Eu estava deitada na cama, num ânimo cru, apenas pensando no que havia acontecido nos últimos tempos.

Já não sentia tanta culpa e dor pelo aborto que provoquei como as pessoas queriam que sentisse o resto da vida. Não me sentia uma assassina. Claro que me sinto triste às vezes, pensando em como seria...  Meu bebê teria nascido entre junho e julho, estaria com três meses. E eu? O que teria mudado em mim? O corpo, meu dinheiro traria. Babás para cuidar dele enquanto eu atormentava a vida de Davey, e teria. Essa criança não mudaria nada em mim, eu não poderia trazê-la à vida para sofrer. Foi uma das melhores coisas que eu fiz.

Quanto ter fugido, nunca vou me arrepender nem me sentir triste por isso. Foi único e maravilhoso! Eu me sentia realmente livre, feliz e útil, desenvolvi habilidades que não sabia que tinha. Aprendi a ser independente, amar o próximo e raças a isso escolhi minha profissão.

Antes eu não tinha muitas perspectivas, aliás nem sabia o que significava tê-las. Eu não sabia amar, não sabia esperar, não sabia aceitar, não sabia respeitar. Não passava de uma fútil malcriada e mimada... e não sei como meu pai aind sentia orgulho de que eu fosse sua filha! Um homem tão bom quanto ele merece quem me tornei agora.

Josh estava certo, eu devia explicações para Davey e deveria abrir mão do orgulho besta que me aprisionou por tanto tempo para procurá-lo. Eu não poderia seguir em frente enquanto não resolvesse isso. Estava decidida a procurá-lo, num lugar que ele não pudesse fugir.

O seu casaco já estava na lavanderia, desde a hora que cheguei em casa, levaria para ele no dia seguinte mesmo. Minha agonia estava crescente, tinha que acabar com tudo aquilo.

Perdida nos meus pensamentos, papai me trouxe à realidade.

- Vim te desejar boa noite, filha.

- Boa noite, papai.

- Você me parece tão longe...

- Eu tomei duas decisões. Você quer saber quais?

- Claro que sim.

- Eu vou falar com Davey, amanhã mesmo... e decidi o que quero fazer da minha vida. Talvez não agrade seus ouvidos, mas é o que eu quero e não vou mudar.

- E o que você quer, filha?

- Eu quero ser professora, do ensino público... Não sei em que lugar, mas sei que quero ser.

- Vá e seja a melhor professora que o mundo já teve, Michelle.

Ele me abraçou e finalmente dormi, o dia seria longo e eu teria muito o que fazer.

...................................................................................................

DAVEY'S POV

....................................................................................................

- Eu acho que você deveria escutar o que ela tem a dizer. - Jeff insistia nessa ideia o dia inteiro.

- Não.

- Davey, qual é? Você envergonhou a menina na frente de todos... isso não é do seu tipo. A expôs pra todo mundo... ela é só uma menina e eu realmente acredito que ela aprendeu alguma coisa diferente.

- Ela quer me manipular.

- Davey, ela passou quase um ano em outro país. Por que pensa que ela não pode estar com outro e só quer explicar os motivos dela? O que te faz único na vida dela a ponto de pensar que ela quer te manipular e tê-lo de volta? E se realmente quiser te manipular... você está com medo?

- Medo, eu? Ela é uma pirralha!

- Então deixe-a falar, é o mínimo que pode fazer.

- Está bem, Jeff... tudo bem...

- E eu acho que vocês ficarão juntos novamente... - Jeff disse, com um sorriso apertado e nervoso, trêmulo, olhos molhados.

- Pare de besteira.

- Eu ouço Davey... ouço você chamando o nome dela todas as noites, o sorriso nos seus lábios... Eu me arrependo de não ter te incentivado a procurá-la antes... Nunca quis perder você.

- Jeff, ela foi a última mulher que amei, mas não dá mais, não seremos felizes se voltarmos. Digo... eu não sei... não sei se ela mudou...

- Você mudou. Ela também pode ter mudado.

- Não quero mais falar nisso, só quero ficar aqui, abraçado à você e esquecer tudo isso. Pode ser?

- Acho que sim.

   Levantei bem cedo no dia seguinte, precisava respirar um pouco, assimilar as coisas.

Peguei o carro, acelerei ao máximo numa estrada vázia às 5:00 da manhã, precisava sentir aquela adrenalina.