Aurora Boreal escrita por Maiah Oliveira


Capítulo 4
Capítulo 2 - Vínculo Parte I


Notas iniciais do capítulo

Bom, gostaria de agradecer a compreensão de vocês e também a paciência em relação a repostagem da fiction. Enfim desfrutem o capítulo.



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Quem disse que amar é uma coisa boa, era um romântico completamente idiota, que não saberia o que é amor nem se ele desse um soco no seu estômago. Porque é isso que ele gosta de fazer, te dar um murro bem dado no meio do estômago, na verdade um pouco mais em cima à esquerda, mas dói de qualquer jeito. Amor era uma doença que te matava em pequenas doses. Sinceramente era melhor um tiro na cabeça, apesar de não ser tão limpo, era ao menos mais rápido. Mas o amor não é algo que você tem o poder de escolher, porque se desse eu NUNCA teria me apaixonado. No melhor e no pior, não haviam muitas escolhas nas questões do coração e eu tinha parado de lutar contra a maré, era um esforço inútil. Como se não fosse ruim o suficiente gostar de alguém que nem enxerga este sentimento, e ver que o seu coração, aquele órgão inútil, começa a gostar de outro. Cheguei à conclusão que coração é que nem circo, cabe sempre mais um palhaço. Já que eu sou uma coisa peluda, nada mal ser feito de bobo da corte por mais uma pessoa.

Jacob Black

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Amar dói. Para Jacob aquela frase nunca tinha feito tanto sentido. Se sentia péssimo. Péssimo? Esta era uma palavra realmente muita fraca para definir seu estado. Ele definitivamente estava destroçado, não seus ossos, já que estes se regeneram, com uma rapidez surpreendente, o que tinha sido esmiuçado fora a sua alma, e mesmo que esta não pertencesse a um humano, não existia cura e nem lua cheia que desse jeito...

Nada se compara a sensação da primeira vez que se transformara em um lobo. Seu corpo inteiro doía e a febre não passava, Jacob tinha queimado até explodir. E naquela época tinha achado, como disse a Bella, que aquela era a coisa mais apavorante pelo qual já tinha passado, a pior dor que uma pessoa poderia sentir. Nunca esteve tão enganado. Agora sim, sabia os verdadeiros significados das palavras pavor e dor. Sentia tanto medo e seu coração doía tanto que tinha que olhar algumas vezes para o seu peito, para ter certeza de que não estava sangrando.

Como algo tão simples tinha se transformado naquilo? Quer dizer, era o velho roteiro, garoto encontra garota, garoto se apaixona por garota, mas garota já está apaixonada pelo namorado. Era a típica receita de um drama adolescente e Jacob já teria dor de cabeça o suficiente em lidar com esse roteiro, mas pelo menos saberia onde estava pisando e não se sentiria rasgado pela aparente inevitabilidade de seus destinos. Porque o seu simples drama adolescente tinha caído em uma enorme armadilha sobrenatural onde nada era simples e fácil e as pessoas poderiam morrer de verdade. Onde a garota poderia realmente morrer se não ficasse com o cara certo.

Ainda se lembrava com clareza a primeira vez que tinha visto Bella. Bom, pelo menos a primeira vez que a tinha visto como uma garota. Bells era linda e diferente de qualquer garota que tinha conhecido. Foram as primeiras coisas que tinha notado nela. Lembrava muito bem como tinha tentando impressioná-la contado as lendas da tribo, histórias essas das quais ele escarneceu na época, mas que com o tempo se mostraram terrivelmente reais. Segundo Bells tinha sido naquele dia, através dele, que ela tinha descoberto sobre os vampiros. Era tão estranho lembrar desses dias, tinha sido há pouco menos de um ano atrás e parecia que uma vida inteira tinha se passado.

E depois daquele encontro na praia, há uma vida atrás, ele foi a conhecendo mais, e se encantando mais, era só uma paixão platônica, a sua primeira paixão platônica e obviamente tinha que ser por uma garota mais velha. Ele sabia que não tinha chances, ela era mais velha, era linda e tinha um namorado, ele aceitou a realidade.

Mas então tudo mudou. O namoradinho sanguessuga a tinha abandonado. Com o tempo e a proximidade Bells tinha deixado de ser uma garota muito bonita a quem queria impressionar e passou a ser sua melhor amiga. Ela tinha sofrido tanto, ele via isso nos olhos dela, apesar do esforço que ela fazia pra ser “normal”, aliás, era o esforço dela que o tinha feito perceber a profundidade da sua dor. E ele só queria vê-la bem e protegida, faria tudo para que isso acontecesse e de fato fez.

Aqueles últimos meses tinham sido os melhores de sua vida. Foi inevitável se apaixonar mais por ela, se isso ainda era possível. Sabia que ela não gostava de música, que o nome do sanguessuga era palavra proibida, que ela era muito lenta fazendo trilhas, que era um desastre quando o assunto era coordenação, que era responsável ao ponto de criar os dias de estudos e louca o suficiente para pular de um penhasco sozinha. Bells era única de muitas formas diferentes.

Tantas coisas tinham acontecido naqueles últimos meses, seu mundo inteiro tinha perdido o eixo, tudo que ele tinha dado por certo e errado, verdade ou lenda, tinha mudado radical e assustadoramente, mas Bells tinha sido uma constante, em seus pensamentos, em seus dias. Mesmo quando foi obrigado a se afastar para protegê-la e ao bando, mesmo quando ele teve que “terminar” com ela. Bells continuou sendo uma constante, ela não abandonou seus pensamentos nem por um instante, os garotos ficavam loucos com isso, mas era impossível não pensar nela, ela tinha entrado em sua vida, em seu coração de uma forma irrevogável.

Foi um tormento se afastar dela, esconder segredos, o pior eram todas as ligações não atendidas, a forma claramente desesperada que ela procurava sua companhia ou uma informação dele, o único conforto em tudo isso, era saber que longe dele ela estaria segura, os pensamentos angustiantes e culpados de Sam, se encarregaram muito bem de mantê-lo afastado de Bella para a segurança dela. Só a ideia de ferir Bella do jeito que Emily tinha sido ferida, deixavam todos os pelos do seu corpo em pé. Tinha tido vários pesadelos em que ele simplesmente perdia o controle e fazia muito pior do que só feri-la. Isso tudo só fez aumentar sua determinação de se manter afastado dela.

Mas então ela foi procurá-lo e arruinou tudo. No começo tinha conseguido se manter firme, tinha sido grosseiro e até rude. Usou contra ela sua própria raiva por ela ter se mantido leal aos sanguessugas mesmo quando eles a tinham abandonado, guardando seu segredo dele, dentre todas as pessoas. Tinha se sentido, um idiota quando tinha descoberto pelos outros sobre isso, além de muito magoado, mas no fim tinha aceitado, ainda que seu corpo tremesse de raiva toda vez que pensava nisso.

No entanto nada disso teve resultado, depois da conversa que deveria ser a definitiva entre os dois.

Jacob tinha realmente ficado furioso por Bella fingir não entender suas palavras quando chamou os Cullen de sanguessugas. Toda aquela conversa o deixou no limite do seu controle, eram tantas coisas acontecendo, suas emoções estavam tão agitadas, achou que podia ficar perto de Bella sem perigo, mas suas mãos tremiam e então não tinha mais tanta certeza. No entanto ignorou os alertas de seu corpo e continuou a se torturar, porque tinha que acabar com aquilo, porque queria ficar um pouco mais de tempo perto dela, independente da raiva que sentia no momento, independente dos segredos que os separavam. Não importava se o clima entre eles fosse o pior de todos, só queria passar mais um minuto ao lado dela, isso sendo bom ou ruim, porque seria o último, ao menos foi isso o que Jacob se prometeu, o que prometeu a todos os seus irmãos.

Seu coração apertou quando ela perguntou se eles iam terminar. Jacob sabia tão bem quanto ela que não tinham nada, ao menos nada convencional como um namoro, ambos sabiam que era muito mais, era mais forte que isso. Mas o rumo que sua vida tinha tomado o impedia até mesmo de ser seu amigo, muito menos algo a mais. E a forma como ela quase implorou lhe dando a possibilidade de ter tudo o que ele mais queria, de ter uma chance, um futuro... Sua mão tremeu, mas não foi de raiva, se ela tivesse dito aquilo mais cedo, se ele não tivesse se transformado num monstro que podia machucá-la, matá-la sem querer... Mas a vida era como era e Jacob não ia se enganar sobre isso ou se arriscar. Ele já não era bom, não bom o suficiente, não o correto pra ela, ele era perigoso... Despediu-se dela sem olhar pra trás porque sabia que se olhasse, todas as suas boas intenções iriam para o espaço.

No entanto, diferente do que tinha pensando, quando entrou na casa e não teve coragem de sequer olhar para janela, Bella não foi embora. Ele escutou sua respiração constante, o batimento do seu coração no mesmo lugar. Jacob nunca detestou tanto seus novos sentidos aguçados quanto naquele momento, em que podia ouvi-la lá parada em frente a sua casa, esperando... Aquilo era quase tão ruim quanto vê-la. Ela ficou parada ali por quase meia hora ou mais, os garotos alternavam olhares de pena na direção de Jacob, a única coisa que ele conseguia fazer era fingir que não eram para ele e ouvir o som da respiração dela, do seu coração enquanto a chuva aumentava.

Quando já tinha desistido e resolvido jogar tudo para o ar, Billy foi mais rápido e foi em direção à porta, Jacob ouviu nitidamente o som do passo que ela deu em direção a casa e a batida do seu coração se alterar para um ritmo mais rápido, ansioso, esperando... Até que ela compreendeu que Jacob não sairia e seu coração voltou a bater normalmente, quase podia ver a decepção e a dor nos olhos dela. Não quis ouvir o que Billy ia dizer a ela ou o som da voz dela, foi se esconder no seu quarto, enquanto o som do motor da velha picape disse que ela tinha desistido.

O dia inteiro Jacob foi consumido pelo som da respiração dela, pela batida do seu coração, pela imagem mental do seu rosto decepcionado lhe assombrando. Ele a tinha magoado, sabia. Ele tinha quebrado a sua promessa. Ponderou durante o dia inteiro e aceitou a decisão que tinha tomado no momento em que ele ouviu seu passo em direção a casa e seu coração batendo ansioso, só imaginando seu rosto, ele ia contar toda verdade. De algum jeito ele contaria, ela precisava entender porque não podiam ficar juntos, talvez isso a magoasse menos, talvez ela o aceitasse e se Jacob conseguisse tomar cuidado poderiam ficar juntos como antes.

Então no meio da noite a visitou no seu quarto, as restrições de Sam o impediram de revelar seu segredo, mas no fim ele tinha driblado elas e dado pistas a ela. Bella era inteligente descobriria. Mas e quando descobrisse, será que ela ia querer se aproximar dele? Sentiu uma fisgada no peito com a possibilidade, mas não deixou isso dominar sua mente. De qualquer forma deixou claro que quando ela soubesse falasse com ele nem que fosse por telefone, se seria rejeitado ao menos queria escutar isso da voz dela.

No fim as coisas saíram melhores do que o esperado, Bella o tinha aceitado. Um peso tinha saído dos seus ombros, era quase como se tivesse voltado a ser o velho Jacob Black, sabia que isso era impossível, mas agora tinha ela ao seu lado. Sam ficaria muito irritado, mas a revelação de Bells ajudaria a tornar as coisas menos ruins.

As coisas correram bem melhor do que Jacob tinha imaginado e Bella quase se tornou parte da família, passava praticamente todo o seu tempo em La Push, para se manter e aos outros seguros da sanguessuga ruiva. E apesar de não passarem tanto tempo juntos como antes, só o fato de saber que Bella estaria esperando por ele quando a ronda terminasse, deixava Jacob mais leve. Tudo estava bem, até ela ser mais inconsequente do que algum dia ele imaginou que seria e tomar a decisão de pular do penhasco, da parte mais alta, nada menos que isso, enquanto um furacão se formava.

Tinha sido quase um milagre conseguir resgatá-la. Nunca se sentiu tão desesperado quanto naqueles poucos minutos em que não podia ouvir a respiração dela. Felizmente Sam estava do seu lado e aquilo o fez manter o mínimo de controle enquanto tentava ressuscitá-la. Enfim pode ouvir a voz dela e seu coração voltou a bater calmamente.

Jacob acreditou que o mau pressentimento que teve aquele dia tinha a ver com seu acidente, mas depois de levá-la para casa naquela noite descobriu que não era só isso. Um dos sanguessugas estava esperando por Bella, tinha sido muito difícil controlar seu primeiro instinto de atacar o vampiro, que estava a espera de Bella na casa, mas se controlou por Bells que tinha dado a ele certeza que era um dos seus ‘amigos’ sanguessugas e claro pelo pacto. Não seria ele que arruinaria tudo, não depois de tanto tempo.

Mas nada foi pior do que ela ter escolhido um vampiro sobre ele, seu amigo, a pessoa que tinha ficado ao seu lado quando ela mais precisava, aquele que quase tinha traído sua nova família por ela. Bella o tinha traído, não tinha uma palavra amena para a clara escolha que ela fez. Como ela podia perdoá-los por deixá-la como a tinham deixado, no estado que a tinham deixado, depois de a magoarem tanto? Mas foi só um deles aparecer que ela esqueceu tudo, tudo o que os sanguessugas fizeram, tudo o que ele, Jacob, tinha arriscado e feito por ela.

Naquela noite apesar da mágoa desejou realmente que fosse um dos malditos Cullen e que ele não a encontrasse morta no chão da casa de Charlie no dia seguinte. Tinha tido uma noite insone como se já não bastassem os dias que mal dormia por estar nas rondas, mas sua cabeça não parava de trabalhar, de pensar nela, se estava bem, se estava viva, várias vezes Jacob cogitou a possibilidade de esquecer tudo e ir atrás dela, mas se controlou. Talvez Bells estivesse certa e era um Cullen, que ele esperava que não ficasse por muito tempo, esse pensamento foi a única coisa que conseguiu tranquiliza-lo, até ele encontrá-la novamente.

Ele tinha ido com Jared e Embry, por ele mesmo teria ido sozinho, mas eram as ordens de Sam, se tivesse uma luta Sam não queria arriscar ninguém da família. Jared e Embry estavam com uma expressão tão pesada quanto a sua, Jacob tinha certeza que culpavam Bella pelo sanguessuga que tinha chegado e por como ele estava agora. Era muito difícil guardar segredos ou esconder seus sentimentos quando tinham mais quatro pessoas ouvindo todos os seus pensamentos.

Quando chegaram a casa e constataram que era um sanguessuga “bonzinho” que estava lá, ele pode relaxar um pouco, até fazer a pergunta que mais temia, mas que precisava fazer não só por si mesmo e mas também pela matilha, num tom que foi nada mais do que deliberadamente frio. “Os outros vão voltar?”. Quando Bella respondeu que não, finalmente relaxou e pode contar aos dois que poderiam ir, já que tinham conseguido a informação que Sam precisava saber.

Jacob deixou cair àquela máscara de frieza e falsa tranquilidade que tinha mantido com os garotos, ele tinha que ser firme enquanto eles estavam lá, já era ruim suficiente eles saberem todos os seus pensamentos, deixar eles perceberem agora o quanto toda essa situação o afetava, parecia tornar tudo ainda pior, gostaria de ter mantido um pouco daquela fachada ao voltar à casa, mas sentir o cheiro das lágrimas de Bella tinha acabado com qualquer resquício daquele desejo, ela parecia estar tão arrasada quanto ele.

– Bella...? – sua voz soou trêmula.

Ela levantou o rosto confirmando suas suspeitas, seu rosto estava vermelho e úmido. A pequena incerteza que tinha dominado Jacob, o impedindo de entrar com medo demais que ela não o quisesse por perto, ruiu assim que viu aquele rosto tão angustiado quanto o seu deveria estar.

Colocou-se de frente a ela, abaixou sua cabeça tentando ficar no mesmo nível que Bella, queria ver seu rosto, sua expressão, queria saber se a tinha magoado tanto quanto parecia.

– Eu fiz de novo, não foi? – Droga, porque nunca conseguia cumprir essa promessa? Será que era tão diferente assim do sanguessuga? Afinal a tinha feito chorar também.

– Fez o quê? – a voz saiu rouca e confusa.

– Quebrei minha promessa. Desculpe.

– Tudo bem... – murmurou. – Desta vez quem começou fui eu.

Torceu o rosto duvidando da afirmação. Era mesmo isso? Jacob sabia como ela se sentia, a conhecia. Deveria ser mais compreensivo, ainda assim isso não diminua a forma como ele se sentia. Não fazia aquela agulhada de traição doer menos, não importava o quanto fosse compreensível, a dor continuava ali.

– Eu sabia como você se sentia com relação a isso. Não devia ter me surpreendido em nada.

Como detestava tudo aquilo! Sua mente traidora sempre se perguntava se ela o descartaria tão facilmente, se fosse o sanguessuga e não a irmã dele que estivesse lá. Se eles ainda fossem humanos Jacob entenderia, ou melhor, aceitaria, mas eles eram monstros, assassinos, como ela podia se importar tanto com eles escapava ao seu entendimento e o deixava inconformado.

– Desculpe – ela repetiu parecendo dividida. Ele sinceramente não sabia se isso o fazia se sentir melhor ou pior ainda. Era claramente uma situação limite.

– Não vamos nos preocupar com isso, está bem? Ela só está de visita, não é? Ela vai embora e tudo voltará ao normal.

Pelo menos era isso o que ele esperava, que desejava secreta e fervorosamente.

– Não posso ser amiga dos dois as mesmo tempo? – indagou, sua voz sem disfarçar nenhum pouco sua mágoa.

Jacob sacudiu sua cabeça lentamente. As coisas nunca seriam fácies entre vampiros e lobos, não havia um modo de levar as coisas suavemente, manter a máxima distância possível era o mais perto que ele podia chegar disso.

– Não, acho que não pode.

Ela abaixou a cabeça enquanto fungava audivelmente, se isso era um efeito da sua audição privilegiada ou simples culpa, ele não soube identificar, tão pouco estava disposto a analisar com mais atenção.

– Mas você vai esperar, não vai? Ainda será meu amigo, mesmo que eu também ame Alice?

Seu rosto se retorceu com a pergunta, raiva e dor se dividindo em sua expressão em igual proporção, como ela podia pedir isso? Porque ele tinha ouvido o significado sob as palavras, soube que quando ela disse Alice, ela estendia esse amor a todos os Cullen e isso incluía o sanguessuga que ele mais desprezava.

Ele demorou um minuto inteiro até encontrar a própria voz mais do que em pensar no que ia dizer. Ao fim e ao cabo, não havia muitas escolhas para ele. Jacob basicamente tinha que escolher entre ter um pouco dela e não ter nada, levando em conta que a segunda opção não era realmente uma opção não havia outra coisa a dizer que não fosse o óbvio. Ele a queria, qualquer parte dela que Bella pudesse oferecer, qualquer acordo que o fizesse ter ao menos um pouco dela. Isso, no entanto não o fazia sentir menos raiva, ou menos frustrado com toda a situação.

– É, sempre serei seu amigo – o tom ríspido saiu filtrando um pouco da raiva. – Independentemente de quem você ame. – Independentemente de que ‘o’ ame, foi o que realmente quis dizer, mas não teve coragem.

– Promete?

Havia realmente uma opção?

Havia?

– Prometo.

Jacob envolveu seus braços, precisando senti-la, precisando tê-la. Fingindo por um segundo que ela era sua por inteiro, sem acordos, sem condições. Bella se aconchegou em seu peito, ainda fungando.

– Que situação chata. – isso era o eufemismo do século, mas provavelmente ela já sabia disso.

– É. – Jacob cheirou seu cabelo em seguida, querendo sentir novamente o cheiro floral, suave e fresco que ela sempre exalava, ao invés sentiu um forte cheiro doce, frio, mas que ao mesmo tempo queimava suas narinas como se respirasse fogo vivo - Ai. – não conseguiu deter a exclamação, com o cheiro invasor e inesperado sobre o cheiro dela.

– O quê? – indagou. Jacob franziu o nariz incomodado, como se a ação fosse capaz de desaparecer com o cheiro ou a sensação abrasadora que ele tinha deixado nas suas narinas. – Por que todo mundo fica fazendo isso comigo? Eu não estou fedendo!

O tom que Bells tinha usado, entre a irritação e o ultraje, o fez sorrir sinceramente.

– Está sim... Está fedendo a eles. Eca. Tão doce... Enjoativo de tão doce. E... Gelado. Queima meu nariz.

– É mesmo? – Ela o olhou estranhamente como se não pudesse acreditar. – Mas, então, por que Alice também acha que estou fedendo?

Aparentemente o mau cheiro, era uma via de mão dupla entre vampiros e lobisomens. Essa era mais uma coisa que provava a rivalidade naturalmente enraizada que eles mantinham. Seu sorriso sumiu.

– Arrã. Talvez eu não tenha um cheiro bom para ela também. Arrã. – ele concedeu de mau gosto.

– Bom, vocês dois têm um cheiro ótimo para mim. – Bella recostou a cabeça novamente em seu peito.

Jacob sabia que pelo tempo que teriam que se separar seria um tempo horrível para ele. Não sabia como ia conseguir lidar com a saudade, quando ainda a tendo em seus braços já conseguia experimentar esse sentimento que agulhava seu peito. Ia sentir tanta falta dela, da presença, do cheiro, de simplesmente olhar seu lindo rosto.

– Vou sentir sua falta – sussurrou Jacob, sem poder se conter. – A cada minuto. Espero que ela vá embora logo.

– Não precisa ser assim, Jake.

Jacob não pode deixar de suspirar cansado. Será que ela não entendia? O sol e a lua poderiam existir, mas nunca dividir o mesmo espaço. Nunca brilhar ao mesmo tempo, não importa o quanto Bella quisesse que isso acontecesse, o quanto ‘ele’ queria que fosse possível, essa era a forma como a natureza agia e nada poderia modificar uma coisa tão antiga, tão visceral. Era como as coisas eram, era como as coisas sempre seriam.

– Sim, precisa, Bella. Você... a ama. Então é melhor que eu não esteja perto dela. Não sei se sou controlado o suficiente para lidar com isso. Sam ficaria louco se eu quebrasse o pacto e... – sarcasmo fluiu dos seus lábios. – você, provavelmente, não ia gostar muito se eu matasse sua amiga.

Bella tentou se afastar do seu aperto, assim que a compreensão invadiu a sua mente, mas Jacob não a deixou se afastar, não queria que ela se afastasse. Ele queria que ela entendesse a gravidade que era a relação entre vampiros e lobisomens, pensar num conto de fadas em que tudo acabaria bem, era um engano perigoso demais para um coração tão machucado quanto o dela poderia manter. Jacob não queria que ela ficasse no escuro, pelo contrário sabia que a melhor maneira de protegê-la era contar a verdade acima de tudo, por mais dura que ela fosse.

– Não tem sentido evitar a verdade. É assim que as coisas são, Bells.

– Eu não gosto do jeito como as coisas são.

Ele soltou um dos braços para segurar o rosto de Bella. Talvez se ela olhasse no fundo dos seus olhos ela pudesse compreender que ele tampouco gostava dessa situação. O grande problema é que por mais que Jacob quisesse não havia nada que podia fazer, que ‘podiam’ fazer.

– É. Era mais fácil quando nós dois éramos humanos, não era?

Ela suspirou.

Os dois ficaram se encarando por um bom tempo. A mão ainda descansando sobre o rosto de Bella. Um rosto que parecia tão torturado quanto o dele pelos reveses do destino que os tinham colocado ali. Por um momento Jacob questionou seus sentimentos em relação à Bella, se era certo amá-la tanto. Mas talvez o correto não fosse definir o que sentia por ela, como certo ou errado, mas sim como justo ou não, porque ele sabia que nada era tão injusto como amar Bella Swan. Mas então ela estava ali, tão perto, tão linda e ele não tinha mais a capacidade de raciocinar sobre certo, errado, justo ou injusto. Tudo o que importava eram eles, aquele instante com ela tão próxima como poderia estar. No momento, o mundo inteiro podia esperar, assim como suas dúvidas.

Soltou Bella, para poder erguer seu rosto e tocar com a outra mão sua bochecha. Jacob aproveitava o momento para apreciar a temperatura fria da pele de Bella sob as suas mãos que contrastava tanto com a sua pele excessivamente quente. O pequeno desejo de apenas sentir o seu rosto se esfumaçando e se tornando algo maior. As mãos tremeram, ela era tão delicada que tinha medo de quebrá-la.

– Bella... – Jacob sussurrou, sua voz adquirindo um tom rouco.

Bella pareceu congelar com suas ações.

Jacob sabia que estaria cruzando uma linha definitiva no relacionamento deles se seguisse em frente. Sabia que essa era a chance que teria para mostrar a ela que eles dois valiam a pena, que eles dois poderiam ter uma chance. Como também sabia que esse poderia ser o momento do fim de qualquer esperança, de qualquer possibilidade de um futuro juntos, mais do que como apenas amigos.

Conseguia ver com clareza a luta interna de Bella, ela estava confusa, mas ele viu, havia algo ali, um sentimento forte, profundo. Amor? Ele não sabia, não era particularmente bom lendo as pessoas e Bella, apesar de conhecê-la tão bem, muitas vezes conseguia confundi-lo. Ele não tinha certeza se, se arriscaria a ter esperanças.

E ainda que o amasse, ainda assim não queria dizer que ela estava apaixonada. Jacob tinha ciência de que se Bella estivesse apaixonada por ele, eles não continuariam apenas como amigos. Eles seriam mais, muito mais.

Um único beijo talvez pudesse provar que eles eram compatíveis, como Jacob tinha certeza que eles eram, no entanto isso não garantia que ela fosse aceitar. Tudo isso era um monte de dúvidas e certezas vagas, não valia realmente a pena refletir tanto sobre isso. Era só um beijo, era instintivo, natural. Quando isso tinha se tornando uma coisa tão complicada? Provavelmente quando ele tinha se apaixonado por ela, e não tinha sido correspondido.

Não importava, Jacob sabia que todas as dúvidas e incertezas se resumiam a uma única questão: Ele estava realmente disposto a arriscar tudo?

Não houve mais tempo para pensar, a mente de Jacob foi à deriva enquanto encarava os profundos olhos castanhos dela. E ele soube que não havia mais nenhuma decisão ou escolha, isso já estava além dele.

Ainda com os olhos grudados nos castanhos profundos Jacob inclinou a cabeça em direção a dela. A indecisão clara naqueles olhos, ainda assim ele não parou, já não havia como voltar atrás, não para ele pelo menos.

O coração estava disparado, tinha a impressão que sairia do peito a qualquer hora, ele não podia acreditar que finalmente a beijaria, tinha passado noites fantasiando com esse momento e agora ele estava prestes a acontecer.

O som estridente do telefone os assustou, mas ele não se deixou levar pela distração completamente. Jacob tirou sua mão do queixo de Bella e esticou o braço para atender a ligação, poderia ser algo urgente, ainda assim continuou com a outra mão no rosto dela, não ia perder o contato, a conexão que tinha se estabelecido entre eles.

– Residência dos Swan – Jacob respondeu automaticamente, alheio, concentrado demais nela para mudar o tom de voz, que saiu baixo e intenso.

Quando um dos sanguessugas se identificou do outro lado da linha, foi como se ele tivesse estourado a pequena bolha de encantamento, que havia se criado entre ele e Bella, o devolvendo para a realidade, de que um deles estaria a afastando dele em breve. Jacob se endireitou, tirando sua mão do rosto de Bella. Sua expressão mudou, na tentativa de ficar neutra.

Bella provavelmente percebeu a mudança em um minuto e soube com quem ele provavelmente estaria falando. Ela estendeu a mão, mas ele não permitiu que ela falasse com mais um deles, não queria dividi-la com mais nenhum deles. Que o chamassem de egoísta, no momento, ele só não queria abrir mão dela. Ainda mais agora que eles tinham estado tão próximos de provavelmente decidirem todo seu relacionamento. Então ele obviamente também não estava no melhor dos seus humores e ser generoso passava longe de sua mente.

– Aqui é o Dr. Carlisle Cullen, eu gostaria de falar com o xerife Swan. – a voz soou estranha forçada de alguma forma, como se propositalmente estivesse alterando seu tom natural, mas Jacob ainda estava irritado demais com a interrupção para prestar atenção. Depois de ouvir a palavra doutor associado ao sobrenome Cullen ele não notou mais nada. Doutor, repetiu a palavra mentalmente com notável desdém. Um assassino médico, parecia ser uma piada de muito mau gosto.

– Ele não está – sua voz conteve um rosnado a custo, a ameaça e raiva se mesclando em seu tom.

– Onde... onde ele está? – o tom modulou ligeiramente, quase falhando, antes de prosseguir com a questão, se tornando contido, preso, como se contivesse uma grande emoção, preocupação, talvez... medo. Mas Jake ignorou as nuances na voz, apressado e irritado demais para se livrar do Cullen.

– No enterro. – disse de má vontade. Jacob não deu nenhuma informação adicional, simplesmente porque ele sabia que os Cullen não mereciam nenhuma. Afinal não era como se eles se importassem com a morte de um humano. Por Deus, eles eram assassinos! Porque se importariam de qualquer forma? Aliás, porque estavam ligando para a casa de Bella ou indo visitá-la, será que eles não sabiam que já tinham feito estrago suficiente na vida dela, para ficarem agora – que Bella estava começando a se recuperar - brincando de esconde-esconde com ela?

Quando pensou em dizer alguma coisa bem malcriada para o dito doutor, a linha já estava muda e ele mais irritado por desligarem na sua cara.

– Maldito sanguessuga – sussurrou em desgosto. Sua expressão novamente carregada mais pela ideia deles jogando com a dor dela, algo que o deixava doente.

– Você desligou na cara de quem? – Bella se voltou contra ele furiosa. – Na minha casa e no meu telefone?

– Calma! Ele é que desligou na minha cara! – tentou acalmá-la se isentando da culpa mesmo que ele soubesse que teria desligado na cara dele se o outro não tivesse sido mais rápido, mas Bella não precisava saber disso.

– Ele? Quem era?! – ela perguntou agitada.

Jacob quase riu sarcasticamente quando se lembrou do título, afinal isso era uma piada de extremo mau gosto.

– O Dr. Carlisle Cullen.

– Por que não me deixou falar com ele?! – sua voz subiu oito décimos, irritada. E enfim ele notou sua aflição, sob a raiva.

Isso o machucou, ela se importava tanto com pessoas que simplesmente deram as costas para ela e o tratava como o malvado da história quando ele tinha tentado protegê-la deles, proteger o coração dela. Ok, ele também estava tentando afastar ela deles o máximo que ele pudesse, mas a maior parte disso, era a consciência que ele tinha que quanto mais longe os Cullens estivessem dela, melhor e mais feliz ela estaria. O magoava, quando ela parecia pensar que era só o egoísmo dele falando, e não a preocupação por ela que estava acima de tudo.

– Ele não perguntou por você – sua voz saiu fria. Numa tentativa de não demonstrar quão magoado estava com a preocupação dela pelos sanguessugas. Sua expressão de repente se tornou neutra e estudadamente suave. – Ele perguntou onde Charlie estava e eu respondi. Não acho que tenha quebrado alguma regra de etiqueta.

– Agora olhe aqui, Jacob Black... – sua voz saiu com raiva o tom de aviso muito claro.

Apesar disso ele ignorou, outra coisa tinha atraído sua atenção imediatamente. Jacob olhou por sobre o ombro como se pudesse aguçar ainda mais os seus sentidos. Primeiro veio o cheiro, depois o som veloz dos passos que mal tocavam o chão. Ela já tinha voltado, notou com surpresa que seu tempo aparentemente tinha acabado.

– Tchau, Bells – jogou as palavras se afastando o mais rápido possível, não querendo jogar com o azar.

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Notas finais do capítulo

Oi, pessoas! Bom primeiro desculpem pela demora, mas eu e minha beta acabamos ficando ocupadas nesse fim de ano. Entre estudos (dela) e as minhas festas e compras de fim de ano não houve realmente muito tempo. Enfim, agradeço pelo carinho de vocês e pela ajuda preciosa da Clessy minha beta tem tornado essa fic bem melhor!
Como vocês devem ter visto o capítulo original foi dividido em duas partes, porque anteriormente fui alertada de que ele poderia ser muito cansativo de se ler e eu tenho que concordar, embora separar esse capítulo exatamente me deu algum trabalho. Enfim, agora só falta a segunda parte desse capítulo e poderei postar um capítulo inédito :D



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