As malas estavam quase prontas. Restavam poucas coisas para serem colocadas em seus devidos lugares antes da viagem de Mattia. Adele colocava as camisas do filho na mala e uma lagrima descia pelo seu rosto. Ela era uma mistura de felicidade e saudades adiantadas. Seu único filho iria embora no dia seguinte.

O coração de Mattia estava despedaçado por causa de sua conversa com Alice no dia anterior. A voz de sua amiga soava a todo momento em sua cabeça, era torturante. Ela havia resolvido que iria para os Estados Unidos de qualquer maneira, mesmo que lhe custasse a amizade de Alice. Mattia não queria ficar preso a ela, não daquela maneira.

“Vai levar esta?” Adele segurava uma camisa azul clara.

“Levar o que?” Mattia estava distraído, não havia ouvido a sua mãe.

“Tem certeza de quer ir? Você não parece feliz.” Adele estava preocupada.

Mattia se sentou na cama e apoiou os cotovelos na perna. Ele parecia derrotado.

“Meu bem, se você preferir podemos cancelar essa viagem. Existem boas universidades bem aqui.” Adele cariciou o cabelo do filho como quando ele era criança. “Apoiaremos você seja lá qual for sua decisão.”

“Eu vou.” Foi tudo o que ele disse.

Adele suspirou, havia perdido seu menino.

“Então a camisa azul vai?” Adele tentou sorrir.

“Pode ser.”

Para Mattia não fazia diferença se a camisa azul iria ou não. Sua mente estava em outro lugar. Era o seu ultimo dia antes de partir e Alice sequer ligou para ele. Teria que se acostumar com a ausência. Algo dentro de Mattia se quebrou com esse pensamento.

 A universidade de Nova York havia mandado folhetos com fotos e textos sobre a instituição. Mattia achava que aqueles jovens sorridentes sentados na grama, não tinham muito haver com ele. O inglês dele era fluente, porém ainda tinha o sotaque italiano. Seria difícil se integrar aos outros, já era difícil em sua terra imagine em outro país.

A campainha tocou. Acredite poucas vezes tocam a campainha dos Balossino. Mattia levantou para ir atender a porta. Atrás dela estava Denis com duas caixas de pizza nas mãos e um chapéu bizaro. Mattia sentiu vontade de rir do cone colorido na cabeça do amigo.

“Vai me deixar entra ou vou ter que ficar congelando aqui fora?”

Era inverno o vento do lado de fora era de gelar os ossos.

“Entre.”

Mattia saiu do caminho para que Denis passasse.

“Isso é o Bob esponja?” Mattia perguntou reparando melhor no desenho do chapéu de festa de Denis.

“Era isso ou a Sininho.”

Denis tirou o casaco e o pendurou no hall junto aos outros.

“Alessandra e Giovanni estão vindo também. Iremos fazer uma festa.” 

Denis tirou um chapéu como o seu de dentro de uma sacola e o deu para Mattia.

“Não vou usar isso!” Mattia recusou o cone do Bob esponja. “E Alice?”

Ele tinha que perguntar sobre ela, mesmo que Denis não houvesse dito que ela viria.

“Ela não quis vir... Sinto muito.” Denis sentiu a tristeza do amigo ao dizer aquilo.

“Tudo bem.” Ele mentiu.

“Mattia é seu ultimo dia na Itália e...” Denis foi interrompido pela campanhia da porta.

“Vou atender, leve isso para a cozinha.”

Na porta estavam Alessandra e o seu namorado Giovanni. Mattia e Alessandra não eram o que poderia se chamar de melhores amigos. Mas ele gostava dela e ela dele. Giovanni era o mais novo no estranho grupo de amigos, porém já se sentia partes deles. O garoto havia mudado de escola no meio ano e não conhecia ninguém, por isso foi agregado ao ciclo dos desajustados, era como Alessandra chamava a si e os amigos.

Mattia mandou que os dois entrassem. Alessandra tirou o grosso casaco e o pendurou, Giovanni fez o mesmo. A garota balançou o cabelo castanho para que as gotas da chuva caíssem. Denis saiu da cozinha com um cartaz escrito “Boa viagem Matti” e na outra mão mais chapéus como o seu.

“Alessandra! Giovanni!” Denis disse sorrindo.

“Nem vem. Não vou usar essa coisa.” Alessandra fez uma careta para o desenho do calça quadrada.

“ Eu uso!” Giovanni pegou um e colocou sobre o moicano amarelo.

Denis gostava de Giovanni, por que ele era como Mattia não se importava que Denis gostasse de garotos.

“Viram. Pelo menos uma pessoa nessa sala sabe se divertir!” Denis resmungou.

“Que horas você irá pegar o avião?” Alessandra perguntou.

“Nove.” Ele respondeu sem muito entusiasmo.

“Nossa, parece que você não está feliz por ir.” Alessandra comentou.

Denis sentou no braço do sofá onde Mattia estava.

“Eu também não ficaria.” Denis disse.

“Vamos comer?” Giovanni quebrou o clima.

Todos foram para a cozinha e se sentaram em volta da mesa. Denis serviu os pedaços das pizzas. Alessandra tirou fotos. Era uma festa de despedida, com certeza. Mattia olhou os amigos em volta da mesa, se perguntou em que momento deixou tantas pessoas entrarem em sua vida. Ele nunca gostou de se relacionar com os outros. Uma vez, quando Mattia  estava na sexta série, uma professora aconselhou que Adele levasse o filho ao psicólogo, pois ele não se comunicava com os colegas de classe. Agora ele estava sentado em uma mesa comendo pizza com amigos. Depois da pizza todos foram para sala jogar o videogame que Giovanni havia trazido. Giovanni e Denis foram o primeiros a jogar. Mattia sentou no banco que ficava em baixo da janela e ficou vendo as gotas da chuva fria que caia lá fora.

“Ela vai se arrepender disso.”

 Alessandra sentou ao lado de Mattia.

“ Quem?” Mattia perguntou confuso.

“Alice. Ela é sempre tão... Mimada.”  Alessandra bufou.

“ Ela tem o direito de não querer vir.’ Mattia sentiu o familiar aperto no peito.

“ Não. Ela não tem o direito de te deixar ir sem se despedir decentemente.” Alessandra encarou os olhos escuros de Mattia. “ Você não vê o quanto ela está sendo egoísta?”

Mattia abaixou os olhos. Ele sabia que o que Alessandra dizia era verdade.

“Não importa Alessandra.”

“Importa sim, estou vendo nos seus olhos. Matti não deixe que ela brinque assim com você.” Alessandra sorriu. “ Ela gosta de você. Eu sei.”

“NÃÃÃÃO!” Giovanni gritou quando o seu personagem foi derrotado pelo o de Denis.

Alessandra deu uns tapinhas no braço de Mattia e saltou em cima do Giovanni.

“ Minhaaaaa veeeeeeez!” Alessandra gritou.

“Vem Mattia!” Denis chamou.

Mattia tentou esquecer de Alice durante aquela tarde e se divertir com seus amigos. Pelo menos no seu ultimo dia em casa ele tentaria ser um jovem normal.