A manhã veio cedo para a Inoue. Levantara-se uma hora antes do normal para poder ir à loja do Urahara. Na casa dos Kurosaki, ainda ninguém se tinha levantado. No entanto, o ruivo apesar de ainda estar na cama, estava acordado a pensar sobre os últimos acontecimentos. “O que está a acontecer? Parece até que a Inoue está a mudar para outra pessoa completamente diferente. Será que a culpa é minha? Eu não quero que ela fique diferente! Eu gosto da maneira como ela é. Sorridente, alegre, engraçada e desajeitada!”

“ Uma brasa.”

“ Tu outra vez! O que queres?”

“ Chatear-te e provocar-te até que percebas o que se está a passar!”

“ Se tu sabes porque não me dizes?”

“ Não sou eu que devo fazer isso… Então já pensaste sobre aquilo que a Hime te disse? O que o teu coração quer?”

“ Estou demasiado confuso para isso!”

“ É exactamente essa confusão que tens de resolver. Alguma vez pensaste porque razão queres sempre proteger a Hime, mesmo à custa da tua própria vida?”

“ Porque ela é frágil, demasiado meiga e bondosa, não suporta ver ninguém a morrer!”

“ Tens a certeza disso? … Tens a certeza que é aquela minorca que o teu coração quer?”

“ Não sei! Eu já não sei o que pensar.”

“ Eu digo-te então! Tu sempre gostaste da Hime-chan. E a minorca é realmente alguém especial para ti, mas será que é mesmo amor? Para mim é amor de irmão! Já pensaste na razão porque eu escolhi a Hime e tu a minorca? Se não fizeres nada rapidamente irás perder aquela que realmente gostas, e apenas nessa altura vais perceber isso!”

“ Tu escolheste a Inoue porque ela é um pedaço de mau caminho!”

“ Tu gostas dessa parte também, não sou só eu. Todos iriam ficar com inveja de namorares com a Deusa da escola de Karakura!” Pôs-se a rir para o provocar.

“ Sabes que mais, vou parar de falar contigo. Tu só falas coisas indecentes. Mais vale pedir conselhos a outra pessoa!”

“ Faz o que tu quiseres, eles vão dizer-te a mesma coisa!”

A conversa terminou por ali, já que o Ichigo levantou-se e preparou-se para ir para a escola. Saiu de casa e foi a passos lentos. Assim que chegou à porta da sala viu apenas o Ishida, o Sado, a Inoue e o Ulquiorra lá dentro. Ao ver a cara alegre e sorridente da Inoue dirigida para o moreno de olhos verdes, ficou cheio de raiva. “ O que ela vê nele? O que a faz tão feliz? Eu também sou capaz de a deixar assim!” Estava com a cara fechada e um ataque de ciúmes podia estar eminente.

Ichigo – Bom dia! Fez uma cara feia dirigida para o Ulquiorra.

Os restantes disseram bom dia, excepto o antigo arrancar, apesar de ficarem preocupados com a reacção do Ichigo à presença do Ulquiorra. A Inoue por outro lado tentava agir normalmente, mas depois da noite do dia anterior, tornou-se ainda mais complicado. Havia praticamente discutido com o Ichigo por causa da sua decisão de se afastar dele. Iria ser um dia longo e cansativo para ela.

Inoue – Ulqui-kun, tenta ser mais sociável!

Ulquiorra – Tsh! Bom dia!

Inoue – Ah! Já me estava a esquecer. Estão aqui os convites que o comandante yamamoto me deu! Deu um a cada um. – Estão a convidar-nos para irmos ao festival que vai lá haver. Ulqui-kun, falei com o Urahara-san e ele vai contactar a Soul Sociaty para saber se também podes ir!

Ishida – Inoue-san achas isso uma boa ideia? Quer dizer, ele não vai ser bem recebido lá!

Sado – Eu também concordo!

Ichigo – Ele não tem o direito de ir nesse festival! Disse de maneira azeda.

Inoue – Ishida-kun não precisas de te preocupar. Eu vou estar ao lado dele e quem quiser fazer alguma coisa… terá de passar por cima de mim! Disse a última parte de maneira mais fria para compreenderem que ela estava a falar a sério. Principalmente o Ichigo. Os rapazes olharam surpresos e um pouco assustados para o comportamento da ruiva.

Ulquiorra – Eu concordo com eles… Mas precisarás de alguém para te proteger, por isso não me importo com a maneira como irei ser recebido!

Ishida – Proteger?

Inoue – Exactamente!

Ichigo – Nós vamos estar lá Inoue! Como é que ele pode proteger-te se ele foi morto pela minha forma hollow e se tu és mais poderosa que ele? Sentia-se ofendido. Afinal era ele que a devia proteger.

Inoue – Há certas coisas… Iniciou muito séria.

Ulquiorra – Não precisas de lhes explicar Orihime! Eles não irão entender e também não é a melhor hora para isso! Interrompeu assim que viu a seriedade da cara dela.

Inoue – Tens razão! Deu um pequeno sorriso. Sabia que não era o momento ideal para falar sobre isso. Provavelmente se o fizesse iria provocar uma grande discussão. E depois da última, não era aconselhável fazer outra.

O Ishida apenas observava, não comentava porque já tinha ideia do que estava a acontecer. O Sado não sabia como reagir nem o que dizer. O Ichigo estava a arder de raiva. Para além de não estar a perceber a conversa misteriosa, sentia-se bastante ofendido. E também não aceitava o facto de o Ulquiorra estar a tirar o lugar que é dele. Ele é que era o protector dela. Ele é que devia receber os sorrisos dela. Simplesmente explodiu de raiva.

Ichigo – Eu não aceito! Gritou de raiva, deixando os outros estupefactos. – Depois de tudo o que fizeste! Tu não tens direito nenhum! Agarrou-o pelo colarinho e encarou-o com olhos assassinos.

Ulquiorra – Não tenho direito de quê?

Ichigo – De receber a bondade da Inoue. De receber o afecto dela. Não tens o direito de ocupar um lugar que não é teu!

Os restantes ficaram confusos. Não sabiam do que ele estava a falar. A Inoue ficou surpresa, porque para ela aquilo parecia ciúmes. Em vez de se intrometer, observou a discussão.

Ulquiorra – Qual lugar? O moreno não precisou de muita análise para perceber o que ele estava a dizer. No entanto, preferiu testá-lo para o fazer dizer que estava com ciúmes, ainda que indirectamente.

Ichigo – O lugar que é m… Parou de falar assim que percebeu o que ia dizer. – Não a podes proteger. Não tens poder suficiente para isso. Vais voltar a fazer o que já fizeste… Vais magoá-la psicologicamente… Tu devias ter ficado morto!

A Inoue pensava que ele ia dizer que o lugar era dele. Mas quando o viu a hesitar, percebeu que não iria admitir nunca os seus próprios sentimentos. Por medo ou então por causa de outra mulher, que neste caso era a Kuchiki Rukia. Saber que nunca o iria ter doía-lhe e ouvi-lo dizer que o Ulquiorra a iria magoar psicologicamente deixou-a mais triste, porque de todos ali havia sido o Ichigo que a mais magoara. Colocou a mão no pescoço por causa da dor que sentia. Quando ouviu a última frase dita pelo Ichigo, ficou com raiva dele. Ela havia prometido que não iria deixar ninguém fazer mal ao Ulquiorra, e agora era o momento de cumprir essa promessa.

Inoue – Kurosaki-kun! Disse colocando a mão no pulso do Ichigo e atraindo a atenção. – Pára com isso! Falou calmamente e friamente. – Eu não quero ter de te magoar!

Ichigo – Porque é que tu o defendes? Perguntou incrédulo.

Inoue – Porque eu fiz uma promessa e não tenciono quebrá-la, nem que para isso tenha de te magoar!

Ichigo – Como é que mudaste tanto? Tu antes eras meiga, sorridente, bondosa e nunca odiavas, magoavas ninguém! Passaram-se alguns minutos de silêncio, e não obtendo resposta, acabou por largar o Ulquiorra.

Inoue – Talvez esse tenha sido o meu erro… ser bondosa demais! Disse com uma mão no pescoço e cabisbaixa. Sentia os olhos a arder pela vontade de chorar por isso saiu da sala para apanhar um pouco de ar. Como ela estava com a cabeça para baixo ninguém lhe conseguia ver a cara, mas todos puderam ver a pequena lágrima que se soltou do olho dela, e voar pelo ar até ir parar na cara do Ichigo. O Ulquiorra sabia que a dor no pescoço dela era a escuridão do seu coração e que se demorasse demasiado tempo, ela iria perder-se nela. O Ishida e o Sado ficaram deveras preocupados com a ruiva. Principalmente o Ishida, pois lembrava-se perfeitamente da conversa que tinha tido com ela. O Ichigo ficou sem saber o que fazer. Apenas quando viu aquela lágrima percebeu que havia magoado a ruiva.

Ulquiorra – Eu sou o protector dela porque o inimigo dela não é físico! Eu sou o protector dela porque lhe fiz essa promessa. Eu sou o protector dela porque foi graças a ela que tive direito a uma segunda chance… Se por acaso ela morrer ou se perder na escuridão por tua causa, eu próprio irei encarregar-me da tua morte! Disse encarando-o depois da Inoue sair da sala.

Ichigo – O que queres dizer com isso?

Ishida – Eu concordo com o Ulquiorra! Como amigo dela não posso deixar que tal coisa aconteça.

Sado – Alguém me pode explicar o que está a acontecer?

Ulquiorra – Vocês não sabem ainda?

Ichigo – O quê?

Ishida – Espera Ulquiorra! Não digas nada. Quando ela quiser contar, ela o fará quando estiver pronta.

Ulquiorra – Provavelmente já estará morta antes disso acontecer! Dirigia-se para a porta da sala para ir ter com a Inoue quando a mesma é aberta pela ruiva.

Inoue – Ulqui-kun! Aconteceu alguma coisa?

Ulquiorra – Não aconteceu nada Orihime! Estava apenas preocupado contigo.

Inoue – Está tudo bem! Foi apenas uma dor passageira. Sorriu tristemente.

Ulquiorra – Se quiseres ir embora, eu faço-te companhia!

Inoue – Não estás a utilizar-me para escapar às aulas pois não Ulqui-kun?!

Ulquiorra – Claro que não. Eu nunca falto com os meus compromissos!

Sentaram-se assim que começaram a chegar os alunos restantes.