Tirania - Illusion Life escrita por KatzStark


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Rio de Janeiro, 27 e 28 de Setembro do ano de 62 da Nova Ordem.



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V-verdade!

Ele deu um passo à frente, ainda não conseguia ver seu rosto completo mas já conseguia ver sua boca, que era aterrorizante, com alguns dentes manchados e amarelados dentro de um sorriso enorme com uma cicatriz que cortava no canto direito de seus lábios.

Levantou dois dedos, o indicador e o médio, abaixando-os subitamente. Nesse exato momento desceram duas sombras mais rápidas do que qualquer coisa que eu já tinha visto, uma agarrou o Leones e a outra já tinha segurado meu braço no momento em que tinha percebido o que havia acontecido.

Senti a adrenalina no meu sangue, consegui puxar o braço e dar uma cotovelada nele, mas, parecia que não tinha surtido efeito nenhum, quando fixei o olhar, ele era gigantesco, devia ter quase dois metros de altura, e incrivelmente musculoso.

Ele estava completamente vestido de preto, com um pequeno emblema no canto do peito esquerdo, consegui definir de relance, era algo como um triângulo invertido e um punho içado no centro dele, com algumas coisas escritas ao redor.

Ouvi a risada do homem que tinha sequestrado o Leones.

- Ele é interessante, será que é um jovem sentinela? – disse, ainda coberto pelas sombras.

- Eu não sou sent... – o homem de preto me amordaçou, e me prendeu pelos braços.

Me pôs preso numa cadeira que tinha puxado, fiquei ao lado de Leones que já estava desmaiado. Não percebi muitas coisas, somente uma movimentação estranha. Meus olhos ficaram pesados, e logo notei que aquela mordaça tinha alguma coisa, não aguentei muito tempo antes de desmaiar, mas antes, consegui perceber que a cicatriz do homem também cortava o seu olho e só acabava depois da sobrancelha.

Um chacoalhar me fez acordar, foi difícil abrir os olhos, não sabia onde estava, era mal arejado, e só possuia um teto solar que estava fechado e por isso conseguia ver que ainda era noite, estava muito escuro, só tinha uma luz que a lâmpada da cabine iluminava entre as grades, e também a luz da lua.

Um parada repentina me fez rolar e me chocar com Leones que ainda parecia estar dormindo. Alguns passos do lado de fora, algumas batidas na lataria e logo as portas foram abertas, entrou um sereno frio da noite e me encolhi para aproveitar melhor o calor do meu corpo. Um dos dois homens que tinham aberto a porta me puxou para fora, quando virei para ver, eu tinha estado num carro apertado, porém, bem moderno.

- Escuta, nós não gostamos de matar criancinhas, mas se vocês não obedecerem... – disse o homem que tinha me puxado e que agora também puxava o Leones.

- O que você vai fazer com a gente aqui? Não tem necessidade cara, deixa a gente livre! – nervoso, tentei ajudar o Leones a leventar.

- Cala a boca!

Foi um soco forte e eu caí de cara no chão, me virei para olhar o que ele iria fazer e vi ele acordando o Leones com um pontapé violento na barriga.

- Os dois calados, ou eu mato vocês de tanto apanhar! Prestem atenção no que eu vou dizer agora – os homens usavam toucas estilo ninja, no qual só aparecia os olhos, mas mesmo assim, os olhos dele davam medo. – Fazemos aqui um acordo, se não cumprirem com as condições, nós saberemos, e vocês morrerão. As condições são essas: Vocês não podem lembrar, pensar, imaginar, e nem falar do que aconteceu esta noite, devem ir para casa, e depois para a escola amanhã, sem que nada tenha acontecido. Se por algum caso algum sentinela interrogar vocês, morram se for preciso, mas não digam nossa localização. E o mais importante, não voltem lá no quartel general por nada!

Aquilo me fez imaginar coisas. Quartel general? Aquele Lep era um quartel general? Por acaso eles teriam um exército? Exército de que? Sentinelas não poderiam ser, pelo contrário, eles parecem ser contra os sentinelas... O que eles são então?

- E se eu não aceitar o acordo? – Leones questionou abusadamente.

O homem que não tinha falado nada tirou uma faca de um suporte que tinha no cinto e fez um gesto, como se estivesse cortando sua garganta, aquilo me fez gelar.

Terminando nossa agradável conversa, eles desamarram nossas mãos e foram embora de carro. Estávamos no meio de uma estrada, num lugar que parecia uma floresta. Como ele falou para irmos para escola, não poderíamos estar longe de casa, com isso imaginei que poderíamos estar na Floresta da Tijuca, uma das únicas áreas verdes remanescentes do mundo. Como já tinha andado muitas vezes por ali, logo reconheci o caminho e saímos dali o mais rápido possível.

A viagem tinha sido silenciosa, nenhum de nós dois ousamos falar qualquer coisa, o único som que ouvimos foram os sons dos grilos na floresta, mas, assim que saímos da floresta Leones parecia determinado.

- Fillipo, qual é a cabine mais próxima de sentinelas? Tenho que denunciar esse sequestro.

- Cara, você ainda tá drogado? Eles vão matar a gente se fizermos isso – queria muito bater nele.

- Mano, até parece que eles vão saber, eles só fizeram isso pra colocar medo na gente.

- Você ouviu eles falando? Aquele Lep era o quartel general deles. Se for pra morrer eu iria querer voltar lá e descobrir o que eles são e quais são as verdades que aquele cara não nos contou.

- Vol-tar?

- É, e você vai vir comigo amanhã de noite.

E novamente o silêncio foi absoluto até a chegada em casa, deixei o Leones em casa e depois fui para a minha, quando cheguei, a alvorada já mostrava suas cores no céu, tomei um banho rápido, e fui tomar o café da manhã morrendo de medo de que alguém da minha família suspeitasse de algo. Nada, consegui ir até a escola em paz.

Na nova era, os colégios - diferente da maioria de sua era – são divididos em Maçom masculino e feminino. Assim poderiam controlar melhor os alunos, sem ter namoros na sala de aula e nem nos corredores.

Quando cheguei lá, o Leones estava na porta conversando com um garoto que tinha entrado no colégio esse ano.

Os pais dele tinham vindo de outro país, e ele tinha sido transferido para nossa escola. Era um garoto aparentemente legal, eu já tinha feito um trabalho com ele em um dos primeiros dias de aula, mas não chegamos a mantêr a amizade, mas tinha alguma coisa nele que me chamava a atenção.

Ele tinha um cabelo meio longo que batia na nuca, todo bagunçado e despenteado, de um castanho bem profundo e olhos da mesma cor.

- Poxa Marcelo, me passa o dever, ontem eu não consegui fazer porque... – Ele percebeu que eu estava chegando e lembrou do acordo. – Ah cara, esquece o porque não consegui fazer, mas me dá ele assim mesmo por favor.

- Pára Leones, to pouco me lixando se você não fez o exercício, vai contar sua histórinha pro professor.

Quando cheguei os dois continuavam brigando, mas pararam quando eu resolvi emprestar o meu exercício ao Leones.

- Como está Marcelo? beleza? – Cumprimentei só por educação.

- O-oi Lipo, com um pouco de dor de barriga mas bem, e você?

Apesar da dor que ele sentia, parecia realmente não se importar, talvez não doesse muito forte, mas mesmo assim, ainda se contorcia às vezes. O tempo passou rápido e o sinal tocou, tivemos aula de educação física e trocamos de roupa no vestiário. Embora o Marcelo sempre esperasse todo mundo terminar para depois se arrumar, ele estava lá na hora das escolhas do time de vôlei. Ficou meu time contra o time do Leones e do Marcelo.

O jogo começou e foi bem disputado, estávamos no tie break (Quando o jogo empata em dois sets à dois, a partida vai ao desempate que é decidido em uma partida de quinze pontos.) e incrivelmente conseguimos marcar um ponto, e assim o ponto do jogo seria decidido agora. Depois de uma grande defesa, o levantador deixou a bola perfeita para mim, e com toda força que poderia colocar na bola eu cortei. A bola bateu no defensor e saiu da quadra, comemorei com meu time feliz e quando fui falar com meus amigos, o Marcelo não estava lá.

- Você acertou a barriga dele tão forte que o fez sangrar – Leones estava revoltado, parecia que ele pensava que eu tinha feito de propósito.

Corri para o Vestiário e chegando lá vi o marcelo tirando a calça para lavar na pia. Quando ele me viu, soltou um grito estridente e fino que parecia uma agulha nos ouvidos.

- De onde está saindo esse sangue? – estava boquiaberto. Aquele sangue não descia de sua barriga, e sim do meio de suas pernas.


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Notas finais do capítulo

Obrigado novamente por lerem até o fim! Críticas, elogios e sugestões é só deixar review.