pai apareceu com uma pilha de livros, pergaminhos e penas. Eu sabia que ele estudava muito, mas aquilo já era exagero. Antes que pudesse segui-lo, ele se virou e enfiou um pergaminho na minha cara.

– Não sou cega! – exclamei, pegando o pergaminho e lendo: - A Origem dos Feitiços...

– Preciso desse livro. Você o pegará para mim na Floreio e Borrões, se existir algum volume lá.

Não gostei de ser intimada a fazer algo que a probabilidade de acontecer não é certeza. Peguei o pergaminho e guardei no bolso. Estendi a mão para o dinheiro e ele me entregou alguns galeões. Galeões. Achei que estivéssemos economizando.

Ele me olhou e depois seguiu para o porão. Eu não tinha mais o que fazer senão ir buscar o livro que ele precisa. E porque A Origem dos Feitiços? Não entendo como estudar a origem valha de algo. Mas meu pai tinha suas crises existenciais e deveria estar procurando algo para lhe ocupar. Não! Nunca vi homem focado tanto em uma pesquisa quanto ele. A coisa é séria se ele está realmente pesquisando tanto quanto é visível.

Eu podia aparecer e desaparecer dos lugares a hora que eu quisesse, mesmo eu não tendo licença para desaparatar. Era uma regalia por ser Comensal da Morte. Eu precisaria estar em um local em uma fração de segundos e precisaria desaparatar. Mas para ir ao Beco decidi ir a pé. Queria rever a cidade novamente. Um pouco da essência da civilização não faria mal algum.

Não faria se eu não tivesse cochilado no metro e perdido a estação. Acordei do outro lado de Londres. Não era tão longe do Beco, mas gastaria as solas de meu coturno significativamente. Percorri alguns bairros, onde crianças e adolescentes se divertiam em família. Eles nem sabiam que havia perigo em simplesmente viverem.

Atravessei uma alameda e uma bola caiu ao meu lado. Peguei-a e vi que era uma bola de beisebol toda surrada e com letras apagadas. Provavelmente era a assinatura de alguém. Um garoto fez um sinal para jogar a bola de volta e foi o que fiz. Puxei meu braço direito pra trás, puxando meu corpo junto. Depois pisei forte no chão com o pé direito e lancei a bola. Ela voou em rasante. O garoto correu a pulou para pegá-la. Ele sorriu agradecendo e voltou a jogar com seus amigos.

Eu só tinha força nos braços por causa do quadribol e os exercícios que meu pai me aplicava. Até em uma batalha de varinhas era preciso ter força na mão. Qualquer movimento ou falta dele era fatal.

Adentrei o Caldeirão Furado e olhos viraram-se para mim. Eu estava me sentindo sem privacidade. Era normal os freqüentadores daquele bar olhar quem chegasse, mas nem sempre eles poderiam ver um Comensal tão de perto, sabendo de sua identidade.

E ai vem à pergunta: “Como que eu sei que eles sabem minha identidade?”. Simplesmente porque quem me viu em Hogwarts, tratou de espalhar a noticia. Não me incomodava. Sabia desde o inicio que seria repreendida caso soubessem o que eu era. Às vezes eu imaginava que meus amigos fugiram de mim pelo que sou. Nunca contei a eles e agora não havia nenhum ombro amigo.

O beco estava vazio. Não havia esperança de que voltasse a vida enquanto durasse esse clima de medo. Avancei pelas ruas em direção a Floreio e Borrões. Era uma das únicas lojas que permanecia aberta. Livros ajudavam as pessoas a ficarem longe da realidade, além de certos artigos.

O senhor me atendeu. Ele parecia aflito, como se a qualquer momento sua loja fosse atacada ou ele fosse encarcerado. Entreguei o pergaminho e ele arregalou os olhos. Olhou milhares de vezes para o pergaminho em diversas posições. Não acreditava no que ele dizia.

– Impossível senhorita. Esse exemplar é raríssimo. Há poucas copias dele disponíveis.

Achei que fosse um livro comum. Mas pensando bem, meu pai me dera galeões e o usual para se comprar um livro são sicles e nuques. Deveria ter suspeitado de tal coisa.

– Posso pelo menos ver?

Eu não fazia ideia do porque queria ver. Mas parecia algo interessante.

O homem me fitou e depois andou até uma porta, reaparecendo um emaranhado de tecido coberto de poeira. Ele a depositou sobre o balcão e o desenrolou. O livro era grosso e havia trancas em todos os seus lados. As trancas seriam absolutamente normais se não fossem por aparentarem serem línguas. O livro Monstro começava a soar menos ameaçador, pois ele somente tinha uma tira que o impedia de estralhaçar tudo.

O livro estava muito bem resguardado. O homem passou a varinha e murmurou algumas palavras que não consegui compreender e as fechaduras, uma por uma, começando da lombar e em sentido horário se abriram. O livro estava em perfeito estado, sem dobras ou mofo. E eu tinha a suspeita de que era mais antigo do que aparentava.

– Esse livro – começou ele – é uma relíquia de nosso mundo – ele se aproximou de mim – Contém coisas das quais nem os próprios escritores conseguiram decifrar inteiramente.

– Mas como? Se foram eles que escreveram...

Fiquei em silencio quando as páginas viraram e pararam em uma em que continha o desenho de uma varinha. Aproximei-me mais e tentei ler. Ele fechou o livro e acordei do transe.

– É isso que o livro faz. Puxa as pessoas para ele. Há ensinamentos aqui que destruiriam a humanidade.

Ele voltou a guardar o livro e minha atenção voltava-se para àquela pagina. Eu não conseguia ler, mas sabia que era uma língua morta. Mais especificamente o latim. Usávamos o latim como feitiços. Talvez fosse por isso que o livro era tão poderoso. Era escrito totalmente na língua morta.

– O que uma jovem como você iria querer com esse livro?

– Ah... Não sou eu, é meu pai. Ele pesquisa as coisas, sabe?

Ele olhou-me desconfiado e fechou as trancas.

– Agora sei por que quarto trancas...

– Cada uma é de um nível diferente. Elas demorariam anos para se abrir com um bruxo sem o conhecimento adequado.

Era hora de eu ir. Falaria para meu pai que não era possível ter o livro. Talvez ele conseguisse mais coisas se fosse pessoalmente.

Atravessei a soleira da porta e uma pontada em minha cabeça quase me desequilibrou. Encostei-me e depois de melhor segui caminho para casa. Mas antes pairei meu olhar sobre a loja que tempos atrás vivia abarrotada. Não queria me auto-encorajar a ir até lá. Desviei meu olhar e voltei para casa.

Quando voltei – toda suada e descabelada – achei que tivesse entrado na casa errada. Ouvia risos e conversa.

– É sua mãe e a amiga dela – disse ríspido.

Olhei para meu pai. É normal dele não gostar de visitas, mas se era amiga da minha mãe, ele agüentaria a tortura.

– Pai – ele voltou-se para mim. E como se sua memória se clareasse, abriu um sorriso de escárnio. – Hm... Não consegui o livro. Bem, ele é bem raro, sabe e meio perigoso...

– Eu sei – ele voltou para o porão. – Prefere ficar com sua mãe? – ele me olhou confidente.

Éramos muito parecidos. Eu odiava ficar ao lado de pessoas que conversavam pelos cotovelos. Acompanhei-o até uma bancada cheia de caldeirões e recipientes.

– O que você sabe do livro?

– Hã?

Eu não entendia o que ele queria dizer. E como sabia que eu sabia de algo? Ele leu minha mente. Só podia ser isso, mas eu nem percebera ele lê-la.

– Controle mais suas emoções e blinde a mente sempre – estava confirmado que ele lera minha mente. – Apenas me diga o que você viu. Não consigo distinguir nada do livro. Está tudo borrado.

Não entendia porque estava sendo difícil ele ler minha mente. Era simplesmente fácil para reavivar a memória com aquele livro. Quando tentei lembrar algumas palavras, minha dor de cabeça voltou. Meu pai se segurou, pensando que eu fosse cair.

– Não consigo ver – ele disse. – Muito estranho. Primeiramente por você não estar conseguindo se defender e segundo por sua mente estar borrada. Só consigo saber o que faz, mas é como se eu tivesse vendo através de neblina.

Sentei-me e relatei ao meu pai o que era o livro e o que ele provavelmente causaria a quem utilizasse dele. Seu semblante ficou serio e pensativo. Estava formulando uma teoria, mas eu não sabia para quais dos problemas.

– Efeito colateral... Possivelmente – ele dizia para si mesmo em voz alta. – Provavelmente o livro ao entrar em contato com você fez com que perdesse controle de sua defesa. Mas isso não deve ser algo permanente, somente temporário.

O cheiro com misturas de poções impregnava o ar do porão. Voltei para o primeiro andar, com crise de tosse, depois de passar por uma estante repleta de poeira. Fui direto pra cozinha e peguei um copo d’água direto da torneira. Ouvi murmúrios. Eu conhecia a segunda voz daquela cozinha. Não era minha mãe.

Virei-me e quase deixei o copo cair. Era Molly Weasley. O que Molly Weasley estava fazendo em minha casa? Olhei para todos os cantos procurando vestígios de algum outro Weasley, mas não vi nenhum outro ruivo.

– Aira, venha! Estamos lanchando.

Olhei para a mesa e mais do que comida. Tinha diversos pacotes e alguns convites. Andei até a mesa e peguei um para ler. Era um convite de casamento. Gui Weasley se casaria com Fleur Delacour. Estava ficando tonta. Minha mãe e a mãe do Fred juntas...

Antes que eu pudesse desmaiar, vi Ketlen se aproximar, sorrindo e segurando os braços de um rapaz ruivo.

Ficou tudo escuro e ouvi gritos.



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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo explica algumas coisas deste.
Reviews dizendo que ainda estão vivas? Mereço saber se alguém gosta.



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