Passaram-se alguns minutos e eu havia perdido o homem de vista, mas no auge de minha distração surge papai à minha frente acompanhado dele e outros três homens.
         Sobressaltei um pouco pelo supetão da abordagem de meu pai e todos soltaram um risinho. Eu não posso ver uma vergonha que já quero passar.

 – Filha, estes são os rapazes da banda que estamos produzindo e promovendo: Hunter Burgan, Adam Carson, Jade Puget e Davey Havok. Rapazes, quero que conheçam a razão da minha vida, minha filha Michelle.

E então um a um apertou minha mão, cumprimentando-me, e eu soube o nome do meu pretendido: Davey Havok. Ele foi o último a falar comigo, tomou minha mão, inclinou-se um pouco e beijou-a, agora olhando em meus olhos fixamente. Meu corpo gelou enquanto um calafrio me dominava, não consegui evitar meus pelos de se arrepiarem e com certeza ele notou... Meu flerte já começou mal sucedido.

Eu não podia deixá-lo sair dali, então decidi começar um assunto e tentar minha investida.

—Vocês são bons, farão sucesso logo.

— Sucesso nós já fazemos, queremos fazer "qualidade", por isso estamos sempre testando novos estilos. Espero que agrade nossos fãs.

— Percebi, eu ouvi as músicas anteriores. – Menti. – Estou certa de que eles aprovarão a nova empreitada.

— Que você seja uma boa vidente! – Abriu seu sorriso alinhado. -  Preciso falar com outras pessoas, se importa se eu deixá-la?

— Imagine, me desculpe você por prendê-lo aqui estes minutos.

Ele sorriu e me deixou, não era o que eu queria, mas o que eu poderia fazer? Estas festas acontecem para promover boas relações e manter o networking destas bandas, sei como funciona. Cada aperto de mão pode ser um contrato novo a se fechar, uma parceria diferente, outras oportunidades.

Nunca fui a uma festa deles antes, nunca ouvi música alguma e eu nem sabia o nome da banda até entrar na festa. Era assim em todas, nunca fazia questão conhecer o trabalho das bandas que meu pai produzia, eu ia às festas e parava por aí.

Enquanto matutava em como ter a atenção de Davey pra mim, avistei alguém alto, com cabelos rosas... Era um travesti cheio de classe e ousadia. Rosa demais. Rosa mesmo. Tudo o que ela usava era rosa.

Um bom tempo depois descobri ser Jeffrey Star, que ao chegar correu para Davey e estes não se desgrudaram até o fim da festa.

 Me senti incomodada porque não fui notada, trocada pela personificação da cor rosa e estava desejando um cara que poderia ter idade pra ser meu pai... Tudo isso em menos de uma hora de festa!
         Mas eu ainda não desistiria dele, não estava dando a mínima se ele mantinha relações com alguém do mesmo sexo. Paixão é paixão.

Eu tentei conversar e fazer algumas amizades, mas infelizmente não tinham muitas pessoas que eu me sentisse confortável para me relacionar. Inclusive meu pai, me deixou largada por lá e eu fiquei reparando em tudo e em todos, porque foi o que restou.

Nunca percebi que aquele espaço era grande, estava decorado o mínimo possível e a iluminação era o que se destacava e estava de acordo com as cores da capa do álbum. Haviam muitas poltronas confortáveis espalhadas no ambiente, garçons passando com taças para lá e para cá. Estava morrendo de tédio ali e comecei a considerar de beber o que estavam servindo para ver mais interesse e graça ali.
         Já no fim da noite, a banda fez uma prévia do CD, tocando duas músicas que seriam os singles a serem lançados nas próximas semanas, a primeira era “The Beautiful Thieves”, os ladrões bonitos... Davey ladrão, você sem dúvidas havia roubado meu coração.