Depois daquela noite, eu queria descobrir quem era Davey Havok, o que ele fazia, onde eu o encontraria e o que eu poderia fazer para encontrá-lo, afinal já haviam se passado cinco dias após a festa e não escutei meu pai mencionar algo sobre eles, pois nunca quis saber de seu trabalho. Agora era diferente, eu queria saber!

Resolvi ir ao estúdio de ensaios da produtora, caprichei em minha arrumação com a esperança de encontrar a AFI ensaiando. Coloquei meu vestido azul acinturado e curto,cuja cor combina com meus olhos, uma maquiagem leve porque era de manhã e meus cabelos longos e louros escuro esvoaçavam com a brisa... qualquer homem faria o que pudesse para estar comigo!

Meu pai se espantou muito ao me ver entrar, ainda mais de manhã, em plenas férias de verão, que eu não tinha hora para acordar.

- O que faz aqui a essa hora, princesa?

- Vim conhecer melhor o que é meu, papai! O que foi, vai reclamar agora? Eu nunca venho por vontade própria, agora que decidi...

- Calma, filha! Não estou reclamando, só estou muito surpreso e acho ótimo que tenha vindo... aliás, sabe aquela banda da festa da semana passada que você diz ter gostado?

- Sei...

- Amanhã eles virão ensaiar aqui, mas não sei se vai conseguir acordar às 9:00 da manhã pra estar aqui às 10:00.

- Eles estarão aqui a essa hora é? Hum... -falei com desdém, dissimulando minha euforia e interesse... eu queria muito ter a chance de encontrar o Davey, olhar seus olhos escuros e expressivos... eu queria ELE por inteiro.

Pedi para que papai me arranjasse o que fazer, pois precisava de um motivo para estar ali, que não fosse meu interesse pelo Davey.

Eu não sabia fazer muita coisa, além de sites de relacionamento, pesquisas e editor de textos para fazer meus trabalhos escolares, não entendia bolhas de computador. Minha "ignorância musical"  não me permitiria falar com os empresários ou músicos. Sobrou então a área de fotografia do estúdio!

Eu não entendia porquê uma produtora precisava de um estúdio fotográfico, agora sei que realmente não é tão necessária, mas é muito mais prático para os músicos, que não precisam deslocar-se todo o tempo para as fotos de álbuns e divulgações serem feitas.

Havia uma maquiadora, uma consultora de moda e três fotógrafos, pessoas maravilhosas! Louis, a maquiadora era tão engraçada, linda e fazia as maquiagens com muita perfeição; Perry era séria, concentrada bastante educada e muito sofisticada; George era um profissional exigente, não perdia o foco; Greg era danado, adorava dar em cima das mulheres que apareciam por lá; Harry, ah... o Harry! Ele se tornou meu melhor amigo!

Sua vida foi tão difícil na escola: sua mãe havia falecido quando ele tinha 16 anos, pouco depois assumiu sua homossexualidade, sofrendo muito bullying porque além de negro, era gay e foi condenado por seu pai. Largou os estudos para trabalhar como entregador de pizzas, saiu então da Califórnia para tentar a vida em Nova Iorque. Finalmente, aos 27 anos, ele finalizou a faculdade de fotografia e é muito bem sucedido, mas não sabe de sua família.

Amei o Harry só de olhar para ele, que pessoa maravilhosa, apesar de tudo o que passou era alegre, educado... Meu pai apreciava tanto nossa amizade!

A partir daquele dia, eu realmente tinha um motivo pra ir a produtora, descobri o quanto gostava de auxiliar aquelas cinco pessoas, sem fugir dos meus gostos: MODA!

Foram fotografadas a cantora Pink e a banda The Used, eu então sonhava com o dia em que o AFI entrasse naquele estúdio e que o Davey ficasse sem camisa nas fotos!

- Ô Loira gostosa, acorda desse sonho aí e vem me dar uma ajudinha aqui! - O Harry me chamava à realidade!

- O que você quer de mim?

- Minha unha quebrou, dá uma lichadinha! Estou brincando, a filha do chefe nunca vai lichar minhas unhas, eu quero que você pegue aquela lente, por favor, esta é para outro foco, como o traseiro do George, por exemplo!

- Assim minha mulher fica com ciúme, Harry! - Respondia George sempre que Harry se referia ao seu traseiro!

- Não fica não, você "'pega" ela de jeito que eu "pego" você, sua delícia! Vem cá, vem!

- Estou começando a pensar que vocês realmente têm um caso! - brincava o Greg.

E assim seguiu o dia, muito divertido, mesmo em ambiente profissional.

Eu e papai voltamos da produtora conversando sobre tudo o que presenciamos, rindo, entusiasmados de uma maneira que nunca fizemos antes.

- Eu te amo tanto minha filha, estou tão feliz que tenha ido até a produtora... Eu amo o que faço, amo mais porque um dia aquilo tudo será seu.

- Me perdoe por não ter reconhecido isso antes papai, quero estar lá sempre a partir de hoje, quero ser uma filha melhor pra você...

- Você tem seu gênio difícil, mas pra mim, não haveria filha melhor que você, Michelle.

Deixei, pela primeira vez, que meu pai me envolvesse num abraço que não havia deixado antes e não conseguia, muito menos queria impedir as lágrimas que rolavam nossos rostos naquele momento de amor entre um pai e uma filha.