-O que tu ta fazendo aí, doida?

-Nada. Eu so quebrei um prato.

-Como tu conseguiu isso?

-Não sei eu só... Ai, merda

-Que foi?

-Cortei a mão

-Vem cá – Peguei ela pelo braço com cuidado liguei a torneira e coloquei a mão dela debaixo da água. – Fica aqui

Me abaixei e comecei a recolher os cacos de vidro do chão, peguei o jornal que tava do lado, enrolei os cacos no jornal e coloquei no lixo.

-Isso ainda ta doendo? – Perguntei pra ela

-Um pouco.

-Eu não tenho como ver isso, vai lá troca de roupa

-Pra que?

-Eu vo te leva no Hospital, não sei se entrou vidro nisso ai

-Não precisa. Nem tá doendo

-Vai, Sandra

-Não precisa

-Vai lá e não discute, Sandra – Falei um pouco groso de mais, acho que ela até se assustou – Desculpa, mas vai lá, por favor.

-Tá bom

-Pega o meu celular que tá em cima do criado mudo.

-Aham

POVS SANDRA

Que merda mesmo, como se já não bastasse tudo isso eu ainda corto a mão, e o pior eu provavelmente vou encontrar a minha mãe lá. MERDA, MERDA, MERDA. Ferrou, agora que a minha mãe vai dar um chilique. Entrei no quarto e peguei uma roupa qualquer, tipo uma blusa preta, uma calça jeans e o meu All Star vermelho, com um casaco azul xadrez. Peguei o celular do Andy e o meu MP4. Sai do quarto e tentei melhorar a cara, já que aquilo na minha mão tava doendo demais.

POVS ANDY

-Tá pronta?

-To sim. Toma o celular

-Brigado. Vem – Passei a mão pelos ombros dela, e peguei as chaves do carro. Saímos naquela chuva mesmo, abri o carro e coloquei ela dentro. Olhei em volta e vi os carinhas arrumando o poste de luz. Se eles tivessem arrumado aquela joça há uma meia hora atrás ela não tinha machucado a mão. Entrei no carro e liguei o aquecedor e a luz. Dei uma olhado na mão dela. Se ela não tivesse que levar ponto naquilo ia ser um milagre mesmo. Ela ligou o MP4 e ficou quieta o caminho inteiro, não sei se ela tava com raiva de mim ou com dor.

POVS FABIANE

Eu não agüento mais trabalhar nesse hospital. Todo dia e a Sandra fica em casa, eu não gosto disso, mas foi o que eu decidi fazer. Desde que o Luis morreu, eu comecei a trabalhar que nem uma doida, só pra não ter que ficar naquela casa, eu queria me mudar, mas a Sandra disse que não queria e que aquela casa era uma das únicas lembranças. Eu sei que ela me culpa por ter ido à convenção justo naquele dia. Eu também sei que ela amava demais ele, mais até do que eu. Ele me falou que a Sandra tinha contado pra ele que era lésbica.

Vou ser sincera: nunca gostei dessa idéia, ela é uma garota afinal. Não tem que namorar com garotas, mas como ela nunca me deu trabalho nem nada, não fico pegando no pé. Olhei pro relógio da parede. Já são 19h58min, e pelo jeito não vou sair daqui antes das 21h00min. Peguei o celular e liguei pra Sandra

-Alô?

-Oi Sandra, liguei pra avisar que eu vo ir mais tarde hoje, tá bom?

-Erm... Mãe, eu tô indo pro hospital agora – Como assim ta vindo pro hospital, meu Deus?

-O que aconteceu Sandra?

-Eu machuquei a mão com vidro

-Tá vindo com quem?

-O Andy

-Aquele garoto de ontem?

-É sim

-Quando chegar me chama que eu vou falar com esse pivete. – Como assim? O trouxa machuca ela?

-Não, que isso mãe. Não é pra tanto

-Não quero saber. Me chama. Ouviu, Sandra Ivette Alvarenga?

-Tá bom mãe, não precisa chamar pelo nome inteiro.

-Eu tenho que ir, quando chegar me chama.

-Tá bom...

POVS SANDRA 

Pronto, ferrou mesmo. Agora eu até já vi a cena. Ela vai brigar com o Andy, fazer um discurso dizendo que o Max não faria isso, e vai dizer pra eu parar de falar com o Andy. Já vi esse filme.

Chegamos no hospital o Andy estacionou o carro e fomos direto pra emergência, pela cara do enfermeiro a coisa era seria com a minha mão. Me colocaram lá pra dentro junto com o Andy. Ele parecia culpado, claro que a culpa não era dele, mas o que eu tinha que fazer uma coisa pra proteção dele.

-Andy eu acho melhor você ir pra casa – Falei o mais serio possível

-Por quê? – Ele fez uma cara de culpa que me deu dó, eu não queria fazer aquilo

-Só vai embora, por favor – Disse com o rosto abaixado

-Se é isso que você quer.

Ele saio da sala sem olhar pra trás, senti os meus olhos ficarem embaçados e depois apaguei.

POVS FABIANE

-Fabi a tua filha se chama Sandra Alvarenga né?

-É, por quê?

-É que uma Sandra deu baixa agora, é parece que desmaiou lá na emergência

-Ai meu deus. Toma conta das coisas aqui pra mim?

-Claro

Sai correndo até o elevador, que estava no 3° andar, peguei o mesmo e desci para a emergência. Chegando lá vi a Sandrinha desmaiada em cima de uma maca. Foi à pior cena da minha vida. Cheguei perto do enfermeiro que me disse que ela desmaiou, mas já tava tudo bem.

-Ela teve que levar sete pontos na mão, o ferimento foi profundo e tinha cacos de vidro dentro.

-Você não viu um garoto com ela?

-É, eu vi, mas ela disse pra ele ir pra casa. Daí logo depois que ele saiu ela desmaiou.

-Ela já pode ir pra casa?

-Pode sim.

-Então obrigada – Dei um sorriso e cheguei perto da Sandra

-Oi, Sandra. Acorda.

-Mãe?

-Aham, sou eu pequena. vVmos pra casa agora?

-Ai, o que aconteceu?

-Você desmaiou aqui na emergência.

-Ai, eu to tonta. Dá pra gente ir pra casa?

- Claro, vamos – Ajudei ela se levantar da maca e fomos em direção a saída. Paguei a conta e fomos pro meu carro.

-Mãe o que e isso na minha mão? – Perguntou ela ainda com a voz meio zonza

-Você levou sete pontos na mão

-Droga.

-Amanha você não vai na aula, tá bom?

-Tá ótimo – Ela pegou o MP4 colocou alguma musica. O resto do caminho foi tranqüilo. Ela dormiu um pouco. Quando chegamos em casa ela foi pro quarto e eu ajudei ela a se deitar, logo depois ela dormiu.

POVS ANDY

Por que ela fez aquilo Deus?

Eu não tive culpa, ela que corto a mão com o vidro. Eu sou um babaca mesmo, um babaca que tá chorando por ela. E por cima,q eu peguei uma gripe. Só fico pensando como é que ela vai voltar pra casa.

Peguei meu celular e comecei a digitar

´´ O que aconteceu? 

Eu realmente não sei o que eu fiz, por favor, me fala! Voce sabe como é importante pra mim.

Como você vai voltar pra casa?

Por favor, responde. Eu realmente não to entendo.

Voce sabe o quanto eu te amo.

Bjs Andy ``

Enviei a mensagem e peguei o fone do meu celular. Coloquei Bring Me To Life, comecei a cantar e chorar junto. Meu celular vibrou: ´´ UMA NOVA MENSAGEM RECEBIDA ``

´´ Não aconteceu nada.

Você não fez nada.

Minha mãe trabalha no hospital, esqueceu?

Não tem nada pra entender

Queria poder dizer o mesmo

Sandra ``

Aquilo simplesmente me cortou por inteiro, acabei dormindo em meio do choro