A confusão abatia-se sobre a criança. Chamou vezes sem conta pela mulher, que se recordava agora, esquecera-se de perguntar o nome. Abriu a porta que dava acesso á rua e olhou de um lado para o outro. Não havia sinal dela.

“Seja um menino doce e meigo como o seu pai foi.”

Fora a primeira vez que ouvia alguém falar com tanta ternura e podia até dizer, orgulho, no seu pai. Afinal, quem seria ela para falar com tanto afinco acerca dele? Acabou por sair de casa caminhando pelas ruas daquela estranha Vila. Olhava para as paredes e só via símbolos que representavam o seu clã. A sua mamãe não lhe tinha dito que estava em ruínas e que agora já nem havia vestígios de que algum dia alguém lá tenha vivido?!

Olhou em frente e acabou por ver um prédio. Tinha grandes colunas e umas escadas onde dava acesso ao edifício. Parou frente a ele. O símbolo novamente dos Uchiha. O que significaria? Tinha qualquer coisa escrita, que tentou ler, através da escuridão.

- Era o quartel da força policial Konoha.

Voltou-se para a voz, mas desta vez, retirou uma kunai dentro da camiseta. As faces daquele homem eram severas e rígidas. O seu rosto novamente com uma estranha familiaridade. Colocou-se em posição de ataque.

- O que é que o senhor quer?

- Corajoso como um Uchiha.

- O quê?

- Você é um Uchiha, não é?

O homem dirigiu-lhe um olhar tranquilo. Inesperadamente acabou por relaxar o corpo, e perceber, que quem quer que ele fosse, não constituía uma ameaça. Sabia também, por ele ser homem, iria reduzir o nome da sua família em nada. Uns seres mesquinhos e sem sentimentos.

- Não preciso que seja simpático comigo.

- Você sabia que os Uchiha’s eram quem protegiam a segurança da Vila? Uchiha Sasuke tinha o sonho de se tornar um ninja de primeira divisão. Gostava de entrar na força policial.

- Isso é verdade?

- Sim. Ele tinha muito orgulho no emblema do clã. No próprio clã.

Baixou o rosto e olhou discretamente para as costas onde já não se via o símbolo. Tinha retirado a camiseta por vergonha. Por ter desprezado o nome Uchiha. Os olhos foram de encontro ao chão e sentiu um mal-estar.

- Ele aprendeu o Katon Goukakyuu no Jutsu mais ou menos com a sua idade.

- Katon Goukakyuu no Jutsu?

- É a técnica básica dos Uchiha.

Abriu a boca para falar, mas, fechou-a de seguida. Não tinha o direito de pedir nada aquele estranho. Não o conhecia, e além do mais, não lhe parecia que estivesse disponível, e além de que, podia acha-lo um aproveitador. E porque haveria de pedir? Queria livrar-se daquele nome.

- Nunca ninguém lhe ensinou?

- O meu pai já morreu. – levantou os olhos. – Sou o único sobrevivente do clã. Neste momento estou a tentar deixar de ser um Uchiha.

- E não gostava de aprender esta técnica?

Olhou desconfiado para o homem. Porque é que ele se estava a preocupar em ensinar-lhe alguma coisa? Será que ele teria sido algum amigo íntimo da família do pai? Devia confiar nele?

- Siga-me.

 Ao ver a sua postura de costas, notou a força e a severidade, a preocupação e a bondade que só um pai é capaz de deixar transparecer. Nunca antes tinha sentido algo semelhante. Deixou-se guiar pelo instinto.

*

Acabou de descer os degraus e estavam em cima de uma ponte. Aquele lugar era-lhe extraordinariamente conhecido. As águas ondulavam calmamente no calar da noite enquanto na água, a lua via-se espelhada.

O homem repentinamente fez os sinais com as mãos.

- Katon Goukakyuu no Jutsu.

Uma grande bola de fogo expandia-se pelo lago. O ar quente invadiu o ar frio da noite, levando ao pequeno Sasuke arregalar os olhos, espantando, perante aquele jutsu.

- É, é fenomenal.

- Viu os sinais que fiz com as mãos?

Ele reparara, mas abanou a cabeça, só para ver uma vez mais, aquele jutsu que para ele, fora absolutamente impressionante. O homem fez os sinais expelindo fogo. As chamas que brilhavam.

- Decorou os selos?

Acebou com a cabeça. Cobra. Tigre. Macaco. Javali. Cavalo. Tigre.

- Encha os pulmões com ar e chakra e depois sopre pelos dedos como eu fiz.

Aproximou-se de onde ele estava. Conseguia. Era capaz. Fechou os olhos, e depois, abriu-os. Fez os sinais com as mãos, encheu o peito, e sem esperar, uma grande bola de fogo expeliu pelo ar. Os seus olhos brilharam de contentamento.

- Consegui!

- Você é mesmo um Uchiha. O seu pai demorou um pouco mais a aprender.

- Como é que sabe?

- O elemento fogo é o que faz diferenciar dos outros. É uma característica dos Uchiha. O símbolo do nosso clã, que é um leque, significa aquele que controla o fogo.

- Como conheceu o meu pai assim, tão bem? Como sabe estas coisas todas?! Diga-me, por favor.

- Eu não fui o melhor p… - calou-se. – Eu não mereci o Sasuke nem o Itachi. A minha própria esposa. Fui demasiado duro e esqueci-me de que também não devia perder a ternura. – pousou ambas as mãos sobre os ombros da criança. - O seu pai era empenhado e forte. Não duvide. Lute pelos seus sonhos, assim, como ele um dia lutou pelos seus.

Continua…