Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco mais com esse devido a alguns problemas na minha internet, mas enfim, foi só um dia, aqui está o capítulo oito, e a quase revelação sobre o 'mistério da loira', ok iMitchie? Espero que gostem queridas.



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Cheguei e parei na porta quando ouvi a voz da Marina ecoando pela casa.

 -...Tinha uma foto mãe, de um corpo que com certeza não é dela, óbvio que não, a garota mal chegou na puberdade, não tem nada de corpo. Fez tudo aquilo pra chamar atenção, mamãe, e conseguiu, porque o colégio todo está comentando, a senhora deveria dar um jeito nessa garota, que coisa mais ridícula...

- Chega Marina! – Gritei abrindo a porta. Como ela pôde pensar que eu havia feito aquilo? – Você acha que eu colocaria uma foto daquela? Você acha que eu humilharia a mim mesma? – Marina se virou para mim assustada com minha chegada repentina e minha gritaria.

 - Você é louca para chamar atenção Melina! – ela retrucou.

 - Ah, me poupe Marina, eu? Querendo chamar atenção? Deve estar me confundindo com você! – Ela se aproximou mais.

 - Você nunca vai parecer comigo Melina. Pode até tentar, mas nunca vai ter a minha beleza, a minha esperteza, nunca vai parecer comigo, NUNCA! – Ela cuspiu as palavras em mim. Olhei para a mamãe buscando ajuda e ela só me enviou um olhar assustado e preocupado.

 - O que você acha mamãe? Acha que eu fiz o que a Marina disse? – As palavras saíram quase inaudíveis, engasgadas. Ela continuou parada olhando ora para mim ora para Marina.

 - Mel... Melina eu... Não sei, estou confusa! – Aquela foi à deixa. Caminhei bruscamente para o meu quarto com um aperto no peito e um nó na garganta.

 Tranquei a porta, ignorando se a Marina também fosse dona do quarto, eu queria ficar sozinha, longe dela e principalmente da mamãe. Como ela pôde pensar que eu havia feito aquilo, como? Será que ela não conhece a filha que tem? Criou-me durante catorze anos e ainda é capaz de pensar que eu colocaria uma montagem, uma coisa ridícula daquela para que toda a escola visse. As lágrimas desciam como cascatas. Porque tudo tinha que ser tão ruim comigo? Porque eu tinha que nascer tão repugnante, em uma família que não me aceita, que venera uma irmã perfeita que só me despreza; porque eu tinha de estudar em uma escola onde as pessoas veneram a aparência e o valor monetário? Porque meu Deus? Só queria saber o ‘porque’. Abri a janela e deixei o vento banhar meu rosto. Era incrível como apenas palavras me traziam tanto sofrimento.

 - Abre essa porta Melina! E seja rápida que não estou...

 - Eu não vou abrir! Conhece algo chamado privacidade? – Gritei.

 - O quarto não é só seu sua ridícula, EU ESTOU FALANDO, ABRE ESSA PORTA MELINA! – Deitei-me e cobri a cabeça com o travesseiro.

 - Deixe-a quieta Marina, vem cá, vem conversar comigo... – Ouvi a voz tranqüila da mamãe.

 - Ah, não vou mesmo, ela ta achando que é dona do quarto? – A mamãe disse algo que não ouvi, e a Marina continuou a retrucá-la, mas estava menos audível, ela não estava mais na porta do quarto, voltara para a sala.

Chorei contra o travesseiro, na tentativa de tornar meu choro mais silencioso do que já estava. Minha vontade no momento era cortar meus pulsos novamente e estancar a dor, mas se eu fizesse isso seria descoberta, e eu não poderia, seria proibida de fazer o que me ajudava a aliviar minha angústia, dor e humilhação. Tentei conter as lágrimas, mas não consegui, de início. Depois de uma quase horas, contive minhas lágrimas e tomei um banho quente, voltei para o quarto, onde Marina já estava esparramada na cama e vesti uma calça jeans, uma blusa regata, e uma blusa de moletom. Calcei meu tênis, peguei minha mochila e segui em direção a cozinha, onde mamãe estava sentada à mesa.  

 - Estou indo para a praça, lá consigo estudar melhor. – Ela acenou com um olhar enigmático e eu segui meu caminho.

 Olhei para o relógio em meu pulso, eram três horas, eu não tinha almoçado, e meu estômago ainda não havia protestado. Andei com passos curtos e desleixados, não poderia estar menos desanimada. Depois do que para mim pareceram anos, cheguei à praça, e segui para o mesmo banco onde algumas horas atrás, estive chorando ao lado de Bernardo. Abri a mochila balançando a cabeça para retirar aquelas lembranças, consultei meu horário, amanhã teria prova de inglês, francês e espanhol. Sempre fui boa com línguas estrangeiras, sejam quais fossem. Abri o grosso livro que reunia as três matérias e me pus a ler.

 O meu dom de concentração ainda me trará problemas, quando começo a ler, simplesmente esqueço o mundo à minha volta; agora que tinha erguido o olhar e visto que já escurecera, olhei no relógio, já eram 18:50. Guardei todo meu material, mas ainda não sentia vontade de ir para casa, então me recostei no banco e fiquei admirando as poucas crianças que restaram, brincar no parquinho. Dei uma olhada 360º e vi uma garota loira e alta sentada em um banco perto de um carrinho de sorvete, não muito longe de mim, com um sorvete na mão. Agora pude realmente olhá-la. Ela tinha a pele clara e um tom rosado nas bochechas, que não pude dizer se era natural ou maquiagem, ela tinha cílios longos, e olhos de um tom muito castanho, como eu tinha reparado, o cabelo era muito liso, mas não longo, batia um pouco abaixo dos ombros. Fui pega de surpresa quando ela bateu o olhar em mim, virei o rosto rapidamente, talvez rápido demais, e tive a certeza de que estava tão vermelha quanto uma pimenta. Concentrei meu olhar no lago, e no suave vento que estava no momento, quando alguém sentou ao meu lado, e eu me engasguei ao ver que era a garota.

 - Oi! – Ela disse empolgada e com um grande sorriso, ela tinha dentes brancos e certos. E vi um tipo de sinceridade no olhar dela. Pigarreei, tentando não gaguejar ou algo do tipo.

 - Oi. – Sorri desajeitada, e fiquei mais vermelha ainda, pois ela sorriu com meu modo de agir.

 - Eu sou Belinda. – Ela esticou a mão e eu apertei. – Sei que é meio óbvio que as pessoas me chamariam de Bel, ou Bebel, como alguns retardados dizem, ah, desculpe a palavra – ela disse quando ergui as sobrancelhas. – É que, realmente gosto do meu nome, e não gosto deste apelido, parece alguém gripado dizendo “Mel”. – Sorri com aquilo. – Que foi? – Ela disse também sorrindo.

 - É que... Eu me chamo Mel, bem, me chamam de Mel, mas meu nome é Melina. – Ela sorriu e ergueu as sobrancelhas.

 - Poxa, que máximo! – Ela abocanhou o resto da casquinha de sorvete que restava. – Oh, desculpe! Nem te ofereci, você quer sorvete, se quiser compro um pra você...

 - Que isso, não precisa, obrigado. – Corei novamente, se isso era possível.

 - Cara! Amei seu cabelo! – Ela soltou do nada. E agora que eu havia percebido que não tinha prendido meu cabelo, ele estava solto. Sorri sem graça.

 - Sabe... Eu gosto do meu cabelo loiro, mas eu sou muito gamada em cabelos escuros, e o seu é pretíssimo. Já pintou? – Olhei para ela meio desentendida.

 - Ãn? Ah, não, não. Ele sempre foi bem preto. – Ela acenou com a cabeça.

 - Melina... Ai meu Deus! Espera, você não é a... MELINA MEESTER! – Tive vontade de enfiar a cabeça no chão, mas fiquei paralisada, e concordei. – Ah, desculpe minha empolgação, é que... Nossa! Você é tipo... A adolescente ícone da cidade. – Balancei a cabeça.

 - Se fosse certo, seria ‘era’ mas nem assim estaria certo, nunca fui ícone nenhum Belinda! – Ela fez um cara de desdém.

 - Não precisa ser humilde, você saiu em várias revistas “A filha do ‘dono da cidade’, a charmosa Melina” – Ela disse como se anunciasse um jogo de futebol. – Sério, lá em casa tem bem umas dez revistas com você e sua família perfeita na capa.

 - Então deve saber...

 - Que vocês perderam toda a grana? Sim, sei. Isso foi algo meio trágico, não? Mas, de que importa? Quer dizer, você não tem mais as mordomias que tinha né? Mas agora está aprendendo a viver de verdade, acredito. – As palavras dela fizeram total sentido. Quando perdi o dinheiro, me livrei de pessoas que fingiam ser amiga. Sorri para a garota, que até então eu desconhecia, ela parecia ser muito inteligente.

 - Desculpe a pergunta, mas... Quantos anos você tem? – Ela sorriu novamente.

 - Tenho catorze. E você? – Sorri.

 - Catorze recém completados. Então, para saber tanto sobre minha família, você é daqui de Carmo, certo? – Ela concordou.

 - Desde que nasci, está vendo meu cabelo loiríssimo? Ascendência. Meus avós são alemães, mas não tive a sorte de ter os olhos azuis. – Ela olhou para mim. – Já você teve. Não tem ascendência alemã né? Senão acredito que seria loira.

 - Não... Eu poderia ter ascendência e ser morena. – Ela concordou – Mas ainda assim, não tenho nenhuma ascendência alemã. Tenho alguma mexicana e irlandesa, algo do tipo... – Ela concordou.

 - Eu estudo na Madre Tereza, não muito longe daqui, e você? – Fiquei séria. Era o mesmo colégio do Bernardo.

 - Eu estudo na Carnegie...

 - Mellon! – Ela completou eufórica. – Você vai completar o segundo grau lá? Bom, porque ano que vem estou de partida para lá! – Era incrível como tudo batia. Ela estudava na mesma escola que o Bernardo, e também irá para a Carnegie ano que vem. Tudo se encaixa.

 - Sim... Eu vou completar o segundo grau lá. – Ela cruzou as pernas que estavam de meia-calça preta e uma saia, também preta. Usava uma sapatilha, que reconheci como uma melissa, bege.

 - Que ótimo! Quem sabe não estudaremos juntas? Seria fantástico! Ah, que mundo pequeno esse, eu estudando com Melina Meester! – Ela bateu palmas com felicidade, e foi impossível não ser contagiada pela sua euforia.

 - Acho que você não vai gostar muito de estudar comigo Belinda... – Ela deu um peteleco no ar e soltou algo como um “Pfff”.

 - Lá vem você com sua modéstia! A única que pode acabar não gostando é você, porque eu já gostei de você desde a primeira vez que vi sua foto na revista. – Sorri ficando mais vermelha do que já estava, ela estava me tornando um pimentão ambulante. Ela olhou para o celular, um Iphone. – Nossa! Já são oito horas, tenho que ir Melina. – Ela se levantou, deixando a mostra agora, que usava uma blusa também preta, e um trench coach bege. – Foi um prazer te conhecer, quem sabe quando nos encontraremos novamente... – Ela me surpreendeu com um abraço, e dois beijinhos estalados nas bochechas. – Espero que em breve. Até mais. – Ela caminhou elegantemente em direção a uma rua que eu não conhecia.

 Recolhi minhas coisas e parti em direção à minha casa, com o estômago doendo de fome, e a cabeça girando com tudo que tinha acontecido hoje. Essa praça era milagrosa, só poderia ser essa a explicação. Sempre voltava pra casa mais feliz depois de sair dali. Apesar de meu estômago gelar toda vez que eu pensava que Bernardo e Belinda eram namorados, o que eu já tinha total certeza, eu estava feliz de tê-la conhecido, ela era uma pessoa muito boa, e pareceu ser uma boa amiga, concordo com ela, seria realmente bom se estudássemos juntas. Mas ainda assim, não me contive em pensar o quanto ela era semelhante a Bernardo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? digam tudo o que acharam em reviews, não tenham medo, sou feia porém não mordo. Nhac :3



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