Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Makenna, você é terrível mocinha! Labi e iMitchie, fiquei tão feliz por dizerem que estão gostando tanto, obrigado por tudo garotas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/165430/chapter/9

 Caminhei relutante até o ônibus. Era uma tortura já ter de encontrar algumas poucas pessoas da minha escola no ônibus, as poucas que tenho certeza também já sabem do acontecido. Hoje o dia amanheceu cinza, mais do que nos outros. Está fazendo um frio cortante, apesar de não ventar, ou chover. Subi as escadas com as mãos suando e com o rosto já corado de frio, e agora certamente mais corada de vergonha. Sente na última cadeira em uma tentativa de me livrar dos olhares que recaíam sobre mim.

 Os poucos minutos que leva para chegar até a escola hoje pareceram ser milésimos de tão rápido que se passaram. Fiquei quieta em meu lugar até que todos tivessem descido, ajeitei meu casaco numa tentativa em vão de distrair-me, suspirei então, e caminhei para o lugar que menos desejava estar. Assim que desci o último degrau os olhares dirigiram-se à mim, juntamente com as risadinhas e os olhares de desdém por todos os lados, senti meu rosto ardente, e soube neste exato momento que ele deveria estar roxo, não mais rosa. Segui de cabeça baixa até a sala, onde Callie estava sentada ao lado de Daphne e suas escudeiras, que arregalaram os olhos, excitadas e a cutucaram mostrando que eu havia chegado.

Ela lhes enviou um olhar de reprovação até seguir os olhos até mim e ver o real motivo para terem-na tirado de sua conversa \"importante\" com Daphne. Até então fui até minha cadeira e me joguei desleixadamente já esperando pelo que viria.

 - Ah, olá Meester. - Ela enfatizou meu sobrenome como se sentisse nojo. A olhei com desprezo, mas continuei calada. - Gostou do meu presente? - Levei um momento até capitar a mensagem, não sei porque, mas me surpreendi ao saber que ela havia feito aquela montagem. Enviei-lhe um olhar reprovador e balancei a cabeça.

 - Você é desprezível! - Disse e virei-me para frente, onde para a minha sorte a professora já havia entrado e pedido para que todos se sentassem e prestassem atenção na aula, com matéria de prova.

 Fiquei feliz por hoje termos aula de francês. A professora é muito divertida, consegue me arrancar sorrisos até mesmo na situação em que me encontro. Ela explica a matéria de uma forma descontraída, trazendo em praticamente todas as aulas uma música nova para ouvirmos e estudarmos em cima dela. Hoje a música se chama \'Ja pense à toi\'. É uma música muito bonita, e que não ajudou muito na minha situação, tive de ser muito forte para conter as lágrimas que gritava para sair por meus olhos. Controlei-me, tentando não pensar em tudo que estava acontecendo, e só naquele simples pedaço de papel com letras digitadas em francês, e uma simples voz doce cantando-a em uma linda melodia. Só. Isso.

 Depois da aula dupla de francês tivemos aula única de biologia, e depois outra aula dupla de matemática. O professor fez demasiados elogios à turma, disse que  havia se surpreendido com nossa nota tão alta. Fiquei bem com aquela afirmação, era bom saber que havia me saído bem na única coisa em que eu conseguia me esforçar. Os estudos.

 Hoje as provas estão sendo entregues novamente pela Marina, que me envia olhares raivosos toda vez que olho para frente. Já terminei a prova de espanhol, que estava muito fácil, tinha as respostas na \'ponta da língua\'. A mais difícil foi a de francês, pois só conseguia me lembrar da música e dos meus problemas quase estampados na letra dela. A de inglês está extremamente fácil, já estou terminando a última questão. Olho no relógio, e vejo que já são meio dia e cinquenta, nunca havia demorado tanto com uma prova. Levantei-me e segui meu rotineiro caminho sem nem ao menos olhar para Marina.

 Fui seguidas pelos mesmos olhares da entrada, e corei do mesmo modo. Eu odiava ter a pele tão alva e reveladora. Caminhei distraidamente, atravessava a faixa de pedestre quando vi um casal no banco de trás de um carro. Um casal bonito, e aparentemente feliz, pois sorriam muito. Uma bela garota loira e um belo garoto moreno, ambos alto, sorrisos perfeitos, e ambos usavam o uniforme do Madre Tereza. Engoli seco a terminei de atravessar a faixa, decidida. Nem sei como cheguei ao outro lado, pois me senti totalmente fraca depois daquela visão. Só não conseguia entender o \'porquê\'. O Bernardo é só meu amigo. E a Belinda... Bem, também é minha amiga, digamos assim. Ela me faz sentir bem, tão motivada como estava ontem.

 Tropecei em uma pedra e caí de joelhos no chão, tendo vontade de continuar. Levantei e  continuei andando para casa. Cheguei depois de mais tempo do que imaginei ser capaz. Entrei tentando não chamar atenção, mas mamãe estava na sala e me viu logo que entrei. Ela me enviou um olhar bondoso, que não retribuí, e segui para o quarto. Eu não queria tratá-la assim. Apesar de sempre achar que ela mima a Marina e tudo o mais, eu a amo mais que tudo nesse mundo, mas depois do que a Marina disse é tão difícil. Deitei com meus livros estudando para o último dia de prova. Depois teria apenas mais um dia de aula, e eu estaria livre de uma vez por todas daquela escola. Bom, ao menos por dois meses. E então me lembrei do maldito acampamento de férias. Eu devia dizer de uma vez que não ia participar, porque só teria pessoas ricas e mimadas que me odeiam e fariam de tudo para me humilhar dias e noites. Mas a mamãe estava tão empolgada quando me contou tudo, não posso simplesmente desmarcar e deixá-la triste. Concentrei-me no que havia no livro. Meu estômago roncou quando senti um cheiro bom de comida. Recolhi os livros, satisfeita com os estudos por hoje, e fui até a cozinha. Mamãe está despejando molho em uma tigela cheia de macarrão, e uma carne em outra vasilha ao lado, muito bonita. Franzi o cenho.

 - Mamãe? - Ela ergueu o olhar para mim e sorriu. - A senhora fez isso? - Apontei para o jantar na mesa. Ela expandiu se sorriso presunçoso.

 - Sim! Ao contrário do que eu pensava, macarrão é muito fácil de cozinhar, então resolvi fazer hoje. - Pelo visto ela havia aprendido a cozinhar macarrão hoje. Sentei-me de frente a ela enquanto ela lava as mãos e voltava para se sentar e me acompanhar. - Cadê a Marina? - Respirei fundo.

 - Não sei mamãe. - Disse simplesmente e dei a primeira abocanhada na minha macarronada. Assim que entrou meu estômago a pediu que saísse.

 A comida estava totalmente sem sal. Fingi ter gostado e mastiguei tudo com esforço, em uma tentativa desenfreada de não colocar tudo pra fora. Mamãe mastigou tudo normalmente e ainda por cima sorrindo, ela não deveria ter senso de \'sal\' porque para ela parecia estar com um ótimo tempero. Depois de muita dificuldade, consegui comer tudo que havia colocado em meu prato. Tomei o suco, que por sorte não foi feito por mamãe, lhe enviei um sorriso meio forçado e voltei para o quarto. Peguei meu moletom e fui tomar banho. Olhei no espelho, o ferimento em meu rosto estava com \'casca\'. Os ferimentos em meu pulso pareciam \'berrar\' estavam muito vermelhos, como se estivessem sangrando, mas não estavam. Os ignorei tomando um banho calmo e longo. Vesti meu moletom e deitei, logo dormindo. 

 Acordei meio zonza e olhei assustada para a janela, e logo depois para a cama de Marina. Pela janela, vi algo já muito conhecido, mas inesperado no momento. Havia neve. Já estava nevando, e quando meu olhar recaiu sobre a cama da Marina, me assustei, pois ela não estava lá, olhei mais uma vez o relógio, ela não teria acordado tão cedo, e muito menos arrumado a cama. Levantei apressada, tremendo de frio. Hoje devido à inesperada visita, eu teria de me esquentar mais. Fui até o armário e peguei meu uniforme de inverno. Ele é composto por uma meia calça muito grosso, que é praticamente uma calça, e que é muito quentinha, devido ao tecido que utilizaram, o qual ao sei o nome; Uma blusa branca social, como a que uso diariamente, só que contendo mangas; um suéter, também muito quente, e a trench coach. Vesti tudo bem rápido. Já me sentindo aquecida até demais, fui tomar café. Devido ao frio, a mamãe ainda estava deitada, e tive de me virar, peguei o cereal no armário e o leite na geladeira. Seria ótimo tomar um chocolate quente, mas não sei fazer, muito menos a mamãe. Comi meu cereal, peguei minha mochila e segui para a escola.

 Entrei na sala já cansada de tantos olhares, e fui recebida por mais, e fiquei surpresa ao ver que Callie e as venenosas não estavam na sala. Sentei já pegando meus livros e começando a estudar novamente. A manhã passou como um flash para a minha sorte, quando vi já tinha estudado, já tinha feito as provas e já estava caminhando para casa. A neve caía no meu cabelo e na ponta do meu nariz, me causando arrepios.

 Antigamente eu amava o inverno, adorava quando nevava, me divertia à beça. Esquiava, fazia ‘anjinho’ com minhas ‘amigas’, mas agora tudo o que penso é que ela é fria e causa solidão e carência. Caminhei o mais rápido possível.

 - Mamãe? – Chamei, mas não ouvi resposta alguma. Fui até a geladeira esperando um bilhete e encontrei.

 Fui para a aula de culinária, e hoje sairei mais tarde, chegarei mais ou menos 16:00/17:00hrs. Amo vocês, mamãe.

 Suspirei e me joguei no sofá. Hoje eu definitivamente não tinha nada para fazer. Fiquei enrolando uma mecha de meu cabelo. Fiquei lembrando da minha infância, o quanto eu era feliz, o quanto me sentia sempre bem, e o quanto mamãe e papai sempre me davam assistência. E então me veio a brilhante idéia de assistir nossos vídeos caseiros. Corri até o quarto deles, que estava organizado e tinha o doce perfume da mamãe. Abri o armário em busca dos vídeos, que depois de muita procura encontrei. É uma caixa preta grande com muitos Cd’s; Passei os olhos por todas as datas, e coloquei um de 1999, quando eu tinha dois anos e Marina, treze.

 Será que eu deveria assistir? Foi uma época e que Marina estava na minha idade, praticamente, ela deveria ser tão linda e popular. Faria bem ver o quanto ela se saiu bem na adolescência na qual só sou humilhada? Faria bem para eu ver o quanto ela orgulhava papai e mamãe por ser linda, talentosa e amada por todos? Travei uma batalha interna, ainda olhando para o cd. Decidi colocar, e ver de vez como Marina era com minha idade, para ver de vez como ela conquistava todos com aqueles olhos azuis, e me deixava invisível em meio a tanto brilho que expandia sobre ela. Mas, pensando bem... Será que Marina sempre foi tão linda e elegante? 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Espero que sim.