As panquecas que Soledad havia servido para Alice já estavam frias e borrachudas. A garota mexia a comida em seu prato com a colher sem a mínima intenção de comê-la. Seria difícil engolir qualquer coisa naquela manhã, Mattia estava indo embora. Eram sete da manhã, Hector já tinha saído e Fernanda ainda dormia. Alice não se incomodava em tomar café na cozinha e sozinha. Até preferia assim.  

Soledad percebeu a desolação de Alice. Ela não comia muito, mas especialmente naquele dia ela parecia sem apetite algum.

“Cariño, não vai comer?” Soledad se preocupou.

Alice empurrou o parto para o canto oposto da mesa.

“Não tenho fome.”

“Por causa do Mattia? É hoje que ele vai embora não é?” Soledad leu na expressão de dor de Alice que era exatamente isso que a afligia.

“Sol. Ele sequer ligou.” Alice soluçou.

“Você também não. Alias sequer foi a festa de despedida.”

A empregada sentou ao lado de Alice.

“Se você não cede, porque ele deveria? O Mattia sempre fez tudo por você.”

Alice se lembrou da vez que Mattia saiu no meio da noite para encontrá-la, quando ele passou a tarde a ouvindo reclamar de seu pai ou quando ele cabulou aula para ficar com ela no banheiro. Soledad tinha razão, ele sempre estava lá em todos os momentos.

“Você tem razão, mas ...”

Soledad a interrompeu.

“Mas? Alice aquele avião vai partir. Você querendo ou não e tenho certeza que o Mattia estará nele.”

Alice cobriu o rosto com as mãos.

“Sol o que você quer que eu faça?” O som da sua voz saiu abafado.

“Eu não quero nada e você?”

Soledad a encarava fixamente. Seu coração se entristecia ao ver Alice sofrer daquela forma.

Alice pensou por alguns instantes.

“Dizer adeus ao meu melhor amigo.” Alice estava decidida.

Ela saiu da cozinha apressada.

“Ali você ainda está de pijama!” Soledad avisou.

Alice pegou o casaco na entrada e as chaves de sua mãe. Fernanda quase não usava seu carro, não sentiria a falta dele tão cedo. Não importava por ainda estar usando meias com chinelo e pijama. O carro teve alguns problemas para sair da garagem por causa do gelo que cobria a entrada. A casa de Alice ficava a alguns quilômetros do aeroporto da cidade.

Com o automóvel em alta velocidade, alce atravessou o bairro onde morava até o centro da cidade. Ela passou por dois sinais vermelhos e quase atropelou um ciclista. O inesperado aconteceu. Um engarrafamento gigantesco se estendia na sua frente. Uma fila de carros com motoristas irritados impedia que Alice continuasse. A loira ligou o radio procurando uma estação de radio sobre o transito.

“engarrafamento recorde na avenida tre Fratelli! Estimasse que ele chega a 20 quilômetros. É absurdo. Motorista irritados estão presos na avenida.

A causa deste acidente é um caminhão tombou no quilometro quatro interditando duas das três faixas. Felimente ninguém se feriu gravemente, porém não há previsão de quando a carreta será retirada.

“Aconselhamos que os motoristas que tentem caminhos alternativos.” O locutor relatou.

Já era tarde para Alice tentar outro caminho. Estava cercada por todos os lados. A moça começou a se desesperar, em duas horas Mattia já teria ido embora. Ela entrou no coro de buzinas dos motoristas apressados.

Uma idéia maluca surgiu na cabeça de Alice. Um rapaz com uma bicicleta estava parada na beira da pista vendendo doces para os motoristas.

“Hey garoto!”

O rapaz olhou para os lados para ter certeza de que se tratava dele mesmo.

“É você mesmo.” Alice acenou para que ele se aproximasse.

“Quer comprar algo?” Ele mostrou o tabuleiro cheio de doces variados.

“Quero. Sua bicicleta.”

O garoto arregalou os olhos castanhos. Ele não devia ter mais do que doze anos e provavelmente morava em alguma vila próxima a avenida. Para Alice não seria difícil convencê-lo a trocar a bicicleta por algo mais valioso.

“Minha bicicleta?”

“Eu te dou esse colar. É de ouro deve valer o triplo dessa bicicleta.”

Alice entregou o colar para o garoto e pegou a bicicleta vermelha e meio enferrujada. Ela pedalou como louca. Sua cabeça estava a mil, nem pensou no que poderia acontecer com o carro da sua mãe largado no meio da rua. Hector provavelmente daria um piti ao saber. Alice só se importava em chegar logo até Mattia. Seu coração martelava contra as suas costelas. Parte pelo cansaço, mas principalmente pelo nervosismo.

A adrenalina estava a mil no sangue de Alice. O relógio no canto da pista marcava oito e meia. Faltava muito pouco para que conseguisse chegar até seu destino. O problema era o tempo que não parecia colaborar.

Alice pensava em como foi estúpida em deixar Mattia partir achando que ela o odiava. Ela nunca o odiaria nem em um milhão de anos. Mattia era parte dela e se tirasse ele de dentro dela, seria como viver incompleta para sempre. Finalmente se deu conta do quanto tinha sido infantil. As pernas de Alice estavam começando a responder com dores ao esforço exagerado que ela estava fazendo. Já era possível ver os aviões sobrevoando o céu e o aeroporto no final da rua. A construção de aço e vidro parecia uma grande obra de arte moderna. Um série de aviões decolava de lá. Era uma das principais pontes aéreas do país.

 Alice fez um ultimo esforço, nem que tivesse que correr, ela iria chegar naquele aeroporto. Por um momento ela achou possível que conseguisse chegar antes do avião partir. Ela continuou pedalando estava quase chegando à entrada principal. Alice ignorava os sinais de seu corpo de que ela estava em seu limite físico. Estava quase lá.

“Me espera Mattia. Estou chegando meu amor!” Ela murmurou para si.