Tirania - Illusion Life escrita por KatzStark


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Rio de Janeiro, 28 de setembro do ano 62 NWO.



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- De onde está saindo esse sangue? – estava boquiaberto. Aquele sangue não descia de sua barriga, e sim do meio de suas pernas.

- Fillipo! – As bochechas coraram tanto que estavam reluzindo, ainda úmida daquela única gota cristalina que tinha sido derramada.

- Se veste rápido, você me explica melhor depois, vou despistar as pessoas... – Falou saindo do vestiário e parando na porta.

Logo estava cheio de homens querendo saber o que tinha sido aquele “gritinho”. Fillipo deu a desculpa de que tinha falado para o Marcelo colocar álcool em gel para que limpasse a ferida, como ardeu muito, Marcelo tinha gritado de susto, mas agora ele já estava se vestindo.

Marcelo saiu do vestiário e logo percebeu a chuva de olhares que caía sobre ele. Ele respondeu que estava tudo bem e que ele e o Fillipo estavam bem, e ele já tinha se desculpado pela bolada. Enquanto o resto da turma tomava banho para voltar para a próxima aula, Fillipo e Marcelo já estavam chegando na sala. Ainda meio complexo, afinal, qualquer pessoa gostaria de saber logo o que tinha acontecido.

- P-por quê...? – Não sabia como continuar. Eram tantas perguntas na minha mente que eu não sabia o que perguntar primeiro.

- Sim, eu sou uma menina, mas se você falar isso pra qualquer um, eu arranco essa coisa minúscula que você chama de pinto – aquilo não parecia brincadeira, ela estava realmente muito nervosa, era bem perceptível.

- E por que você finge não ser?

- Odeio minha vida, gostaria de viver no mundo de antes, minha avó dizia que éramos mais livres e felizes.

Aquilo me chocou, eu não acreditava no que tinha ouvido. Como alguém poderia gostar do mundo de antes? Meus avós, maternos e paternos, morreram alguns anos depois da guerra, e meus pais não gostavam de me falar muito sobre eles, no máximo diziam que eram loucos porque preferiam o mundo de antes.

Olhei no relógio, faltavam alguns minutos para começar a aula. Já chegavam os que não gostavam muito de banho e por isso, terminavam mais rápido. Era muito arriscado conversar ali, deveríamos procurar algum lugar mais privado.

- Você vai ter que me contar melhor essa história, quer ir na minha casa hoje?

- Eh... Talvez, vai estar tudo bem? Sua família não vai reclamar? – Ela parecia estar tímida.

- Antes da aula começar, pode me dizer seu nome? – Subitamente me deu essa vontade, não sei por que, mas eu fiquei bastante curioso...

- Idiota! – ela corou – É Marcela!

Então a aula começou e eu estava tão preso em meus pensamentos que nem vi o fim dela. Senti o toque de Leones no meu ombro falando para irmos logo, e quando olho para o lado, está o Marcelo arrumando a mochila, se levantou e ficou do meu lado esperando. Me apressei para terminar tudo também. Leones se incomodou um pouco, mas depois aceitou, falei para ele que ia pagar um lanche ao Marcelo como forma de desculpas pela bolada.

Finalmente chegamos na minha casa. Apresentei-o a minha mãe, e logo ela foi para a cozinha, dizendo que iria pôr mais um prato à mesa. Subimos para o meu quarto e ela começou a falar...

Perdeu o pai quando era muito pequena, ele era piloto de avião igual ao seu pai, o avô de Marcela, enquanto o avô morreu durante a grande guerra, o pai morreu em um acidente. Durante muitos anos a mãe dela entrou em depressão e ela ficou sob cuidados da avó. Enquanto falava isso, começou a chorar, ofereci uma caixa de lenços, ela secou-se e continou a falar.

A avó sempre dizia que a vida antes desse novo mundo era melhor. As pessoas tinham liberdade para fazer o que quiserem e a hora que quiserem, quase o mundo todo vivia em uma democracia, inclusive o Brasil.

Claro, havia a segurança, para evitar problemas com os direitos humanos. Qualquer um deveria ter consciência de que matar uma pessoa ou roubar as propriedades dos outros era errado, e quando alguém perdia o controle era preso em presídios, e ficavam lá até o término de seu devido julgamento. Não era uma justiça perfeita, mas era aceitável. Os policiais ajudavam a população e ao contrário dos sentinelas, eles não “davam um fim” nas vítimas.

Também disse que antes as mulheres tinham poder, e não apenas alguns direitos. Inclusive o último presidente do Brasil tinha sido uma mulher, chamada Dilma. E que antes de ser presidenta, já tinha sido rebelde em uma luta contra a ditadura dos militares.

Quando a mãe voltou a se estabilizar da doença, tinha ido morar com ela e a avó. E como Marcela estava na idade de ir para escola, a mãe tomou uma grande decisão... Para ela não sofrer numa sociedade machista, era melhor que Marcela fosse um menino, por isso desde pequena ela finge ser homem.

Desde então, nunca deixou que nada estragasse seu disfarce, e eu era o único que sabia disso além da mãe e da avó, óbvio. Logo Eu...

Sempre achei minha vida legal, eu era mais uma cópia nesse mundo, e com isso estava bem. Não é possível que eu nunca tenha me revoltado com isso antes. Pensando bem eu sempre tive vontade de saber de tudo que me escondiam, e também sempre suspeitei que havia coisas que os governos não contam à população. Os Lep’s, por exemplo.

De repente me veio na cabeça tudo o que aquele homem tinha dito no Lep daquele tal de Cristo.

Ou querem a verdade, não só a história de como eu vim parar aqui, e sim a história desse mundo em que vivemos, quem são seus “Protetores” e o que realmente aconteceu há 62 anos atrás. Acreditem, vocês não sabem de absolutamente nada.”

Quando nos demos conta, já estava quase no toque de recolher, lembrei do que combinei com Leones, nós voltaríamos ao Lep essa noite. O que faria com a Marcela?

- Você tem alguma coisa para fazer a noite? – perguntei de repente.

- Bom, não... Por quê? – Parecia curiosa.

- Você vai vir comigo e com o Leones, ao Lep. – Esperei que ela não me achasse maluco...

- Tu é maluco?! O que diabo vocês estão indo fazer lá?

Expliquei toda a história do que tinha acontecido essa noite. Quando terminei, já tinha passado o toque de recolher, estava na hora certa para sair de casa. Esperei a resposta dela.

- Tá, mas eu não tenho outra roupa, estou com o uniforme.

Mexi no meu armário e consegui achar, além das minhas, algumas roupas pretas, que na minha cabeça iriam ficar certas nela. Errado, ficou grande, além de menor, ela tinha um corpo muito bem definido, o que fazia as roupas ficarem sobrando um pouco, mas ela disse que daria para correr se fosse preciso.

Sorrateiramente passamos pelas ruas até chegar à casa do Leones. Ele estava olhando para o céu quando a pedra acertou seu tórax. Olhou assustado mas mesmo assim desceu. Quando chegou do meu lado ele suspirou.

- Ótimo, você chamou mais um para morrer, ou você acha que ele vai salvar a gente daquele homem?

- Não vamos morrer, e sim saber o que era aquela verdade que ele falou, a Marcela ficou curiosa e também quis vir conosco.

- Marcela? Que isso? Tá zuando o cara? – Leones estava com um sorriso malicioso.

Não tinha notado o que tinha dito, quando pensei bem, vi que tinha cometido um erro crucial. Percebi uma movimentação perto da minha cabeça e subitamente meu rosto foi ao chão.

- Fillipinha, cala a boca! – Soltou uma risada meio forçada

Também dei uma risada forçada, parece que o Leones não percebeu nada.

Andamos até o Lep, dessa vez não tinha nenhum tipo de sentinela. Estava uma lua nova com uma luz bem fraca, porém, as milhares de estrelas que estavam sobre nós dava-nos um céu incrível. O Lep estava sombrio, tão escuro que não dava para ver nada além de um palmo na frente do nosso rosto.

Chegando no topo, procuramos a entrada secreta para o lugar daquele dia. Não tinha nada de diferente, estava todas as ruínas no mesmo exato lugar, seria fácil achar a entrada. Os olhos da Marcela estavam inquietos, como se estivesse nervosa e curiosa ao mesmo tempo. Corria pelo rosto de Leones milhares de gotas de suor incessantemente. Comigo? Era uma mistura dos dois ao mesmo tempo.

Tateei o pedaço de ruína que possuía a passagem secreta, parecia que não existia mais nada lá. Um ruído me fez estremecer, principalmente pelo fato de não estar em apenas um lugar.

Flashes cegantes apontados para os nossos rostos nos fizeram andar para trás até esbarrarmos um no outro, encurralados. Cercando a gente tinha aproximadamente vinte homens muito bem armados, as armas possuíam mira à laser, e tais miras estavam posicionadas bem na nossa testa.

Apareceu um homem entrando dentro daquele cerco, cortando um feixe de luz da lanterna de outro homem que ficava ao seu lado, deu para ver um pedaço de seu rosto. Não sei o que havia naquela cicatriz, mas novamente, ela me deixava arrepiado.

- Eu sabia que vocês voltariam. Lembram do que aconteceria caso o acordo fosse desfeito? – Soltou uma gargalhada amarelada.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e até a próxima ^^