O dia passou lentamente e triste para a Inoue. Havia decidido afastar-se do Ichigo para o esquecer mas como poderia fazer isso se ela o amava. O amava bastante para dar a vida por ele. Um amor assim não se esquece. A ruiva nem prestava atenção nas aulas, simplesmente estava no mundo da lua. “Será que escolhi bem? Mesmo que ele não me ame, eu quero ter a nossa amizade! … Provavelmente irá ser impossível, já que de todas as vezes que falamos acabamos por discutir. Esta marca dói cada vez mais e já está a afectar a minha personalidade. O que é que eu faço?” O sinal de término das aulas tocou e a ruiva nem deu por isso. Apenas voltou à realidade quando alguém lhe colocou a mão no ombro.

− O que foi Kurosaki-kun? Aconteceu alguma coisa?

− Já deu o toque de saída!

− Não dei por isso! Onde estão os outros?

− Já foram para casa. Eu pedi-lhes… Queria falar contigo sozinho!

− Nós não temos mais nada para falar! Disse friamente.

− Por favor Inoue! Eu preciso mesmo de falar contigo. Eu sinto que estou a perder a tua amizade e não quero isso! Disse calmamente e triste.

− Está bem! Acompanhas-me até casa? Sentiu-se derrotada quando viu o rosto dele. Se havia coisa que não gostava era ver o ruivo triste, magoado e abatido.

− Sim! Ao ouvir a resposta positiva deu um pequeno sorriso.

Saíram da escola e dirigiram-se para o apartamento da Inoue.

− Então o que querias falar comigo?

− Primeiro queria pedir desculpa! Ontem não fui correto ao falar daquela maneira contigo.

− Desculpas aceites! Disse com um sorriso. “Mesmo que eu não consiga o teu amor, a tua amizade permanecerá! E se nem a amizade aguentar então… Não poderei fazer nada a não ser esquecer definitivamente.”

Um silêncio estranho instalou-se entre eles. O Ichigo abria a boca para dizer alguma coisa mas não saia nada. A Inoue esperava que ele perguntasse mais alguma coisa, mas quando viu a hesitação deu um sorriso discreto e falou.

− O que foi? Se queres perguntar algo, pergunta?

− Eu… Eu… Eu queria saber porque razão estás a afastar-me de ti?

− Depois de tudo o que aconteceu já devias saber a razão! Falou desiludida.

O Ichigo tentava achar uma resposta para isso mas nada lhe ocorria. A Inoue permaneceu em silêncio até chegarem à sua casa.

− Queres entrar? Posso fazer-te um chá se quiseres!

− Pode ser!

Entraram e colocaram as malas da escola no sofá. A Inoue foi preparar o chá e o Ichigo sentou-se na mesa a pensar no que a ruiva lhe tinha dito. “Depois de tudo o que aconteceu? Tenho que admitir que ultimamente as coisas não têm andado exatamente bem entre nós!”

“ Tu és um idiota mesmo! Devias saber que a Hime não é tapada como tu. Ela vê como te comportas ao pé daquela minorca e sabe o que o teu coração diz! A esta altura já devias conhecê-la melhor! Afinal são amigos há três anos e já passaram por muito juntos.”

“ Cala-te! Se vieste para me incomodar, bem podes ir embora!” Não disse mais nada porque a Inoue entrou na sala com o chá.

− Inoue, eu ainda não entendo! Porque queres afastar-te de mim?

− Escuridão! Disse seriamente para logo a seguir beber o seu chá com o olhar distante.

− O que queres dizer com isso? Perguntou confuso.

− Desde aquele dia em que ativei os meus poderes, o meu desafio é ultrapassar a minha escuridão!

− Isso quer dizer que a tua escuridão continua a ser eu?

− Isso! Respirou fundo. – Se não conseguir…

− Se não conseguires?

− Provavelmente morrerei! … É por isso que me estou a afastar de ti! Disse bastante séria.

− Eu não vou aceitar isso! Eu não quero perder uma das pessoas mais importantes para mim. Eu não suportaria viver sem te ter na minha vida! Simplesmente deitou cá para fora aquelas palavras sem pensar.

− Se fosse outra rapariga, pensaria que teria esperanças… Mas eu não sou imatura. Por isso sei perfeitamente que disseste essas coisas sem pensar! Disse de maneira calma e bebendo o seu chá.

− Isso não quer dizer que seja mentira. O que eu disse é verdade! Falou mais alto e chateado por ela não ter acreditado.

− Sabes! Falou serenamente. – Já não precisas de me dizer o que o teu coração quer! Eu já descobri. Essa é uma das razões para me afastar de ti! Eu não quero impedir a tua felicidade. Aliás, como eu já te disse, eu quero proteger esta cidade, os meus amigos e até mesmo a Soul Sociaty, nem que para isso eu tenha de dar a minha vida! Deu um sorriso enquanto observava o mundo lá fora através da sua janela. Quem a ouvisse falar agora não acreditaria que esta era a meiga e bondosa Inoue Orihime que conhecem. O seu olhar demonstrava tamanha coragem e determinação que diriam se tratar de alguém completamente diferente. O Ichigo estava em choque. Aquele sorriso e aquela calma diziam-lhe que ela já tinha aceitado a morte como o seu destino. Desta vez ele fez o que na noite anterior não conseguiu. Levantou-se rapidamente e abraçou-a fortemente, deixando-a um pouco surpresa.

− Nunca mais digas uma coisa dessas!

− Eu já aceitei! Eu sei que dificilmente irei sobreviver ao que me foi imposto.

− Eu não aceito! Disse encarando-a com lágrimas no rosto. – Desde o dia em que ativaste o teu poder, o meu coração está completamente confuso e não sei o que quero, mas de uma coisa eu tenho a certeza! Eu preciso de ti. Eu preciso de ter ao meu lado aquela rapariga meiga e bondosa, alegre e desajeitada! Não te afastes de mim, por favor! Via-se claramente a sinceridade, a tristeza, a angústia no seu olhar cheio de lágrimas. Era a primeira vez que a Inoue o via chorar e isso provocou-lhe um sofrimento ainda maior. A dor no pescoço veio outra vez e a ruiva levou a mão instintivamente ao local.

− Eu não sei se posso prometer uma coisa dessas! Falou com os olhos a arder pela vontade de chorar.

− Pelo menos vais tentar! Diz-me que sim!

− Está bem! De maneira alguma conseguia dizer não ao rapaz que lhe roubou o coração. Mesmo que não conseguisse o seu amor, a sua amizade permaneceria. – Então promete-me…

− Prometer o quê?

− Quando a altura chegar, promete que serás tu a dar um fim à minha vida!

− Tu não vais morrer! Eu vou proteger-te com a minha vida.

− Apenas promete! Se não o fizeres posso pedir a outra pessoa, e essa de certeza que a cumprirá! “ Eu queria poder morrer pelas mãos daquele que amo. Por isso não negues o meu pedido.” Pensava enquanto via a hesitação dele.

− Está bem, eu prometo!

Ficaram mais alguns minutos em silêncio até que o Ichigo se despediu e foi para casa. A Inoue sentou-se no sofá pensativa. Precisava de falar com alguém e no momento a única pessoa que a compreendia bem era o Ulquiorra. Os dois tinham feito um acordo. Quando ela necessitasse dele aumentaria a reiatsu que ele viria logo em seguida. Foi exatamente isso que ela fez e segundos depois o moreno apareceu ali, bem na sua frente.

− Precisas de mim, Orihime?

− Sim! Precisava de falar com alguém. Tu és único que me compreende e com sabedoria suficiente para dar conselhos!

− Aconteceu alguma coisa? Perguntou confuso pelas palavras da ruiva.

− Estive a falar com o Ichigo agora há pouco. Eu pensava que afastar-me dele era a melhor solução, no entanto…

− No entanto? Ele disse-te alguma coisa importante?

− Que não suportaria viver sem mim. Que o seu coração não sabia o que queria mas tinha a certeza que precisava de mim!

− Ficaste indecisa se devias ou não afastar-te dele!

− Eu acho que já tomei a minha decisão mas precisava de ouvir um conselho!

− Tu não vais afastar-te dele pois não? O silêncio dela deu-lhe a resposta que precisava. – Nesse caso acho que não posso dizer muito a não ser para teres cuidado! A cada dia que passa a escuridão do teu coração aumenta e a presença dele pode piorar as coisas. A não ser que ele esqueça aquela shinigami e desenvolva sentimentos por ti!

− Impossível. A Kuchiki-san é bonita, forte, inteligente. O Kurosaki-kun nunca iria gostar de uma pessoa como eu! Disse tristemente.

− Estás muito enganada. A minorca é bonita mas tu és linda. Ela é forte mas tu és mais. Ela é inteligente e tu também. No entanto não são estas as  características que te diferenciam dela. Tu és muito delicada, bondosa e gentil. Tens um coração puro e tal facto mostra-se pelo poder que tens, pelo calor e luz da tua aura!

− Podes até ter razão mas em breve deixarei de ter tal coisa!

− Se ultrapassares esse desafio isso não irá acontecer. Espero que não te arrependas da tua decisão porque irá custar-te muito caro se por acaso as coisas piorarem!

− Eu sei! Por isso mesmo pedi ao Kurosaki-kun para me fazer uma promessa. Quando a altura chegar ele irá matar-me com as próprias mãos! Deu um pequeno sorriso e continuou. – Mas eu sei que ele não irá fazer isso, por isso peço a ti! Sei que é algo difícil de prometer mas és a única pessoa para além do Kurosaki-kun a quem eu pediria isto.

− Eu prometo se mantiveres a tua promessa! Apenas tirarei a tua vida se já não houver volta.

− Sim! Obrigada Ulqui-kun.